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O conhecimento nos move e sua busca é algo apaixonante que, no processo, nos leva a pesquisar, conhecer, questionar, descobrir, aprender, partilhar, saber, envolver-se, revelar-se, movimentar-se. Estar viva!

Nesse movimento, sinto-me como na construção de um mosaico. Partes diversas, distintas e que se complementam sob muitos olhares. Quantos olhares! O mosaico não é junção das partes. Sua construção se dá na troca desses olhares, em que o “fazedor” do mosaico inspira-se, surpreende-se, molda, constrói, reconstrói. Nesse processo de criação e transformação, transforma-se. Dependendo do observador, a construção seria desconstruída. Transformada. Novas partes. Novo mosaico. Teria fim essa produção?

Ouso dizer que me apropriei do olhar de um mosaísta para iniciar minha busca por produções acadêmicas relevantes para o meu estudo. No envolvimento com essas produções, a dúvida: seria esta ou aquela pesquisa pertinente ao que me propunha a investigar?

Na tentativa de responder ao questionamento supracitado, busquei pesquisas da Ufes e de outras instituições que contemplassem o Proeja, pois este programa é o foco de meu estudo. Posteriormente, o olhar foi ampliado para pesquisas, também da Ufes, que envolvessem os sujeitos da EJA, pois essa modalidade é também objeto de investigação em meu estudo.

Durante esse processo de busca e construção, a relevância de minha pesquisa foi se evidenciando e a proposta inicialmente apresentada no projeto de seleção de mestrado foi se fortalecendo. Como não problematizar a (não) inclusão de jovens e adultos ao Proeja, se os estudos revelavam a necessidade de incursão no processo, tanto no acompanhamento da implementação do programa quanto na efetivação de suas propostas?

Portanto, a relevância deste estudo vai além de responder a questionamentos e inquietações pessoais e profissionais que foram se delimitando em minha trajetória

como professora e pesquisadora. Este estudo justifica-se, sobretudo, por poder contribuir para que sejam investigados e apontados alguns avanços e desafios que persistem na implementação de um programa voltado para a Educação de Jovens e Adultos, com ênfase na elevação da escolaridade com formação profissional.

Além disso, o Proeja, embora tenha sua oferta quase exclusiva na rede federal, teve a obrigatoriedade da ampliação dessa oferta, a partir de 2006, para as redes estaduais e municipais, especialmente por estar matriculada, nessas redes, a grande maioria dos alunos da EJA.

A primeira dissertação de mestrado analisada – Socialização e educação profissional: um estudo do Proeja, Cefetes, de Giovani Zanetti Neto – traz resultados de um estudo desenvolvido com alunos do Proeja, no Ifes Campus Vitória. A pretensão do trabalho, segundo o autor, foi estudar “como experiências de vida dos estudantes interagem com os processos de socialização desencadeados durante o período de formação escolar” (ZANETTI, 2009, p. 10).

A princípio, a escolha dessa dissertação para análise se deu simplesmente pela pesquisa ter sido desenvolvida no Proeja. Entretanto, a relevância da pesquisa para o meu estudo evidenciou-se, sobretudo, pela descrição dos sujeitos da pesquisa, mencionando, inclusive, um número significativo de alunos que já possuía formação básica completa, além de problematizar questões referentes à implementação do programa, na rede federal.

A segunda dissertação para análise, intitulada O Ifes e a implementação de políticas públicas de inclusão social: o caso da Educação de Jovens e Adultos, de Jamilda Alves Rodrigues Bento, também traz resultados do Proeja no Ifes Campus Vitória. Conquanto a pesquisa traga resultados reveladores e que merecem ser reconhecidos pelas instituições que ofertam o Proeja, destacarei um desses resultados evidenciados pela autora, por ser pertinente à minha proposta de estudo: a forma de divulgação dos cursos voltados aos alunos jovens e adultos, feita em forma de editais divulgados na internet e em jornais impressos. Os estudos de Bento (2009) revelaram que “os alunos da EJA tomam conhecimento dessa modalidade de ensino oferecido pelo Ifes através de pessoas conhecidas, sejam vizinhos, colegas de trabalho, amigos, entre outros”. Tal informação reitera minha inquietação em

levantar junto aos jovens e adultos trabalhadores e trabalhadoras as razões que lhes têm impedido/dificultado o acesso ao Proeja ofertado pelo Ifes ampus Colatina. A terceira e última pesquisa intitulada Da formação no curso de licenciatura em matemática de São Mateus-ES ao profissional da Educação de Jovens e Adultos, de Gerliane Martins Cosme (2009), também foi objeto de minha análise. A autora evidencia, em seu estudo, um descaso do município pesquisado com a Educação de Jovens e Adultos. Os professores dessa modalidade desenvolvem/desenvolviam seu trabalho “quase que totalmente sozinhos, sem ou com muito pouca orientação dos órgãos competentes, ou de cursos de formação continuada” (COSME, 2009).

Reitero o que apontei no início de minha caminhada como professora da EJA: a falta de formação específica para atuar com a diversidade de sujeitos dessa modalidade me incomodava e exigia que, constantemente, minha prática fosse revisitada e aprimorada.

Para finalizar o mapeamento dos estudos sobre o Proeja, na Ufes, optei por relacionar a dissertação de mestrado e a tese de doutorado, defendidas no ano de 2010, e os estudos em andamento que contemplavam o Proeja, nesta instituição, especialmente por alguns dos pesquisadores serem membros do Grupo de Pesquisa Institucional Proeja/Capes17/Setec18. Assim, tive a pretensão de sinalizar algumas discussões que se fazem/fizeram presentes nesse Grupo de Pesquisa e que buscaram contribuir para a efetivação do Proeja como política pública.

Além disso, observamos que a partir do surgimento do Proeja se intensificaram os estudos na Educação de Jovens e Adultos na Universidade Federal do Espírito Santo, direcionadas não somente à implementação do programa na rede federal (em especial nos Campi Vitória, Itapina e Colatina), mas sua extensão como programa de formação continuada (Proeja-Fic), envolvendo os municípios da Serra e de São

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Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – agência governamental, vinculada ao MEC, cujo objetivo é promover a expansão e a consolidação dos cursos de pós-graduação stricto

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Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica – possui, entre suas finalidades, planejar, orientar, coordenar e supervisionar o processo de formulação e implementação da política da educação profissional e tecnológica. Além disso, compete a essa Secretaria promover ações de fomento ao fortalecimento, à expansão e à melhoria da qualidade da educação profissional e tecnológica e zelar pelo cumprimento da legislação educacional no âmbito da educação profissional e tecnológica. Disponível em <http://portal.mec.gov.br>. Acesso ago. 2011.

Mateus. Enfatizamos, ainda, as pesquisas realizadas junto aos sujeitos da EJA no Proeja, abarcando também a Educação do Campo (seja na rede federal ou em assentamentos) e de alunos surdos. Outras temáticas foram exploradas nas pesquisas, conforme Quadro I (anexo).

Após o mapeamento dos estudos desenvolvidos sobre o Proeja, em nossa universidade, resolvi ampliar o olhar e buscar pesquisas concluídas e em andamento, da Ufes, cujos sujeitos investigados fossem alunos jovens e adultos não cursistas do programa, pois o campo de pesquisa que me propus a investigar não se restringe às instituições que ofertam o Proeja.

Atualmente, há um estudo em andamento com enfoque na Pedagogia do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, a ser realizado em assentamentos do extremo norte do MST/ES pela pesquisadora Dalva Mendes de França, sob a orientação da professora Edna Castro de Oliveira. Nos estudos concluídos, temos enfoques diversos, sobre: a evasão no Centro de Estudos Supletivos e nos cursos de Suplência, ambos em Vitória; processos de aquisição de escrita de adolescentes e adultos; a educação matemática na alfabetização de adultos e adolescentes; análise do Mobral e da Fundação Educar, dentre outros. Com a intenção também de sinalizar as pesquisas realizadas na Ufes e que estavam imersas no campo da EJA, a relação deste levantamento encontra-se no Quadro II (anexo)

Tendo concluído o mapeamento das dissertações e teses da Ufes, iniciei um novo movimento de pesquisa: conhecer algumas dissertações e teses nacionais, observando não apenas o que estava sendo investigado, em outras instituições, mas como os estudos concluídos poderiam contribuir para o desenvolvimento de minha pesquisa.

Optei por conhecer os estudos realizados sobre o Proeja em 2010 e primeiro semestre de 2011, utilizando como fonte de pesquisa o banco de teses e dissertações da Capes. Além disso, tive oportunidade de obter informações sobre estudos concluídos e em andamento, no referido período, do Grupo de Pesquisa Interinstitucional UTFPR/UFPR/Unioeste. Esse movimento me permitiu conhecer o que, de modo geral, estava sendo pesquisado em outras instituições, em nosso país, fazendo comparações, inclusive, com as pesquisas desenvolvidas localmente.

Ressalto, de maneira geral, algumas questões que nortearam os estudos, em outras universidades: implementação/implantação do Proeja, evasão escolar, currículo integrado, formação profissional, ingresso e permanência dos alunos com Ensino Médio completo no programa, práticas pedagógicas e administrativas, identidade, dentre outros.

Após conhecer esses estudos, identifiquei-me, especialmente, com a Dissertação de Mestrado de Claudia dos Santos Klinski, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, intitulada Ingresso e Permanência de alunos com ensino médio completo no Proeja do IF Sul-Rio-Grandense Campus Charqueadas, concluída em 2009, pois a autora problematiza a presença de alunos com Ensino Médio completo no Proeja. Dentre esses motivos que levaram os alunos com ensino médio completo a ingressarem e permanecerem no Proeja, segundo Klinski (2009, p. 29), estavam as “trajetórias formativas e profissionais descontínuas, a falta de opção formativa para os alunos com ensino médio completo, a baixa qualidade do ensino médio” nas instituições onde os alunos concluíram o curso, “a imagem do Instituto Federal como uma instituição de excelência em educação profissional e a forma de ingresso no curso (sorteio)”.

Klinski (2009) afirma que a condução do processo seletivo, naquele período, contribuiu para que os alunos da EJA fossem excluídos do processo de escolarização e ressalta que a instituição estava organizando uma outra forma de processo seletivo.

Tentando finalizar meu envolvimento com as produções acadêmicas e concluir, assim, minha experiência de “ser mosaísta”, relaciono algumas pesquisas, anexas, sobre o Proeja, com a pretensão de incentivar novos pesquisadores a se dedicarem a esse programa, bem como de acompanhar a efetivação do Proeja como política pública (Quadros III e IV). É importante destacar, como vimos, que poucas produções puderam estabelecer diálogo com o objeto de estudo em questão, o que indica a necessidade de novos estudos que se voltem para olhar esse fenômeno que envolve a formação de jovens e adultos com trajetórias descontínuas de escolarização, o que demanda a oferta de cursos de formação profissional que atendam aos seus anseios e projetos de futuro.

4 REVISITANDO CONTEXTOS: UM OLHAR SOBRE AS FUNÇÕES DA