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Diferenças das cidades e particularidades da rede urbana

A categoria particularidade, utilizada até agora neste trabalho relativamente à região, possui uma amplitude bem maior que sua aplicação a esse conceito geográfico, como ilustra a proposição que se fará mais adiante sobre seu uso como recurso explicativo para as cidades e para a rede urbana. Importante categoria presente em diversas perspectivas filosóficas de grande influência, como a de Immanuel Kant e a de Georg Wilhelm Friedrich Hegel, também teve grande desenvolvimento no âmbito do materialismo histórico e dialé- tico, de Karl Marx e Friedrich Engels, e recebeu importantes contri- buições a partir da obra de outros autores materialistas, a exemplo de Georg Lukács (1968) e Alexandre Cheptulin (1982). E é nas obras desses últimos autores e, portanto, na perspectiva do materialismo histórico e dialético, que a particularidade será aqui pensada.

Lukács (1968) deixa claro que a dialética expressa na tríade universal, particular e singular possui grande relevância para a con- formação do que denomina ciência autêntica, a dialética materialis- ta, o que fica evidente nas suas palavras:

A ciência autêntica extrai da própria realidade as condições estruturais e as suas transformações his- tóricas, e, se formula leis, estas abraçam a universa- lidade do processo, mas de um modo tal que deste conjunto de leis pode-se sempre retornar – ainda que

frequentemente através de muitas mediações – aos fatos singulares da vida. É precisamente esta a dialé- tica concretamente realizada de universal, particular e singular (p. 88).

Cheptulin (1982), também orientado pela dialética materialista, define e estabelece correlações entre o singular, o particular e o geral. Para ele, o singular diz respeito àquilo que só existe em uma forma- ção material dada (coisa, objeto, processo) e não se repete em outras formações. O geral, ao contrário, concerne às “[...] propriedades e li- gações que se repetem nas formações materiais (coisas, objetos, pro- cessos) [...]” (p.194). Apoiado nessas definições, o autor conclui que

[...] o singular e o geral não existem de maneira inde- pendente, mas somente por meio de formações mate- riais particulares (coisas, objetos, processos), que são momentos, aspectos destes últimos. Cada formação material, cada coisa representa a unidade do singu- lar e do geral, do que não se repete e do que se repete. Existindo sob a forma de aspectos, momentos das formações materiais particulares (coisas, processos), o singular e o geral estão organicamente ligados um ao outro, interpenetram-se e só podem ser separados no estado puro das abstrações. A correlação do sin- gular e do geral no particular (formação material, coi- sa, processo) manifesta-se como correlação de aspec- tos únicos em seu gênero, que são próprios apenas a uma formação material dada, e a aspectos que se repetem nesse ou naquele grupo de outras formações materiais (CHEPTULIN, 1982, pp.194-195).

Neste sentido, fica claro nas palavras do autor que o singular, o particular e o geral não são entidades independentes entre si, mas que possuem uma articulação, que existem uma em relação a outra enquanto componentes da trama que compõe a realidade. E o parti- cular é o que mais evidencia essa interdependência, pois seria “[...] a unidade do singular e do geral. A correlação do particular e do geral representa uma correlação do todo e da parte, em que o particular é o todo e o geral é a parte” (CHEPTULIN, 1982, p.196). Assim, em uma realidade particular, os elementos do geral a integram na qua- lidade de partes de um todo, que é o particular.

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Lukács (1968, p.92) também reconhece essas imbricações, que estão expressas no que ele denomina “relativização dialética do uni- versal e do particular”. Segundo o autor, em certas situações, eles podem se converter um no outro, em outros casos, o universal se es- pecifica: “em uma determinada relação ele se torna particular, mas pode também ocorrer que o universal se dilate e anule a particulari- dade, ou que um anterior particular se desenvolva até a universali- dade ou vice-versa”.

Como bem alerta o autor, essas ocorrências variam de acordo com a situação concreta. Inclusive o que é geral, o que é particular e o que é singular ganham contornos diferentes segundo a situação concreta considerada, assim, não necessariamente, o geral remete a um processo ou objeto de amplitude global. Ele é geral em relação ao que está sendo sublinhado. Neste trabalho, por exemplo, o geral reporta-se a Amazônia enquanto totalidade, no tocante a qual o Nor- deste Paraense é o particular.

Para Kosik (1969), totalidade não é sinônimo de todos os fa- tos, aspectos, coisas, relações ou, se poderia acrescentar, todos os objetos, processos etc. Segundo o autor, a realidade é uma totalida- de concreta que se converte numa estrutura significativa para cada fato ou para um conjunto deles.

Este postulado é possível pelo fato de o universal, o singular e, principalmente, o particular, segundo Lukács (1968), não se cons- tituírem pontos firmes, isto é, fixos, e, assim, concretamente, pode- rem aludir a processos e formas bastante diversas dependendo da situação concreta. Tratando do particular, o autor afirma que este é ainda menos firme, pois o meio, o intermediário, “[...] só formal- mente (e em certos casos singulares) possui um caráter que possa ser fixado em determinado ponto: ele é uma expressão complexiva e sintética de todo o conjunto de determinações que mediatizam reci- procamente o início e a conclusão” (p.113). Enquanto mediador, não tem sequer um número definido, mas pode ser

[...] um inteiro campo de mediações, o seu campo concreto e real que, segundo o objeto ou a finalida- de do conhecimento, revela-se maior ou menor. O

aperfeiçoamento do conhecimento pode alargar este campo, inserindo na conexão momentos dos quais precedentemente se ignorava que função tinham na relação entre uma determinada singularidade e uma determinada universidade. E pode também diminui- -lo, na medida em que uma série de determinações mediadoras – que até um dado momento eram con- cebidas como sendo independentes uma da outra e autônomas – são agora subordináveis a uma única determinação (LUKÁCS, 1968, p.112).

A concepção do particular como um mediador (ou mesmo um conjunto de mediações) entre o singular e o geral também está pre- sente em Lefebvre (1991, p.225), que entende essa mediação como o papel essencial do particular: “o particular, o termo médio, realiza a mediação efetiva entre o singular e o universal”. Exemplifica dizen- do que: “é sendo homem que o indivíduo humano é vivo. É através do humano e da humanidade que ele se liga a vida e ao universo”. Neste caso, o indivíduo é o singular, o homem ou a humanidade o particular e a vida e o universo o geral.

O singular, aquilo que é único numa determinada situação concre- ta não será abordado, porque não vai ser privilegiado na análise. E para fundamentar essa posição se utilizará dos argumentos de Cheptulin (1982), que, após alertar que o estudo a partir da categoria do ‘singular’ evidencia aquilo que é único a um determinado objeto ou processo e que o estudo a partir do ‘geral’ ilumina o que se repete, ressalta que frequen- temente importa mais “[...] estabelecer a identidade (a semelhança) e diferença entre os objetos confrontados. Torna-se, portanto, necessário opor o geral ao particular e não ao singular” (pp.196-197).

Nas palavras de Cheptulin (1982, p.197), “o que distingue os objetos confrontados constitui o particular e o que exprime sua se- melhança é o geral”. Quanto ao singular, ele se apresentaria sempre como particular, pois “[...] sendo próprio apenas a uma formação material dada, ele a distingue de qualquer outra formação mate- rial”. É esse entendimento que norteia a análise da Região Nor- deste do Pará, de sua rede urbana e de suas principais cidades enquanto particulares à Região Amazônica, à sua rede urbana e

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às suas cidades, postas como geral nessa situação concreta, como representado na Figura 8.

FIGURA 8: Esquema de representação da relação entre particular e geral na situação concreta estudada

FONTE: Elaboração própria.

No mesmo sentido que Cheptulin, Lukács (1968) explica que no âmbito da dialética materialista, que busca a maior aproxima- ção possível com a realidade objetiva, se “[...] pode compreender a universalidade em uma contínua tensão com a singularidade, em uma contínua conversão em particularidade e vice-versa” (p.104), ou seja, o particular é a grande expressão da realidade concreta, que traz em si o singular e o geral.

Para o autor, “o particular se confunde, em sua determinação e delimitação, ora com o universal ora com o singular” (p.110), por sua natureza de mediação. Ele seria “a expressão lógica das catego- rias de mediação entre os homens singulares e a sociedade” (p.93). Desse modo,

O movimento do singular ao universal e vice-versa é sempre mediatizado pelo particular; ele é um membro intermediário real, tanto na realidade objetiva quan- to no pensamento que a reflete de um modo aproxi- madamente adequado. Ele é, porém, um membro in- termediário com características bastante específicas (LUKÁCS, 1968, p.112).

Um membro intermediário, ou mesmo uma cadeia de mem- bros intermediários, porém concreto, real e com um caráter so- bretudo posicional, isto é, “[...] com relação ao singular, repre- senta uma universalidade relativa, e, com relação ao universal, uma singularidade relativa” (LUKÁCS, 1968, p.117). Também destaca o autor que essa relatividade posicional não pode ser vista como algo estático, mas como um processo. Bem como argumenta que, enquanto processos, os momentos particula- res mediadores possuem existência bem delimitada. E chega a citar como exemplos, a espécie e o gênero, para o âmbito da natureza, e a classe e o estrato, para a sociedade. Corrêa (1996) acrescenta aos exemplos citados por Lukács como de ocorrên- cia da particularidade, a região, enquanto expressão espacial da particularidade.

Neste trabalho, admite-se a região enquanto expressão es- pacial da particularidade, todavia, desaprova-se a ideia de que ela seja a única. De fato, sendo o particular possuidor de uma posição variável, pois que se situa na mediação entre o singular e o geral, cuja definição depende da situação concreta em ques- tão, conceitos geográficos como de espaço e território, por exem- plo, também podem ser marcados pela particularidade.

De fato, a natureza particular não se relaciona ao conceito em si, mas à situação concreta em que está imersa. E é com base nesse entendimento que neste trabalho se propõe uma análise não ape- nas da região a partir da categoria particularidade, mas também da rede urbana e das cidades. Não delas em qualquer situação, mas inseridas em uma realidade concreta em que se tornam evidentes a mediação entre o singular e o geral.

Segundo Cheptulin (1982, p.198), para “[...] formar uma repre- sentação exata de um objeto dado é necessário colocar em evidência o que identifica e o que o distingue de outras formações materiais”. E o próprio geral pode atuar como elemento particular e, portanto, na distinção de um determinado objeto ou processo material além de poder também exercer sua função característica, que é assemelhar as formações materiais. Nesse sentido, para o autor, “cada formação

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material representa, portanto, a unidade do geral e do particular, a unidade do que a identifica a outras formações materiais, assim como a unidade do que a distingue”.

Interessa nesta obra, principalmente, os elementos que distin- guem as cidades estudadas (Castanhal, Capanema e Bragança) no quadro geral das demais cidades amazônicas, a rede urbana do Nor- deste Paraense e, como resultado, o próprio Nordeste do Pará, que, nestes moldes, assume a condição de região.

Enfatiza-se que o termo diferença será aqui empregado para se referir às múltiplas particularidades dessas cidades, isto é, representando o conjunto de características (singulares e parti- culares) que diferenciam essas formações concretas no âmbito da Amazônia enquanto totalidade (geral). Busca-se o reconhe- cimento de características fundamentais à identificação e dife- renciação das cidades de Castanhal, Capanema e Bragança, da rede urbana do Nordeste Paraense e da própria Região Nordeste do Pará no contexto amazônico. O que as tornam diferentes de outras realidades concretas.

No âmbito dessas características, são levados em conta tanto atributos como população, densidade do espaço urbano, infraes- trutura de circulação, produção econômica etc., quanto o processo de formação dessas realidades concretas e, principalmente, a sua inserção no espaço relacional, o que se buscará mediante a análise das interações espaciais específicas, produzidas por agentes e ato- res específicos.

As diferenças entre as cidades, assim como as particularida- des da rede urbana e da região, se estabelecem tanto no plano das desigualdades quanto das diferenças propriamente ditas, ou, no sentido apresentado por Haesbaert (2010), diferenças de grau e diferenças de natureza. As análises relativas à hierarquia urbana, muito privilegiada neste trabalho, se ligam mais ao plano das de- sigualdades, enquanto certos aspectos das heterarquias urbanas (CATELÁN, 2013), podem ser relacionados ao plano das diferen- ças de natureza.

Na mesma lógica de interpretação, Barros (2005) atribui signi- ficados divergentes para desigualdade e diferença. Para a autora, no primeiro caso, “refere-se quase sempre não a um aspecto ‘essencial’, mas a uma ‘circunstância’ (mesmo que esta circunstância aparente- mente se eternize no interior de determinados sistemas políticos ou situações sociais específicas)” (p.345). No segundo, “tem-se em vista algo da ordem das essências: uma coisa ou é igual a outra (pelo me- nos em um determinado aspecto) ou então dela difere” (p.345).

Ou seja, as desigualdades partem de um mesmo referencial, um certo aspecto, a partir do qual se reconhecem desigualdades de inserção, participação etc. São contradições, por isso, circunstan- ciais passíveis de modificações. Já as diferenças não partem de um único referencial, não existem enquanto contradições, são expres- sões da própria diversidade enquanto essência humana.

A noção de urbanodiversidade, cunhada por Trindade Júnior (2010), é uma formulação relativa à diferença, uma vez sublinhando o imperativo de se compreender a diversidade das realidades urbanas em nível nacional, mas principalmente na Amazônia, que seria desta- cadamente marcada por esta diversidade, como conclui o autor:

Trata-se de formas, mas, sobretudo de formações urbanas, que revelam diferentes maneiras de se ex- pressar o urbano, desde aquelas que categoricamente difundem os valores da sociedade moderna, até mes- mo formas híbridas do espaço que denunciam fortes conteúdos rurais entremeados de valores urbanos do passado e do presente (p.252).

Neste caso, não se está tratando as cidades de um ponto de vista hierárquico, com vista ao reconhecimento das desigualdades entre os centros, como num enfoque que realça cidades pequenas, médias e grandes (seja pelo critério populacional ou por critérios econômicos, por exemplo), mas se está discutindo diferenças.

Outros estudos sobre as realidades urbanas da Amazônia tam- bém se aproximam dessa preocupação com a diferença. Trindade Júnior, Silva e Amaral (2008) salientam duas abordagens compro- metidas com a análise dessa diversidade da Amazônia a partir do

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urbano, a de Becker (1990), a respeito do processo de urbaniza- ção na Amazônia, e de Vicentini (2004), sobre a tipologia de cidades constituídas ao longo da formação histórico-territorial amazônica, respectivamente, apresentadas nos Quadros 3 e 4.

QUADRO 3: Fronteira amazônica. Modelos de urbanização. 1990

MODELOS DE

URBANIZAÇÃO CARACTERÍSTICAS

Urbanização ‘es- pontânea’

Muito presente na Amazônia Oriental, resulta em grande parte da ação indireta do Estado na produção do espaço, quando incentiva a apropriação privada da terra por em- presas, grupos econômicos ou agentes individuais. Nesse processo, surgem ou se expandem cidades que acompa- nham as frentes econômicas, mobilizando, igualmente, uma grande quantidade de mão-de-obra móvel e poliva- lente e que acaba por incrementar a dinâmica dos núcleos urbanos recentes ou em expansão.

Urbanização diri- gida pela coloni- zação particular

Direcionadas por companhias colonizadoras, é um tipo de urbanização comandada por relações econômicas ba- seadas em trabalho familiar e cuja configuração territorial assemelha-se ao urbanismo rural do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e que articula um sistema de núcleos urbanos configurados em localidades centrais hierarquizadas e onde os agentes principais são os colonos, os funcionários das companhias, os comerciantes e os investidores.

Urbanização diri- gida pela coloni- zação oficial

Trata-se do modelo de urbanismo rural do Instituto Nacio- nal de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e que articu- la um sistema de núcleos urbanos configurados em loca- lidades centrais hierarquizadas, aproveitando a estrutura urbana preexistente para a configuração de um sistema de cidades, que, por sua vez, está baseado em uma estru- tura social complexa: colonos, funcionários, comerciantes (bens, terras, força de trabalho), extrativistas, antigos mo- radores, burocracia, fazendeiro, migrantes etc.

Urbanização dos grandes projetos

Trata-se de um processo de urbanização ligado a projetos de grande escala – os grandes projetos econômicos e de infraestrutura –, cuja dependência de uma base urbana para a instalação e para a residência de pessoal técnico, de trabalhadores permanentes, e de atendimento a uma mas- sa de trabalhadores temporários, faz desses espaços verda- deiros enclaves urbanos na rede de cidades da Amazônia. Mesmo originando novos núcleos, não desconsidera em definitivo a rede urbana regional ao gerar ou fazer crescer núcleos espontâneos que dão apoio às atividades dos gran- des projetos e que se expressam como espaços segregados, mas funcionalmente articulados a esses empreendimentos. Urbanização tra-

dicional

Com pouca repercussão da expansão das frentes econômi- cas, tratam-se de cidades que apresentam uma configura- ção com pouca alteração do padrão tradicional à beira do rio e com forte ligação a um centro regional que não pres- cinde do padrão dendrítico.

FONTE: Elaborado por Trindade Júnior, Silva e Amaral (2008) a partir de BECKER, Bertha K. Fron- teira e urbanização repensadas. In: BECKER, B. K.; MACHADO, L. O.; MIRANDA, M. Fronteira Ama-

zônica: questões sobre a gestão do território. Brasília: UnB, 1990.

As classificações apresentadas com relação ao processo de ur- banização da fronteira amazônica e a tipologias das cidades cons- tituídas ao longo da história da Amazônia abarcam uma série de realidades regionais componentes do quadro da urbanodiversida- de regional, mas ainda parecem insuficientes para compreender determinadas formações socioespaciais imersas na complexidade amazônica.

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QUADRO 4: Amazônia. Cidade e história: uma tipologia. 2004

TIPO DE CIDADE CARACTERÍSTICAS

Metrópoles contemporâneas Estruturas urbanas complexas associadas às repercussões dos novos processos de ocupação (Belém, Manaus, São Luís).

Cidades novas e modernas

Bases de operação e de reprodução social dos grandes projetos minero-metalúrgicos implanta- dos na região (company towns de Barcarena, Tu- curuí e Carajás, principalmente) ou associadas à necessidade de consolidação de novas estruturas territoriais que demandam uma relativa estru- tura urbana concentrada de apoio às atividades econômicas e políticas (Palmas).

Cidades da colonização

Núcleos de apoio aos processos de colonização do final da década de 1960 e pontos de apoio aos eixos de penetração rodoviários (agrovilas, agrópolis, rurópolis).

Cidades “espontâneas”

Estruturas urbanas novas e precárias associa- das às atividades e serviços complementares, formais ou não, relativas aos grandes projetos ou de apoio às novas frentes econômicas. Cidades tradicionais

Estruturas urbanas mais antigas e sujeitas a transformações recentes, decorrentes dos impac- tos sociais, culturais e ambientais promovidos pela introdução de novos modelos de produção e de inovações tecnológicas na região.

FONTE: Elaborado por Trindade Júnior, Silva e Amaral (2008) a partir de VICENTINI, Y. Cidade e História na Amazônia. Curitiba: UFPR, 2004.

Contudo, é possível perceber a partir da análise dos Quadros 3 e 4, e até mesmo na noção de urbanodiversidade, que essa se- paração entre diferença e desigualdade precisa de certa relativi- zação, pois não é muito difícil reconhecer vinculações entre elas, isto é, características mais associadas ao plano das diferenças que resultam de processos marcantemente desiguais e diferen- ças que acabam por se expressar em processos desiguais. Desse modo, considera-se que a separação entre desigualdades e di- ferenças na análise dos espaços urbanos e das redes urbanas é bastante relativa.

E, por isso, as análises que se seguem em relação à caracte- rização da região, da rede urbana e das cidades no Nordeste Pa- raense não enfatizam a organização dos indicadores a partir desses dois polos, mas os abarcam conjuntamente na busca de uma maior aproximação com o real. Desse modo, a procura de reconhecimento da particularidade da Região Nordeste do Pará, da Rede Urbana do Nordeste Paraense e das cidades de Castanhal, Capanema e Bra- gança, enquanto nós principais dessa rede urbana, envolve elemen- tos relativos às desigualdades e às diferenças propriamente ditas e à hierarquia/heterarquia urbanas.

O termo diferença não será usado neste trabalho no sentido de diferenças propriamente ditas, mas num sentido que integra es-