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U M SABOR PARA A ALMA

No documento Ravi Zacharias - Por Que Jesus é Diferente (páginas 92-121)

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izem que "a verdade é mais estranha do que a ficção".

G. K. Chesterton responde por que é assim: "E porque nós fazemos a ficção se adequar a nós". As técnicas modernas só refor- çam a capacidade da produção em massa das mentiras. Com esta combinação de propensão e facilidade, convivemos com o fato de que às vezes parece impossível acreditarmos na verdade.

Alguns anos atrás, minha família e eu visitamos a cidade de Bedford, na Inglaterra, próximo de onde morávamos (Cambridge). Bem no centro da cidade, há uma estátua enorme do famoso escritor John Bunyan, que viveu no século XVII. A estátua é tão impres- sionante que algum engraçadinho pintou marcas de pé gigantescas no chão, desde a escultura até um banheiro público próximo. A mensagem implícita (sarcástica ou não) é: João Bunyan está vivo.

Todo apreciador de literatura sabe que embora Bunyan tenha falecido há muito tempo, seu brilhante trabalho, O Peregrino, conti- nua vivo. Este livro foi traduzido em mais idiomas do que qualquer outro livro na história, exceto a própria Bíblia. Visitamos um museu construído em sua homenagem, no qual há u m exemplar do seu livro em cada língua em que foi traduzido. Ficamos impressionados ao ver pessoas de várias nacionalidades caminhando de sala em sala, olhando as obras exibidas.

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Quando estávamos saindo, comentei com a funcionária da recep- ção: —Não é surpreendente que um simples livro, escrito por um homem que consertava panelas, tenha adquirido esta aclamação mundial?

Ela respondeu devagar: —Suponho que seja verdade, mas devo confessar que não li o livro.

Se não houvesse um piso firme debaixo dos meus pés, acho que teria desmaiado. Incapaz de me controlar, perguntei: — Por que não leu?

—Achei muito complicado—, foi a resposta seca.

Se o choque pudesse ser medido numa escala, eu acho que esta- ria perto da nota máxima. O que podemos dizer para uma pessoa que vende ingressos para um museu que deve sua existência a um livro, o qual ela nunca leu? Eu recomendaria que, mesmo que seja por pura curiosidade, ou até pelo desempenho profissional, ela tente ler pelo menos a versão simplificada para crianças, para ter uma ideia vaga do que se trata.

Esta ilustração é um exemplo notável de pobreza auto-imposta! E possível alguém ter um tesouro nas mãos e ignorá-lo, concentran- do-se mais na embalagem que o envolve. Esta proximidade da ver- dade e a distância do seu valor ocorre repetidamente em nossa vida. Nas palavras de Chesterton, retemos a areia e jogamos o ouro fora. Ninguém viu esta tragédia de forma mais vívida do que Jesus. As multidões com frequência iam até ele e depois se afastavam agar- radas a coisas menores enquanto desprezavam o verdadeiro tesouro que lhes fora oferecido. Muitas vezes ele demonstrou surpresa diante da falta de seriedade deles, incapazes que eram de olhar além da superfície.

Uma das ilustrações mais chocantes disso foi o encontro daque- las pessoas com uma verdade tão cativante e tão dramática. A maior tragédia em toda a história é que milhões de pessoas continuam cometendo o mesmo erro, deixando de ler as palavras de Jesus, ou então as distorcendo vergonhosamente.

Eu enfrentei uma distorção dessas num desafio público. Eu ter- minara de dar uma palestra para uma audiência hostil na índia. No

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final, tivemos um tempo para perguntas; subitamente, um homem gritou lá de trás: — O s cristãos são canibais! Jesus promoveu o canibalismo!

Não havia absolutamente nenhuma conexão entre o que eu ti- nha dito e seu comentário explosivo. O ataque simplesmente revela- va sua animosidade para com a mensagem da fé cristã. Em minha experiência, embora eu não seja alvo de muitos ataques desse tipo, certamente aprendi a me prevenir contra eles. Nossa inclinação na- tural é responder à altura, atacando o oponente — escárnio por escár- nio, golpe por golpe, insulto por insulto.

No entanto, essa não é a solução para tratar com um interlocutor zangado. Tais respostas apenas diminuiriam a eficácia de qualquer argumento. Na verdade, eu sabia por que aquele homem estava fa- zendo tais insinuações, embora a maioria da audiência estivesse pres- tando atenção.

Minha resposta foi simples: —Por que você diz isso, e qual é a sua fonte?

Ele não soube responder. Disse que precisava ir à sua casa e olhar no livro que estivera lendo. Ele na verdade não precisava sair à pro- cura do livro. Eu podia citar o nome do filósofo, bem como a página do livro onde havia tal alegação. Os filósofos ateístas não poupam esforços em sua ânsia de ridicularizar as palavras de Jesus. Assim, eu sabia exatamente o que aquele estudante tinha em mente. Convi- dei-o a vir à frente para que pudéssemos debater a questão, mas ele recusou o convite.

"Os cristãos são canibais!"

Sobre o que ele estava falando? Será que já tinha lido a Bíblia? Será que procurara uma explicação para o que tinha lido? O u será que era nisso que desejava acreditar?

Aqueles que cresceram num lar cristão ou que participaram ati- vamente de uma igreja jamais se demorariam numa tese tão bizarra. No entanto, para aqueles que se tornam cristãos depois de adultos e não estão familiarizados com o ambiente cristão, ou para os céticos que buscam argumentos, uma passagem em particular pode saltar

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das Escrituras e causar um efeito desconfortável. As palavras são diretas e impressionantes.

"Este é o meu corpo ... tomai e comei"; "Este é o meu sangue ... bebei dele todos".

Estas palavras de Jesus causaram um choque tão grande quando foram proferidas, que podemos compreender a reação do estudante indiano. Lembro-me muito bem de quando eu era criança e ouvia estas palavras impressionantes, domingo após domingo, na igreja que eu frequentava com relutância e displicência. No entanto, mi- nha lembrança mais vívida é que passava o culto inteiro esperando aquelas palavras e não tinha ideia do que elas significavam; na verda- de, jamais pensei muito nelas.

Eu via as pessoas se encaminhando para frente, ajoelhando-se com as mãos estendidas e recebendo algo que a seguir colocavam na boca. De minha parte, o mais importante era o horário. Eu sabia que quando aquelas palavras eram pronunciadas, estariam faltando cerca de vinte minutos para o final do culto, e dentro de uma hora eu estaria no campo de críquete ou no cinema.

Eu estava imensamente próximo de uma das verdades mais su- blimes ensinadas e demonstradas por Jesus e ao mesmo tempo tão distante do seu significado. Como a funcionária do museu de Bunyan, eu ignorava as palavras. Agora sei que, para aquele que realmente busca compreender todo o seu significado, sua profundidade é imensurável.

Novamente, se devemos seguir a trilha do entendimento, temos de prestar atenção na sequência das afirmações de Jesus. Primeiro o simples, e a seguir o profundo. Creio que seu pronunciamento ofere- ce um elemento do evangelho que faz um contraste único e reluzente com as outras convicções religiosas.

I M P U L S I O N A D O S PELO SENSACIONAL A terra estava cheia do céu,

E cada arbusto queimava com Deus;

Mas somente aquele que enxerga tira a sandália; O resto se senta e colhe amoras.1

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Assim se expressa a poetisa Elizabeth Barrett Browning. Seu poema nos remete de volta ao grandioso relato onde Deus se reve- lou a Moisés na sarça ardente e o chamou para liderar seu povo para fora da escravidão, para a terra que manava leite e mel. Browning destaca que a epifania não foi para o deleite gastronómico de Moisés. Devo acrescentar também que os trovões e relâmpagos no Monte Sinai não foram para o povo apreciar os efeitos pirotécnicos sobre a paisagem.

A manifestação ofuscante e quase assustadora dos elementos, nos dois momentos cruciais para seu povo, apontava para além das forças da natureza, para Aquele que é capaz de controlá-las. A presen- ça inexaurível de Deus marcou aqueles eventos com um esplendor brilhante e magnífico. A falta de visão do povo era inconcebível, che- gando a um ponto onde os sinais tornaram-se fins em si mesmos, e Aquele que significava tudo se tornou um meio. Os efeitos especiais tornaram-se atrações, e a figura central foi obscurecida. A humanida- de vive em cegueira total, e o erro é repetido em todas as gerações.

Foi assim que, séculos depois daqueles eventos, as pessoas conti- nuavam cegas. A multidão seguia o ministério de Jesus e se introme- tia em seus momentos a sós. Apresentaram-lhe um desafio ardiloso, exigindo que lhes desse o maná, como Moisés dera ao povo no de- serto. Eles jamais esperavam uma resposta como a que receberam. A conversa sobre pão foi a parte mais fácil. As palavras que se seguiram foram chocantes para eles. Quando ele terminou, muitos o abando- naram, dizendo: "Duro é este discurso, quem o pode ouvir?".

A verdade, nesta situação, estava além da capacidade de crer por- que a mente não estava disposta a ponderar na provisão e, é claro, na implicação. Havia uma grande lacuna entre a expectativa deles e a oferta de Jesus, e eles começaram a se afastar sem esperar uma expli- cação. Jesus, então, olhou para seus discípulos e perguntou-lhes se também iriam abandoná-lo. Será que era demais para eles também compreenderem?

Depois de sua morte, eles iriam lembrar daqueles momentos e ilo que ele dissera. Milénios mais tarde, enquanto a Igreja repete aquelas palavras em praticamente todas as línguas existentes, muitos

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continuam considerando este discurso muito duro e continuam aban- donando-o sem compreender.

I N T E R P R E T A N D O MAL A ESCRITURA

Quando Jesus disse: "Tomai, comei, este é o meu corpo ... Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança..." (Mt 26:26-28), ele não estava falando num vácuo cultural, instigan- do seus discípulos ao canibalismo. Pelo contrário, suas palavras de- viam arrancar os ouvintes de uma existência estéril, dominada pela comida, e levá-los ao reconhecimento da fome suprema da vida, que só pode ser saciada com um pão diferente. Foi exatamente na- quela jornada liderada por Moisés que ele disse pela primeira vez que o pão físico tem um poder limitado de sustentar. Ele desejava saciar uma fome maior.

Para uma cultura com instruções tão específicas sobre as neces- sidades espirituais, sem mencionar as estritas leis alimentares, so- mente a ignorância podia gerar a noção de que Jesus estava pres- crevendo o consumo de carne humana. A acusação deles de ser um "discurso duro" demonstrou a falta de compreensão. É essa res- posta que priva todo ser humano do verdadeiro sentido da vida.

Quanto mais pondero nas palavras de Jesus, mais profundamente sou levado a reconhecer por que a fome por algo transcendente está tão arraigada em nosso ser — sim, mesmo nos nossos apetites físicos. Pode ser por isso que não conseguimos extirpá-la, por mais que tentemos.

Portanto, é uma perda significativa que um ensino tão profundo tenha sido acolhido com um entendimento tão vazio. Infelizmente, como o estudante na Índia, em vez de receber a verdade que Jesus estava revelando, muitos "se sentam ao redor dela", na posição de filósofos ou de críticos, e "comem amoras".

Que contexto nós temos? O que antecedeu a exigência da mul- tidão de ver descer pão do céu?

Antes do registro dessa conversa, João já tinha descrito vários milagres realizados por Jesus. O primeiro foi a transformação de água em vinho, onde Jesus demonstrou seu poder sobre os elemen- tos da natureza. Depois João narrou dois episódios de cura, nos quais

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Jesus mostrou seu poder sobre as enfermidades. A seguir, descreveu Jesus multiplicando o lanche de um jovem, alimentando com ele cinco mil pessoas — mostrando seu poder sobre toda a provisão. Finalmente ele relatou a conhecida história de Jesus andando sobre a água — mostrando seu poder sobre as leis naturais.

Cada uma dessas histórias é seguida por respostas variadas, desde reverência até ridiculização, desde reações práticas até filosóficas. Captando a beleza da água sendo transformada em vinho, o poeta Alexander Pope disse: "Conscienciosa, a água olhou para seu Mestre e corou". Esta descrição sublime pode ser editada para explicar cada milagre. Em princípio, seria difícil um corpo aleijado se endireitar a um comando do seu Criador? Seria demais para o Criador do uni- verso, que criou todas as coisas a partir do nada, multiplicar pão para a multidão? Aquele que trouxe todas as moléculas à existência não seria capaz de agrupá-las para caminhar sobre elas? Por que as pessoas não faziam esta conexão?

Não é próprio da impertinência agarrar o dom e ignorar o doa- dor? O naturalismo trata de arrancar o milagre do seu lugar legíti- mo, substituindo-o por explicações que desafiam a razão. Aqueles que zombam do fato de Jesus ter caminhado sobre a água esquecem do milagre que ele já tinha operado, ao alterar a composição da água.

Pense nisto um momento. Em 18 milímetros de água (cerca de duas colheres), há 6xl02 3 moléculas de H 2 0 . Quanto é 6xl023? Um

computador moderno pode realizar dez milhões de cálculos por segundo. Este computador levaria dois bilhões de anos para calcular 6x1023.

Olhemos de outra maneira. Uma resma de papel tem cerca de 500 folhas e cinco ou seis centímetros de altura. Qual seria a altura de uma pilha de 6x1023 folhas de papel? Essa pilha iria da Terra ao

Sol, mais de u m milhão de vezes.2

Mesmo assim, Deus agrupou esta enorme quantidade de molé- culas em apenas dois goles d'água. O milagre de caminhar sobre a água é pequeno para Aquele que a criou. A multiplicação dos pães se deu a um simples comando para Aquele que criou a Terra com uma

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ordem (C. S. Lewis disse que um milagre pequeno não é mais fácil de realizar do que um milagre de grandes proporções). Evidente- mente, os céticos questionam a credulidade que aceita tais histórias, mas não percebem que quando tomam um gole de água de um copo, estão presenciando um grande milagre.

As pessoas e os discípulos que viram Jesus operando o milagre da multiplicação dos pães seguiram-no com intenções deliberadas. Buscavam o poder que acreditavam que tornaria a vida mais deleitável — assegurando barriga cheia e uma provisão inexaurível de pão. Quem poderia culpá-los? Recentemente ouvi sobre um homem que ga- nhara uma grande soma de dinheiro numa loteria. "Qual foi a maior mudança em sua vida?", perguntaram-lhe. "Agora eu janto fora com mais frequência", foi a resposta.

Comida e poder distraem a mente, fazendo-a esquecer da falta de alimento para a alma. A generosidade de Deus, manifestada nos milagres, tornou-se uma pedra de tropeço porque as testemunhas perderam de vista o propósito da obra e almejaram apenas tirar vantagens pessoais. Queriam saber como o lanche de um indivíduo podia alimentar milhares de pessoas e ainda sobrar vários cestos cheios. Como um paralítico de quase quarenta anos de idade podia andar novamente? Será que aquele poder era transferível? Poderia ser comprado?

E crucial notarmos que a resposta de Jesus à demanda do povo forma um nítido contraste com o auto-engrandecimento que se espe- raria de alguém que se dizia ser o Messias. Em vez de se acalentar com os louvores fingidos e aumentar o número de seguidores, Jesus se esgueirou e saiu do meio da aclamação. De fato, ele chorou ao ver a forma como se enganavam. Ele sabia os motivos e os con- ceitos errados com os quais conviviam. Querendo apanhá-lo numa armadilha, levantaram esta questão: "Nossos pais comeram maná do deserto... por que você não nos alimenta da mesma forma?"

Foi aí que Jesus iniciou sua resposta, levando-os muito além do que tinham planejado ir. No entanto, primeiro ele tentou afastá-los do erro, para poder conduzi-los à sua verdade.

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I G N O R A N D O O A U T O R

Não é surpresa que a primeira tentação que Jesus enfrentou no deserto foi para transformar pedras em pão. "Faça isso", Satanás lhe disse, "e o mundo o seguirá".

Qualquer pessoa que já esteve em países onde a fome é exposta publicamente como meio de inspirar compaixão e de se conseguir alguma ajuda pode entender o efeito emocional de tal tentação. Eu mesmo cresci numa terra onde nunca faltavam pessoas famintas. Como o alimento pode se acomodar confortável em seu estômago quando ao seu redor tantas pessoas sofrem pela falta dele? Portanto,

não foi uma tentação leve lançada sobre Jesus. O tentador conhecia

a força de sua investida. De que outra maneira Deus poderia ser tão relevante, além de providenciar o pão necessário à vida? Como uma religião pode ser boa, se não pode alimentar os famintos? Satanás estava perigosa e dolorosamente próximo da verdade. No entanto, usava uma meia-verdade; a meia-verdade se liga tão intimamente à mentira que a mistura se torna mortal.

Faça esta pergunta a si próprio: Que tipo de lealdade resultaria se a única razão da afeição para com o líder é que ele distribui pão entre seus seguidores? Ambos os motivos seriam errados — do provedor e do receptor. Estes são os termos do sistema de recompensa e castigo que motiva mercenários, cria cumplicidade, mas não inspira o amor. Seu apelo é logo esquecido, quando é usado em forma de sedução ou quando é retido para instilar o medo. A dependência sem com- prometimento sempre buscará meios de romper suas cadeias.

A tentação que Satanás colocou diante de Jesus o espreitou du- rante todo o seu ministério, mesmo quando a multidão o apertava exigindo uma provisão inesgotável de pão. Política de poder por meio da abundância não é uma invenção nova. E a forma usada pelos demagogos para controlar as massas. Jesus esforçou-se para mostrar ao povo que a preocupação com pão como propósito pri- mário e expressão de satisfação tinha alterado perigosamente o objetivo real do pão e o verdadeiro significado da vida.

Em nossa vida frenética, esta verdade não é assimilada mais fa- cilmente do que era na antiga Palestina. Em nossa sociedade voltada

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para o consumo, nosso apetite continua sendo grande, sempre care- cendo de satisfação. Não devemos pensar sobre isso? Isso em si já não seria um indicador de que nossa fome está mal direcionada?

Em sua peça Nossa Cidade, Thornton Wilder conta a história da vida cotidiana mundana em meio às suas dificuldades. Os detalhes são específicos, mas a lição é como um espelho erguido diante de todos nós. Vemos a rotina em toda a sua monotonia - a entrega do leite, o café da manhã, os operários indo para o trabalho, as donas de casa envolvidas nos seus afazeres, os jardineiros trabalhando — cada dia sendo uma repetição do dia anterior. Na história, a virada se dá quando Emily Gibbs morre ao ter um bebé, e a rotina é subitamente quebrada.

No mundo dos mortos, Emily recebeu a chance de voltar à ter- ra, num dia à sua escolha, para ver como realmente viveu quando estava viva. Agora, de sua nova existência no outro mundo, ela olha- va a vida com olhos cheios de nostalgia. Observou a atividade frené- tica em sua casa, na celebração de seu 12° aniversário. Como bem lembrava, toda a família estava preocupada com os presentes, as comidas e as brincadeiras. A festa transcorria alegre e animada.

Agora, porém, em seu estado irreversível, Emily notou a total falta de atenção pessoal, embora seu coração almejasse isso. A aten- ção geral, porém, estava nas coisas que precisavam ser feitas e não na pessoa para quem tudo era feito. Ela sentiu-se mal diante de tama- nha cegueira para com suas verdadeiras necessidades. Sem poder ser vista, ela implorava: "Por um breve momento estamos felizes. Va- mos olhar uns para os outros". No entanto, seu lamento não podia ser atendido. Eles não podiam ouvi-la porque estavam presos às coi- sas superficiais. A festa tinha de prosseguir, viria outro aniversário e o momento se dissiparia em ativismo. Quando proferia sua despe- dida final, Emily exclamou: "O Terra, tu és maravilhosa demais para ser notada por alguém!"

Na peça, ela se vira para o administrador do cenário, que

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