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EXISTE UM JARDINEIRO^

No documento Ravi Zacharias - Por Que Jesus é Diferente (páginas 187-200)

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ulher, por que choras? A quem procuras?"

Estas perguntas foram feitas a Maria, quando foi ao jar- dim onde o corpo de Jesus fora sepultado. Durante os poucos anos em que os discípulos tinham estado com Jesus, suas conversas eram povoadas de perguntas. Há, portanto, uma nota acusatória quando esta pergunta é feita a eles. Na verdade este fato salienta uma pergun- ta que Jesus já lhes fizera em mais de uma ocasião. Uma vez ele per- guntou aos seus primeiros seguidores: "Que buscais?" Perguntou o mesmo aos discípulos de João Batista: "O que saístes a ver?" Pode- mos presumir que várias vezes ele fez com que parassem para se perguntarem o que queriam que Deus fosse para merecer a aprova- ção deles.

Durante os anos juntos, a incapacidade deles de apreender mui- to do que Jesus disse conquista nossa simpatia e nossa confusão. De fato, eles estiveram na companhia daquele que não tem outro igual; por isso, a atitude indecisa que assumiam a cada passo do caminho é compreensível. No entanto, como ele poderia ser mais específico, para que vissem claramente quem era?

O caminho desta questão se expande por toda a existência hu- mana e retrocede através dos milénios até outro cenário, quando os primeiros seres humanos foram colocados num jardim e surgiram as questões da vida e da morte. N u m resumo, a história de Jesus de

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N a z a r é poderia ser c o n t a d a r a p i d a m e n t e ao redor d o cenário de q u a - tro jardins. Escolhi este e s q u e m a n o qual desejo apresentar algumas das evidências mais convincentes da u n i c i d a d e de Jesus Cristo n a história e nas religiões d o m u n d o .

E S C O N D E N D O P A R A P R O C U R A R

M u i t o s anos atrás, os filósofos A n t h o n y Flew e J o h n W i s d o m esbo- ç a r a m u m a parábola, a p r e s e n t a n d o a questão da existência de D e u s da seguinte forma:

Certa vez, dois exploradores chegaram a uma clareira na selva. Ali, crescendo lado a lado, havia muitas flores e muita erva dani- nha. Um dos exploradores exclamou: "Deve haver um jardineiro cuidando deste lugar!" Por isso, eles armaram suas barracas e ficaram observando.

Embora tivessem esperado vários dias, não apareceu nenhum jardineiro.

"Talvez seja um jardineiro invisível", eles pensaram. Por isso, cercaram a clareira com arame farpado e cerca eletrificada. Tam- bém patrulharam o jardim com ca.es, pois lembraram que o "ho- mem invisível" de H. G. Wells podia ser farejadove tocado, embora não pudesse ser visto. N o entanto, n e n h u m som sugeria que alguém tivesse recebido u m choque elétrico. N e n h u m movi- mento na cerca denunciava a passagem de uma figura invisível. Os cães jamais deram alarme. Mesmo assim, o explorador mais crédulo continuava com a convicção de que havia de fato um jar- dineiro.

"Deve haver um jardineiro, invisível, intocável e que não sente choque elétrico; um jardineiro que não tem cheiro e nem faz ne- n h u m ruído, um jardineiro que vem aqui secretamente para cuidar do jardim que ama."

Finalmente, o explorador cético se desesperou: "Mas o que sobra da sua afirmação original? Qual é a diferença entre aquilo que você chama de jardineiro invisível, intangível e eternamente oculto e um jardineiro imaginário ou nenhum jardineiro?"1

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O ponto principal da parábola é claro. Quantas vezes não disse- mos a nós mesmos que precisávamos ver Deus, só para termos certeza de que ele realmente existe? No entanto, apesar de toda a nossa espe- ra e investigação, como os exploradores à procura do jardineiro, nós não o vemos, mas mesmo assim insistimos que está lá. Os ateus olham e imploram: "Mostrem-nos Deus". Nossas respostas parecem evasi- vas porque não temos nenhum corpo visível para mostrar. Flew e Wisdom fazem uma pergunta: Qual é a diferença entre um jardinei- ro invisível e oculto e nenhum jardineiro? E uma boa pergunta.

O filósofo John Frame respondeu com um brilhante contraponto. Eis aqui a sua parábola:

Certa vez, dois exploradores chegaram a uma clareira no meio da selva. Havia um homem ali, arrancando ervas daninhas, aduban- do a terra e podando os ramos das plantas. O homem se voltou para os exploradores e se apresentou como o jardineiro real. Um explorador apertou sua mão e trocou com ele algumas amenida- des. O outro explorador ignorou o jardineiro e se afastou.

"Não deve haver nenhum jardineiro nesta clareira", ele dis- se. "Deve ser algum truque. Alguém está tentando boicotar nos- sa descoberta."

Eles armaram acampamento. Todos os dias o jardineiro che- gava para cuidar do jardim. Logo todo o local estava cheio de flo- res lindas. O explorador cético, porém, insistia: "Ele só está fazendo isso porque nós estamos aqui — quer nos enganar, para que pensemos que aqui é o jardim real".

Um dia, o jardineiro levou os dois ao palácio real e apresen- tou-os a vários oficiais que comprovaram suas credenciais. O cético, então, fez uma última tentativa: "Nossos sentidos estão nos enganando. Não existe jardineiro, nem flores, nem palácio e nem oficiais. E tudo uma farsa!"

Finalmente o explorador crédulo se desesperou: "Mas o que fica da sua afirmação original? Qual é a diferença entre uma mira- gem e um jardineiro real?"2

O ponto de John Frame também é bastante claro. Há tanta inteligibilidade e complexidade neste mundo que tentar dar uma

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explicação sem reconhecer que há uma inteligência por trás de tudo parece um preconceito deliberado. Será que a moralidade, a perso- nalidade e a realidade podem ser explicadas racionalmente sem uma primeira causa pessoal e moral? Como alguém pode explicar alguns aspectos do jardim sem reconhecer que há um jardineiro? Que tipo de prova da existência de um jardineiro bastará? E se o jardineiro viesse, fosse visto e desejasse que nossa confiança em seu trabalho não dependesse apenas da visão direta, porque a essência do nosso relacionamento não é a constância da visão e da intervenção, mas a firmeza da confiança e da suficiência?

Onde nós ficamos, na lacuna entre as duas parábolas? Será que a evidência da existência de Deus é apenas uma questão de ponto de vista? Será que cada lado pode simplesmente rechaçar o outro e dei- xar assim? E interessante que a última questão que os discípulos ou- viram quando procuravam por Jesus responde às questões levanta- das nessas parábolas. Há um jardineiro na combinação de flores e ervas daninhas que chamamos de planeta Terra?

Este é um caminho complicado. No entanto, quando chegamos ao final, a razão da jornada pode abrir novos horizontes. O objetivo será ver se ele falou ou não conosco e como Cristo revela Deus a nós.

C O M E Ç O U N U M J A R D I M

A narrativa bíblica começa com as palavras "No princípio". O foco move-se rapidamente para o mundo que Deus criou, sendo que o ponto culminante foi a criação do homem e da mulher. O contexto mostra um mundo de relacionamentos, propósitos e beleza, com as leis naturais estabelecidas e o cuidado do jardim confiado ao ser hu- mano.

Tragicamente, o naturalismo (toda a realidade é explicada em termos naturais) e o teísmo discordam quanto a esses versículos de abertura da Bíblia. Em vez de compreenderem a intenção e o con- texto daqueles para quem a revelação foi dada, os naturalistas zom- bam da descrição bíblica dos atos de criação de Deus como uma ofensa à sofisticação científica. No outro extremo estão os teístas que

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tentam fazer com que o registro da criação pareça uma disserta- ção cosmológica e depois se debatem para defendê-la.

Nenhuma porção das Escrituras jamais reivindicou ser material técnico científico e nem tencionou satisfazer a mente técnica. Já ouvi muitos iconoclastas populares ridicularizarem a antiga crença de que a terra era chata e a crença de que o mundo foi criado em 4004 a . C , declarando que essas afirmações são ensinadas na Bíblia. Nunca param para provar suas afirmações mostrando onde leram essas coisas na Bíblia.

Desde o histórico e histriónico julgamento Scopes em 1925, qualquer discussão entre um teísta e um ateísta sobre a questão das origens é tratada como se somente um tolo defenderia a origem sobrenatural do mundo como sendo plausível. Com frequência es- ses fatos são trazidos às conversas, fustigando a visão cristã das ori- gens. Eu descobri que muitos daqueles que falam sobre isso nunca leram o script e o contexto em volta do julgamento (quando muito, assistiram ao filme).

Neste capítulo final, não é minha intenção reabrir o conflito, porque há excelentes livros que trazem o debate para o diálogo dos nossos dias. No entanto, esta afronta nas mãos de opositores com- petentes ainda pesa sobre nós como uma mortalha. Quero retornar só por um motivo a esta questão para destacar a falácia e o precon- ceito mostrados na época dos eventos e mantidos até agora. Se a mesa fosse virada e os métodos empregados na época contra os teístas fossem usados contra os naturalistas, o escárnio seria mais alto.

U M A PÁGINA D O PASSADO

Qual foi a falácia? Vamos começar pelos antecedentes. O julgamen- to ocorreu em Dayton, Tennessee, em 1925. Os ânimos estavam exaltados, com a mídia assumindo o controle e transformando toda a questão num grande entretenimento. Como era de se prever, o ponto principal foi menosprezado. Havia tantas questões interliga- das que ficamos nos perguntando se o cenário, os argumentos e o processo tinham algo a ver com os detalhes específicos do caso. Se fôssemos analisar hoje o questionamento a que William Jennings

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Bryan foi submetido por Clarence Darrow, veríamos claramente que as respostas de Darrow teriam sido consideradas no mínimo pouco convincentes. Todo o seu esquema consistiu em persuadir Bryan a se levantar em defesa dos milagres e em seguida destruí-lo. Bryan pen- sou que estava acabado e para ele, era o equivalente a fazer O. J. Simpson provar a luva encontrada pela polícia. Os elementos sobre- naturais das Escrituras, apresentados como caricaturas por Darrow, não se encaixavam no esquema "científico" e por isso Bryan pareceu esfarrapado e derrotado.

Entretanto, será que era realmente a forma de se determinar se a Bíblia é confiável como documento das origens? Eis aí a falácia. Será que as particularidades de uma cosmovisão podem ser defendidas sem primeiro se defender a própria cosmovisão? A forma como um elemento tão tendencioso pode ser tomado como prova definitiva desafia a lógica. Qualquer advogado brilhante pode dizer que na maioria dos julgamentos, quando somente fatos selecionados têm acesso ao tribunal, qualquer um que saiba jogar bem com as pala- vras pode criar uma farsa. A mídia só intensifica as coisas.

Pense sobre isto. Uma das questões para as quais Darrow exigiu uma resposta de William Jennings Bryan foi onde Caim conseguiu sua esposa. Poderia ser uma pergunta legítima se fosse permitido que primeiro a Bíblia fosse defendida em sua intenção e conteúdo e se a afirmação também contivesse todos os detalhes de como come- çou a reprodução humana. No entanto, nada disso foi feito. Por isso, vamos reverter o inquérito e desafiar os naturalistas a responder à mesma pergunta. Como o primeiro Homo sapiens arranjou "seu" parceiro (ou "sua" parceira")? Toda a orientação dos nossos valores baseia-se em como respondemos a essa pergunta. Será que Darrow daria uma resposta persuasiva?

Como a sexualidade humana e o casamento emergem no esque- ma da evolução? Eu gostaria de pedir a Darrow que explicasse como o "Big Bang conseguiu atribuir à sexualidade a enorme combinação de intimidade, prazer, realização, concepção, gestação, nutrição e expressões supremas de amor e de cuidado. Tudo isso ocorreu a par- tir de uma explosão singular? Em nenhuma outra disciplina tanta

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informação pode ser catalogada sob a nomenclatura do acaso. No caso de Darrow não conseguir elaborar uma resposta, posso ajudá-lo até com as pesquisas mais modernas.

William Hamilton, de Oxford, oferece uma teoria (esta é séria, diga-se de passagem): "O sexo serve para combater os parasitas". Quer dizer, nas regiões de clima quente, onde parasitas microscópicos ameaçam a saúde dos hospedeiros, estes solapam o poder das pragas por meio do sexo e da procriação. Para isso serve o sexo: para estar- mos na frente na corrida das espécies!3

Uau! Como as prescrições de hoje são diferentes das antigas curas das pragas. Imagine o que os humoristas não fariam com essas informações!... As piadas serão mais hilárias do que o engano colo- cado diante de Bryan.

A pequena quantidade de argumentos oferecidos como base para a verdade sobre a qual tudo isso é montado é um processo ilícito no qual tudo pode parecer absurdo. Não podemos formar uma conclu- são sobre a presença de um jardineiro estudando apenas um arbusto. Há muito mais.

Aqui vemos numa pequena escala o que realmente devia ser o ponto principal. Um olhar no resumo do julgamento mostra onde está o verdadeiro preconceito, como ele se apresenta hoje. No tercei- ro dia de julgamento, o juiz pediu a um pastor presente que fizesse uma oração de abertura. A polemica que se seguiu foi semelhante a um circo. No entanto, a despeito da forte objeção de Clarence Darrow, o juiz permitiu a oração. Então a equipe de advogados de Darrow reuniu um grupo de pastores e pediu que assinassem uma petição protestando contra a oração, com base na afirmação de que as convicções teológicas particulares deles não foram representadas. A objeção foi negada. Finalmente, eles apresentaram outra petição assinada por dois pastores unitarianos, um pastor congregacional e um rabino. O documento declarava que Deus se revelara igualmente na Palavra escrita e nas maravilhas do mundo; daí, uma oração que não refletisse esta verdade era abominável para eles.

Só nos resta sacudir a cabeça, sem acreditar. E irónico que as "maravilhas do mundo" fossem colocadas em pé de igualdade com a

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Palavra de Deus, enquanto o caso que estava sendo julgado era se as maravilhas requeriam uma explicação natural ou sobrenatural. Veja bem, a verdadeira questão não era como explicar o mundo material. A verdadeira questão era se Deus tinha falado por meio de lingua- gem assim como se revelava por meio da natureza.

Novamente surgiu a ideia do Éden - "Deus realmente disse aqui- lo?" Será que há somente o jardim para olharmos, ou há também uma voz por meio da qual o jardineiro fala?

Da mesma maneira que ocorreu naquele julgamento, nós traze- mos este preconceito para Génesis e achamos que somos capazes de decidir se Deus agiu em seis dias ou se precisou de quinze bilhões de anos. De maneira alguma esta era a intenção. Os quatro principais pensamentos do texto de Génesis se perderam no meio do volume dos debates fúteis. A principal ênfase nas páginas de abertura de Génesis é que Deus é o Criador e que ele é pessoal e eterno — um Deus vivo que se comunica. A segunda ênfase é que o mundo não surgiu por acidente, mas foi designado tendo-se o homem em men- te - o homem é um ser inteligente e espiritual. A terceira é que a vida não pode ser isolada, mas deve ser vivida em companheirismo - o homem é um ser dependente e criado para o relacionamento. A quarta é que o homem foi formado como uma entidade moral com o privilégio da autodeterminação — é um ser racional e responsável.

Há três relacionamentos envolvidos: entre o homem e Deus - a santidade da adoração; do homem com seu cônjuge e com seu pró- ximo - a santidade do relacionamento; e do homem com a ordem criada — a santidade da mordomia. Sobre e a partir do primeiro fluem os outros dois.

Se esta ordem for contrastada com o que dizem os naturalistas, surge o seguinte padrão. O universo impessoal trouxe a si mesmo à existência e apenas aconteceu, atingindo as condições nas quais a vida podia surgir — a eliminação de todo propósito supremo. Em algum momento, para driblar as doenças, a destruição e para sobre- viver, a procriação trouxe a multiplicação - o materialismo do sexo amoral. Foram criados códigos mutuamente benéficos — a natureza cultural e relativa da moralidade.

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Cada afirmação desse paradigma vai contra a razão e a intuição. São incoerentes em termos científicos e existenciais. Pegue a primei- ra delas. Não se tem notícia de que o nada tenha criado alguma coisa. Será que alguém pode explicar cientificamente como um esta- do de nada absoluto pode criar processos e resultados inteligentes? Embora possamos discordar dos processos, o fato é que vivemos num universo ontologicamente assombrado. Quero dizer que a cau- sa suprema do nosso ser e do nosso modo de pensar exige que aquilo que somos e como nos tornamos não podem ser explicados como simplesmente "aconteceu". Há inteligibilidade correndo por nossas veias, e não podemos fugir deste fato.

Toda dedução por parte dos naturalistas pode ser rebatida, desde a forma como passamos a existir até os relacionamentos que ex- perimentamos com outros e os imperativos morais em nossas vidas. Por isso, devo acrescentar, milhões, ou até bilhões, de indivíduos neste mundo jamais se apartarão do sobrenatural, não importa quanto os naturalistas gritem. Não porque esses bilhões, sejam tolos, mas porque uma certeza clara e intuitiva lhes diz que tal complexidade espiritual e física não pode ter surgido do nada.

No relato de Génesis, a questão não é se o jardim aparecera por desígnio ou por acidente. Este era o reconhecimento mais razoável. No entanto, a dúvida foi semeada em torno da questão se Deus tinha falado e estabelecido as regras básicas para a vida. A resposta dos naturalistas é um estrondoso "não!". Aceitar que Deus falou é abrir mão do primeiro princípio do naturalismo. Assim, foge-se do debate real por meio da zombaria e das ofensas. Esta diferença entre ofender e argumentar está na diferença da cosmovisão. Explicarei isso quando o argumento for revelado. No entanto, desde o início vemos que as diferenças entre um mundo silencioso e um no qual Deus falou é a dramática linha divisória entre os teístas e os na- turalistas.

U M S I L Ê N C I O R U I D O S O

Algum tempo atrás, tive de me submeter a um exame que emprega- va a ressonância magnética a fim de diagnosticar uma hérnia de

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disco. Foi uma daquelas experiências em que o exame parece tão incomodo — ou até mais — do que o próprio problema. Tive de me deitar numa cama móvel, a qual deslizou para dentro de um túnel estreito, o qual a seguir foi totalmente fechado. O espaço era tão exíguo e a escuridão tão intensa que tenho certeza de que aquele aparelho foi inspirado nos sarcófagos egípcios. Brincadeira à parte, foi uma experiência terrível, principalmente para alguém que sofre de claustrofobia, como eu. Logo depois que a porta se fechou, en- contrei-me num mundo todo escuro e silencioso. Os segundos passa- ram longos e assustadores, até que ouvi a voz do operador do aparelho no intercomunicador; ele disse: — O senhor tem alguma pergunta, antes de começarmos?

Eu tinha perguntas! Respondi nervosamente: —Você estará aí durante todo o tempo em que eu estiver aqui?

Ele respondeu: —Eu prometo, Sr. Zacharias, que estarei aqui durante todo o exame.

A simples lembrança do episódio me faz tremer. Quero que você saiba que a voz de uma pessoa totalmente desconhecida foi de imen- so conforto dentro daquela caixa fechada. Enquanto eu estava ali deitado, subitamente um pensamento horrível se abateu sobre mim. N u m esquema naturalista, a humanidade foi enfiada neste sistema fechado chamado universo, e estamos vagando pelo espaço, sem ne- nhuma voz falando conosco. Não há ninguém para nos perguntar se temos dúvidas e ninguém para nos dizer que está ao nosso lado. Como disse um comediante: "Estamos nisso juntos, sozinhos". Esta- mos por conta própria. Era este mundo que, com efeito, Darrow estava defendendo. Também é o mundo que a Bíblia rejeita com veemência. Deus existe e Deus falou.

Se não há nenhuma voz exterior, então somos a causa e os guardadores do jardim. Todos os relacionamentos podem ser legiti- mamente redefinidos. Falamos por nós mesmos. Definimos a nós mesmos. Regulamos a nós mesmos. A sociedade livre zomba de qualquer conjunto de regulamentos, mas quando se trata de viver em comunidade, é exatamente o que fazemos. Note o número de leis que o mundo livre tem de criar para evitar que destruamos o

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jardim, pois não há jardineiro nele, exceto nós mesmos. O naturalis- ta está apenas olhando para si próprio. Não há ninguém para falar por nós, exceto nós mesmos.

Deus, por outro lado, preserva tudo com base em uma lei — amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, toda a tua alma e todo o teu entendimento e amarás o teu próximo como a ti mesmo. Esta lei não foi prescrita nos planetas; foi escrita para nós na Palavra. Por sua graça, Deus colocou esta lei em nossos corações. Quando

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