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Dificuldades, enfrentamentos e resistências

Sendo assim, um dos desafios para discutir o Mapa 10 é que este não se torne um “muro de lamentações”, transferindo-se para a esfera pessoal. A questão aqui é abordar as dificuldades, enfrentamentos e resistências que a professora entrevistada tem encontrado no exercício de sua profissão. Percebemos que uma das questões mais enfatizadas na verbalização da professora perpassa pelo financeiro, pois é através deste que se tem o embate da falta de materiais, tanto para as salas de aula e laboratórios adequados, quanto materiais para realização das atividades práticas.

“Também tem a questão financeira dos próprios órgãos: o governo, a secretária de educação que não

disponibilizam na verdade, de uma verba específica para algumas aulas, laboratórios”. (professora).

“Os pais também não se preocupam muito em enviar os

materiais pedidos, então os alunos esquecem muito, isso

prejudica a própria aula”.

(professora).

“A questão de horários, [...], aulas separadas a gente não aceita”. (professora).

“[...] se tu vais para um conselho de classe, para uma reunião, há artes”. (professora).

“A resistência ainda é dos administradores da escola, que pensam que para dar aula hoje em dia só se usa quadro e giz, eles não vêem que tem todas as outras tecnologias”.

(professora).

“Como temos alunos de classe baixa, muitos não trazem o material, aí eu acabo comprando muito material para ter na sala de

aula”. (professora).

“As dificuldades são muitas”. (professora).

“[...] pouco tempo para o planejamento, o material tecnológico a gente não tem

na escola”. (professora).

“Eu sou bastante exigente”. (professora).

DIFICULDADES, ENFRENTAMENTOS

Barbosa, ao ser questionada por Resende (2010) sobre os principais problemas enfrentados no ensino de Arte nas escolas brasileiras, indicou a falta de verba e atualização dos professores. Para ela, “os educadores necessitam de atualização constante, mas de uma atualização que olhe diretamente para eles e para as suas circunstâncias de trabalho”. Percebemos aqui a relação que se estabelece entre o argumento de Barbosa e o da professora, ficando evidente que esta falta de investimento não ocorre somente na escola da professora entrevistada, sendo uma situação atribuída à esfera de praticamente todas as escolas brasileiras, em especial às da rede pública.

Outro fator de enfrentamento que o professor tende a superar nas aulas de Artes é a falta de material para desenvolver suas atividades práticas. Sabemos que por ser escola pública a grande maioria dos alunos vem de famílias de renda baixa, o que significa que a aquisição do material de Artes é considerado supérfluo, pois o orçamento familiar primeiramente deve suprir as necessidades básicas (alimentação, saúde, vestuário). No entanto, poderíamos perguntar qual a real necessidade deste material no ensino de Arte, talvez encontrássemos como resposta outra questão: como vivenciar experiências plásticas e estéticas sem o manuseio de materiais como tintas, lápis de cor, papeis, entre outros. Chamo a atenção, contudo, para esta questão, pois, muitas vezes, o professor tem acesso ao material, e aí incluo tecnologias, bibliotecas, museus, mas não potencializa o mesmo, o que não ocorre com a professora-colaboradora da pesquisa. Percebemos, que muitas vezes é a própria professora que adquire o material para que possa ter um resultado diferente de suas aulas. Mas será que esta é uma função que cabe à professora ou deveria ser oferecido por quem governa?

Outro material que constantemente vem sendo solicitado para o professor é que este faça uso do aparato tecnológico. No entanto, devemos pensar em como garantir o acesso às tecnologias contemporâneas por parte de professores e alunos. Ressaltemos que o uso das tecnologias no ensino de Arte já vem de uma longa data através da gravura, do cinema e da fotografia. Contudo, observemos nos argumentos de Pimentel (2008, p. 115) que “o uso de novas tecnologias na escola se faz, tradicionalmente, com alguma defasagem em relação ao seu aparecimento”.

A autora ainda acrescenta que “muitas vezes, é a resistência d@23 profess@r que impede esse acesso; outras é o contexto discriminatório que o faz”. (PIMENTEL, 2008, p. 117).

Entretanto, o que percebi no decorrer da entrevista é que muitas vezes a professora leva para suas aulas os meios tecnológicos que tem em sua casa, como: aparelho de DVD, computador, televisor para trabalhar as diferentes tecnologias e os materiais (material do pólo “Arte na Escola”, artistas contemporâneos) que estas proporcionam. Ressaltemos que uma das grandes questões da contemporaneidade é trabalhar com o aparato tecnológico no processo de ensino e aprendizagem dentro do contexto escolar. Barbosa (2005, p. 110) observa que “para ampliar os limites da tecnologia e de seu uso, é preciso pensar as relações entre tecnologia e processo de conhecimento; tecnologia e processo criador”. Sendo assim, não adianta levar para a sala de aula diferentes “equipamentos eletrônicos” se o professor não fizer a mediação entre a tecnologia e o que se propõe trabalhar. Para Barbosa (2005, p. 110),

a tecnologia não apenas transformou as práticas cotidianas, mas também os modos de produção intelectual e diluiu os limites e certezas.

A tecnologia é assimilada pelo indivíduo de modo a reforçar sua autoridade, mas pode também mascarar estratégias de dominação exercidas de fora. O fator diferencial dessas duas hipóteses é a consciência crítica.

Um dos desafios contemporâneos é justamente pensar como ver, ouvir, aprender e ensinar aliada às novas tecnologias. No entanto, penso que o desafio maior esteja no professor de Artes de se despir do preconceito até então atribuída a sua figura. Para uma melhor compreensão retomemos a fala da professora entrevistada ao se referir ao conselho de classe e à reunião. Sabemos bem que ao colocarmos nossa opinião (enquanto professora do ensino de Arte) sobre o rendimento escolar de um aluno, esta não tem o mesmo peso do posicionamento do professor das disciplinas “sérias”. Talvez possamos atribuir este preconceito ao enfraquecimento da formação de professores ocorrido durante a Ditadura Vargas, na ocasião do fechamento da Universidade do Distrito Federal, tendo os alunos migrado para a Escola Nacional de Belas Artes. Esta união gerou uma rejeição entre os próprios artistas e os futuros professores, sendo que os artistas consideravam os

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professores medíocres por pensarem em ser professores, e os educadores os viam como malucos, boêmios e perigosos por se envolverem com Arte. Neste sentido, não é de se estranhar que tenhamos tantas resistências em se tratando do ensino de Arte.

Esta fragilidade na formação do professor que tivemos desde o seu início juntamente com as visões preconcebidas que ainda se tem acerca do ensino de Arte, associados aos problemas e dificuldades que se encontra no exercício da profissão, de certo modo, levam-no a reproduzir uma prática impensada, carente de fundamentos e, consequentemente, uma ação pedagógica sem significação. No entanto, observamos pela argumentação da professora entrevistada que qualquer transformação de qualidade no ensino de Arte no espaço escolar só será possível quando progredirmos em relação aos aspectos teóricos, conceituais e metodológicos. Para que isto ocorra é fundamental que se busque meios para a efetivação destas reflexões. Sendo assim, gostaria de ressaltar as considerações que estão representadas no Mapa 11 e que de certa maneira contribuem para a reflexão do que foi discutido até aqui.

Mapa 11: Desistir ou persistir.