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O diário das atividades e o livro de consultas: as condutas de uma “boa” Filha

CAPÍTULO 2 – ASCENSÃO E QUEDA DAS FILHAS DE MARIA

2.4.1 O diário das atividades e o livro de consultas: as condutas de uma “boa” Filha

Dos cinco últimos documentos (livros de atas) das Filhas de Maria, optou-se por dar destaque a três deles: diário, livro de consultas e Congregação Mariana das Moças, porque neles encontram-se informações do dia-a-dia da entidade, especialmente em relação às condutas de uma Filha de Maria. Há um livro dedicado às correspondências, ou às cartas que as Filhas de Maria recebiam e enviavam, entre os anos de 1903 e 1916, que tratar-se-á brevemente no último capítulo desta dissertação. Um outro livro que não entrará nesta análise será o da Congregação Mariana Nossa Senhora de Assunção, pois este apenas registra os nomes das moças e as suas faltas/presenças, a partir do ano de 1958.

Primeiramente, é importante assinalar que as reuniões das Filhas de Maria ocorriam sempre aos domingos – geralmente o primeiro de cada mês, após a missa da manhã – que durante certo tempo foi às 5h e, depois, passou a ocorrer às 6h. Devido à distância de uma localidade a outra, havia três locais “oficiais” para os encontros: centro (Nova Trento), Vígolo e S. Giuseppe, este último referindo-se à Igreja São José, do bairro Claraíba, distante 16 quilômetros do centro. Uma vez por mês também aconteciam os retiros, realizados geralmente

na casa da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, localizada no centro, ou em Vígolo, em outro espaço pertencente às freiras. Tudo isso está registrado em ata, inclusive as reuniões com as aspirantes, que ocorriam no segundo domingo do mês, ou seja, em um dia separado das Filhas de Maria propriamente ditas.

Figura 7 – Primeira ata do Diário da Pia União das Filhas de Maria de Nova Trento, datada de 01 de novembro de 1903

Fonte: Elis Facchini (2017)

Duas datas ganham destaque em praticamente todas as atas da instituição: 8 de dezembro, dia da Imaculada Conceição, data oficial de ingresso das Filhas de Maria – pelo menos no início da associação. Ao longo dos anos, isso vai se perdendo, e outras datas são incorporadas para a admissão de novas filhas, como o dia de Nossa Senhora de Assunção (15

de agosto), dia de Regina Caeli60 (22 de abril) e dia de Santa Inês (21 de janeiro). Esta última é a segunda data mais importante para uma Filha de Maria, por se tratar da “Festa de Santa Inês, protetora da Pia União”61 (PIA UNIÃO DAS FILHAS DE MARIA, Nova Trento, Diário da Pia União das Filhas de Maria, 03 de janeiro de 1904).

Por indicação das famílias e das próprias moças da comunidade, inúmeras meninas recebiam “permissão” para participar da Pia União das Filhas de Maria como aspirantes. Durante determinado período – que durava cerca de seis meses a um ano, conforme relatado em ata – essas aspirantes eram observadas pelo grupo, neste caso pela diretoria e pelo padre diretor. Todas elas eram orientadas a comunicar os possíveis desvios dessas candidatas ao vigário. Desta forma, as associadas vigiavam-se mutuamente, facilitando inclusive o trabalho do próprio clero: muitos olhares estavam atentos ao modelo de mulher preconizado.

Com base nessa perspectiva de vigilância, em História da Sexualidade 3: o cuidado de si (1985), Foucault teoriza como o sujeito constrói sua identidade e direciona sua conduta, embasado em um conjunto de técnicas: tecnologias de produção, tecnologias de signos, tecnologias de poder e tecnologias do eu. Estas últimas, em especial, possibilitam que os indivíduos adotem algumas diretrizes sobre seu corpo, pensamento e conduta. Esse “cuidado de si” imbuído da temática da sexualidade, mais do que um aglomerado de recomendações, carregam um ideal ético. Este, por sua vez, conduz os indivíduos a aplicá-lo de forma voluntária, sem que percebam que estão sendo conduzidos por esse conjunto de técnicas, derivadas de relações de poder. Isso propicia a elaboração de um saber, que se torna comum ou normal em uma sociedade após determinado tempo de atuação. Foi exatamente o que ocorreu com as Filhas de Maria: elas passaram a adotar essa vigilância perante si e as outras; essa prudência tinha relação direta com o corpo e, consequentemente, com a sexualidade.

O cuidado de si aparece, portanto, intrinsecamente ligado a um “serviço de alma” que comporta a possibilidade de um jogo de trocas com o outro e de um sistema de obrigações recíprocas. De acordo com uma tradição que remonta a muito longe na cultura grega, o cuidado de si está em correlação estreita com o pensamento e a prática médica. Essa correlação antiga ampliou-se cada vez mais. (FOUCAULT, 1985, p. 59).

É importante ressaltar que esse “cuidado de si” ou a ética diferem da moral, sendo este um conjunto de regras, valores e leis pré-estabelecidas pelas mais variadas instituições (família,

60 Em muitos momentos dos livros de ata aparece a citação de “Festa Regina” e/ou “Regina Caeli”, um hino

mariano habitualmente entoado pelos católicos durante o Tempo Pascal, em determinados horários. O termo está em latim, que em português significa “Rainha do Céu”. Informações obtidas no blog “Todo de Maria”, da Canção Nova. Disponível em: <https://blog.cancaonova.com/tododemaria/a-historia-da-composicao-do-hino-regina- caeli/>, acesso em 24 de março de 2019.

Igreja). Quando Foucault se remete ao cuidado de si, ele está em um campo diferente, baseado no pensamento greco-romano, que não enquadra os prazeres e a sexualidade dentro de um contexto de leis. Segundo o filósofo francês, é um pensamento que resiste ao poder, que é capaz de refletir sobre o campo das forças e dos desejos, aproximando o sujeito de si mesmo, criando uma consistência na diferença através das mais variadas técnicas. Será possível ver, logo mais, como essas mulheres de Nova Trento criam resistências em seu cotidiano, a fim de atender aos seus desejos mais íntimos. E não são só resistências: são também um emaranhado de jogos e saberes para driblar as inúmeras regras a que eram impostas.

Dando continuidade à história da associação conforme os registros, o primeiro grupo de aspirantes que recebe “permissão” para participar das atividades da Pia União é notificado em ata no dia 08 de dezembro de 1903. Neste dia ocorreu uma grande festa, com direito a coral, entrega de medalhas para as aspirantes e também para as Filhas de Maria, beijos na relíquia de Nossa Senhora e outras homenagens em honra à Imaculada Conceição.

A primeira Filha de Maria a ser formalmente admitida, de acordo com o livro de atas datado de 20 de dezembro de 1903, é Virgínia Borgonovo, moradora do bairro Claraíba. Porém, no mês seguinte, o mesmo bairro recebe uma notícia de expulsão: é o primeiro desligamento oficialmente comunicado, cuja jovem é Giovanna Deleastagne, que “foi vista, várias vezes, na companhia de um homem casado, separado da sua esposa”62 (PIA UNIÃO DAS FILHAS DE MARIA, Nova Trento, Diário da Pia União das Filhas de Maria, 17 de janeiro de 1904).

Com o medo de serem denunciadas (e expulsas!), provavelmente surgiam entre elas gestos de cumplicidade. Estabeleciam-se pactos de silêncio e acobertamento de pequenas transgressões, como namoricos após a missa, conversas não recomendadas, leituras não permitidas, ou seja, pequenos “pecados” que, se chegassem aos ouvidos do diretor, certamente elas seriam advertidas e até expulsas. Esses pequenos delitos aconteciam e foram confirmados durante as entrevistas com algumas mulheres participantes63.

Entretanto, havia um pequeno número de associadas que mantinham as diretrizes da Igreja Católica e não admitiam qualquer transgressão. Estas, certamente, uniam-se por afinidades pessoais e levavam as informações detalhadas até os ouvidos do padre, da Diretora ou da mestra das aspirantes. Isso trazia à tona conflitos e diversas tensões, que muitas vezes estão visíveis nos livros de atas das Filhas de Maria.

62 Citação original no livro de atas: Fu espulsa Daleastagne Giovanna perquè fu vista, più volte in compagnia di

un uomo maritato, diviso dalla moglie.

63 Essas entrevistas foram realizadas na fase final do curso de Comunicação Social – Jornalismo, em 2005, para

Um exemplo foram as expulsões das irmãs Maria e Catina Capraro, do bairro Vígolo. Em ata, o padre destacou que elas foram expulsas “para sempre”, porque não se dedicavam às companheiras e porque participavam de festas durante à noite, voltando para casa muito tarde. Na mesma reunião, no dia 07 de fevereiro de 1904, elas foram obrigadas a devolverem suas medalhas. Nas atas dos meses seguintes, o padre reforçou as expulsões e os motivos, inclusive em tom de ameaça:

Então ele exortou as Filhas de Maria a não ficarem na companhia das expulsas, mesmo com a intenção de ajudá-las, dizendo que quando juntam boas e más companhias, geralmente as boas não convertem as ruins, mas, em vez disso, estas pervertem aquelas64. (PIA UNIÃO DAS FILHAS DE MARIA, Nova Trento, Diário da Pia

União das Filhas de Maria, 28 de março de 1904)

Nota-se que a Igreja buscava controlar essas Filhas de Maria de diversas formas, inclusive mantendo por meses seguidos essa pressão psicológica, imprimindo medo a cada nova expulsão. Estratégias disciplinadoras que ora surgem e ora desaparecem das atas, sempre com a fala do diretor (padre) em evidência. Era ele quem conduzia as reuniões e, sem ele, os encontros não eram realizados65.

Uma das ferramentas desse controle era a participação nas missas e nas reuniões da entidade, todas contabilizadas nos livros de registros, com presenças e faltas. Obviamente, as moças que registrassem muitas faltas – incluindo as ausências nas “santas comunhões” – eram afastadas após algumas advertências. Elas estavam sob esta vigília constante, sob este controle, que vinha não apenas da Igreja, mas de suas famílias.

Uma das entrevistadas do livro-reportagem Devote della Vergine, contou: “Tinha que ser Filha de Maria, não tinha jeito, e dava para contar nos dedos as mulheres que não faziam parte da associação, pois os pais obrigavam” (FACCHINI, 2017, p. 55). Esta “obrigação” estava fortemente enraizada no seio da família, por se tratar de uma tradição católica passada de geração para geração, possivelmente desde os tempos em que viviam na Europa66. Além disso, estar inserida numa entidade como as Filhas de Maria era motivo de orgulho para a família, e proporcionava, até certo ponto, um “status”: essas jovens ocupavam um local específico dentro

64 Citação original: Esortò quindi le Figlie di Maria a non frequentar la compagnia delle espulse neppur

coll’intenzione di giovar loro, dicendo che quando si uniscono insieme compagne buono e cattive generalmente parlando le buone non convertono le cattive, ma piuttosto queste pervertono quelle.

65 Isso fica evidente nas atas, inclusive com as moças informando o motivo de algumas reuniões não serem

realizadas: o padre está em viagem, o padre está adoentado, o padre está em missão no Rio Grande do Sul.

66 Esta informação não pode ser confirmada pelo sociólogo e historiador, Renzo Maria Grosselli, durante entrevista

– pois não é foco de suas pesquisas – mas certamente a associação existia na Itália, uma vez que foi lá que ela surgiu.

da igreja – o lado direito era reservado às mulheres – trajavam seus vestidos brancos e traziam em seus colos a fita de cor azul celeste. Querendo ou não, isso as diferenciava das demais moças que, porventura, não participavam da associação. Consolidava-se, assim, uma imagem de lugar social privilegiado, pois essas moças atendiam aos anseios dos padres: eram “boas, honestas e bem modestas” (PIA UNIÃO DAS FILHAS DE MARIA, Nova Trento, Livro de Consultas da Pia União das Filhas de Maria, 30 de abril de 1939).

Mesmo sendo fortemente difundido como um local privilegiado, tanto pela Igreja quanto pelas famílias, atender a todas as imposições da entidade não era tarefa fácil, principalmente para aquelas que gostavam de dançar, de usar uma saia mais curta, de conversar, de ler, ou de simplesmente ter opinião própria. Nessas atas – principalmente no Diário – é possível notar que a grande maioria das expulsões ocorria por conta da dança. Aqui é importante assinalar que o ato de dançar não estava restrito apenas às casas de dança – que existiam, principalmente, no centro da cidade – mas a todo lugar, até mesmo residências de famílias, que promoviam festas e comemorações com músicas e bailados. Em um dos registros das atas, o padre diretor acusa uma dança “com palavras de fogo”, sendo que este foi o motivo da expulsão de “Maria Voltolini, de Nova Trento, e Anna Battisti; Anna Sborz, Ângela Battisti, do Morro da Onça” (PIA UNIÃO DAS FILHAS DE MARIA, Nova Trento, Diário da Pia União das Filhas de Maria, 22 de setembro de 1908).

Em outro momento, aparecem as expulsões de outras duas irmãs, Narcisa e Rosa Gessele, porque “dançaram em duas casas: em uma da tia e na outra de Antonio Tomasoni e, antes de entrar na segunda, para se certificar de que não seriam reconhecidas como Filhas de Maria, elas esconderam a medalha”67 (PIA UNIÃO DAS FILHAS DE MARIA, Nova Trento, Diário da Pia União das Filhas de Maria, 22 de setembro de 1905). A falta foi ainda maior por terem escondido a medalha, considerada um símbolo “sagrado” para uma Filha de Maria.

Mesmo assim, muitas moças que dançavam eram readmitidas nas Filhas de Maria, de acordo com os registros no Diário da associação. Conforme especificado, algumas jovens voltavam a receber a medalha após cumprirem “penitência” ou após pedirem “desculpas” diante de todo o grupo. Em uma dessas readmissões, o padre diretor fez questão de reforçar em ata que se tratava de “un miracolo” (um milagre), depois de proferir um pequeno sermão a todas as meninas presentes no encontro (PIA UNIÃO DAS FILHAS DE MARIA, Nova Trento, Diário da Pia União das Filhas de Maria, 05 de novembro de 1905). Como já mencionado, elas

67 Citação original: Oggi furono espulse dalla P. U. due sorelle, Gessele Narcisa e Gessele Rosa perchè il giorno

10 ballarono e ballarono in due case in quella di una loro zia e in quella di Antonio Tomasoni, e prima di entrare nella seconda per assicurarsi di non essere conosciute come Figlie di Maria, nascosero la medaglia.

tinham interesse em continuar na entidade, por ser um local de inserção social, de encontro com a comunidade e, não menos importante, de prestígio por estarem à frente de uma associação de grande tradição na cidade.

Durante todo o período analisado, não houve questionamento por parte das meninas sobre o motivo da proibição da dança, com exceção de um episódio que curiosamente é anotado em um dos livros. Trata-se de uma reunião que ocorre, quase no findar da associação, em 26 de julho de 1964:

O Padre José contou-nos que certa moça perguntou por que o Padre Vigário não deixa as congregadas dançar, que não há nada de mal nisso. Sim, dançar não é nada de mal e também não é pecado em certas condições: se uma moça está dançando com algum moço e procura ter sensação desonesta, é pecado. Falou muito das moças que andam com vestidos decotados. Nós que somos congregadas não devemos usá-los para dar bom exemplo. (PIA UNIÃO DAS FILHAS DE MARIA, Nova Trento, livro Congregação Mariana das Moças, 26 de julho de 1964).

Dançar, então, “não é nada de mal”, mas torna-se perigoso se a moça tiver “sensação desonesta” e, desta forma, “é pecado”. E, pecar para uma Filha de Maria, era algo que a ligava ao mundo escuro do diabo e das suas artimanhas – muito difundido em praticamente todos os sermões da Igreja, e a distanciava do universo de Maria ou de Santa Inês, modelos que deveriam ser imitados no seu cotidiano. Neste trecho mencionado, é curioso o fato de uma Filha de Maria contestar não só a regra, mas também o padre. A ousadia, então, também fazia parte do cotidiano delas.

Se alguma dessas moças fosse atraída para a dança e, consequentemente, “comesse do fruto proibido”, passava a se tornar a “Eva seduzida pela serpente”, conforme descrição tradicional da Bíblia. A psicóloga Vera Paiva (1989) faz esta analogia da Eva – e também de Lilith – com Maria, propondo uma reflexão sobre as insubordinações, que são sempre ligadas à Eva pecadora. Lilith, de acordo a autora, é considerada um mito: a primeira mulher de Adão, igual a ele, que não foi gerada de suas costelas. Ela reivindica um papel de igualdade para exercer seu prazer na relação com o homem. Porém, houve uma demonização da Lilith e sua completa exclusão, seguida pela criação da Eva, esta amplamente difundida pela Igreja Católica como uma figura submissa ao Pai e ao homem, mas que depois trairá essa expectativa (PAIVA, 1989, p. 59). Lilith é, portanto, uma mulher com autonomia, dona de si, que vai muito além da Eva, uma mulher mais submissa e, por fim, mais reprimida.

Em suma, a mulher sensível e submissa, que vive totalmente à sombra, esta sim merece respeito, e deve ser colocada num pedestal, ao lado da Virgem Santíssima. As Filhas de Maria são sempre vinculadas a este ideal.

Ao analisar as memórias dessa associação, são perceptíveis os papeis completamente antagônicos, que geravam tensão e uma certa confusão psicológica nessas mulheres: ora elas transitavam por caminhos considerados pecaminosos, ora elas estavam inseridas em um universo vasto, resplandecente e puríssimo.

A ideia de pecado também era fortemente interligada ao uso de roupas não apropriadas perante os rigores da fé católica. Muitas expulsões são retratadas em ata porque as jovens utilizavam vestidos curtos. E o que eram esses vestidos curtos? Trajes acima dos tornozelos, ou mangas acima do cotovelo, ou ombros descobertos. Como exemplos desses fatos estão as expulsões de Elvira Facchini, “pelo uso de vestido curto” (PIA UNIÃO DAS FILHAS DE MARIA, Nova Trento, Diário da Pia União das Filhas de Maria, 24 de junho de 1923), e de Maria Gessele, “por andar mal enroupada” (Ibidem, novembro de 1932).

Mesmo que as famílias não tivessem condições financeiras para obter uma vestimenta adequada, era imprescindível que as moças usassem vestidos conforme a tradição católica. Além da medida dos vestidos, o padre e a diretoria apontavam também para o uso de vestes completamente brancas em cerimônias especiais, como as procissões. Esta regra foi aprovada por unanimidade em uma das reuniões, que ocorreu no dia 19 de maio de 1907. Contudo, era um tanto difícil de cumprir, pois “a maioria delas é totalmente pobre, que nem consegue pagar a medalha”68 (PIA UNIÃO DAS FILHAS DE MARIA, Nova Trento, Livro de Consultas da Pia União das Filhas de Maria, 19 de maio de 1907). Esse ambiente contraditório as perseguia constantemente e, em muitos casos, as levava à expulsão.

Uma “boa congregada” também precisava estar atenta às palavras que pronunciava e ficar distante da companhia de algum moço, a não ser se estivesse junto com os pais ou os irmãos. A vigia em relação a este preceito era constante, tanto que Maria Nicolodi não foi poupada do afastamento após ser acusada por inúmeras situações:

Hoje finalmente foi expulsa da Pia União, Maria Nicolodi, levíssima filha, que, apesar da exortação do Padre Diretor e das admoestações da vice-diretora e das duas irmãs freiras, sempre quis fazer o que gosta, falar sozinha com o namorado em casa e na rua, brincava e dizia insolências para aquelas que passavam, especialmente para certas Filhas de Maria mais sérias do que ela, assim desacreditando toda a Pia União69 (PIA

UNIÃO DAS FILHAS DE MARIA, Nova Trento, Diário da Pia União das Filhas de Maria, 15 de fevereiro de 1905).

68 Citação original: gran parte sono totalmente povere che non posson pagare nemmeno la medaglia.

69 Citação no Diário da associação: Oggi finalmente è stata scacciata dalla P. U. Nicolodi Maria, leggerissima

figliuola, la quale nonostante le esortazione del P Direttore e gli ammonimenti della Vicedirettrice e delle due sorelle moneche, ha sempre voluto fare come le piacque, chiacherar da sola col fidanzato in casa e per le vie,