• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 3 – As falhas de mercado e a propriedade intelectual

3.2 Os diferentes tipos de falhas de mercado

As externalidades, os bens públicos e o monopólio derivado da propriedade intelectual são por suas características falhas de mercado.

As externalidades significam que os benefícios ou os custos foram canalizados para terceiros que não fizeram parte diretamente de negociações de uma transação. Esse tipo de ineficiência do mercado é comum quando os preços e a produção de mercado falham ao não refletir as preferências dessas terceiras partes. Por exemplo, quando os

produtores agrícolas pulverizam suas plantações, algum pesticida pode se espalhar e atingir algum fluxo de água nas proximidades.

Quanto aos bens públicos, temos que para essa espécie de bens não pode haver rivalidade, isso ocorre quando eles podem ser consumidos simultaneamente por inúmeras pessoas. Além disso, eles são não-exclusivos, tendo em vista que negar às pessoas o acesso a tais bens é proibitivamente dispendioso. Para esclarecermos que o bem público é dotado de não-rivalidade, explicamos que na rivalidade o consumo exaure um bem rival, de modo que ninguém mais pode consumir a mesma unidade desse bem. Por exemplo, ninguém mais pode consumir um filé com fritas de outro, se este já o comeu. Isso é a rivalidade. De outra parte, pode-se assistir ao mesmo programa de TV sem rivalidade. Isso é não-rivalidade.

Um bem público, também, não é exclusivo. Por exemplo, a defesa nacional é um bem não-excludente, pois todos os cidadãos não podem ser excluídos de tal proteção, quando a força aérea protege um indivíduo contra o ataque de inimigos, o vizinho do indivíduo em específico, também é protegido. Em um bem privado, como o cinema, onde há exclusão, pode-se exigir a compra de ingressos antes de assistir um filme. Filme são bens excludentes (BYRNS; GERALD; 1996).

Quanto ao monopólio, cuja competição está tolhida pela impossibilidade de concorrência, existem várias barreiras que determinam a impossibilidade de rivalidade, como a existência de barreiras à entrada, barreiras estratégicas e naturais. Nas primeiras, a permanência de um monopólio requer o afastamento de competidores, tornando mais difícil a entrada de novas empresas no mercado do monopolista. Elas podem ser impostas por políticas governamentais, no caso de barreiras regulamentares, incluindo patentes e direitos autorais, que possuem a justificativa de incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico. Nas barreiras estratégicas, a barreiras à entrada são oriundas de políticas das próprias empresas transnacionais, como as mudanças anuais na moda. Nas barreiras naturais as economias de escala, que diz respeito a uma certa quantidade de produção para se ter lucro, são substanciais referentemente à demanda do mercado, o que limita de modo severo o número de firmas em determinada atividade econômica.

O surgimento de um monopólio pode depender de uma invenção ou de uma inovação, que são recompensadas pelo mercado. A inovação é uma das fontes de lucratividade. Ela envolve o desenvolvimento e a implantação de novos produtos e processos de produção. Quando uma empresa transnacional introduz primeiro no

mercado um produto de sucesso ou uma tecnologia mais eficiente, seus lucros aumentam e caem quando os concorrentes passam a imitar a empresa inovadora bem- sucedida.

A relação da inovação com os lucros foi expressa por Joseph Schumpeter para explicar o ciclo econômico. Os empresários tentarão capitalizar as novas oportunidades de lucros criadas por uma inovação significante e seus investimentos coletivos abastecerão as fases da expansão econômica. Uma vez que as vantagens da inovação tenham sido plenamente absorvidas, contudo, os investimentos declinam, empurrando a economia para uma recessão, para aguardar outra inovação (Shumpeter, 1939).

Em termos globais, a inovação remonta à existência de divisores globais em inovações e avanço tecnológico. Existe um impressionante divisor no mundo entre inovadores e não-inovadores de tecnologia, separação consideravelmente mais rígida do que as divisões globais de renda. Se se examina praticamente qualquer indicador de inovação tecnológica comercializada, sendo mais fácil colocar o foco em patentes, o fosso entre ricos e pobres é espantoso, mesmo quando comparado às diferenças de renda. Por exemplo, os dez países com mais inovações detêm por volta de 94% de todas as patentes obtidas no EUA, em 2000. A população somada desses dez países representa apenas cerca de 14% da população mundial (SACHS; 2005).

Para fins de análise, pode-se fazer uma diferenciação grosseira do mundo, classificando os países em três categorias. Primeira, aproximadamente um bilhão de pessoas vive em países que desfrutam de crescimento endógeno, nos quais a atividade inovadora acontece em uma escala significativa, e os produtos e tecnologias patenteados são produzidos e vendidos tanto domesticamente como em mercados mundiais. Assim, por volta de um sexto da população mundial habita em países que podem ser descritos razoavelmente pelos modelos de crescimento endógeno. Esses países são às vezes denominados economias-núcleo, segundo a tradição de longa data dos modelos núcleo – periferia.

O segundo maior grupo de países é o de difusores tecnológicos que, no período de 25 anos, absorvem novas tecnologias desenvolvidas nos países de crescimento endógeno. Tipicamente, a difusão ocorre de, no mínimo, três maneiras. Primeira, as empresas locais compram mercadorias essenciais de alta tecnologia para operarem com processos de produção cada vez mais avançados e, caracteristicamente, para produzirem uma gama de mercadorias cada vez mais sofisticadas. Segunda, esses países recebem investimento direto estrangeiro em produtos e serviços de alta tecnologia. Terceira, os

consumidores adotam essas tecnologias como bens de consumo, como os telefones celulares e os computadores pessoais de uso doméstico. Estimaríamos os difusores em aproximadamente três bilhões e meio de pessoas, pouco mais da metade do planeta. Exemplo, leste da Europa, em especial países que fazem fronteira com a União Européia, Cone Sul da América do Sul.

O terceiro grupo, de um bilhão e meio de pessoas, são os excluídos, marginalizados perante a economia mundial. No entanto, não estão totalmente excluídos, mas a taxa de penetração de novas tecnologias é espantosamente baixa. São exemplos: região andina da América do Sul e África Subsaariana (SACHS; 2005).

Parte da ciência e tecnologia, que é geralmente o foco dos modelos de crescimento endógeno, acaba como tecnologias comercializadas usadas dentro do setor privado. Os progressos tecnológicos desse tipo são incorporados a bens e serviços produzidos por empresas privadas e comprados em última instância por consumidores e empresas particulares. Outra parte importante da ciência e tecnologia, entretanto, não aparece no setor privado, mas principalmente, no fornecimento de bens públicos. Por exemplo, os avanços em metereologia, previsão do tempo, química atmosférica gerenciamento do meio ambiente, controle de doenças infecciosas, geologia, supervisão da saúde pública, proteção do meio ambiente. Nesses casos, os usuários finais são, em grande parte ou exclusivamente, agências governamentais e outras organizações não- comerciais.

Considerando que a propriedade intelectual permeia essa desigualdade tecnológica entre nações, perguntamos como transformar um usuário e difusor de tecnologias a inovador por si mesmo? Podemos dizer que a estratégia mais eficaz para esse propósito tem sido a integração da economia nacional na produção mundial. Para isso o Estado não pode ficar inerte, ele deve atuar, mas será ele capaz de consertar uma falha de mercado?