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Foto 12: Exposição dos trabalhos

3.3 ESCOLA E ALUNO

O primeiro olhar que podemos ter em relação ao lugar que a Arte ocupa no contexto escolar faz parte do conjunto de princípios e funções que, no decorrer da história da humanidade, está se configurando como aspectos que têm contribuído para legitimá-la como área de conhecimento na escola. Se a Arte for compreendida sob este viés, constataremos a existência de um lugar para a Arte, enquanto experiência estética, no currículo escolar. Também, se ampliarmos a função da Arte na escola, no sentido desta preparar o aluno para lidar em diversos contextos e em situações que necessitem de habilidades específicas e de ações criativas, mas que tenha como foco a educação integral destacamos, então, um lugar mais significativo ainda para a arte na escola. Esta expectativa em relação ao seu ensino fica evidente nas falas apresentadas no Mapa 5.

Mapa 5: Escola.

Fonte: dados da pesquisa (2010).

Está destacado pela direção no relato acima que o ensino de Arte na escola da professora colaboradora é de valorização. A direção também salienta o respeito à criatividade20 do aluno e o incentivo das propostas desenvolvidas pela professora. Observo, em especial, um dos argumentos apresentados pela direção quando diz: “tem trabalhos, às vezes, que tu nem imagina que é desenvolvido pelo aluno”. Ressalto a importância de tal observação, pois reforça que além da capacidade criativa do aluno, a proposta pedagógica desenvolvida pela professora certamente contribui para a qualidade das atividades produzidas pelos mesmos. Bem sabemos

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Ressalto que o termo “criatividade” é constantemente atribuído à área das Artes Visuais. No entanto, se questionarmos o que de fato as pessoas entendem por esta terminologia certamente teríamos uma resposta vaga. Ostrower (1987, p. 5) considera “a criatividade um potencial inerente ao homem, e a realização desse potencial uma de suas necessidades”. Argumenta ainda que: “as potencialidades e os processos criativos não se restringem, porém, à arte. Em nossa época, as artes são vistas como área privilegiada do fazer humano, onde ao indivíduo parece facultada uma liberdade de ação em amplitude emocional e intelectual inexistente nos outros campos de atividade humana, e unicamente o trabalho artístico é qualificado de criativo. Não nos parece correta esta visão da criatividade. O criar só pode ser visto num sentido global, como agir integrado de um viver humano”.

“A escola tem uma preocupação bem séria assim, quanto à arte e a gente investe nesta questão de que o aluno

também valorize”. (direção).

“Principalmente aqui no interior qualquer outro professor pode ministrar uma aula. Muitas vezes

não vão nomear um professor (especialista) para dar duas

aulinhas”. (professora). “Ela (a escola) precisa

promover a interação do aluno nas aulas que se propõe dar”. (professora).

“A expectativa da escola em relação às artes é uma expectativa positiva, de valorização e de respeito à

criatividade dos alunos, enfim, da professora”.

(direção).

“A escola não é mais a única instituição que ensina”. (professora).

“Ver, experimentar, sentir e analisar são fundamentos para a evolução do ensino

e da aprendizagem”.

(professora).

“Tem trabalho, às vezes, que tu nem imagina que é

feito por um aluno”.

(direção).

que o espaço escolar não está destinado a formar artistas e sim que este espaço serve de reflexão, experimentação, fruição e contextualização das atividades práticas e teóricas desenvolvidas no ensino de Arte. Barbosa (1998b, s/p), em entrevista ao programa Roda Viva, argumenta:

Nós não estamos falando do que é a escola, nós estamos falando de uma escola, da chamada escola fundamental (e médio), onde você não pretende formar nenhum profissional ainda. Você não pretende formar o artista, como não pretende formar o matemático, como não pretende formar o novelista etc. Todas essas áreas, todas essas disciplinas contribuem para o desenvolvimento integral da compreensão do mundo.

Contudo, a partir do relato acima, não podemos negar que a escola como espaço situado na dinâmica cultural, no qual as transformações sociais se refletem nas relações humanas e se configuram nas práticas pedagógicas, seja um dos locais que promove a interação do aluno. No entanto, não mais o único espaço como aponta a professora. Até um tempo atrás se tinha claro que o processo de ensino dependia única e exclusivamente do profissional professor e para que o ensino pudesse ocorrer estava amarrado ao tempo e espaço da instituição, denominada escola. Marques (2000, p. 87) confirma tais argumentos, dizendo:

Surge, assim, a escola como lugar, tempo e recursos destinados às aprendizagens em interação dialogal dos nela interessados com Outro socialmente qualificado, para compartilharem do entendimento, da organização e da condução dos processos formais do aprender mediado pelo ensinar.

Contrapõe-se a este argumento o fato de cada vez mais estarmos assistindo a programas implantados pelo governo, pelas ONGs, pelas fundações e instituições, levando diferentes “métodos” de ensino dentro das escolas e também saindo deste espaço, tendo muitas vezes “aliviado” a carga do professor no processo. No que diz respeito ao ensino de Arte, estas ações têm chegado às escolas pelas mãos de voluntários, de “amigos da escola”, de artistas ou amadores através das “escolas abertas”, nos programas de “recreios nas férias”, nos festivais e eventos promovidos pelas próprias Coordenadorias de Educação.

É elogiável que a comunidade esteja cada vez mais participando das atividades da escola, mas devemos questionar o que significa esta retirada do aluno do seu contexto. Entendemos que esta abertura dos espaços escolares institui

vínculos e diálogos de extrema significância para o trabalho pedagógico. Neste sentido, não estamos excluindo da escola a participação virtuosa, justa e muito simpática dos artistas, dos pais, dos amigos e das instituições que trabalham com Arte na sociedade e nem querendo que este permaneça como o único local da aprendizagem. No entanto, ao refletirmos sobre a função da Arte no contexto escolar, como forma de conhecimento, os voluntários, os artistas, os bem- intencionados em geral, não deveriam ocupar o lugar que é do profissional professor de Arte. Também pensemos que isto ocorre por muitas vezes a escola não querer nomear um professor especialista, pois a carga horária deste componente curricular é mínima, como afirma a professora.

O que se tem atestado é que muitas vezes este conflito de papéis vem dos próprios gestores, diretores e coordenadores de escola, que são seduzidos com a magia e o glamour dos artistas, com os arranjos genuínos dos voluntários ou com a aberta participação da comunidade. Estes se esquecem, porém, de avaliar a competência “artístico-pedagógica” dos mesmos. Outras vezes, a arte entra na escola pelo aval da Coordenadoria de Educação que patrocina cursos e eventos de Arte na escola, até mesmo sem a presença ou opinião do professor de Arte, colocando em risco a não continuidade do currículo escolar. No entanto, não podemos ser ingênuos, pois encontramos casos em que os próprios professores abdicam de suas funções pedagógicas e conclamam artistas e voluntários para ministrar suas aulas, ficando ausentes do processo de ensino e aprendizagem ao qual seus alunos estão sendo submetidos. Como bem observa Marques (2000, p. 91), “está na base de qualquer ideal, ou projeto de escola, a verdade do desejo, não apenas por parte daqueles que formalmente a instituem, sobretudo por parte daqueles que a fazem, refazem dia-a-dia, dando-lhe vida real e efetiva”. Não somos contrários a tudo isto, somente penso que devêssemos ficar atentos ao que circula no contexto escolar, em especial a estes “novos pedagogos” e suas “teorias”.

Se na visão da direção a Arte é aceita na escola, no olhar da professora- colaboradora da pesquisa esta aprovação encontra limitadores, pois nem sempre a Arte tem o seu ensino através de um profissional especializado. O que é questionado pela professora é que muitas escolas do interior não disponibilizam de profissionais com formação em Artes, pois como este componente curricular tem uma carga horária reduzida, o tempo restante deve ser preenchido por outras

atividades. Esta preocupação da professora é pertinente, pois na maioria das escolas é este “inter-espaço” de tempo que o professor utiliza para ornamentar a escola ou preparar as comemorações cívicas. Cabe ressaltar que esta não é função do ensino de Arte, pois como as outras disciplinas, esta também tem conceitos a ensinar, agregando a esses as concepções, os procedimentos, os meios, a materialidades entre outros. Para Oliveira (2005, p. 67),

[...] a arte deve ser entendida como uma área do conhecimento humano, com uma linguagem própria, com objetivos claros, com domínio dos saberes pedagógicos e com domínio dos saberes disciplinares. Isso significa conteúdos que se sustentem, que tenham vida própria, contextualizados. Também significa entender a arte não mais como suporte/ cabide para outras disciplinas e, muito menos, executada somente a partir do fazer artístico. Ela precisa existir articulando saberes que tenham significado para a vida do aluno e isso precisa estar claro nos planejamentos escolares.

Podemos aqui dizer que não se trata de uma visão exclusiva de quem defende o ensino de Arte, pois os elementos de carga horária, profissional especializado, entre outros destacados pela professora, são discutidos desde a implantação dos PCNs e da LDB, como aponta Silva (2006, p. 32):

Embora os PCNs-Arte apontam para um redimensionamento do ensino de arte, respondendo aos novos caminhos da própria área, é necessário frisar que é inegável o preconceito contra a educação artística e o professor da área, o que marginaliza este professor e atribui à arte o papel de segunda categoria no cotidiano escolar. [...]. Além disso, nota-se que as políticas públicas que dispõem sobre a obrigatoriedade do ensino de arte na educação básica também não têm a clareza necessária sobre a concepção deste ensino, uma vez que, ao mesmo tempo que determina a obrigatoriedade, exigem uma grade horária que desprestigia a disciplina em detrimento de uma série de outras no cotidiano escolar.

Devemos pensar que a escola é um espaço importante para o ensino de Arte, pois esta se configura como um tipo de ação conectada aos aspectos expressivos, comunicativos e construtivos do aluno. Esta expectativa também se firma na fala da professora entrevistada e é observada no mapa nº 6 ao enfatizar a formação integral do aluno, destacando suas dimensões físicas, sensoriais, afetivas e cognitivas que perpassam o ver, experimentar, sentir e analisar suas práticas pedagógicas. Estes podem ser elementos que refletem no ensino e aprendizagem do aluno, como bem destaca a professora.

Mapa 6: Aluno.

Fonte: dados da pesquisa (2010).

Notemos como a professora ressalta o ensino de Arte como importante meio de expressão e cultura do aluno. Justifico a defesa da professora, pois ao se considerar a Arte como linguagem devemos compreender a partir dos argumentos de Chauí (2008, p. 148) de que esta é “a forma propriamente humana da comunicação, da relação com o mundo e com os outros, da vida social e política, do pensamento e das artes”. Logo, para se estabelecer a relação da Arte como linguagem necessitamos de uma maneira de nos expressarmos (música, visuais, dança, poesia), e a expressão tem diferentes maneiras para uma mesma linguagem que vai depender da cultura de quem a está (re)produzindo. Ainda para Chaui (2008, p. 287),

[...] a arte (também) é concebida como expressão, que transforma num fim aquilo que para outras atividades humanas é um meio. [...], ou seja, pintura e escultura nos ensinam o que é ver; a música nos ensina o que é ouvir; a dança nos ensina o que é mover-se [...].

Este contato com a Arte que a professora espera que o aluno tenha durante sua vida escolar encontra respaldo no discurso de arte-educadores como Iavelberg (2010, p. 2), que tem defendido a educação em Arte como

“Através da arte se compreende as inquietações humanas, contribuindo para o fortalecimento do sentido de pertencimento

ao grupo e do potencial criativo”.

(professora).

“[...] arte na educação, como expressão pessoal e como

cultura é um importante instrumento para identificação

cultural e o desenvolvimento individual”. (professora).

“[...] poderia significar também o desenvolvimento de potencialidades individuais que possam ser determinantes e significativas à

sociedade”. (professora).

“O principal das artes é desenvolver o sentimento do gosto da estética, o sensível”. (professora). “Desenvolver capacidade crítica”. (professora).

“A arte plástica [...] é componente importante na educação e no desenvolvimento

humano”. (professora).

ALUNO

“Tem aluno que vai ser mais das humanas e tem

aquele que vai ser mais das exatas”. (professora).

[...] necessária para uma adequada inserção social, cultural e profissional do jovem contemporâneo. Ela imprime sua marca ao demandar um sujeito da aprendizagem criador, propositor, reflexivo e inovador. Se hoje o aluno deve ser formado para enfrentar situações incertas e para resistir às imposições de velocidade e de fragmentação que caracterizam a contemporaneidade, a arte pode colaborar e muito.

Percebemos aí o grande desafio que a Arte tem em colocar o aluno em contato com seus pares e inseri-lo de forma efetiva na sociedade a que pertence. Neste cenário, é o professor que tem a função de contribuir para a construção da identidade artística dos alunos que convivem no espaço escolar. Iaverberg (2010, p. 2) aponta que “sua colaboração é ainda maior quando sabem respeitar os modos de aprendizagem e dedicar o tempo necessário a fornecer orientações e conteúdos adequados para a formação em arte”.

Este “saber respeitar os modos de aprendizagem” que Iaverberg (2010) aborda, encontra suporte na fala da professora (entrevistada) ao argumentar que nem todo o aluno tem gosto pela área das humanas, existindo os que preferem as exatas (matemática, química). Neste sentido, os saberes do professor são fundamentais, pois não pode ocorrer perda de interesse por parte do aluno. Parafraseando Iaverberg (2010), cabe ao professor debater os conteúdos peculiares da área, também é o professor que deve atentar para a individualidade de cada aluno. Dessa forma, são criadas as condições para que o aluno se sinta bem ao manifestar seus pontos de vista e mostrar suas criações artísticas na sala de aula, além de favorecer a construção de uma imagem positiva de si mesmo como conhecedor e produtor em Arte. Esta maneira de perceber a Arte tem auxiliado muito os professores que buscam modificar suas propostas pedagógicas, em especial a professora-colaboradora desta pesquisa.