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RELAÇÕES ENTRE A DOEM E O DECRETO-LEI N.º 38/2015 – TRANSPOSIÇÃO FORMAL

DIREITO PORTUGUÊS DO ORDENAMENTO DO ESPAÇO MARÍTIMO E A DIRETIVA 2014/89/UE

5. RELAÇÕES ENTRE A DOEM E O DECRETO-LEI N.º 38/2015 – TRANSPOSIÇÃO FORMAL

Cumprindo o disposto no artigo 30º da Lei n.º 17/2014, de 10 de abril, foi elaborado e aprovado o

respetivo diploma de desenvolvimento das Bases: Decreto-Lei nº 38/2015, de 12 de março. Concomitantemente, este diploma governamental transpôs, formalmente, em Portugal, a Diretiva 2014/89/UE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de julho.

O Decreto-Lei n.º 38/2015 assumiu como seu objetivo, em síntese, transpor para o direito português a DOEM pelo ato legiferativo de complementar a LBPOGEMN (“dois em um”) desenvolvendo o regime jurídico aplicável ao ordenamento monitorizado do espaço marítimo e à sua utilização – incluindo o regime financeiro associado ao seu uso privado9. Seguindo, pois, a LBPOGEMN, dispôs- se em oito capítulos10. Após o articulado inclui os suscitados anexos referentes (1) aos elementos necessários ao pedido para utilização privativa e (2) ao quadro das entidades consultadas em função dos usos e atividades a autorizar.

A apreciação, crítica, doutrinal, não cabe na natureza do presente texto, todavia cinco linhas cumpre reter como insuficientes entre a lei de bases e este decreto-lei: a decorrência na conformidade ao direito internacional geral (maxime CNUDM, quer deste diploma quer da lei de bases) e ao da EU; a sustentabiliadade multidimensional (ambiental, económica e social-comunitária); a homologia sinergética à LBGPPSOTU e aos diplomas RJIGT e conexos; a natureza e a eficácia dos planos em compatibilização mais estreita com a vertente das modalidades de gestão do espaço marinho; a participação extra estadual (central) quer no planeamento quer na gestão e na operação – maxime,

por um lado com regiões autónomas e por outro lado com particulares: a contratual.

CONCLUSÃO

A União Europeia assumiu, com a DOEM, uma relação de conformação “supranacional” do mar e do ordenamento da sua utilização, uso e exploração, v. g., científica, económica, social e cultural. Portugal, por força de necessidade e realização, desde 1998, de regulações basilares de ordenamento do território, cumpriu naquele ano a dimensão terrestre. Em 2014 e 2015 cumpriu a dimensão normativa geral marítima.

Uma coincidência entre a intenção legislativa basilar para o mar – em segmentada homologia com a do espaço terrestre – e a necessidade transpositiva da DOEM propiciou que o Decreto-Lei n.º 38/2015 densificasse a matriz planificatória do espaço marítimo.

9 Este Decreto-Lei n.º 38/2015 (aprovado em Conselho de Ministros de 8 de janeiro de 2015, promulgado em 4 de março de 2015 e referendado em 5 de março de 2015) foi objeto da primeira alteração através do Decreto-Lei n.º 139/2015, de 30 de julho. Apesar da não consideração das lagoas costeiras como águas de transição, determinou que às mesmas se aplique o regime de utilização privativa de recursos hídricos para fins aquícolas segundo o estatuído pelo decreto-lei assim alterado (Rias Formosa e do Alvor e lagoas de Santo André, Albufeira, Óbidos e Barrinha de Esmoriz).

10 I Disposições gerais – 1.º a 3.º arti gos; II Instrumentos de ordenamento do espaço maríti mo nacional – arti gos 4.º a I Disposições gerais – 1.º a 3.º artigos; II Instrumentos de ordenamento do espaço marítimo nacional – artigos 4.º a 45.º; III Utilização do espaço marítimo nacional – artigos 46.º a 74.º; IV Regime económico e financeiro – artigos 75.º a 86.º; V Avaliação do estado do ordenamento do espaço marítimo nacional – artigos 87.º e 88.º; VI Fiscalização e sanções – artigos 89.º e 96.º; VII Utilização privativa de águas de transição para fins aquícolas – artigos 97.º a 99.º; e VIII Disposições

Portugal foi o Estado pioneiro na transposição da Diretiva de Ordenamento do Espaço Marítimo. Todavia não tem, inelutavelmente, diretos e próprios meios económicos e financeiros para realizar o programa normativo, nem da estratégia marinha, nem do diploma de transposição do direito europeu.

O desafio é o de gerar engenho – jurídico, especialmente – para fazer das normas da UE (e dos instrumentos internacionais multilaterais) meios regulatórios e conformadores, para que o mar deixe de ser um horizonte e passe a ser imediata – mas (também e sobremodo jusnormativamente) eficiente11 – oportunidade azul – realizadora da fundamentalidade dispositiva ínsita no artigo 1.º da LC n.º 1/1976 nos termos de exegese atualista pela sustentabilidade multidimensional – cf. supra.

REFERÊNCIAS

Bastos, F. Loureiro, A Internacionalização dos Recursos Naturais Marinhos, AFFDL, Lisboa, 2005. Correia, F. Alves, Manual de Direito do Urbanismo, Vol. I, 4.ª Edição - reimp., Almedina, 2012.

Ehler, Charles, “13 myths of marine spatial planning”, in Marine Ecosystems and Management Newsletter, Vol. 5, abril - maio, 2012.

Ehler, Charles & Douvere, Fanny, Marine Spatial Planning: a step by step approach toward ecosystem-based management; Intergovernmental Oceanographic Commission and Man and the Biosphere Programme. IOC Manual and Guides No. 53, ICAM Dossier No. 6. Paris: UNESCO, 2009.

Kidd, S. & Ellis, G, “From the land to sea and back again? Using terrestrial planning to understand the process of marine spatial planning” in Journal of Environmental Policy & Planning, Vol. 14, 1 , Taylor & Francis Online, March, 2012.

Pereira, M. S. D. Neves, (2012). “Litoral: Iter metódico em singular objecto compósito”, in: Estudos em Homenagem ao Prof. Doutor José Joaquim Gomes Canotilho, Vol. IV: Administração e Sustentabilidade: entre Risco(s) e Garantia(s). (Honorem - 6). Coimbra: Coimbra Editora, 521- 546.

Kennedy, David. (1987) “The Sources of International Law.” American University International Law Review 2, n.º 1: 1-96. Xiao Recio-Blanco. (2015) “Finding the adequate legal framework for the deployment of Ocean Renewable Energy through area-based management” ExpressO. Disponível em: http://works.bepress.com/xiao_recio-blanco/4/

Websites - http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_main.php - http://autoridademaritima.marinha.pt/PT/DCPM/Pages/combate_poluicao.aspx - http://ec.europa.eu/maritimeaffairs/index_pt.htm - http://eur-lex.europa.eu/homepage.html - http://www.imo.org/en/Pages/Default.aspx - http://cmsp.noaa.gov/index.html

11 A dimensão jurídica pode, quer afastar a efi ciência, quer potenciar decisivamente a efi ciência cientí fi ca, tecnológica e A dimensão jurídica pode, quer afastar a eficiência, quer potenciar decisivamente a eficiência científica, tecnológica e económico-financeira. Cfr. A jussensibilidade norte-americana nesta sede por Xiao Recio-Blanco. "Finding the adequate legal framework for the deployment of Ocean Renewable Energy through area-based management" ExpressO (2015), disponível, a 14.03.20156. em: http://works.bepress.com/xiao_recio-blanco/4/: “All Ocean Renewable Energy (ORE) technologies confront significant regulatory barriers. Since ORE developments constitute an unprecedented use of the seas, most nations lack specific regulatory measures, have inconsistent regulatory approaches, or find their legal frameworks unprepared for the development of ORE technologies. All of these difficulties lead to excessive delays, reduced economic feasibility, and a dilution of public support and private investment. In other words, a fraction of the high costs of most ORE technologies is attributable to inadequate regulations”.