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RECURSOS NÃO VIVOS DO MAR PROFUNDO Recursos minerais

RECURSOS DO MAR PROFUNDO DEEP-SEA RESOURCES

RECURSOS NÃO VIVOS DO MAR PROFUNDO Recursos minerais

A Europa é dependente da importação de muita da matéria prima mineral necessária para a indústria de alta tecnologia, incluindo metais que são essenciais para o desenvolvimento de tecnologias energéticas de baixo carbono (Moss et al. 2011, Kopf et al. 2012). Os modernos equipamentos de alta tecnologia possuem na sua composição “elementos tecnologicamente críticos” (Moss et al. 2011, www.costnotice.net).

Fig. 3: Dependência externa europeia da importação de elementos críticos (Fonte: Kopf et al. 2012).

A nomenclatura de elementos críticos prende-se com o risco existente a nível mundial de rutura do seu fornecimento e acompanhada pela especulação do preço no mercado global (Fig. 3), isto justifica-se pois alguns dos minérios que contêm estes elementos estão a esgotar-se ou estão restritos a áreas geográficas específicas, com algum risco político associado, e também porque a reciclagem não é ainda suficiente para garantir as necessidades globais estimadas para as próximas décadas (Moss et al. 2011).

Muitos destes elementos (Fig.3) encontram-se em abundância em determinados depósitos minerais no mar profundo (Fig.4). De entre os recursos minerais no mar profundo que suscitam maior interesse estão os depósitos minerais de sulfuretos polimetálicos, originados por hidrotermalismo em profundidade (Fig.2 ), e que são ricos em cobre, zinco, chumbo, estanho, ouro e prata. Estes depósitos encontram-se essencialmente nas dorsais médias oceânicas (Tyler et al. 2003, Fig.4) e serão o primeiro alvo de extração mineira no mar profundo, planeada para iniciar em 2018 em Solwara 1 na Papua Nova Guiné (Rogers et al. 2015).

Os nódulos polimetálicos têm também bastante interesse económico, devido à sua elevada concentração e pureza de metais, e também pela sua elevada abundância nas planícies abissais. Estes são ricos em níquel, cobre, cobalto e elementos químicos conhecidos como

Sb Be Borato Co Ga Ge In Mg Mo Nb metais do grupo Pt Elementos Terras Raras Re Ta Te Ti V Mn Fe Li W Zn Ni Cu Al Cr Ag 20% 40% 60% 80%

terras raras. Uma grande área no Pacífico Leste, junto à Clarion-Clipperton Fracture Zone, é abundante em nódulos polimetálicos e várias concessões de investigação para a exploração dos nódulos já foram emitidas. Esta zona está sob a jurisdição da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (www.isa.org.jm), responsável pela emissão das concessões e pela regulamentação das atividades de exploração dos fundos marinhos em águas internacionais. Existem ainda as crostas enriquecidas em ferro e manganês, abundantes nos montes submarinos, cujos elementos de interesse são principalmente o ferro, o manganês, o cobalto, o cobre, a platina e também as terras raras (www.isa.org.jm).

O conhecimento atual do mar profundo português, que foi alvo de mapeamento e amostragem, teve um contributo muito importante das inúmeras missões de investigação oceanográfica realizadas no âmbito da Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC, www.emepc.pt). Estes estudos ajudaram a identificar alguns locais onde estão presentes potenciais recursos mineiros como as crostas de ferro e manganês na base de montes submarinos, nódulos polimetálicos e depósitos de sulfuretos maciços (Fig. 5, EMEPC 2014). Áreas de extração mineira Fontes hidrotermais cold seeps Áreas a2vas detetadas por anomalias químicas na coluna de água

Fig. 4: Distribuição global de ambientes quimiossintéticos e principais áreas com potencial para extração mineira (adaptado

Fig. 5: Potenciais recursos não vivos presentes em águas profundas Portuguesas. (Fonte: EMEPC, 2014).

No entanto, desconhece-se ainda qual será o verdadeiro impacto destas atividades mineiras nos ecossistemas do mar profundo. A exploração de qualquer um dos recursos minerais enunciados anteriormente irá destruir o habitat do local a ser explorado, pois muitas espécies vivem / dependem destes substratos rochosos. Para além deste impacto negativo, que apenas com uma boa gestão espacial poderá ser minimizado, há também o risco da criação de uma pluma rica em partículas/micropartículas metálicas, transportando contaminantes tóxicos por uma extensão horizontal e vertical desconhecida. Muito do desconhecimento dos impactos da mineração no mar profundo está ligado à incerteza de como irão funcionar os instrumentos de escavação, tratamento, recolha e transporte dos minérios (Fig. 6).

A exploração no mar profundo é apenas possível com o recente desenvolvimento tecnológico de equipamento adequado às condições deste meio ambiente extremo. Vários protótipos de exploração dos minérios estão a ser desenvolvidos, e novos “mega” navios a ser construídos, mas é urgente conhecer os riscos ambientais potenciais, para se poder adaptar a construção de equipamentos nesta fase inicial. É preciso aproveitar o facto de que a indústria, que está a investir nesta área, está ainda disponível e interessada em modificar os seus equipamentos nesta fase, por forma a minimizar os impactos negativos e desse modo ter uma melhor aceitação social e legal para a sua atividade.

Fig. 6: Esquema do sistema de exploração e protótipos dos robots para escavação e recolha de depósitos de sulfuretos.

(Fonte: www.nautilusminerals.com)

Recursos Energéticos

Desde os anos 70 que a indústria de extração de hidrocarbonetos e gás natural tem atividade no mar profundo. Pelo menos 1000 poços estão em atividade a nível global, em profundidades superiores a 200 m, chegando à profundidade de 2896 m no golfo do México (United Nations, 2016). No mar profundo no golfo de Cádiz e ao largo do Algarve, são inúmeros os vulcões de lama, onde existem importantes reservas de gás natural, em exploração do lado espanhol. Estes vulcões de lama albergam comunidades quimiossintéticas e importantes jardins de coral profundo, com bastante endemismo. A exploração de recursos energéticos nestas zonas implica a destruição física do habitat nos locais de implantação do poço. Já os impactos em redor do poço podem ser mais ou menos vastos e negativos, consoante o método de exploração que seja utilizado (United Nations, 2016). Em Portugal, embora existam fortes indícios da presença de recursos energéticos, a sua exploração economicamente viável não está comprovada, apesar de existirem

já concessões que cobrem a quase totalidade da plataforma continental de Portugal continental. No entanto, é necessário refletir sobre a necessidade de explorar estes recursos, tendo em conta o atual cenário de compromisso global a nível da Organização das Nações Unidas, de diminuir a emissão de gases de efeito de estufa, favorecendo o investimento em energias limpas e renováveis.