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O MAR COMO PROPULSOR DO DESPORTO E DO TURISMO THE SEA AS A DRIVING FORCE FOR SPORTS AND TOURISM

O MAR E AS PRÁTICAS DESPORTIVAS

O desporto, segundo a Carta Europeia do Desporto, «inclui todas as formas de atividade física que, através de uma participação, organizada ou não, têm por objetivo a expressão ou a melhoria da aptidão física e psíquica, o desenvolvimento das relações sociais ou a obtenção de resultados na competição em todos os níveis» (Comissão Europeia, 1992, 2001).

Este posicionamento assumido pela Comissão Europeia expressa uma abordagem eclética de participação e inclusão no que diz respeito aos objetivos do desporto, distanciando-se de uma perspetiva que advoga que este deve ser exclusivamente entendido como prática de competição. Nesta aceção, para além do setor federado, a prática desportiva pode ser promovida por vários setores de interface, como o da saúde ou do turismo, entre outros (Pereira, 2007).

O desenvolvimento dos desportos náuticos em Portugal remonta ao início do século XX, apresentando-se tradicionalmente associado à cultura náutica do país. Os clubes, as associações e as federações desportivas das diversas modalidades náuticas foram, durante largas décadas, os motores da cultura e da prática da náutica desportiva, nomeadamente e por ordem cronológica da sua fundação: em 1907, a Federação Portuguesa de Natação; em 1920 e 1927, a Federação Portuguesa de Remo e a Federação Portuguesa de Vela, respetivamente; em 1947, a Federação Portuguesa de Pesca Desportiva; na década de 60, a Federação Portuguesa de Motonáutica (1964) e a Federação Portuguesa de Atividades Subaquáticas (1965); em 1979, a Federação Portuguesa de Canoagem; nos anos 80, a Federação Portuguesa de Pesca de Alto Mar (1980), a Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência (1988) e a Federação Portuguesa de Surf (1989).

Segundo a Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto (Assembleia da República, 2007) uma federação desportiva é uma pessoa coletiva constituída sob a forma de associação sem fins lucrativos, conglomerando «clubes ou sociedades desportivas, associações de âmbito territorial, ligas profissionais, se as houver, praticantes, técnicos, juízes e árbitros e demais entidades que promovam, pratiquem ou contribuam para o desenvolvimento da respetiva modalidade» (p. 5). Na área das atividades náuticas, as federações promovem várias modalidades:

• Federação Portuguesa da Natação: natação pura, polo aquático, masters, natação sincronizada, águas abertas e saltos;

• Federação Portuguesa de Remo: remo, remo adaptado, remo indoor e remo sem limites; • Federação Portuguesa de Vela: vela, kiteboard e windsurf;

• Federação Portuguesa de Pesca Desportiva: pesca em água doce, pesca no mar e pesca à pluma;

• Federação Portuguesa de Motonáutica: motonáutica em barcos (catamarãs, monocascos e semirrígidos), fórmula futuro, jetski e motas de água e radiocontrolados;

• Federação Portuguesa de Atividades Subaquáticas: pesca submarina, audiovisuais (fotografia e vídeo subaquático), tiro subaquático, râguebi subaquático, hóquei subaquático, orientação subaquática, natação com barbatanas, mergulho em apneia e mergulho desportivo;

• Federação Portuguesa de Canoagem: canoagem estilo livre, kayak polo, kayak surf, canoagem longa distância, canoagem fundo, canoagem regata em linha, canoagem slalom e indoorkayak; • Federação Portuguesa de Pesca Desportiva em alto mar: barco fundeado, big game fishing e

jigging;

• Federação Portuguesa de Surf: surf, bodyboard, longboard, skimboard, kneeboard e skate. • Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência: canoagem, natação, pesca

desportiva, remo, surf e vela.

De acordo com dados do Instituto do Desporto de Portugal (2011), entre 1996 e 2009 foi conquistado um conjunto significativo de medalhas na área dos desportos náuticos por praticantes portugueses em competições desportivas (provas Olímpicas e provas não Olímpicas), nomeadamente nas modalidades de: vela (22 medalhas), natação (20 medalhas) e canoagem (17 medalhas).

A partir da análise da tabela 1, onde se mostra o número de praticantes federados, por federação entre 1996 a 2014, verificamos a flutuação constante do número de praticantes ao longo do tempo. Contudo, o passado mais recente (de 2008 a 2014) regista, à exceção das Federações Portuguesas de Natação (em que a modalidade de “águas abertas” representa, em 2014, apenas 9% do universo contabilizado) e de Canoagem, um generalizado decréscimo no volume de praticantes federados.

Federações Desportivas 1996 2000 2004 2008 2014 Federação Portuguesa de Natação 4.317 5.630 6.880 9.259 13.657 Federação Portuguesa de Remo 1.283 1.270 1.283 1.633 1.479 Federação Portuguesa de Vela 1.878 2.712 2.972 2.887 1.841 Federação Portuguesa de Pesca Desportiva 4.250 3.975 3.923 3.528 2.796 Federação Portuguesa de Motonáutica 137 152 278 454 356 Federação Portuguesa de Atividades Subaquáticas 1.036 2.591 2.444 1.700 1.200 Federação Portuguesa de Canoagem 2.297 1.471 1.976 2.223 2.304 Federação Portuguesa de Pesca de Alto Mar

234 379 280 290 242

Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência

- - - 2.799 1654

Federação Portuguesa de Surf

1.026 1.186 1.586 1.958 1.693

Tabela 1. Evolução dos praticantes federados em modalidades náuticas 1996-2014.

Fonte: Adaptado de IPDJ (2011)1 e de IPDJ (2014)2.

Consideramos relevante a análise destes dados na medida em que ela deve constituir o ponto de partida para a reflexão e debate aprofundados sobre a real implementação de uma estratégia de desenvolvimento dos desportos náuticos em Portugal. A anterior Estratégia Nacional para o Mar 2006-2016 apontava já um conjunto de ações e medidas (designadamente no âmbito do capítulo V) que visavam o aproveitamento de oportunidades identificadas nas áreas do turismo e do desenvolvimento da náutica de recreio, nomeadamente a valorização do mar como elemento diferenciador da oferta turística e o estímulo às atividades de tempos livres, lazer e desporto associadas ao mar (Governo de Portugal, 2005). A atual Estratégia Nacional para o Mar 2013-2020 (Governo de Portugal, 2012) também refere a importância do desenvolvimento das atividades desportivas náuticas numa forte relação com o turismo, em concreto para «dinamizar o setor e, paralelamente, reforçar uma política de comunicação e educação que consolide a imagem de Portugal como país de forte identidade marítima» (p.49). No nosso entendimento, não basta possuir uma visão estratégica, pois a estratégia emerge na coevolução de um processo interativo implicando, necessariamente, ação.

1 Estatística do desporto de 1996-2009.

Urge, para tal, a priorização e o incremento real dos diferentes fatores de desenvolvimento desportivo (Paz, 1977; Pires, 1986) na especificidade da área náutica pois, não o fazendo, corremos o risco de continuarmos a assistir ao inevitável declínio do número de praticantes federados.

Para o desenvolvimento desportivo náutico deverão ser equacionados e geridos de forma integrada, os fatores associadas às atividades desportivas propriamente ditas, à orgânica dos clubes, federações e outros agentes envolvidos, ao marketing, à formação, à documentação, à informação, às instalações/espaços, ao apetrechamento, aos quadros humanos, ao financiamento e aos normativos das diversas modalidades náuticas.

Nesta ótica salientamos a mais-valia que constitui o processo desenvolvido recentemente no âmbito do Desporto Escolar – Direção Geral da Educação3, ao criar 31 Centros de Formação Desportiva, destinados a atividades náuticas. Estes centros existem ao longo de todo o país e abrangem as seguintes modalidades: canoagem (20 centros); remo (7 centros); surf (9 centros); vela (10 centros).