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Dimensão: Produção de etanol de cana-de-açúcar na África

4. ANÁLISE SISTÊMICA

4.2. Estágio 2 – Identificação da situação problema

4.2.2. Dimensão: Produção de etanol de cana-de-açúcar na África

Sendo assim, o foco da presente pesquisa são os países africanos em função do seu potencial de produção de etanol de cana-de-açúcar.

De maneira geral, os países africanos estão em fase inicial da produção de biocombustíveis, sendo que cada país encontra-se em um estágio diferente, visto que alguns países já definiram políticas e mandatos de substituição (maioria não está em operação), enquanto outros países não tem sequer um estudo de zoneamento agrícola para indicar as potencialidades agrícolas do país, bem como quais culturas são mais indicadas para a produção de biocombustíveis (LERNER et al., 2010).

Como os recursos internos de grande parte dos países africanos é limitado, principalmente na região da SADC, torna-se necessário a atração de investidores. Contudo, os

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países africanos são marcados por uma série de desafios e os investidores devem considerá- los em sua tomada de decisão.

Dentre os principais desafios, tem-se a infraestrutura precária, a escassez de mão de obra qualificada que está relacionada ao fato de que a produção de etanol de cana-de- açúcar é recente, as terras são concedidas pelo governo e não podem ser compradas, conflito com a produção de alimentos que pode impactar negativamente a imagem da empresa, custo do financiamento, instabilidade política e ineficiência institucional (AMIGUN et al., 2008; JANSEEN, et al., 2009; KGATHI et al., 2012; MALTSOGLOU; KOIZUMI; FELIX, 2013).

Além desses desafios que geram insegurança para o investidor, verifica-se um fator determinante para a realização de investimentos na produção de biocombustíveis que é a falta de definição de políticas específicas que determinem um mercado doméstico para o produto. De acordo com Lerner et al. (2010) a maioria dos países africanos não possui política para os biocombustíveis e a produção é restrita à alguns projetos ou projetos-piloto.

Dessa forma, há uma resistência dos investidores, visto que sem um marco regulatório definido pelo governo não há um demanda garantida pelo etanol. Em outras palavras, é inviável para um país estimular a produção de etanol com a intenção de destinar essa produção exclusivamente para a exportação, visto que não existe um mercado consumidor em larga escala já que os principais mercados consumidores correspondem aos principais países produtores, ou seja, abastecem a demanda doméstica por meio da produção interna. Da mesma forma, que um investidor não fará um investimento baseado em acordos preferenciais de exportação.

No caso do mercado europeu, destaca-se que por mais que existam acordos preferenciais de exportação para produtos provenientes de países africanos, esses acordos serão revistos em 2015. Além disso, a União Europeia está em fase de revisão de sua política de biocombustíveis, resultando em uma demanda incerta de importação do mercado europeu.

Contudo, ressalta-se que o mercado interno dos países africanos é pequeno, visto que é uma pequena parcela da população que tem acesso a veículos. Dentre as possíveis alternativas para estimular o crescimento da produção de etanol tem-se a formação gradual de um mercado regional dos países africanos e também para a exportação para o mercado europeu. Além disso, uma das vantagens de produzir etanol de cana-de-açúcar refere-se a possibilidade de atender o mercado de açúcar, visto que os países africanos são grandes importadores, bem como produzir bioeletricidade e outros produtos de maior valor agregado.

O Quadro 13 apresenta os principais fatores de incentivo e entraves para a produção de etanol de cana-de-açúcar do ponto de vista dos países africanos e investidores.

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Perspectiva Motivadores Barreiras

Investidores

 Potencial agrícola para a produção de cana-de-açúcar

 Mercado interno de açúcar  Mercado interno de bioeletricidade

 Poucos países africanos possuem zoneamento agrícola

 Ausência de marco regulatório para biocombustíveis

 Infraestrutura precária

 Escassez de mão de obra qualificada  Política de concessão de terras  Custo do financiamento  Instabilidade política  Ineficiência institucional

 Mercado interno de etanol é pequeno

Países africanos

 Geração de emprego e renda  Redução de importação de petróleo  Abastecimento do mercado interno

de açúcar

 Maior acesso da população à energia (bioeletricidade)

 Desenvolvimento do interior do país  Aumento da produtividade das terras  Acesso à tecnologia

 Acesso à conhecimento

 Conflito com produção de alimentos  Preocupação com os impactos ambientais e

sociais

 Influência da União Europeia

 Pinhão manso é o principal biocombustível estimulado nos países

Quadro 13: Principais barreiras e fatores para o desenvolvimento da produção de etanol de cana-de-açúcar nos países africanos.

Fonte: Elaborado pela autora.

O Brasil é referência mundial na produção de etanol de cana-de-açúcar e sua colaboração é fundamental para viabilizar a produção nos países africanos. Para tanto, tem desempenhado diversas ações em termos de financiamentos, inclusive de projetos de análise de viabilidade de produção, troca de experiência e suporte na elaboração de políticas públicas. Além disso, é preciso considerar que muitos países africanos não possuem capacidade técnica para garantir que o desenvolvimento do setor sucroenergético ocorra de maneira sustentável. Essa questão é crítica e a experiência do Brasil pode auxiliá-los em questões como conflito com a produção de alimentos, comercialização, monitoramento do cumprimento das regulamentações, inclusão de pequenos produtores, garantindo que os países africanos alcancem benefícios sociais, ambientais e também econômicos.