• Nenhum resultado encontrado

No Estado de São Paulo

No documento Rogerio Volpatti Polezze.pdf (páginas 97-99)

5 ANÁLISE DE POLÍTICAS EXISTENTES PARA MINORIAS SEXUAIS Procura-se, doravante, exemplificar a fragilidade das políticas públicas no

5.1 No Estado de São Paulo

No Estado de São Paulo, ao menos, existe lei relevante (e que, por si só, destaca-se por punir administrativamente condutas discriminatórias): é a Lei nº10.948/2001237, que “dispõe sobre as penalidades a serem aplicadas à prática de discriminação em razão de orientação sexual e dá outras providências”. E, em que pese a menção restrita à orientação sexual, em seus artigos, lê-se, na verdade, que se protege, igualmente, casos de discriminação por identidade de gênero.

O art.1º é expresso, ao mencionar, além de homossexuais e bissexuais, o transgênero. Igualmente, nos termos do art.2º, o alcance da punição possível é salutar: “[...] o cidadão, inclusive os detentores de função pública, civil ou militar, e toda organização social ou empresa, com ou sem fins lucrativos, de caráter privado ou público, instaladas neste Estado, que intentarem contra o que dispõe esta lei.”

Claro que não se trata de lei relativamente a direito penal (cuja competência legislativa é federal). Mas, naquilo que compete ao Estado, permite sancionar – repise-se, administrativamente – condutas contrárias, a começar com advertência, passando por multas, chegando a suspensão de licença estadual para funcionamento por 30 (trinta) dias e, ao fim, até mesmo, com a cassação da licença estadual para funcionamento.

Ainda em âmbito legal, bom apontar a Lei nº14.462/2011,238 instituindo o dia 17 de maio como o “dia de luta contra a homofobia”. Sua importância prende-se ao fato de que o Estado de São Paulo, assim, promove uma tarefa no sentido de trazer algum reconhecimento às minorias sexuais. E tal cuidado, como já se viu antes, tem o benefício de

237 Regulamentada pelo Decreto nº55.589/2010.

238 Ainda que não seja uma lei própria para minorias sexuais, pode-se, ainda, destacar a Lei nº11.199/2002, regulamentada

pelo Decreto nº54.410/2009, que traz proibição expressa aos “portadores do vírus HIV ou às pessoas com AIDS”. Contudo, bom anotar que, não tratando expressamente de minorias sexuais em seu corpo legal, a lei em questão é mais simples de receber tratamento pelo Legislativo. Não resta possível, assim, equiparar a extensão e dificuldade para aprovação dessa lei com a Lei nº10.948/2001, por exemplo.

valorizar a pessoa humana componente de minorias sexuais. Todavia, não se pode deixar de notar para o pequeno alcance da letra da lei, que se resume a mencionar “homofobia”, dando luz, lamentavelmente, a apenas um dos grupos de minoria sexual (fechando os olhos para a transfobia, em particular).

No que se refere aos servidores públicos estaduais, anota-se que a Lei Complementar nº1012/2007, expressamente, previu “o companheiro ou a companheira, na constância da união homoafetiva” (art.147, “II”) como categoria de dependente do servidor para receber pensão por morte.

Enfim, o panorama legislativo estadual resume-se a essas leis. Apenas. Outros tantos temas caros aos grupos de minorias sexuais estão tratados por atos infralegais. Vejamos.

A importante criação da “Coordenação de Políticas para a Diversidade Sexual do Estado de São Paulo” deu-se por mero decreto (nº54.032/2009), com foco expresso nas lésbicas, “gays”, bissexuais, travestis e transexuais (art.3º). Na sua estrutura, foi previsto o “Comitê Intersecretarial de Defesa da Diversidade Sexual” (art.2º, “I”),239 com atuação

essencial na articulação de providências para o desenvolvimento de políticas públicas em prol da diversidade sexual (art.6º). Na sequência, por meio do Decreto nº55.587/2010, foi instituído o Conselho Estadual dos Direitos da População de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Tansexuais, que, por si mesmo, representa uma ação concreta, resultado do trabalho da Coordenação.240

Por meio de decreto (nº55.588/2010), o Estado de São Paulo dispõe sobre o “tratamento nominal das pessoas transexuais e travestis nos órgãos públicos”. Sem mencionar regulamentação de qualquer lei (que, afinal, inexiste), o decreto parte de considerações sobre a Constituição de 1988, especificamente, sobre uma sociedade justa sem preconceito/discriminação de qualquer ordem, o direito da igualdade (liberdade e autonomia individual). Fica permitido às pessoas transexuais e travestis a escolha de tratamento nominal no âmbito da Administração direta e indireta do Estado de São Paulo (art.1º). E eventual descumprimento vem censurado nos termos da Lei nº10.948/2001 (art.4º). Ou seja, novamente, vê-se a importância de lei, trazendo punição administrativa nos casos de discriminação.

239 A composição do comitê dá-se por resolução da Secretaria da Justiça e Defesa da Cidadania. 240 A propósito, leia entrevista constante do Apêndice “A”.

Em atenção a tal decreto e à própria Lei nº10.948/2001, o Conselho Estadual de Educação (CEE) emitiu a Deliberação nº125/2014, pela qual previu a “inclusão de nome social nos registros escolares das instituições públicas e privadas do Sistema de Ensino do Estado de São Paulo”.

Ou seja, tema tão caro como o da própria identidade da pessoa, no caso de travesti e transexual ou vem tratado por decreto ou por deliberação de conselho estadual. E, nos dois casos, a Lei de 2001 fez diferença, reforçando o fundamento destas deliberações.

Semelhante fragilidade normativa vem observada na atenção dada a travestis e transexuais, regulada por meio de resolução do Secretário da Administração Penitenciária (Resolução SAP nº11/2014), que andou muito bem, prevendo, no art.1º, o uso de roupas adequadas à identidade de gênero (feminino ou masculino), assim como, para travestis ou transexuais femininas, a permissão de cabelo na altura dos ombros. Previu, também, implantação de cela ou ala específica para estas populações (art.2º).

Mas expressou uma visão bastante conservadora, ao prever a transferência para unidade prisional de sexo conforme a identidade de gênero apenas após a submissão a procedimento cirúrgico de transgenitalização (art.3º). Portanto, restringe o gênero à genitália.

Igualmente por resolução SAP (nº153/2011) vem prevista visita íntima ao preso homoafetivo. Ainda que a regra seja aplicável, na prática, às populações travestis e transexuais, bom notar para o fato de que consta expressamente “relações homoafetivas”, o que expressa orientação sexual (e não identidade de gênero).

No documento Rogerio Volpatti Polezze.pdf (páginas 97-99)