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Diagnóstico da sigla melhor aplicável à realidade social

No documento Rogerio Volpatti Polezze.pdf (páginas 58-61)

3 GÊNERO, SEXUALIDADE E MINORIAS SEXUAIS

3.2 Diagnóstico da sigla melhor aplicável à realidade social

Segundo a primeira entrevistada, Heloísa Gama Alves (ver Apêndice “A”), ao menos, no Estado de São Paulo – cujas observações, na realidade, podem ser estendidos a todo o Brasil –, a sigla restringe-se a lésbicas (L), gays (G) e transexuais e travestis (TT). Não existe uma atenção voltada, especialmente, àqueles que não apresentam um gênero definido (I), nem àqueles que sentem atração por ambos os sexos, os bissexuais (B).

Quanto às siglas adotadas, valem algumas observações. Encontra-se a menção “T”, mas indicando população transgênero;126 igualmente, à “Q”, fazendo destaque

125 BRASIL. ADI 4.277-DF, Rel.Min. Ayres Britto, DJe-198 Divulg 13-10-2011 Public 14-10-2011, destaques do original. 126

transexuais e transgêneros. . Rio de Janeiro, v.37, nº98, p.477-484, jul.-set. 2013. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/sdeb/v37n98/a11v37n98.pdf. Acesso em: 16 abr.2015.

da palavra em inglês “queer”, mas lhe retirando a conotação vulgar (negativa), para dar-lhe um novo uso, de forma a romper os padrões normalmente aceitos sem maior discussão – tanto feminino/masculino quanto gay/lésbica. Isto significa que há uma gama maior (mais complexa) no que se refere à sexualidade, orientação e identidade.127

Da união dos grupos em destaque, nascem algumas das siglas conhecidas, como: LGBT, LGBTTT, LGBTIQ.

De qualquer forma, na realidade brasileira, sob a ótica dos grupos com alguma proteção, poder-se-ia cogitar de uma sigla mais simples: LGTT.

É que o poder público atua em relação aos grupos, quando e se provocado (e, às vezes, nem assim). Deve haver, portanto, um mínimo de organização na população, demonstrando interesses e apresentando pleitos. Daí, porque os três grupos (ou quatro, distinguindo os transexuais dos travestis), apresentam destaque natural, pois refletem os movimentos já minimamente organizados na sociedade.

Conclui-se que, hoje, existe uma certa invisibilidade da população bissexual. O fato não é exclusividade brasileira, conforme se lê no texto destacado abaixo, que, ainda, chama atenção para a criação de um novo paradigma, baseado somente na orientação sexual: heterossexual/homossexual.

Trata-se, claro, de uma ênfase, por si mesma, discriminatória, pois demonstra deixar de lado tanto a população bissexual quanto a população transexual:

Agora é também um momento particularmente importante combater o apagamento bissexual porque o movimento de direitos LGBT está em um estado lamentável fraturado. A fim de garantir vistorias nestas duas maiores batalhas – para o reconhecimento do casamento homossexual e para a proibição da discriminação no local de trabalho – os defensores dos direitos LGBT têm "intencionalmente deixado partes da comunidade atrás", nomeadamente as partes transgêneros e bissexuais. Por exemplo, a exclusão de indivíduos transexuais a partir de uma versão anterior do “ato do emprego sem discriminação” (ENDA) causou divisão nítida entre os defensores dos direitos LGBT. O apoio público para uma ENDA

127 queer (em ingle

u

implicou uma reapropriac

termo passa a ter uma carga de contestac queer

gay

vistas como es

conceito queer possa desestabilizar as certezas da teoria. Em certa medida, @ queer ncia, permitindo a recusa das identidades fixas de gay/

OLIVEIRA, João Manuel de; NOGUEIRA, Conceição. Introdução: Um lugar feminista queer e o prazer da confusão e fronteiras. Ex aequo, Vila Franca de Xira , n. 20, 2009.

Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-

inclusiva de transexuais provocou apoio entre todos os defensores dos direitos LGBT para uma versão do ENDA que proibia a discriminação com base na orientação sexual e identidade de gênero. Os interesses das pessoas transexuais ainda não foram totalmente integrados nos objetivos do movimento de direitos LGBT, mas o litígio, a atenção acadêmica e a atenção política que o debate sobre ENDA atraiu aumentaram a sensibilidade coletiva para os danos que os transexuais enfrentam. Bissexuais, por outro lado, têm-se mantido uma minoria entre as minorias. A sua existência, muito menos os danos que eles enfrentam, foi apagada por aqueles com quem eles supostamente compartilham um movimento.128

O texto, mesmo abordando a realidade estrangeira repete bastante o que sucede no Brasil: uma certa preponderância de homossexuais, colocando-se frente aos heterossexuais, portanto, deixando um pouco de lado os transexuais e os travestis. E, muito mais afastados de atenção, os bissexuais. O fato é que o exemplo vindo de fora revela um diagnóstico no sentido de que as minorais sexuais são minorias, também, entre si. Uma observação que se encaixa também no Brasil.

Noutras palavras, não se trata de um grupo coeso, que defenda e lute por direitos sempre conjuntamente. Ao contrário. Cada qual parece defender seus interesses dentro de seu subgrupo.

Por óbvio, ao agir assim, o movimento como um todo, perde um pouco da força de pressão frente aos órgãos governamentais.

A variação sobre a sigla possível a identificar as minorias sexuais traz, em alguma medida, a complexidade em torno da sexualidade, orientação sexual e identidade de gênero. Mesmo que se pretenda simplificar padrões (heterossexual versus homossexual, masculino versus feminino), a realidade pode apresentar-se diversa das categorias normalmente lembradas. E, por isso, ainda que se adote neste texto, por atenção ao costume, a sigla LGBT, importa demarcar que não se está, contudo, simplificando (ou limitando) as manifestações de sexualidade e gênero.

128“Now is also a particularly important time to combat bisexual erasure because the LGBT rights movement is in a

regrettably fractured state. In order to secure vistories in this two biggest battles – for same-sex marriage recognition and for the prohibition of discrimination in the workplace – LGBT rights advocates have “intentionally le[ft] parts of the community behind,” namely the transgender and bisexual parts. For example, the exclusion of transgender individuals from an earlier draft of the Employment Nondiscrimination Act (ENDA) caused sharp division among LGBT rights advocates. Public support for a trans-inclusive ENDA ultimately brought about support among all LGBT rights advocates for a version of ENDA that prohibited discrimination on the basis of sexual orientation and gender identity. The interests of transgender people have not yet been fully integrated into the LGBT rights movement’s goals, but litigation, scholarly attention, and the political attention that the ENDA debate attracted have heightened the collective sensitivity to the harms that transgender people face. Bisexuals, on the other hand, have remained a minority among minorities. Their existence, let alone the harms that they face, has been erased by those with whom they supposedly share a movement.”. (GLAZER, Elizabeth M. Sexual reorientation. Hofstra University, School of Law, Legal Studies Research Paper Series, Research Paper nº10-30, 11-oct-10. Disponível em: http://ssrn.com/abstract=1690590. Acesso em: 22 nov.2014. trad.livre).

No documento Rogerio Volpatti Polezze.pdf (páginas 58-61)