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EM DIREÇÃO DO LAR CELESTIAL

No documento Ravi Zacharias - Por Que Jesus é Diferente (páginas 36-63)

U

ma das maiores oportunidades que já foram concedidas a um membro da nossa família ocorreu quando a rainha Elizabete e o príncipe Philip visitaram a índia no final da década de 50.

Meu irmão mais novo, que na época tinha uns sete ou oito anos de idade e era o membro mais novo do coral da Catedral de Delhi, ia ser formalmente apresentado à rainha no final do culto domini- cal. Certamente não faltaram conselhos de como ele devia se prepa- rar para aquele encontro extraordinário. Nós o orientávamos sem parar, lembrando-o repetidamente para dirigir-se à rainha como "Sua Majestade" e não como "Tia", uma forma de se demonstrar carinho pelas pessoas idosas na índia. Chegou o momento do encontro, e meu irmão foi aprovado com honras.

Nós não sabíamos, mas o encontro de meu irmão com a rainha foi mostrado n u m noticiário na Inglaterra; muitas pessoas tele- fonaram para a emissora perguntando se aquele "garotinho esperto" estava disponível para ser adotado. Desde aquele dia, cada vez que ele se comportava mal, os outros irmãos não perdiam a oportu- nidade de insinuar que a família devia ter aceitado a oferta dos in- gleses! Quarenta anos já se passaram desde aquele dia memorável em que ele se inclinou diante da rainha, mas ele também, por seu lado, não perde a oportunidade de nos lembrar do grande privilégio que teve.

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O encontro com personagens históricos não é uma experiência banal. Os passos são recapitulados, as perguntas são debatidas e o protocolo é ensaiado muito antes do evento. Não tenho dúvida de que quanto mais elaborada a pompa e o espetáculo do evento, maior é o medo de se dizer ou fazer algo impróprio.

Podemos imaginar a conversa na casa de André e de Simão Pedro, os primeiros seguidores de Jesus, quando André chegou com a notí- cia de que achava que tinha encontrado o Messias há muito aguarda- do. A figura do Redentor era a única esperança para uma nação que sofria sob o látego do domínio estrangeiro. Todo bom israelita orava pela vinda daquele que libertaria o povo. Os mais cínicos presentes na hora do jantar provavelmente engasgaram quando André anun- ciou que ele e Simão tinham voltado de um encontro com o liberta- dor mencionado nas profecias. Muitas barbas foram coçadas enquanto os dois irmãos insistiam que não estavam malucos. Tinham conver- sado com ele, passaram horas em sua companhia, e André até teve a oportunidade de fazer-lhe algumas perguntas.

Movido pela curiosidade, alguém na mesa deve ter murmurado, dirigindo-se a André: — E o que, afinal, você lhe perguntou?

— Perguntei onde ele morava— foi a resposta confiante. Será que ouvimos direito? Silêncio total na mesa.

— Foi o melhor que conseguiu pensar, André? Perguntar onde

ele mora?

Será que não haveria uma pergunta mais adequada para com- provar as afirmações de Jesus? Pelo menos é como nós, em nosso tempo, teríamos argumentado. Por que André, ao ficar face a face com aquele que alegava uma condição tão única, não apresentou um desafio maior do que apenas perguntar: "Onde assistes [moras]?" Malcolm Muggeridge, jornalista inglês, lembra em sua autobiografia as oportunidades que teve de entrevistar pessoas famosas ao redor do mundo. Sendo cínico e iconoclasta incurável, e apenas com o propó- sito de brincar com os leitores, ele fazia perguntas deliberadamente absurdas e constrangedoras; por exemplo, ele perguntava a um bispo no momento mais tocante da entrevista e diante de uma audiência altamente reverente: "Os bispos são realmente necessários?" Ele reco-

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nhecia que fazia isso porque sobrevivia em sua profissão como jornalista à custa do choque, em detrimento do conteúdo.

Será que a pergunta de André foi um tipo de "pergunta chocan- te", uma gozação, no sentido de que poderiam encontrar o "endere- ço" do Messias e então ridicularizar suas afirmações? Será que ele também estava brincando com a audiência? Quanto mais penso so- bre isto, mais fico convencido de que o candidato a discípulo tinha boas razões para fazer a pergunta que fez. Tinha começado uma investigação séria sobre a pessoa de Jesus. Será que ele era o Cristo, o Ungido? Por quase dois mil anos os profetas tinham falado sobre sua vinda. Será que estava se cumprindo? Vamos olhar mais de perto o que ocasionou uma pergunta tão básica, diante de uma afirmação tão monumental.

U M A I N T R O D U Ç Ã O PROVOCATIVA

O contexto da pergunta de André nos é apresentado no primeiro capítulo do Evangelho de João. Quando começamos a ler, imediata- mente somos tocados pela casualidade com que Jesus fez sua apari- ção. Não houve rufar de tambores, nem grandes tumultos e nem desfiles para anunciar a chegada daquele cujo nome estaria nos lábios da humanidade de uma forma que nenhum outro nome jamais es- taria. Não houve tempo para ensaios.

João Batista recebeu a honra de fazer o anúncio desprovido de adornos. Vestido de forma estranha e mantendo uma alimentação ainda mais estranha, o precursor estava ganhando muitos seguido- res. Aos olhos dos devotos, ele era um profeta digno de toda honra. Na verdade, mesmo antes do seu nascimento, o anjo tinha falado sobre seu chamado privilegiado, dado por Deus e cheio de propósi- to. Seu lugar na história seria daquele que apresentou Jesus ao mun- do. Dentre todos os métodos mirabolantes que poderia ter escolhido para este fim, João escolheu um simples pronunciamento. Foi tão desprovido de acompanhamento real que nenhum "fazedor de rei" conceberia tal modéstia para um anúncio que transformaria o mun- do. Principalmente no Oriente.

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Mesmo assim, num dia determinado e num momento divina- mente escolhido, Jesus foi a João Batista para ser batizado. Pasmado pelo privilégio, João achou-se indigno de tal honra, declarando que não era digno nem de desatar as sandálias do Senhor. Como ousaria batizá-lo? A cena foi imortalizada pela pomba que desceu e pousou sobre Jesus. Depois desta confirmação celeste, João olhou para seus próprios discípulos e disse: "Eis o Cordeiro de Deus".

E difícil ignorar imagens impressionantes por trás desta afirma- ção. A família judaica comum estava familiarizada com cordeiros e sacrifícios. Provavelmente o templo recendia a carneiro e a carne quei- mada, principalmente no Dia da Expiação. Apesar de sua grandeza e esplendor, no exterior do templo havia apenas um altar sem acaba- mento. Todos os cordeiros sacrificados ali pertenciam às pessoas que os ofereciam; assim, eram cordeiros de homens oferecidos a Deus. De fato, não eram nem mesmo representantes dos homens, ou iguais a eles. Eram cordeiros pertencentes aos homens, animais indefesos e in- génuos levados ao templo e de onde jamais retornavam.

Agora, naquele momento escolhido da história, uma oferta veio do próprio Deus, dada^or ele em favor da humanidade. Era o Cor- deiro de Deus. Entretanto, como podia ser? Como alguém podia nascer com o propósito específico de um dia ser sacrificado sobre um altar? Este fato não suscitaria outras questões entre aqueles que desejavam ser seus discípulos, em especial aos que ouviram a abrup- ta apresentação de João Batista?

Alguém versado nas Escrituras provavelmente se lembraria de imediato da narrativa de Génesis 22; Abraão recebeu ordem de sa- crificar seu filho Isaque, ao qual esperara tanto tempo para ter. En- quanto pai e filho caminhavam em direçao das montanhas, Isaque fez uma pergunta óbvia: "Eis o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?" No desenrolar da história, o próprio Isaque foi colocado sobre o altar e esteve a ponto de ser sacrifi- cado.

No último instante, quando a mão de Abraão brandia a faca sobre o corpo do filho, Deus exclamou: "Não estendas a mão sobre o rapaz!" Tendo planejado tudo aquilo para testar Abraão, o Senhor

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tinha providenciado um carneiro, para servir como substituto de Isaque, representando outro cordeiro que viria em outro dia.

O anúncio de João de fato dizia: "Aqui está ele — o Cordeiro de Deus, há muito prometido". Aproximava-se o dia em que haveria outra colina e outro altar, e desta vez a mão do Pai não deixaria de sacrificar.

Os discípulos de João que ouviram a apresentação de Jesus como o Cordeiro de Deus passaram a segui-lo. A primeira pergunta que Jesus lhes fez tinha uma falta de profundidade deliberada e compre- ensível: "Que buscais?" Naquele momento, eles não tinham um ver- dadeiro entendimento de que estavam seguindo Aquele cuja jornada era só de ida e terminaria num altar — numa cruz.

Fico me perguntando se algum de nós faria a mesma pergunta que eles fizeram naquele encontro memorável. A melhor pergunta seria: "O que João quis dizer ao chamá-lo de Cordeiro de Deus? Você está se encaminhando para um final sangrento?" Pelo contrário, eles estavam interessados em seus primórdios e por isso fizeram a pergun- ta inesperada: "Onde moras?" Anteriormente eu afirmei que no Ori- ente o lar é um indicador cultural bem definido. Tudo o que determina quem você é e como será seu futuro está ligado à sua herança e à sua condição social. Absolutamente tudo.

Na primeira vez em que retornei à índia, depois de uma ausência de onze anos, minha esposa (que é canadense) testemunhou em pri- meira mão a estima que se confere à família. Na recepção realizada em nossa homenagem em Bombaim, na qual eu iria falar, ela ficou surpresa pela forma como fui apresentado. A apresentação longa e formal foi cheia de superlativos. Mesmo assim, no geral, absoluta- mente nada foi dito a meu respeito. O discurso foi uma bem elabo- rada descrição das credenciais e das realizações do meu pai. Foi um daqueles momentos em que você deseja olhar ao redor e localizar a pessoa que está sendo homenageada. Finalmente, a última frase foi: "E este é seu filho, que falará a nós". Foi tudo o que disseram de mim.

Minha resposta imediata foi rir por dentro. Subitamente, po- rem, dei-me conta de que estava ali representando alguém maior do

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que eu mesmo - meu pai. Por causa dele, eu tive a oportunidade de falar. Eu sabia que estava no Oriente. No Ocidente, especialmente na América do Norte, a apresentação giraria em torno do que eu fiz ou não fiz. As credenciais são individuais, como se o indivíduo fosse ele próprio o possuidor de suas origens. Há pouca ou nenhuma menção da família. Na índia, porém, o país natal de meu pai, as credenciais dele, o nascimento de minha mãe e minhas raízes são extremamente importantes para a audiência.

Noto esta diferença significativa até hoje. No Ocidente, não demora muito para um estranho nos perguntar: "Onde você traba- lha?" ou "O que você faz?" Os pensamentos de quem pergunta estão formando um quadro, tentando determinar seu status financeiro e sua influência no mundo empresarial, para que a conversa siga esta linha. No Oriente, a pergunta é feita com o mesmo propósito: "Em que cidade você morava, quando vivia aqui?"; "Em que parte da cida- de você foi criado?"; "O que o seu pai fazia?". Nomes, endereços e a história da família são importantes. Oriente ou Ocidente, o objetivo pode ser o mesmo: situar você na sociedade. Somente o processo é diferente.

N u m a sociedade estratificada, seu endereço residencial dá ao interlocutor todas as informações que precisa sobre você. O privilé- gio do nascimento abre portas. Não é surpreendente a observação de Natanael, quando ouviu falar de Jesus pela primeira vez: "De Nazaré pode sair alguma coisa boa?" Esta afirmação é seguida por outra alguns versículos adiante: "Não é este o filho do carpinteiro?" Como, em nome de tudo o que é razoável, a resposta para as espe- ranças e sonhos de Israel, na busca do Messias, poderia vir de uma cidade tão sem importância e de uma família de status profissional tão modesto? A melhor maneira de descobrirem se Jesus realmente podia ser quem João dissera que ele era era seguindo-o até sua casa - o endereço terreno daquele que afirmava ser o Filho de Deus.

A resposta de Jesus cria mais enigma. Ele não deu um nome de uma rua ou a identificação de uma casa. Disse simplesmente: "Vinde e vede". Eles o acompanharam, viram onde estava hospedado e evi- dentemente pernoitaram ali. André retornou e disse ao irmão Simão

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que tinham encontrado o Messias, quer dizer, o Cristo, e convidou-o para também ir vê-lo.

No dia seguinte, Filipe, que também morava na mesma cida- de, convidou Natanael para se unir a eles, dizendo: "Achamos aque- le de quem Moisés escreveu na lei, e a quem se referiram os profetas, Jesus, o Nazareno, filho de José". Aqui você tem os elementos — a cidade e o parentesco. Natanael agiu com ceticismo e recebeu o mesmo desafio: "Vem e vê".

U M E N C O N T R O M E M O R Á V E L

A Escritura mantém silêncio sobre numerosas questões. Assuntos nos quais estamos profundamente interessados são deixados de lado sem maiores explicações. Em que tipo de casa Jesus morava? Em que tipo de oficina trabalhava — se é que trabalhava em alguma? Como era a mobília de sua casa? Quanto dinheiro possuía? Muitas vezes eu penso que parte do espaço dedicado às genealogias poderia ser dedicado a outros detalhes da vida de Jesus, que também seriam de grande interesse dos leitores. Quanto ele ganhava? Que tipo de roupas vestia? Como era sua aparência?

No entanto, talvez seja aqui que a visão de Deus da realidade busca nos elevar acima da escravidão e das distorções de nossa visão terrena. Figuras históricas têm casas que a posteridade pode visitar; o Senhor da história não deixou nenhum endereço. Os eruditos têm bibliotecas e escrevem suas memórias; Jesus deixou apenas um livro, escrito por pessoas normais. Os libertadores falam sobre vitória por meio do poderio militar e da conquista; Jesus falou de um lugar no coração.

Seria difícil preservar uma peça de roupa ou um móvel usado por Jesus, para que pudéssemos colocar num museu e ser visto por todo o mundo? Podemos visitar pequenas cidades no Oriente e ver escava- ções arqueológicas de casas do tempo de Jesus. Por que sua própria casa não foi preservada? Num museu na Turquia, podemos ver a es- pada de Maomé e aquilo que dizem ser fios de sua barba. Recente- mente fomos informados de que encontraram um dente de Gautama,

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o Buda. Podemos retroceder no tempo e ver coleções extraordinárias de artefatos relacionados aos monarcas e heróis de tempos até ante- riores à época de Cristo.

Aquele que é dono das alimárias sobre milhares de montanhas não deixou tais informações. Sobre Cristo, ouvimos que ele não tinha onde reclinar a cabeça. O mesmo escritor (João) afirma de forma extremamente direta: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.f...] E o Verbo se fez carne e habitou entre nós..." (Jo 1:1, 14). A expressão "no princípio", empregada por João, faz um tocante paralelo com as primeiras palavras das Escrituras: "No princípio, criou Deus...".

Embora o parentesco terreno de Jesus fosse importante, seu en- dereço residencial não era terreno - pois num sentido muito real ele não tinha princípio. Em meio às perguntas "onde" e "quando" que marcam nossa natureza finita, aquele que é eterno e infinito não sofre tais limitações. A tarefa de Jesus era elevar tais questões, e por isso disse aos interlocutores: "Vinde e vede". Desconfio que haveria um choque e a necessidade de maiores explicações. André tinha motivos para fazer sua pergunta, e Jesus estava oferecendo uma jornada de reflexão como resposta. Nós empreenderemos esta jornada. Neste momento, coloque-se no lugar de André. Ele fora convidado para ir à casa daquele que fora identificado por um reconhecido profeta como o Cordeiro de Deus. André foi. O que ele esperava? Será que ficaria desapontado?

Billy G r a h a m conta sobre uma cruzada que realizou em Pittsburgh. Ele acabara de entrar no saguão do hotel onde passaria o fim de semana e, na companhia de alguns membros de sua equipe, dirigiu-se ao elevador, onde alguns empresários estavam conversan- do. Quando o elevador começou a subir, u m dos empresários disse: — Ouvi dizer que Billy Graham está neste hotel — . Outro homem que reconheceu o Dr. Graham sorriu, olhou para aquele que falara e disse, apontando para ele: — Olhe ele aqui — . Surpreso, o empresá- rio se virou, olhou bem para Billy Graham e disse: — Que anticlí- max! — Sendo um homem humilde, o Dr. Graham concordou

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plenamente com o desapontamento do empresário e admitiu que o que ele estava vendo era tudo o que havia para ser visto.

O que aquele homem realmente esperava? Alguma figura com asas e auréola, que não precisava usar elevadores e que só seria en- contrada orando e pairando no ar? Em nossa imaginação humana, muitas vezes queremos que nossos heróis sejam maiores do que a própria vida. Nós os exaltamos de uma forma que até os prejudica. Em nossa imaginação, nós os transformamos em figuras irreais, de plástico. Quando eles sangram, envelhecem ou tropeçam, nós os deixa- mos de lado ou arranjamos uma maneira de perpetuar o mito. Para sustentar esta ilusão em nossa mente, construímos estátuas e erigimos monumentos; os artistas fazem pinturas com auréola, estabelecendo uma imagem surrealista. Nós nos convencemos de que eles são ou foram algo essencialmente diferente do resto da humanidade.

Naquele encontro histórico, aquela pessoa era essencialmente diferente do resto. Mas... de Nazaré? Filho de um carpinteiro? O templo edificado como habitação de Deus possuía beleza e rique- zas inimagináveis em sua construção. Agora que Deus tinha en- carnado, sua casa era comparativamente indigna. Para ajudar a organizar a questão, Natanael entra em cena. Estava tão compro- metido com a verdade que, quando foi convidado para se encon- trar com Jesus, concordou em ir, provavelmente na esperança de dissipar o "engano" que se criara na mente de seus amigos. No entanto, quando ele chegou perto de Jesus, este se referiu a ele escolhendo cuidadosamente as palavras: "Eis aí u m verdadeiro israelita em quem não há dolo!"

Ali se operou a primeira surpresa. Não há nada mais incómodo para uma pessoa do que ter seus pensamentos mais íntimos revela- dos nas palavras de um estranho.

Natanael esperava "desmascarar" aquele homem e, em vez disso, seu próprio caráter foi revelado, como realmente era. "Donde me conheces?", ele inquiriu. Jesus replicou: "Antes de Filipe te chamar, eu te vi, quando estavas debaixo da figueira".

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Sobre o que ponderava debaixo da figueira? Será que teve o pres- sentimento de que se aproximava o momento em que sua vida passa- ria por uma transformação? Será que foi um momento de intimidade, o qual ele achava que ninguém jamais saberia? Algo na revelação de Jesus fez Natanael agir impulsivamente, quase com violência, e ele pronunciou as palavras que transformam vidas: "Mestre, tu és o Fi- lho de Deus, tu és o Rei de Israel!" (Jo 1:49). Creio que Jesus venceu o ceticismo de Natanael revelando gentilmente os pensamentos e intenções do seu coração.

Foi neste ponto que a pergunta de André - "Rabi, onde assistes [moras]?" — recebeu a resposta mais inesperada. Jesus tinha visto Natanael quando este não sabia que estava sendo observado. Ele iden- tificou a determinação com a qual Natanael buscava a verdade, o que certamente atraiu sua atenção. N u m dos seus salmos, o rei Davi con- fessou que não podia fugir da presença de Deus, pois Deus conhecia sua mais profunda intimidade - "Aonde eu vou, tu estás lá" (139:7-10). Natanael acabara de descobrir a mesma verdade.

Jesus também sabia que Natanael não tinha uma opinião favorá- vel sobre Nazaré. Reconhecendo o que havia em seu coração, Jesus desafiou sua resposta impulsiva e lhe disse: "Porque te disse que te vi debaixo da figueira, crês? Pois maiores coisas do que estas verás. [...] Em verdade, em verdade vos digo que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem" (Jo 1:50,51). Resumindo, Jesus estava dizendo: "Você está chocado porque

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