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Dificuldades na prevenção

No documento APOSTILA PSICOPEDAGOGIA EMPRESARIAL (páginas 70-77)

Segundo Luz (2001, p. 19), as drogas classificam-se em “legais” e “ilegais”. As primeiras incluem as drogas psicotrópicas com uso aprovado pela legislação vigente de cada país e devem obedecer a critérios de regulamentação que

observam e controlam a produção, a venda e a quantidade permitida de consumo, independentemente dos malefícios orgânicos, sociais e ambientais que possam acarretar. Exemplos dessas drogas são o álcool, o tabaco, a cola de sapateiro e o thinner. Uma das formas de regulamentação comum é a proibição da comercialização para menores e, em relação aos medicamentos, a obrigatoriedade de apresentação da receita médica para a compra, que ficará retida no estabelecimento, laboratório ou farmácia. Já as drogas ilegais incluem todas as substâncias de uso proibido por lei, enquadrando-se em crime o seu plantio, porte, venda, tráfico, manuseio e guarda. Exemplos: maconha, heroína, cocaína, êxtase, crack.

A principal dificuldade que se pode perceber na prevenção ao uso e abuso de drogas dentro do ambiente de trabalho começa na identificação dos sinais de que o colaborador pode estar passando por problemas com álcool e/ou outras drogas.

Alguns desses sinais podem ser compreendidos por ausências reiteradas, principalmente nos primeiros dias da semana, falta de concentração, irritabilidade, descontrole e queda no rendimento produtivo. Assim, conforme divulgado pela Associação Nacional de Medicina do Trabalho, para identificar um colaborador viciado, é preciso levar em consideração a substância, a quantidade, o perfil e a atividade exercida, o que, apesar de variar, serve como um alerta (SOBRAL, 2015). Podemos tomar como exemplo o colaborador que era participativo e sociável habitualmente e vai se tornando arisco e agressivo, a presença de hálito de álcool no horário de almoço e as faltas cada vez mais recorrentes sem qualquer justificativa. Por conseguinte, verifica-se que as formas de descobrir o vício das drogas dentro do ambiente de trabalho são inúmeras, mas precisam estar aliadas à existência de um setor de gestão de pessoas e recursos humanos interessado em solucionar a questão.

Nesse aspecto, o trabalho de prevenção deve visar à compreensão, por parte da empresa, dos motivos que levam os empregados a se envolver com drogas de modo a provocar uma ação eficaz no combate aos efeitos negativos que isso pode trazer para a organização.

Portanto, o trabalho de prevenção poderá ser dividido em três níveis: primário – em que o objetivo é evitar que o uso de drogas se instale; o secundário – que é destinado a usuários que experimentaram drogas e têm como objetivo evitar o viciamento; e o terciário – que diz respeito aos usuários em processo de recuperação, que já são dependentes.

UNIDADE III MUDANÇAS E TRANSFORMAÇÕES ORGANIZACIONAIS

A prevenção primária, que ocorre quando o indivíduo não utilizou nenhum tipo de droga e quando o esclarecimento e a orientação fornecida por uma equipe multidisciplinar de profissionais que trabalham com a dependência de drogas, ainda poderá contribuir para que ele reflita acerca do assunto.

A prevenção secundária é quando essa mesma equipe procura tratar de outra forma, uma vez que o indivíduo experimentou algum tipo de droga e, em muitos casos, poderá estar passando por algum problema que o tenha levado a procurar ajuda. A prevenção terciária leva em consideração o fato de o indivíduo estar comprometido totalmente com as drogas e, portanto, precisar de uma intervenção rápida e eficaz, pois, em alguns casos, ele corre o risco de ir a óbito. Para esses casos, também precisam ser levados em conta os problemas com a polícia, familiares ou, ainda, de natureza financeira.

Com efeito, entre os especialistas é consensual que as políticas de repressão ou demonização do uso de drogas se mostraram ineficazes. As propostas tornam-se mais eficazes à medida que caminham no sentido da informação e da educação, disponibilizando para a sociedade, principalmente para os jovens, um conjunto de informações mais precisa sobre as drogas e seus efeitos. Todo um arsenal de técnicos e especialistas – ao lado da figura emergente do usuário profissional – vem disputando espaços e recursos estatais e privados para desenvolver projetos de prevenção, nas suas modalidades primária ou secundária.

Os resultados de pesquisas de Bucher e Oliveira (1994) apontam as ações de prevenção como mais eficazes do que as de repressão no combate às drogas. Portanto, torna-se imprescindível para os gestores atuais que, ao lidar com os seus colaboradores, saibam que tipo de informação é acessada por eles e como ela é transmitida à sua equipe, visando conhecer a realidade desses sujeitos e possibilitar a construção de uma relação de confiança mútua.

Nos casos em que há a confirmação do uso de drogas pelo empregado, a organização precisa compreender que se trata de um problema de saúde, passível de tratamento, devendo o trabalhador ser encaminhado a um tratamento, e sua evolução deve ser acompanhada de perto pela instituição. O vício deve ser visto como uma condição contemplada pela Classificação Internacional das Doenças como F10, que causa transtornos mentais e comportamentais.

De fato, os trabalhos menos conceituados, que apresentam risco de vida mais elevado, altamente estressantes ou que requerem a manipulação de matéria

em degradação, indicam um maior nível de uso de drogas, principalmente o álcool. As principais vítimas, portanto, são os coletores de lixo, trabalhadores de necrotério, pessoas que lidam com captura e sacrifício de animais, trabalhadores da construção civil, pessoas que atuam em locais remotos e passam períodos prolongados longe da família. Todavia, faz-se necessário ter um maior cuidado nessas avaliações devido ao fato de que o álcool é uma substância socialmente aceita e com uso amplamente disseminado em todas as classes sociais, e, por conseguinte, não é raro se deparar com o abuso de álcool também entre profissionais qualificados, como da área de saúde e executivos (SOBRAL, 2015). Feitas essas considerações, devemos esclarecer que a empresa tem uma função importante na prevenção do consumo de drogas mediante a promoção do crescimento, do desenvolvimento e da socialização dos seus empregados. Ela pode revelar prematuramente problemas emocionais específicos, auxiliando a lidar com eles. Os gestores precisam estimular e orientar o colaborador que está inseguro e oscilante, pois eles também fazem parte do processo de amadurecimento desse profissional.

A família também deve ser inserida nesse procedimento de prevenção e combate ao uso de drogas, uma vez que, como se trata de um processo sofrido, o seu apoio é fundamental para que o tratamento seja concluído com êxito.

Para encaminhar o funcionário ao tratamento adequado, o setor de gestão de pessoas da empresa deve analisar a gravidade do caso, sempre com participação de juntas de médicos e psicoterapeutas. Nesse sentido, casos mais graves podem exigir afastamento, sem internação, a fim de que seja iniciado um tratamento intensivo, com acompanhamento frequente. Por outro lado, algumas situações podem exigir internação em clínicas de reabilitação, cujo período varia de um caso para outro. Devem ser considerados, ainda, o uso de medicação e a participação em um grupo de apoio (SOBRAL, 2015).

Para Anton (2000), são grandes as vantagens que as instituições apresentam num contexto de um trabalho preventivo, entre elas o tempo de permanência do indivíduo na empresa, não tendo a oportunidade de se envolver com drogas, pois, dentro da empresa, ele estará sempre ocupado e protegido diante de diversas atividades, como participando de programas de prevenção às drogas. Nesse sentido, os colaboradores estarão com pessoas preparadas que orientarão e ajudarão no processo educativo. Dentro da empresa, haverá a possibilidade de organizar a programação adequada para cada departamento, promovendo o desenvolvimento intelectual do profissional.

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Além disso, é importante estabelecer parcerias com instituições sociais de saúde e de educação no processo de desenvolvimento de toda a organização. Médicos, psicólogos, psicopedagogos e assistentes socais poderão oferecer informações de qualidade, visando ao desenvolvimento mental e social dos empregados.

A percepção dos envolvidos na trama sobre drogas ao redor da empresa é notada à medida que as informações compartilhadas por gestores, acionistas e profissionais de saúde se ampliam. No entanto, deve-se também observar se as substâncias não estão sendo usadas dentro da empresa.

Os jovens adultos, de maneira geral, criam expectativas de desbravar o mundo, constituir família, ter uma profissão e ganhar dinheiro. Tudo isso é fundamental para que se desenvolvam de forma saudável e independente. Entretanto, se o indivíduo não encontrar oportunidade para desenvolver essas experiências com apoio organizacional, ele poderá encontrar esse apoio e esse espaço em grupos de consumo de drogas.

Cavalcante (2000, p. 13), que dirige um centro de estudos sobre drogas em Fortaleza, alerta que, na relação do usuário com a droga, “o produto e o sujeito formam um duo inseparável [...], a vida passa a girar somente em torno da droga, agravando continuadas formas de marginalização: a prostituição, o roubo, a delinquência”.

Segundo Charbonneau (1988), as ações de prevenção ao uso de drogas devem começar com abordagens transparentes, claras e objetivas, procurando fornecer informações que respondam às ansiedades dos empregados, para que eles não se sintam constrangidos, tampouco com medo ao falar sobre drogas. Os indivíduos precisam estar preparados quando se colocam diante das drogas e, se estiverem esclarecidos, terão mais chances de tomar decisões favoráveis. Sendo assim, a organização tem papel importante em dar continuidade na formação dos seus parceiros, porque estará investindo em algo concreto e, consequentemente, sabendo que poderá esperar melhores resultados.

No caso da empresa, hoje, os diversos gestores não possuem em sua formação inicial informações suficientes que os possibilite atuar no esclarecimento aos empregados sobre as drogas, seja do ponto de vista legal, seja sobre as consequências do uso, seja do ponto de vista histórico e político. O conhecimento que têm sobre o assunto vem da curiosidade pessoal de cada um. A desinformação pode gerar uma série de preconceitos, que se expressam na prática profissional cotidiana.

Atualmente, no cotidiano de trabalho de qualquer profissional, as drogas chegam para valer, e os gestores, inclusive o setor de Recursos Humanos, atuam segundo suas crenças, sendo obrigados a improvisar sobre uma situação pouco conhecida para eles. Mesmo porque é esse profissional que lida diretamente com os parceiros na organização. Com que recursos institucionais os gestores contam para lidar com o problema das drogas dentro da empresa? Que suporte é dado aos colaboradores que apresentam problemas relacionados ao uso de drogas dentro da empresa?

Algumas instituições possuem esse tipo de tratamento inserido em sua política ou plano de atendimento de saúde. Para empresas pequenas, que não dispõem desses recursos, há possibilidades de parceria na localidade, seja na rede pública, em organizações não governamentais ou grupos de apoio.

O consumo de drogas mostra-se como um fator de risco para os profissionais da instituição em determinados contextos, como no caso das empresas próximas a comunidades carentes, convivendo com o tráfico ao redor. Trará efeitos prejudiciais na trajetória profissional desses empregados e na sua integração social?

Com base nessa problemática, podemos nos perguntar se ações no âmbito empresarial poderiam contribuir para o combate ao uso e abuso de drogas entre os colaboradores. Quais considerações as organizações tecem sobre os diferentes tipos de drogas e sobre diferentes usuários ou formas de consumo? Os gestores estão construindo ou modificando suas maneiras de atuar e suas práticas cotidianas relacionadas às drogas e ao uso de drogas? Como essa forma de pensar se reflete em suas atitudes, nas ações dentro da empresa e, por conseguinte, na sua equipe?

O debate sobre as drogas dentro da empresa faz parte do objetivo de instrumentalizar os empresários por meio do conhecimento sobre a problemática que envolve as drogas e o uso delas, tanto lícitas como ilícitas, de modo que todos possam dominar a realidade à sua volta e em seu benefício.

Na fase adulta inicial, logo que sai de uma universidade, o indivíduo entende que é um momento diferenciado e ao mesmo tempo crucial na vida, pois o processo de desenvolvimento nessa fase promove diversas transformações biológicas e psicológicas que culminam na estruturação da personalidade e na manutenção da identidade do indivíduo. Então, é a fase mais adequada, após ter passado pela infância, para um trabalho de prevenção às drogas, ratificando e fortalecendo tudo que foi aprendido no passado. Durante essa fase, período decisivo na

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construção de novas condutas, a organização e o gestor têm a oportunidade de assumir um papel destacado devido à sua função, contribuindo do ponto de vista social e por sua potencialidade em favor do desenvolvimento de um trabalho sistematizado e contínuo.

Nos últimos quinze anos, o número de usuários de álcool no Brasil tem aumentado consideravelmente, a ponto de o país ser considerado um dos lugares que mais consomem bebidas alcoólicas no mundo. Se analisarmos pelo lado da produtividade na empresa e pelo lado da saúde, chegaremos à conclusão de que, em algum momento, organização e sujeito serão afetados. A utilização de álcool e outras drogas leva o indivíduo a modificar a forma de funcionamento do cérebro e, quando ocorre o uso constante, as coisas acabam ficando pior ainda. Isso porque, no cérebro, o sistema de recompensa acaba sendo o grande vilão, porque leva o sujeito a utilizar mais vezes aquilo que lhe fornece um prazer imediato.

No entanto, podemos ressaltar que pessoas que têm o hábito de beber e fumar não conseguem se concentrar nas tarefas a serem executadas. O indivíduo está com a cabeça voltada para o próximo momento em que vai fumar ou ingerir a bebida de sua preferência. Logo, possui uma dificuldade extremada de terminar o que estava sendo feito.

Desse modo, é possível afirmar que o uso de drogas pode afetar o desempenho do colaborador, com consequências drásticas para sua segurança ou dos colegas, em especial, quando o consumo se apresenta de maneira progressiva. Isso quer dizer que, com a elevação da frequência e da quantidade do uso da substância, a performance do funcionário tende a se tornar insatisfatória.

Quando se trata de funções operacionais ou atividades repetidas, a percepção pode demorar a ser identificada, precisando que outros sinais apareçam conjuntamente para que os efeitos sejam, enfim, observados. Nos trabalhos que exigem um nível mais elevado de atenção ou cognição, por outro lado, os sinais podem ser identificados de maneira mais rápida (SOBRAL, 2015).

Todavia, cabe ressaltar que outras condições psíquicas podem minimizar ou ocultar os mesmos sinais de sintomas, sendo, por isso, imprescindível uma análise mais cautelosa de cada situação.

Em geral, o uso de substâncias psicoativas não combina com nenhuma atividade de trabalho. Dessa forma, é importante haver observação e prevenção e fornecer

oportunidade de tratamento e reabilitação. Essas medidas abarcam programas educativos sobre os efeitos do uso de drogas e seus impactos sobre as atividades de trabalho, bem como sobre o âmbito da vida pessoal.

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