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Segunda e terceira partes: os cerimoniais e o devocionário

CAPÍTULO 2 – ASCENSÃO E QUEDA DAS FILHAS DE MARIA

2.3.3 Segunda e terceira partes: os cerimoniais e o devocionário

Finalizada a primeira parte do Manual da Pia União das Filhas de Maria, dedicada aos estatutos da entidade, dá-se início à segunda parte, em que há a descrição dos principais cerimoniais da Pia União: admissão das aspirantes, admissão das Filhas de Maria, oração para as reuniões, orações para as eleições, orações para as reuniões do conselho e, por fim, o cerimonial da despedida, em que a moça se desliga oficialmente da entidade, seja para seguir a vocação religiosa ou para assumir matrimônio.

Na folha de abertura da segunda parte, o autor deixa claro que a recepção das candidatas, especialmente as aspirantes à categoria de Filhas de Maria, é uma das maiores solenidades da Pia União, sendo realizada apenas durante as grandes festividades da Igreja Católica Apostólica Romana. Há ainda a observação quanto ao altar de Nossa Senhora, que deve ser devidamente ornamentado para essas cerimônias. Além disso, ele faz referência – novamente – aos trajes que as moças devem usar nesses eventos obrigatórios, abdicando-se completamente de vestidos decotados, mesmo que essas moças sejam menores de 12 anos. Elas

também não devem se apresentar de chapéu, mas, sim, estarem com a “cabeça coberta com um véu ou fichú51” (RÖWER, 1953, p. 39).

Ainda em relação ao véu e às vestimentas, no artigo II sobre a admissão das Filhas de Maria, o Manual detalha de que forma devem estar paramentadas as jovens candidatas: vestido branco, véu branco de filó, tarlatana ou escumilha – sempre de acordo com o que foi definido em Conselho – grinalda de rosas brancas e cinto azul, com as pontas caídas no lado esquerdo. Em relação ao cinto azul, esta não era uma regra que vigorava em Nova Trento, pois até mesmo nas fotografias das entrevistadas este item não compõe suas indumentárias. Permanecia, sim, a regra dos vestidos brancos e o uso do véu, especialmente em cerimônias festivas e em determinadas missas dominicais, seguidas pelas reuniões.

Esta parte do Manual é extremamente descritiva, contendo todos os discursos daqueles que orientam as cerimônias, juntamente com as orações a serem proferidas em cada ato. Por este motivo, optou-se por não os relacionar ou os descrevê-los por completo aqui. De qualquer forma, damos destaque ao “Ato de Consagração à Maria Santíssima”, ou o momento em que uma Filha de Maria se consagra, estabelecendo seu compromisso social e religioso diante de tal função e perante todas as demais colegas, assumindo também o papel de vigia. Este era o momento mais importante para uma moça que participava dessa entidade. Assim está descrito no Manual e, por meio desses votos, a jovem confirmava seu compromisso com a sociedade e com a família em ser toda de Maria:

Ó Maria, concebida em pecado, / eu, querendo hoje colocar-me sob vossa especial proteção, / vos elejo por minha protetora e advogada, / por minha Mãe e Senhora. / Prostrada aos vossos pés / prometo firmemente empregar todos os esforços / em promover a vossa glória / e propagar o vosso culto. / De hoje em diante / quero fazer profissão manifesta de ser toda vossa, / de seguir os vossos vestígios, e de imitar as vossas virtudes, / especialmente a vossa angélica pureza virginal, / a vossa perfeitíssima obediência, e a vossa incomparável caridade. / Isto prometo solenemente / ao pé de vosso altar, em presença de toda a corte celeste. / Obtende-me, ó terna Mãe, / a graça de ser fiel a esta promessa / durante toda a minha vida, / para merecer a alta dita de ser vossa filha / por toda a eternidade. Assim seja. (RÖWER, 1953, p. 47). Neste contexto, é possível visualizar o modelo de mulher preconizado pela Igreja Católica através do discurso de posse de uma Filha de Maria: a mulher “prostrada”, que imita firmemente as virtudes de Maria, especialmente àquelas vinculas à sexualidade. No livro Ao Sul do Corpo, de Mary del Priore, é possível observar este modelo de mulher sendo construído durante todo o período colonial: havia funções muito bem definidas para as mulheres, em que

51 Espécie de abrigo, de tecido leve e de formato triangular, com que as mulheres cobriam a cabeça, pescoço e

diversos órgãos buscavam enquadrar ou estabelecer o padrão de sexualidade pretendido. “O modelo de feminilidade que vicejava era ditado pela devoção à Nossa Senhora e correspondia a comportamentos ascéticos, castos, pudibundos e severos. Cultuava-se a virgindade (...)” (DEL PRIORE, 1993, p. 36). Ser completamente “pura” era o ideal para toda moça Filha de Maria, que seguia os preceitos da Igreja, da sociedade, da família e, não menos importante, do cuidado consigo mesmo. O corpo era objeto de conhecimento, campo de transformação, de correção, para promover a própria purificação e salvação, assim como também contextualiza Foucault (1985).

Na terceira parte do Manual da Pia União das Filhas de Maria está o devocionário. Neste capítulo estão enumeradas e compiladas todas as orações, novenas, ladainhas, tríduos e demais textos que uma Filha de Maria deveria ler (ou decorar) para as cerimônias. São 23 itens, enumerados a seguir: orações da manhã; orações da noite; orações para a santa confissão; orações para a santa comunhão; orações para a santa missa; ofício da Imaculada Conceição; novena da Imaculada Conceição; ladainha de Nossa Senhora; coroinha da Imaculada Conceição; coroa de Nossa Senhora das Dores; tríduo de Santa Inês, virgem e mártir; oração a Santa Inês; exercício da via-sacra; ladainha do Sagrado Coração de Jesus; à benção do Santíssimo Sacramento; oração a Cristo Rei; oração ao divino Espírito Santo; ladainha de São José; oração em honra das sete dores e sete alegrias de São José; lembrai-vos, ó São José; ofício da Imaculada Conceição, em verso; Eu prometi – uma canção escrita pelo frei Pedro Sinzig OFM; e o hino a Santa Inês.

Há, ainda, uma última parte do manual, intitulado “apêndice”, em que estão listadas as cerimônias para admissão de aspirantes à Associação dos Santos Anjos. Esta entidade era formada por meninas leigas, com idade entre 7 e 10 anos, admitidas com o uso de uma fita branca, tendo na ponta uma medalha benta contendo Maria Auxiliadora de um lado e o Anjo da Guarda do outro. Posteriormente, eram incorporadas como “associadas”, e a fita branca era substituída por uma fita de cor vermelha, sendo mantida a mesma medalha. Esta era a primeira etapa antes do ingresso de aspirante à Filha de Maria na maioria das paróquias, embora não fosse uma regra. Em Nova Trento, por exemplo, era comum o ingresso na Cruzada Eucarística, e não na Associação dos Santos Anjos, já que a primeira comunhão era um pré-requisito para ingressar em associações, sejam elas femininas ou masculinas.

Tendo em vista o que foi exposto até o momento, compreende-se que a Igreja Católica, preocupada com as questões pastorais, utilizou artifícios teológicos que limitavam os direitos das mulheres. As autoridades religiosas – que se expressavam em nome de Deus – controlaram os corpos e as sexualidades, partindo do pressuposto de que estavam defendendo objetivos considerados “universais”: a vida e a família. Este controle, expresso na forma de vigilância, de estar atento, de observar, de espreitar e, em muitas situações, de espionar estava fortemente presente até mesmo dentro da própria igreja (espaço físico). O Santuário Nossa Senhora do Bom Socorro, por exemplo, situado a 525 metros de altitude, em Nova Trento, possui, no interior de seu templo, um imenso olho, pintado dentro de um triângulo e colocado no alto, acima da imagem de Nossa Senhora colocada no altar52. O ponto superior é estratégico: é para que as fieis possam se sentir observadas o tempo todo.

Ele vê tudo, sabe tudo e pode tudo. É um olho onipotente, um panóptico que atravessava muros e até nossos sentimentos mais íntimos. Através de seu olho observador julgava os fiéis e particularmente as mulheres. (...) Ele não só está na pintura das Igrejas, mas foi pintado dentro da consciência de cada mulher, de tal forma que se torna uma espécie de olho atemorizante ou de juiz interior. (GEBARA, 2017, p. 63).

Como visto, este olhar atravessa qualquer obstáculo e chega aos recônditos mais íntimos das mulheres. Ali, na igreja, no espaço em que elas deveriam ser acolhidas, este olho passa a espiar suas ações, a julgá-las e a fazê-las sentirem-se culpadas o tempo todo. Uma vigia que as atemorizava, não só dentro do próprio templo, mas fora dele, quando estavam concentradas em outros afazeres.

Este constante vigiar está presente de forma muito intensa nos livros de registros das Filhas de Maria. Durante o trabalho de pesquisa, foi possível ter acesso aos documentos junto à Paróquia São Virgílio, em Nova Trento, que os mantém com cuidado em sua biblioteca. Havia a proposta de transferir esses livros para o arquivo dos padres Jesuítas, no Rio Grande do Sul, mas pelo menos por enquanto eles permanecem em Nova Trento. No total, são oito documentos: 1. Livro das Oficiais da Pia União das Filhas de Maria (1902-1957); 2. Registro das Aspirantes à Pia União das Filhas de Maria; 3. Registro das Filhas de Maria; 4. Cartas pertencentes à Pia União das Filhas de Maria; 5. Diário da Pia União das Filhas de Maria; 6. Livro de consultas da Pia União das Filhas de Maria; 7. Congregação Mariana Nossa Senhora de Assunção; 8.

52 Atualmente permanece a figura do olho. No passado, esta pintura já foi apagada – permanecendo completamente

branca – e, em outros tempos, o espaço ganhou a figura de uma pomba. Depois de várias reformas, o Santuário preferiu retornar à pintura original. Esta igreja foi erguida em 1902.

Congregação Mariana das Moças53. Vale pontuar que os quatro primeiros livros, juntamente com o número 7 – Congregação Mariana Nossa Senhora de Assunção – não são de atas de reuniões, mas, sim, documentos em que são anotados os nomes das participantes (livros de registros), livros de presença e, também, a relação das diretorias constituídas. Nos demais documentos – diário, livro de consultas e Congregação Mariana das Moças – elas notificam as suas atividades em atas formalmente redigidas à mão.

Por conseguinte, o primeiro livro, “Ufficiali della Pia Unione delle Figlie di Maria” tem como proposta registrar as diretorias constituídas entre os anos de 1902 e 1957. Embora as atividades das moças tenham iniciado antes, em 1890 – conforme já mencionado – as Filhas de Maria passam a escrever apenas a partir de 1902, quando recebem a diplomação de Roma. É possível observar esta informação na carta escrita pela Secretária da Pia União à época, Ida Gottardi, em que ela abre a ata (diário de registros) contando a história da instituição. Esta carta foi escrita no dia 1º de novembro de 1903, em língua italiana – ou melhor, no dialeto praticado à época54, dando a impressão de que era preciso preservar a história da entidade naquele momento.

Pode-se dizer que a Pia União das Filhas de Maria de Nova Trento e dos arredores começou em 1890. Foi o padre Alfonso Parisi SJ quem fez, por assim dizer, a fundação. Mas não foi então criada canonicamente, pois precisavam ver se esta Pia União era possível nesses lugares, dada a dispersão das famílias e a distância. Foi desta forma que ela durou cerca de 12 anos. Depois de uma longa experiência, mantendo-se firme e, com nenhuma dúvida, sobre o poder sucedido da glória de Deus e em honra de Maria, o Reverendo Padre Giustino Lombardi - Superior da Missão Jesuíta no Brasil, veio para Nova Trento em janeiro do ano 1901 para uma visita à residência dos Padres, e assim ordenou que a Pia União fosse canonicamente criada. No entanto, Sua Excelência, o Monsenhor Bispo de Curitiba, escreveu para a aprovação necessária, que foi então enviada a Roma para obter o diploma de agregação. O diploma foi imediatamente enviado sob a data de 23 de agosto de 1902. Estabelecida regularmente, a Pia União tinha como diretor principal o padre Luigi Rossi - Superior da residência dos padres. Mas logo ele teve que deixar a direção, pois foi transferido. Esta permaneceu, no entanto, sem um Diretor por sete meses, até que veio a Nova Trento, pela segunda vez, o Reverendo Padre Giustino Lombardi, que designou para o ofício de Diretor o Reverendo Padre Giovanni Giacomo Colleoni, que havia chegado há pouco tempo da Europa.

Na festa de todos os santos, 1º de novembro de 1903.

53 Os seis primeiros livros têm seus títulos escritos em italiano. Tradução da pesquisadora – de todos as citações

neste capítulo e no próximo – cujos nomes originais são: 1. Libro delle Ufficiali della Pia Unione delle Figlie di Maria (1902-1957); 2. Registro delle Aspiranti alla Pia Unione delle Figlie di Maria; 3. Registro delle Figlie di Maria; 4. Lettere Spettanti alla Pia Unione delle Figlie di Maria; 5. Diario della Pia Unione delle Figlie di Maria; 6. Libro delle consulte della Pia Unione delle Figlie di Maria. Os dois últimos livros também pertencem à Pia União, porém esta ganha uma nova denominação a partir de 22 de março de 1945 (conforme relatado em ata e com documento da cúria), passando a se chamar “Congregação Mariana”.

54 Comprovamos esta questão do dialeto quando nos livros de atas encontramos palavras como “moneche”, que

Ida Gottardi, Secretária da Pia União55

(PIA UNIÃO DAS FILHAS DE MARIA, Nova Trento, texto de abertura do Diário da Pia União das Filhas de Maria, 1º de novembro de 1903, Livro 1, p. 01)

A caligrafia nesses livros, em muitos momentos, dificulta a leitura da ata. Soma-se a isso o fato dessas atas terem sido escritas com canetas-tinteiro. Por usarem tinta à base de água e pigmentos coloridos, entre eles a nanquim, é perceptível que as secretárias faziam uso do mata-borrão – para poder tirar o excesso de tinta da escrita. Por isso, em muitas situações, é difícil compreender o que está escrito e, em se tratando das transcrições das diretorias, com inúmeros nomes, essa leitura às vezes não é efetiva.

Especificamente nesta ata de registro das diretorias havia sempre uma observação sobre moças que deixavam suas funções devido ao matrimônio. Este comentário geralmente era colocado ao final da página, indicando o motivo de elas terem deixado a entidade, seguido da data.

Entre as funções ocupadas pelas moças leigas estavam estas: presidente, vice- presidente, assistente, conselheira, secretária, tesoureira e sacristã. Em outros momentos aparecem também os cargos de mensageiras e de “coriste” (coristas e/ou cantoras). As únicas atividades comandadas por freiras – neste caso da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, fundada por Santa Paulina – eram as de diretora, vice-diretora e mestra das aspirantes, por seguir fielmente as diretrizes do Manual das Filhas de Maria.

O uso da língua italiana permanece nesses livros até 1924. A partir de 1925 adotam o português, que segue até 1930. Em 1931, passam a adotar o italiano novamente até 1933. Em 1935, o português retorna e permanece até o final. Tendo como base a história do Brasil, pode- se concluir que Nova Trento também sentiu intensamente a campanha de nacionalização de Getúlio Vargas. Até então, cada estado possuía uma certa autonomia política. Na década de 1930, a proposta de Vargas era construir uma integração entre os brasileiros, principalmente

55 Carta original transcrita a seguir: La Pia Unione delle Figlie di Maria di Nova Trento e dei dintorni si può dire

che in qualche modo incominciasse nel 1890. Fu il padre Alfonso Parisi SJ che ne gesto, a cosi dire, le fondamento. Ma non fu allora eretta canonicamente, giacchè si volea jorima vedere se tale Pia Unione fosse possibile in questi luoghi, atteso la dispersione delle famiglie e la lontananza. Durò essa in tal modo come in prova circa 12 anni. Dopo si lunga esperienza, non rimanendo omai più alcun dubbio circa il poder riuscire a gloria di Dio e ad onore di Maria SS, il R. P. Giustino Lombardi Superiore della Missione dei Gesuiti nel Brasile, venuto a Nova Trento nel mese di Gennaio dell’anno 1901 per la visita della residenza dei Padri, ordinò che la Pia Unione fosse eretta canonicamente. Si scrisse però a Sua Ecc. Monsignor Vescovo di Curytiba per la necessaria approvazione, la quale venne tosto mandata a Roma per averne quindi il diploma di aggregazione. Il diploma fu subito spedito sotto la data del 23 agosto 1902. Stabilitasi cosi regolarmente la Pia Unione abbe da principio per Direttore il R. Padre Luigi Rossi Superiore della residenza dei Padri. Ma ben presto egli ne dovette lasciar la direzione essendo stato traslocato. Rimase però la Pia Unione senza Direttore per sette mesi, finchè giunto a Nova Trento per la seconda volta il R. P. Giustino Lombardi affidò l’Ufficio di Direttore al Rev. Padre Giovanni Giacomo Colleoni arrivato poco prima d’Europa. Nella festa di tutti i santi, 1º novembre 1903. Ida Gottardi, Segretaria della Pia Unione.

minimizando as comunidades de imigrantes. E, com o advento da 2ª Guerra Mundial, falar um idioma – neste caso o italiano – era falar a língua do inimigo, pois a Itália pertencia ao eixo, e o Brasil naquele período fez aliança com Grã-Bretanha, Estados Unidos e União Soviética. Por esses motivos, a língua italiana passou a ser proibida e as Filhas de Maria também sofreram interferência, perceptível nos registros da instituição, quando elas deixam o italiano de lado e passam a adotar o português.

Outra curiosidade do livro “das oficiais” aparece logo depois de 1917. As diretorias são todas enumeradas, ano a ano, até esta data. Porém, logo em seguida, é possível observar que algumas páginas foram arrancadas. A ata fica sem registros por três anos, ou seja, até 1921. Não há uma justificativa por parte das Filhas de Maria em nenhum dos livros de atas56. As últimas líderes, o que coincide com o término do livro, são anotadas até o início do ano de 1960. Os livros 2 e 3 são dedicados aos registros das aspirantes e das Filhas de Maria propriamente ditas, respectivamente. Uma a uma as moças são enumeradas: primeiramente são escritos os sobrenomes, seguidos dos nomes das jovens. Por exemplo: Battistotti Amelia. Na segunda coluna é registrada a data de nascimento e, na coluna ao lado, a data de permissão ou ingresso. No caso das aspirantes era a permissão, pois ainda não estavam integradas oficialmente à entidade. Em seguida era registrado o local onde a jovem frequentava as reuniões. Em Nova Trento, os espaços de maior número de adeptas eram o centro – anotado como “Nova Trento” na ata, e o bairro Vígolo, distante cinco quilômetros. Mais tarde passa a constar em ata “S. Giuseppe”, que é o nome da igreja do bairro Claraíba, hoje distrito do município. Na parte final era anotado o bairro em que a moça morava (“abita”, em italiano) e pequenos registros (“note”). Este último ponto era o mais importante, pois ali informavam se as moças tinham obtido a permissão – no caso das aspirantes – se foram admitidas, se se casaram, se entraram para uma congregação religiosa, se morreram ou se foram expulsas, conforme exemplos a seguir:

Ágata Sgrott se casou em 20/05/1905; Maria Stramostri, mora em Vígolo junto com as freiras, entrou para a Congregação da Imaculada Conceição em 24/12/1906; Luigia Dalri, agregada em 08 de dezembro de 1907, frequenta em Nova Trento, foi mandada embora porque se comportava mal. (PIA UNIÃO DAS FILHAS DE MARIA, Nova Trento, livro de Registros das Filhas de Maria)57.

56 Não encontramos um motivo sobre essa falta de registros, tanto no livro das diretorias, quanto no Diário das

Filhas de Maria nesses três anos (1918-1920). Não sabemos se pode haver alguma relação com a 1ª Guerra Mundial, que aconteceu entre os anos de 1914 e 1918.

57 Citações originais: Sgrott Agata si maritò il 20/05/1905; Stramostri Maria, abita a Vigolo presso le suore, entrò

fra le Figlie dell’Immacolata Concenzione, il 24/12/1906; Dalri Luigia, nata a 04/02/1893, aggregata a 08/12/1907, frequenta in Nova Trento, note: Fu mandata fuori perchè si diportava male.

Figura 6 – Primeira página do livro de registros das aspirantes - Registro delle Aspiranti alla Pia

Unione delle Figlie di Maria, com início em 1902

Fonte: Elis Facchini (2017)

A maioria das notas/observações refere-se às expulsões e aos casamentos, uma vez que partir deste último a jovem automaticamente saía da instituição. Mas, ainda assim, havia casos