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DEUS É A FONTE DO MEU SOFRIMENTO^

No documento Ravi Zacharias - Por Que Jesus é Diferente (páginas 121-161)

G

ostaria de iniciar este capítulo citando respeitosamente, com a permissão do autor, porções de uma das cartas mais tocantes que já recebi. Realmente admiro a coragem, a candura e a disposição de aprender do homem que a escreveu. Obviamente não é fácil des- nudarmos nossa alma. Meu coração pesa por ele e sua família, por sua experiência terrível e dolorosa.

Esta carta, embora seja específica e relacionada ao contexto do autor, representa uma pergunta feita a Jesus dois mil anos atrás, numa situação semelhante. De fato, se formos honestos, por trás desta questão reside uma das maiores barreiras para a fé em Deus.

Prezado Sr. Zacharias,

Preciso desesperadamente de sua ajuda. Não estou pedindo dinheiro ou algo assim... Preciso do seu conselho.

Por favor, leia esta carta. Ela é extremamente pessoal e revela um coração partido. Minha situação é séria, e já estou no segundo ano de tormento e medo. Pensei que seria capaz de vislumbrar todas as "respostas" que precisaria para encontrar paz em minha alma, mas continuamente tenho terminado no proverbial "beco sem saída". Ou talvez a resposta esteja lá o tempo todo e seja muito triste para mim aceitá-la. Não sei. Resumindo, estou confuso e assustado. Preciso de sua ajuda.

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No dia 4 de agosto de 1997, às 1 5 h l 5 , meu filho, A d a m Mark Triplett, morreu n u m acidente de avião, ocorrido n u m a cidade de New Richmond, Wisconsin. Adam era instrutor de vôo numa escola especializada em St. Paul, Minnesota. Ele era um estudante respeitado, um bom músico, bom profissional, amigo afeiçoado e um cristão dedicado. Também era um irmão agradável, bom marido e bom filho. Meu único filho. Ele mor- reu aos 23 anos de idade, depois de apenas três meses de casado. Não consigo imaginar a vida sem ele...

H á alguns anos minha esposa e eu tínhamos comprado u m computador novo. Eu não fazia ideia do perigo que traria à minha vida. Um dia, quando navegava casualmente pela Internet com meu novo amigo tecnológico, fiquei surpreso ao descobrir u m e-mail anónimo em minha caixa postal. Ao abrir a mensagem, fi- quei chocado ao me deparar com uma foto pornográfica.

Fiquei furioso com aquela invasão vulgar e decidi descobrir de onde viera a mensagem. Continuei procurando, pensando que poderia me tornar um defensor da decência. No entanto, caí víti- ma da vileza e do engano do diabo e logo fiquei escravizado pelo hábito de olhar tais fotos.

Se eu tivesse um "dia ruim" no trabalho, ou se o carro quebrasse (qualquer pretexto servia), eu balanceava as coisas com uma pequena "espiadela". Eu justificava o hábito afirmando para mim mesmo que era algo inofensivo... Não estava molestando e nem incomodando ninguém. Não percebia o mal que estava fazendo para mim mesmo.

Um dia, durante um culto na igreja, percebi que estava dan- do uma "espiadela" mental e não estava prestando atenção ao que o pastor dizia. O medo brotou em meu coração e tentei me afastar daquela prática nociva. Não consegui. A espiral descen- dente continuou afetando meu trabalho e minha vida familiar, sem mencionar minha responsabilidade como líder na igreja.

No dia 4 de agosto, levei meu filho ao aeroporto. Seu próxi- mo aluno estava esperando. Quando ele saiu do carro, ele sorriu, levantou o polegar e me fez sinal de "positivo". Enquanto eu me afastava, olhei para ele pelo espelho retrovisor... e tive a estranha

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sensação de que seria a última vez que o veria. Afastei a ideia como se fosse u m p e n s a m e n t o casual. Ignorei-a. Esqueci-a completamente. Voltei ao meu trabalho.

N o final do dia, sentia-me furioso, só Deus sabe por que... [e decidi que] ia para casa me acalmar e dar uma "espiadela". Pensei que teria pelo menos uma satisfação.

[Enquanto dirigia meu carro], senti Deus falando comigo n u m a voz mansa, amorosa, quase n u m sussurro: "Mark, por favor, não quero que faça isso".

Minha resposta foi dura e direta: "Oh!, você não quer que eu faça isso! Grande coisa! Você não quer que eu faça nada, não é? Eu sempre tenho de ser perfeito, não é? Bem, hoje não!" En- tão o Senhor falou um pouco mais alto e mais sério: "Estou pedindo para que você não se comporte dessa forma". Nova- mente, eu respondi com arrogância: "Como você vai me impe- dir? O que você fará? Matará meu filho?"

Pela terceira vez o Senhor Deus falou comigo. Desta vez, porém, seu tom era mais severo, mais firme e autoritário. "Mark, você não entende. Estou lhe dizendo que N Ã O Q U E R O que você se comporte dessa forma".

Neste ponto, meu ego estava no pleno controle. Minha res- posta foi deliberada e direta. Não queria mais ouvir nada sobre aquele assunto.

Cheguei em casa por volta das 17h30. Minha esposa estava assando algo na churrasqueira, nos fundos de casa. Ela perguntou se eu tinha ouvido algo sobre um acidente de avião ocorrido na- quele dia. Eu disse que não. Ela parecia nervosa e assustada. Eu "senti" que algo estava errado...

Logo depois o xerife chegou com a notícia. Nossa filha Katrina (irmã de Adam) começou a gritar. Minha esposa come- çou a chorar descontrolada. Eu fiquei completamente sem ação, mas senti que uma força assumiu o controle de meu corpo e minha mente. Acredito que era o Espírito Santo de Deus.

Nas semanas que seguiram à morte de Adam, comecei a lembrar dos fatos daquele dia. Fui consumido pela culpa do meu

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pecado contra Deus. Tornei-me dolorosamente consciente da ne- cessidade de cair aos pés do Senhor e buscar o seu perdão... Será que fui o culpado por aquela tragédia? O querido Deus, não permita que seja assim.1

Como você pode imaginar, esta carta interrompeu meu dia. Enquanto lia, a cada parágrafo a angústia se intensificava e eu sentia minhas artérias latejando. Meu coração se apertava, batendo no ritmo do auto-exame. Tudo o mais se desvaneceu, assumindo um papel secundário. Coloquei-me no lugar daquele homem e imaginei seu horror.

O que pode ser mais doloroso na vida do que carregar uma cul- pa tão enorme, provocada por uma tragédia dessa natureza? Quan- do as palavras chegaram ao fim, a dura pergunta permanecia: "Deus tirou a vida do meu filho? Ele estava me fazendo pagar por ir contra a sua vontade?"

A busca das respostas para essas duas perguntas — "Deus é o autor da dor?" e "minha dor é decorrente do meu pecado?" — tem incomodado os céticos e os religiosos. Cada pessoa razoável que ten- ta buscar sentido num mundo enriquecido pelo bem, mas convulsio- nado pelo mal tenta pensar nessas questões, mas não encontra solução simples, especialmente diante de um acontecimento dramático como este. Depois de séculos de debate, encontrar uma resposta adequada continua sendo tarefa árdua. Trata-se de uma questão digna de toda nossa atenção. Ao mesmo tempo, estou convencido de que não há uma resposta mais completa para o problema do sofrimento e do mal do que aquela apresentada pela fé cristã.

A Bíblia não evita entrar neste debate. Jesus encarou esta ques- tão de frente. Às vezes ela chegava até ele de forma sutil, outras vezes num tom mais direto. O incidente mais tocante no qual ele enfren- tou este desafio está registrado no nono capítulo do Evangelho de João. A discussão segue nos calcanhares de um dos relatos mais lon- gos de um milagre operado por Jesus. Há mais do que o diálogo normal que precede e segue esta cura particular — e isso porque as pessoas buscaram uma explicação para a deformidade física do indivíduo.

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Quando Jesus caminhava junto com seus discípulos, um homem cego atravessou seu caminho. Os discípulos, nessa ocasião, não se contentaram em testemunhar o milagre da restauração da visão. Fo- ram ao cerne da questão, questionando qual era o papel de Deus numa situação trágica. Um deles perguntou a Jesus de forma até abrupta: "Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego:

Quer dizer, ele mesmo é responsável pela sua sina, ou é culpa de outra pessoa?

Jesus os surpreendeu ao responder que a responsabilidade pela deformidade do homem não era dele e nem dos seus pais. "Respon- deu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais, mas foi para que se manifes- tem nele as obras de Deus. E necessário que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo".

O que Jesus queria dizer com "para que se manifestem nele as obras de Deus"?

Enquanto Jesus desvendava a resposta, lembre-se que ele lidava com quatro grupos de pessoas, cada grupo com suas próprias razões para questioná-lo. O primeiro grupo eram os próprios discípulos. Queriam uma resposta porque buscavam uma explicação para o so- frimento individual. No entanto, havia também os vizinhos. As pes- soas sabiam que um milagre fora realizado e estavam confusas sobre "como" acontecera. Como ele podia restaurar a vista ao cego? Os céticos dentre eles tinham visto o efeito, mas não queriam admitir o "quem" por trás da ação. Não gostavam do lugar para onde a resposta de Jesus os encaminhava porque seriam compelidos a decidir ser ho- nestos, repudiar o orgulho e segui-lo. Finalmente, havia o homem cego. Ele experimentara pessoalmente a transformação e estava um tanto abalado com todas as implicações — especialmente diante das críticas. Sua conversa pessoal com Jesus levou-o a reconhecer, sem nenhuma dúvida, que ele não era apenas aquele que restaurava a vi- são; ele também transformava o coração.

E óbvio que a resposta de Jesus nesta passagem vai além da ago- nia dos pais que perdem um filho ou daqueles que suportam com

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graça muita dor. Ele reconheceu imediatamente que havia uma ques- tão por trás da questão.

Portanto, a resposta vai mais fundo, não somente para tocar a dor do coração humano, mas para compreender a amplitude do mal, da dor e do sofrimento. Se desejarmos mergulhar mais fundo, certamente a resposta nos levará numa longa jornada. A pergunta simplesmente não pode ser respondida se ignorarmos as possíveis objeções em todos os estágios da resposta. Aqueles que aceitam isso verão que a cosmovisão bíblica é a única que aceita a realidade do mal e do sofrimento respeitando a causa e o propósito e oferecendo a força e o sustento dados por Deus. Aqueles que se recusam a acei- tar as verdades apresentadas por Jesus continuarão a considerar esses elementos como barreiras para Deus e, ouso acrescentar, barreiras para a própria razão.

Alguns anos atrás, ouvi uma história engraçada. Houve uma pane numa usina elétrica e a cidade entrou em confusão. Muitos enge- nheiros tentaram encontrar o defeito e não conseguiram. Finalmen- te, um homem conseguiu resolver o problema e reativar o sistema, apenas apertando um botão. Ele cobrou da cidade um milhão e um dólares. Surpreso com o valor, alguém lhe perguntou por que estava cobrando um milhão e um em vez de arredondar para um milhão. Ele respondeu que estava cobrando um dólar por ter apertado o bo- tão e um milhão por saber qual botão tinha de apertar.

A primeira vista, a resposta de Jesus à pergunta dos discípulos parece bem precária. Consiste em apenas algumas poucas afirma- ções. No entanto, aquelas poucas palavras têm um peso enorme. Por isso a incrível profundidade na resposta só pode ser apreciada quan- do compreendemos a cosmovisão por trás dela. Agarrar-se a essas poucas linhas sem perceber o contexto da mensagem completa é violentar um tema extremamente importante. Para evitar tal perigo, levarei a questão de volta ao seu desafio fundamental e encararei o debate doloroso (embora real) sobre o mal e o sofrimento n u m mundo governado por um Deus amoroso. Uma vez que compreen- damos a perspectiva cristã mais ampla, entenderemos que Cristo responde à pergunta imediata à luz da questão maior por trás dela.

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U M A A N G Ú S T I A UNIVERSAL

Desde o princípio, lembremos que toda cosmovisão — não somente a cosmovisão do cristianismo — deve dar uma explicação ou uma resposta para o mal e o sofrimento. O u o mal prova categoricamente que Deus não existe, como juram os ateus, ou não existe "realmente o verdadeiro mal", como afirmam os panteístas, ou o mal é explica- do com mais coerência pela visão cristã de Deus e seu propósito na criação. Em resumo, não se trata de um problema exclusivo do cristianismo. Q u e m se opõe à fé cristã não deve se limitar a levan- tar a questão. Todos nós temos de oferecer uma resposta para o proble- ma do mal, independentemente do sistema de crenças que adota- mos.

Uma das descobertas que fiz ao estudar este assunto foi que to- dos os escritores que tentam responder esta questão têm algo em comum e uma pressuposição fundamental. O fator comum é que cada um começa com uma litania de horrores e atrocidades. Não é somente uma pessoa cega de nascença, ou um bebé inocente sendo morto. A lista parece interminável. É como se nós mesmos precisás- semos de lembretes da carga emocional envolvida neste problema, que desafia qualquer solução racional. Horrores de proporções inimagináveis são catalogados. Eu percebi que este fato em si é instruti- vo, e esta abordagem tem uma lição à qual voltarei mais à frente.

Entretanto, emerge um segundo componente, ou seja, a deter- minação do ponto de partida. Muitos elementos são pressupostos ou escondidos logo no início. Para o cético, a questão o paralisa imedia- tamente. Esta confusão deveria prestar atenção no fazendeiro que, ao responder aos turistas onde ficava certo local, disse: "Se é para lá que querem ir, não é daqui que devem partir". Veja bem, muitos céticos começam suas questões sobre a existência de Deus com o problema do mal ou pelo menos reservam a maior parte de seu fervor para essa discussão. Ao fazerem isso, porém, cavam um abismo mais fundo do que aquele do qual estão tentando sair, porque ao levantarem o pro- blema do mal sem Deus, correm o risco de fracassar. Entretanto, muitos começam aqui, mas tomam a direção errada. No decurso des- ta discussão, destacarei por que não se trata de um ponto de partida

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saudável em termos lógicos para aquele que busca negar a existência de Deus.

P O S I C I O N A N D O O PROBLEMA

A cosmovisão cristã sugere que o mal é mais posicionado como um mistério do que como um problema. Agora, antes que a oposição se levante e clame: "Tolo!" — achando que ao definir como mistério estou tentando fugir de uma solução, deixe-me explicar. Chamar de mistério não é necessariamente evitar uma resposta. Problemas de- mandam solução, mas mistérios exigem mais — precisam de uma explicação. Quer dizer que haverá necessidade de linhas convergen- tes de argumentação e não apenas uma resposta seguida de Q.E.D.*

No entanto, há uma questão muito importante para classificar o mal como mistério. Gabriel Mareei define mistério como um pro- blema que se enrosca em seus próprios dados. Quer dizer que aquele que questiona torna-se involuntariamente o objeto da questão. Não somos meros observadores da realidade do mal. Estamos envolvidos nela além da mera discussão académica. Peter Kreeft, professor de filosofia na Universidade de Boston, comenta: "Ir a Marte é um pro- blema. Apaixonar-se é um mistério".2 O mal, como o amor, não é

um problema. É um mistério.

Não podemos abordar o problema do mal sem terminarmos como foco do problema. Os céticos calmamente ignoram esta reali- dade e agem como se fossem expectadores observando um fenóme- no, quando na realidade fazem parte do fenómeno. Posicionemos o desafio do teísmo cristão nas palavras do renomado intelectual David Hume e rapidamente veremos como a questão arrasta consigo o questionador. Hume disse o seguinte:

Se um estranho chegasse subitamente a este mundo, eu lhe mos- traria, como amostras dos seus males, um hospital cheio de enfer- midades, uma prisão povoada de malfeitores e caloteiros, um

Q . E . D - Abreviação de quod erat demonstrandum, que significa "que foi prova- do" ou que algo que se diz é a solução para um problema ou a resposta para uma questão. (N. do T.)

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campo de batalha coberto de cadáveres, uma frota naval singrando os oceanos, uma nação sofrendo sob a tirania, a fome ou a peste. Para lhe mostrar o lado bom da vida e lhe dar uma noção dos seus prazeres, aonde deveria levá-lo? A um estádio, a uma ópera, ou a um tribunal? Ele pensaria, corretamente, que eu estaria apenas mostrando a diversidade das angústias e das tristezas.3

Em outro lugar H u m e reclama que é impossível limitar um mundo assim com um propósito supremo de amor. Provavelmente essas palavras foram mais adequadas do que H u m e imaginava, pois na questão ele vislumbrou uma explicação na própria questão. Sua objeção é direta. O problema da dor e do sofrimento é real e sentido individualmente. Por isso todos os grupos envolveram-se com Jesus nesta questão.

O problema não somente é real e pode ser sentido, como tam- bém é universal. Nenhuma religião tenta explicar isso mais do que o budismo. Toda a peregrinação de Buda em direção da "iluminação" começou por causa de seu interesse no mistério do mal e do sofri- mento. Foi a universalidade do problema que o lançou em sua busca. No entanto, assim como há a realidade e a universalidade do problema, há também a sua complexidade. O mal é questionado em pelo menos três aspectos: o problema metafísico (qual é a sua fonte?), o problema físico (como os desastres naturais se encaixam na discussão?) e o problema moral (como pode ser justificado?).

O terceiro aspecto é o cerne da questão: Como um Deus bom permite tanto sofrimento? Imediatamente entramos num sério dile- ma. Como você responde ao lado intelectual da questão sem perder de vista seu lado existencial? Como você responde aos "MarkTriplett" deste mundo sem descambar para a filosofia?

Aqueles que sentem mais a dor da questão, muitas vezes, estre- mecem ao ver como as respostas filosóficas são teóricas. Não gosta- mos de trabalhar com o lado intelectual da questão porque não percebemos onde a lógica e a filosofia se encaixam no problema da dor. Se você acaba de sepultai um filho, testemunhou ou foi vítima de brutalidade, esta porção da argumentação trará mais raiva do que conforto. Quem deseja a lógica quando o coração está despedaçado?

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Q u e m deseja um tratado filosófico sobre os componentes do osso quando sofre de uma fratura exposta? Nesses momentos buscamos conforto. Queremos um analgésico.

No entanto, concentrar-se apenas no resultado sem dar a devida atenção ao processo pode atenuar a dor apenas temporariamente, deixando a fratura sem tratamento. Em algum lugar e em algum momento a lógica deverá entrar em ação. Se a argumentação for fundamentada, o conforto virá em seguida.

Por isso, peço ao leitor: mesmo que esta primeira porção pareça enfadonha, por favor, siga em frente, porque é aqui que estudamos a questão, antes de elaborarmos uma resposta. Não devemos permi- tir que a angústia do coração nos faça ignorar o processo mental. A explicação deve satisfazer as demandas emocionais e intelectuais da questão. Responder às questões da mente e ignorar as emoções con- turbadas parece crueldade. Curar as feridas emocionais e ignorar a luta do intelecto parece insensatez.

Qual, então, é o ponto de partida? Desde que o cerne do proble- ma é em primeiro lugar o questionamento moral, como pode haver uma justificativa moral para o mal? Uma analogia feita por C. S. Lewis pode ajudar. Ele lembra que quando um navio está em alto mar, pelo menos três perguntas devem ser respondidas. Pergunta número um: Como evitar que o navio afunde? Pergunta número dois: Como evitar que bata em outros navios? Estas duas perguntas parecem óbvias, mas por trás delas espreita a mais importante de todas, a pergunta número três: Para começar, por que o navio está lá? A primeira pergunta trata da ética pessoal. A segunda aborda a ética social. A terceira se debate com a ética normativa.

Nossas culturas, quando muito, abordam as duas primeiras per- guntas. Ignoram a defesa racional do próprio propósito da vida e não sabem onde obter direção. Se o indivíduo não sabe qual é o seu propósito, qualquer rumo serve. Quando o navio começa a afundar ou bater em outros navios, como pode chegar em segurança ao porto

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