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ECONOMIA E ESTRATÉGIA DA NÁUTICA COMO PRODUTO TURÍSTICO NO CRESCIMENTO AZUL

A DIMENSÃO DO MERCADO

Interiorizando a importância crescente do mar e das dinâmicas económicas associadas ao seu potencial e oportunidades, o turismo náutico foi assumido, no final da década de 90, como um dos 10 produtos prioritários para o desenvolvimento do turismo nacional de acordo com o Plano Estratégico Nacional de Turismo – Horizonte 2015, elaborado pelo Turismo de Portugal (2011), opção posteriormente reforçada na Estratégia Nacional para o Mar 2013-2020, editada em 2014, na qual é expresso em termos de recreio, desporto e turismo que “é de esperar que o turismo associado a atividades náuticas possa ter um incremento muito forte nos próximos anos” (Governo de Portugal, 2014: 54).

Também neste quadro a União Europeia reconhece o potencial do mar para o desenvolvimento sustentável e criação de emprego, tendo a 20 de Fevereiro de 2014 adotado a já mencionada European Strategy for more Growth and Jobs in Coastal and

Maritime Tourism (European Commission (2014), a qual contempla 14 ações que têm

como objetivo fortalecer o setor e posicioná-lo como um elemento chave na designada “economia e crescimento azul”, no seio da Europa.

Apesar deste envolvimento otimista de crescimento, em termos de oferta o mercado nacional quando contabilizado através do número de amarrações disponíveis, verifica, na última década, uma estabilização em redor de um número próximo das 13 mil amarrações.

Gráfico 1 - Número Total de Amarrações em Marinas, Portos e Docas de Recreio por Região de Portugal, 2011.

Fonte: Turismo de Portugal, I.P. citado por Oceano XXI (2013: 53)

1 21 8 1 737 2 797 463 3 891 1 274 1 732 0 500 1 000 1 500 2000 2500 3000 3500 4000 4500

Porém, em termos de intensidade da náutica de recreio no território e através de ensaio exclusivo sobre os concelhos com infraestruturas sob jurisdição da Docapesca3 (Perna et

al., 2015b), entidade que representa 44,3% da oferta total de amarrações no continente

e 100% no caso do Algarve, é possível uma análise do grau relativo de importância da náutica face à dimensão populacional e, em simultâneo, a comparabilidade com o turismo costeiro através de proxy por número de camas e quartos em estabelecimentos hoteleiros classificados.

Regiões (concelhos)

Nº Amarrações em Marinas, Portos e Docas de Recreio por 10.000 habitantes Estabelecimentos Hoteleiros Nº Camas por 10.000 habitantes Nº Quartos por 10.000 habitantes

Norte: Caminha, Esposende, Póvoa do

Varzim e Vila do Conde 34,1 209,7 84,2

Centro: Peniche e Nazaré 44,6 483,7 220,6

Sul: Vila do Bispo, Lagos, Portimão, Albufeira, Loulé, Faro, Olhão, Tavira e V.R.S.A.

103,4 2.921,6 1.122,3

Tabela 2: Intensidade de Turismo Marítimo e Costeiro por Regiões. Fonte: Adaptado de Perna et al. (2015b: 11) e INE, 2014. Os dados expressos na Tabela 2 formam evidência da maior intensidade turística no Algarve, região onde a especialização no turismo marítimo associado à náutica de recreio acontece num espaço já vivenciado pela atividade turística concentrada no turismo costeiro, sendo as relações de complementaridade entre ambos um dos potenciais efeitos multiplicadores da cadeia de valor da náutica.

Esta oferta não contabiliza a capacidade existente em fundeadouros. Estes, embora em regra sem serviços associados ou apenas com serviços pontuais e/ou não organizados, são porém particularmente relevantes em regiões como por exemplo o Algarve durante a época alta de veraneio, sendo esta uma das dimensões que carece de investigação futura no âmbito das potencialidades do setor.

3. Em fevereiro de 2014 a Docapesca - Portos e Lotas S.A., empresa pública, passou a exercer nas marinas de recreio as competências de jurisdição até então confiadas ao Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos, de acordo com o Decreto-Lei nº 16/2014, de 3 de fevereiro.

Em termos de análise da procura e privilegiando a ótica da origem relativa dos mercados patente no Gráfico 2, constata-se que na quase totalidade das regiões ou sub-regiões consideradas, o agregado dos utilizadores residentes no próprio concelho da infraestrutura, mais os residentes noutro concelho da mesma região NUT II, formam o mercado de origem dominante da procura de amarrações, atingindo 93,5% dos utilizadores dos concelhos analisados da região Centro (Peniche e Nazaré) e 85,2% no Sotavento do Algarve.

Residentes no Concelho

Residentes noutro Concelho da Região Residentes noutra Região

Residentes no estrangeiro

Gráfico 2: Distribuição dos Utilizadores das Amarrações por Local de Residência Segundo a Região da Infraestrutura.

De forma inversa, uma forte vocação turística está evidenciada no Barlavento do Algarve, destino turístico internacional por excelência. Os nautas residentes no estrangeiro ou noutra região de Portugal, que não a da infraestrutura, são aqui o mercado de origem dominante, representando 66,1% do total de utilizadores de amarrações. Talvez o reverso desta especialização surja no elevado índice de sazonalidade da atividade turística como um todo4, o qual no Algarve em 2015 atinge o valor de 4,97 (IMPACTUR, 2016).

Em termos de origens e embora em menor escala, também no Norte (Caminha, Esposende, Póvoa do Varzim e Vila do Conde) o peso dos residentes no estrangeiro ou noutra região é dominante - 45,0% - a que não será estranho a proximidade à Galiza.

Revelador das diferentes realidades de gestão e enquadramento territorial, é o facto de nas regiões ou sub-regiões onde a procura pela população local é dominante, respetivamente Norte, Centro e Sotavento do Algarve, o operador respetivo de cada infraestrutura é a própria Docapesca ou um clube náutico / associação naval. Na sub-região onde a procura turística é dominante, o Sotavento da Algarve, o operador de cada infraestrutura é sempre uma empresa do setor privado. Diferentes abordagens de gestão e perfis de território estão aqui em causa, enfatizando a relação de proximidade da náutica de recreio com as populações e, simultaneamente e não em contradição, com a fileira do turismo, reforçada pela procura com origem em não residentes.