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Estágio 3 – Formulação das definições essenciais do sistema

4. ANÁLISE SISTÊMICA

4.3. Estágio 3 – Formulação das definições essenciais do sistema

por Checkland conhecida com CATWOE. A partir dessa ferramenta é possível identificar os principais elementos essenciais do sistema, ou seja, clientes, atores, processo de transformação, visão de mundo, proprietários do sistema e restrições ambientais. O Quadro 15 apresenta os principais elementos essenciais do sistema.

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Definição Elementos do sistema

Clientes  Mercado externo e consumidores nacionais

Atores  Investidores brasileiros, governo brasileiro, governo dos países africanos, União Europeia e EUA.

Transformação

 Internacionalização do etanol

(Entrada: falta de demanda em larga escala  processamento: países definem marco regulatório  saída: crescimento da comercialização de etanol no mercado internacional)

Visão do mundo

 Investidores brasileiros: a falta de demanda internacional em larga escala e a demanda consolidada do mercado brasileiro faz com que a prioridade dos investidores seja o Brasil. O investimento na produção de etanol de cana-de-açúcar em países africanos depende dos países definirem marco regulatório para gerar mercado para o etanol.

 Governo dos países africanos: Tem interesse de desenvolver a produção de biocombustíveis. Atualmente, o foco é no biodiesel de pinhão-manso, mas que não tem tido progresso. São influenciados pela União Europeia e tem preocupação com o impacto da produção de biocombustíveis na produção de alimentos e para os pequenos produtores.

 Governo brasileiro: O etanol perdeu competitividade frente à gasolina importada. O subsídio à gasolina importada é importante em função do impacto na inflação. A tendência de queda do preço do petróleo no mercado internacional e a expectativa com o Pré Sal tornam a gasolina preferência para o governo.

Proprietário  Governo brasileiro, governo dos países africanos e empresas do setor sucroenergético.

Restrições do Ambiente

 Tendência de queda do preço do petróleo no mercado internacional, barreiras tarifárias e não tarifárias, conflito com alimentos, empresas brasileiras estão em fase de recuperação, países africanos possuem falhas estruturais que afastam os investidores.

Quadro 15: Definição do sistema a partir da CATWOE. Fonte: Elaborado pela autora.

No contexto da internacionalização do etanol, destacam-se como clientes, ou seja, todos os beneficiados ou afetados negativamente pelo processo, o mercado internacional, como os Estados Unidos, União Europeia, países africanos e países asiáticos que são potenciais mercados consumidores do etanol de cana-de-açúcar. Também é preciso considerar os consumidores brasileiros que são afetados com a exportação do etanol de cana-de-açúcar para esses mercados. Conforme mencionado anteriormente, na percepção das empresas do setor sucroenergético brasileiro, o subsídio do governo brasileiro à gasolina faz com que as empresas não consigam repassar o aumento dos custos de produção. Sendo assim, quando há

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demanda internacional, como no caso dos EUA, as usinas brasileiras vendem o etanol com um prêmio que é maior do que o preço pago pelo etanol no mercado brasileiro.

Os atores desempenham as principais atividades do sistema. A partir de uma percepção sistêmica observa-se que o Brasil possui um programa de mandato de mistura de etanol na gasolina bem sucedida e o setor sucroenergético é consolidado. Já os países africanos possuem grande potencial para a produção de etanol cana-de-açúcar. Contudo, os países africanos precisam atrair investidores. Nesse sentido, as empresas com capital misto brasileiro são especialistas na produção de etanol de cana-de-açúcar e podem investir em unidades de produção nos países africanos.

A consolidação de um mercado internacional de etanol é o resultado esperado do processo de internacionalização do etanol. Para tanto, falta uma demanda internacional de etanol em larga escala, a qual seria viabilizada pelo aumento de países produtores e também que estabelecem marco regulatório que garantem o mercado para o etanol.

Em relação a Weltanschauung (visão de mundo) do sistema, há um interesse comum internacional pela inserção de fontes renováveis de energia nas matrizes energéticas. Por outro lado, a internacionalização do etanol requer uma demanda internacional em larga escala. Em função do estágio inicial do etanol no mercado internacional, é necessário que mais países definam marcos regulatório para a estruturação do mercado.

Do ponto de vista dos países africanos, o biodiesel de pinhão manso foi muito incentivado, pois incluía o pequeno produtor e tinha o apoio da União Europeia. Agora, os países africanos estão se deparando com diversas barreiras para viabilizar a produção em larga escala desse biocombustível. Apesar do interesse que os países africanos têm no desenvolvimento dos biocombustíveis, é preciso que seja feito de uma maneira inclusiva e sustentável.

Já os investidores brasileiros consideram como prioridade atender a demanda consolidada do mercado brasileiro, sendo que a decisão de fazer investimentos para a produção em países africanos não é tendência, visto que as empresas estão em fase de recuperação e também já conhecem o ambiente regulatório do Brasil e tem disponibilidade de terra e mão de obra para expandir a produção no Brasil. Contudo, a principal dificuldade que enfrentam internamente é o preço subsidiado da gasolina que não permite às empresas repassarem o aumento do custo de produção, acarretando em uma diminuição da competitividade do etanol.

No que tange o governo brasileiro, a perda de competitividade do etanol frente à gasolina, faz com que seja estabelecida uma projeção de aumento da importação de gasolina.

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Na percepção do governo, o setor sucroenergético deixou de fazer os investimentos necessários e, por isso, perdeu a competitividade. Além disso, o subsídio é necessário em função do impacto que a gasolina tem na inflação. Sendo assim, o foco do governo brasileiro se mantém na gasolina.

Os proprietários, ou seja, aqueles que possuem autoridade para decidir o futuro do sistema são os governos brasileiro e africano por serem os responsáveis pela definição de políticas, benefícios e oportunidades para o etanol de cana-de-açúcar. Além disso, a definição de marco regulatório é crítica para a realização de investimentos.

Outro fator que deve ser destacado são as principais restrições do ambiente em que se insere o sistema, ou seja, elementos que dificultam a internacionalização do etanol. Conforme já mencionado, a consolidação de um mercado internacional de etanol enfrenta diversos entraves como barreiras tarifárias e não tarifárias, a tendência de queda do preço do petróleo no mercado internacional que gera um aumento do consumo de gasolina, impacto da produção de biocombustíveis na produção de alimentos, as empresas brasileiras estão em fase de recuperação, falta de políticas públicas para o etanol e o fato de os países africanos terem falhas estruturais que afastam os investidores. Isso está relacionado ao fato de que a internacionalização do etanol está em fase inicial.

A partir da definição sucinta do sistema foi possível compreender de maneira sistêmica as situações-problema identificadas e propor possíveis soluções. Para tanto, buscou- se identificar de qual maneira o Brasil poderia atuar para estimular a internacionalização do etanol por meio da produção em países africanos e atração de investidores, com capital misto brasileiro, interessados em investir nos países africanos.