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5 DIÁLOGOS SOBRE A FORMAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

7.2 DIÁLOGOS SOBRE O PROEJA NAS ESCOLAS ESTADUAIS:

A segunda etapa da pesquisa nas escolas estaduais, que envolveu 120 alunos, evidenciou, dentre os resultados, o conhecimento dos alunos sobre a existência do Proeja, conforme gráfico abaixo:

Gráfico 8: Conhecimento dos alunos sobre a existência do Proeja

De acordo com o exposto acima, dos 120 alunos que participaram da pesquisa 43% informaram que não conheciam o curso. Somente 23% dos alunos afirmaram conhecer o Proeja; os demais alunos indicaram que não sabiam de muitas informações sobre o programa, sabendo somente de sua existência.

Os alunos que afirmaram conhecer o Proeja ou que informaram que já tinham, pelo menos, ouvido falar sobre o programa indicaram a forma como tomaram conhecimento do curso, sendo que 60% obtiveram informações com amigos61. Perguntamos também a esses alunos se eles já tiveram interesse em cursar o Proeja. Constatamos que 55% dos alunos62 afirmaram que sim, apresentando,

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Devido às semelhanças dessas respostas com aquelas dadas pelos alunos do Proeja, essa questão será detalhada, por meio de um gráfico, ainda neste capítulo, ao apresentarmos os resultados dos alunos do Proeja.

0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50% Conhece o Proeja Conhece pouco Ouviu falar, mas não conhece Não conhece o Proeja 17% 9% 24% 50% 32% 8% 26% 34%

Conhecimento dos alunos sobre a existência do Proeja

EJA Presencial EJA Semipresencial

dentre as justificativas, a importância de um curso técnico e as oportunidades surgidas para o mercado de trabalho. Entretanto, embora tivessem interesse pelo curso, há motivos que impediram que o aluno não o cursasse, como: distância da escola, falta de informações sobre a inscrição, tempo demorado do curso, interesse por curso superior, dentre outros.

Dentre as justificativas apresentadas pelos alunos que informaram que não tiveram interesse pelo curso (37%), temos: falta de informação sobre o programa, falta de oportunidade para cursá-lo, interesse pelo certificado do ensino médio para faculdade, falta de opção de curso, escola de difícil acesso e com frequência presencial, curso longo e difícil para quem trabalha e necessidade de refazer todo o ensino médio.

Os alunos que conheciam o Proeja e mesmo assim optaram pela conclusão do ensino médio nas referidas instituições justificaram os motivos de sua escolha. Novamente o motivo mais citado foi a possibilidade de conclusão rápida do ensino médio, mencionada por 28% dos alunos. Os outros motivos apontados foram: interesse pela conclusão do ensino médio para ingresso em cursos superiores e visando atender às exigências do mercado de trabalho; possibilidade de frequentar as aulas em uma instituição de EJA semipresencial, com flexibilidade de horários, por não terem oportunidade de frequentar um curso presencial, seja por motivos de caráter pessoal ou profissional; falta de interesse pelos cursos ofertados; idade; falta de informações sobre o programa; participar de processo seletivo e pagar inscrição para realizá-lo; localização do Ifes; gravidez e família; etc.

Os alunos apontaram, ainda, sua opinião acerca das vantagens e desvantagens do Proeja, indicando não somente seu conhecimento sobre o programa, mas também a percepção desses alunos acerca da oferta da EJA em uma instituição federal.

Dentre as vantagens, temos: oportunidade de emprego após a conclusão do curso, conhecimentos adquiridos ao longo do curso, aprimoramento do currículo, oportunidade de formação profissional, formação integrada, curso noturno destinado aos alunos da EJA, expectativa do aluno em melhorar de vida, etc.

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Esse questionamento foi direcionado para os 68 alunos que afirmaram conhecer o Proeja ou que indicaram, ao menos, ter ouvido falar sobre sua oferta.

Os alunos dessas escolas reconhecem como desvantagens do Proeja: curso longo e conclusão demorada, sendo cansativo especialmente para os trabalhadores; a necessidade de refazer todo o ensino médio; a dificuldade dos alunos iniciantes de acompanharem o curso; horário inadequado do curso; falta de cursos interessantes; escola de difícil acesso, distante e com horário insuficiente de ônibus; falta de disponibilidade de tempo dos alunos; muito conteúdo para pouco tempo de estudo; falta de informação sobre o curso; etc.

Ressaltamos que 22% dos alunos das escolas estaduais não veem desvantagens no curso, 40% não apontaram as desvantagens e 6% deram respostas incoerentes, como: as aulas não são todos os dias; a escola estadual oferta o curso e dá oportunidade de o aluno fazer estágio; é uma forma de acelerar os estudos – indicando que os alunos, provavelmente, desconhecem as especificidades do programa ofertado pela rede federal.

Aos alunos que nunca haviam ouvido falar sobre o Proeja, que correspondem a 43% do total entrevistado, aproveitamos para informar que, desde 2006, o Ifes Campus Colatina oferta cursos técnicos integrados ao médio de maneira presencial voltados para alunos jovens e adultos, que não somente concluem o ensino médio, mas também saem do curso com uma formação técnica. Perguntamos a esses alunos se teriam optado pelo Proeja, caso eles soubessem dessa informação antes de escolherem finalizar o ensino médio na escola onde estavam estudando, naquele momento. As respostas estão detalhadas no gráfico abaixo:

Gráfico 9: Interesse dos alunos pelo Proeja

Ao analisarmos as respostas dos alunos, no geral, verificamos que 44% do total demonstraram interesse em cursar o Proeja caso soubessem da existência do curso antes de seu ingresso na escola atual. Os alunos acreditam que o curso técnico ofertado possibilitaria seu ingresso no mercado de trabalho. Além disso, o ensino na escola é considerado muito bom, por propiciar mais conhecimento ao aluno, possibilitando oportunidades para um futuro melhor.

Constata-se, nas respostas dos alunos sobre o interesse em cursar o Proeja, que a formação profissional ainda está atrelada, para muitos, à formação para o mercado de trabalho. No entanto, o Documento Base do Proeja (2007) atenta sobre o sentido da educação que não se restringe a essa preparação, mas enquanto formação humana. Ademais, conforme disposto nesse Documento, os sujeitos que ingressam no curso:

[...] não terão garantia de emprego e melhoria material de vida, mas abrirão possibilidades de alcançar esses objetivos, além de se enriquecerem com outras referências culturais, sociais, históricas, laborais, ou seja, terão a possibilidade de ler o mundo, no sentindo freireano, estando no mundo e o compreendendo de forma diferente da anterior ao processo formativo (BRASIL, 2007, p. 19). 0% 20% 40% 60% 80% 100% EJA semipresencial EJA Presencial 35% 49% 35% 14% 18% 34% 12% 3%

Interesse dos alunos pelo Proeja

Sim Não Talvez Sem resposta

Ressaltamos que as respostas dos alunos para justificarem seu interesse ou não pelo Proeja foram dadas tendo em vista as poucas informações sobre o curso que constavam no questionário, já que essa pergunta foi direcionada aos alunos que não sabiam da existência do Proeja.

Dentre as justificativas dos alunos que demonstraram dúvida acerca de seu interesse (29% no total), tivemos como resposta principalmente que esse fato depende do tipo de curso ofertado na instituição. Quanto às justificativas dos alunos que afirmaram não ter interesse pelo Proeja, tivemos: falta de tempo; distância da escola; interesse pela conclusão rápida do ensino médio; conteúdo do curso passado de forma resumida; atrapalhando a preparação do aluno para o Enem e para o ingresso em faculdade; curso longo e com pouca divulgação; etc.

Desse modo, os resultados indicam que há um contingente de alunos no município de Colatina que não tem acesso sequer às informações sobre o Proeja e, por consequência, não tem acesso ao curso. Observamos que a falta de divulgação do programa nas escolas e comunidades do município de Colatina tem comprometido a visibilidade do Proeja em outros espaços, o que, de certa forma, reflete na não procura do curso pelos alunos oriundos da EJA e/ou de trabalhadores que trazem as marcas da descontinuidade nos seus processos de escolarização.

Vimos, pelas análises dos editais, que a demanda pelos cursos do Proeja tem sido inferior ao número de vagas ofertadas, em especial, a procura dos alunos que não possuem ensino médio completo. Contudo, os resultados da pesquisa nos intrigam a rever essa aparente realidade: a falta de interesse dos alunos pelo Proeja. Esse dado retoma uma questão recorrente na EJA que acaba por culpabilizar os sujeitos pelo seu próprio fracasso quando, nesse caso, é a eles atribuída a justificativa de que a baixa oferta da EJA tem como argumento o não interesse dos alunos – muitas vezes, vistos assim pelos próprios colegas: “eles é que não querem estudar”, como afirmado pela aluna abaixo:

As pessoas é que são acomodadas e não procuram algo para melhorar de vida, o curso oferece auxílio alimentação e a prefeitura oferece até passagem gratuita, só

não aproveita a oportunidade quem não quer (Aluna do Curso Comércio, 34 anos, possui ensino médio completo – Resposta do questionário).

A seguir, voltamos o nosso olhar para os alunos que estão frequentando o programa no Ifes Campus Colatina. Conquanto o questionário aplicado aos alunos das escolas estaduais ainda tenha contemplado outras quatro questões, a análise dos dados será transcrita juntamente com os resultados revelados pelos alunos do Proeja, já que são questões que estabelecem diálogos com os alunos desse curso.