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Panorama do Desenvolvimento da Produção de Biocombustíveis em

2.2 Mercado Internacional do Etanol

2.2.2 Biocombustíveis e África

2.2.2.1 Produção de biocombustíveis em países africanos

2.3.2.1.1. Panorama do Desenvolvimento da Produção de Biocombustíveis em

Moçambique.

Embora Moçambique tenha apresentado um crescimento econômico de 7,1% em 2011 acima do crescimento de 4,1% dos países pertencentes à SADC no mesmo período (WORLD BANK, 2011b), o país ainda encontra-se com um Índice de Desenvolvimento Humano de 0,322 o que o coloca na posição 184º do ranking mundial em 2011 (UNDP, 2011). Isso é reflexo da pobreza que marca o país, considerada um resultado decorrente de fatores históricos, dentre os quais a colonização e os conflitos armados que trouxeram graves prejuízos à infraestrutura do país e agravaram ainda mais a questão da desigualdade econômico-social (SCHUT; SLINGERLAND; LOCKE, 2010).

A economia moçambicana é movimentada pela agricultura, principal atividade econômica do país, visto que respondeu por 31% do PIB em 2010 e envolve mais de 75% da população (AFRICAN DEVELOPMENT BANK GROUP, 2012). No entanto, somente 10% da área agrícola de Moçambique é explorada e o país também possui bacias hidrográficas como Zambeze, Save e Lipopo que são pouco exploradas. A baixa exploração dos recursos naturais está relacionada com a infraestrutura precária do país em termos de estradas, armazenagem e irrigação (BES, 2012).

O relatório publicado pelo World Economic Forum em 2012 (The Global Competitiveness Report) avaliou a competitividade de 144 países. Para tanto, a análise da competitividade é feita por meio do Índice da Competitividade Global (ICG), uma ferramenta

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na qual são considerados 12 pilares de competitividade que são agrupados em três fundamentos básicos (requisitos básicos – intensificadores de eficiência – fatores de inovação e sofisticação). Cada país é afetado por estes fatores de maneira diferente, em função do estágio de desenvolvimento econômico. O primeiro estágio de desenvolvimento, denominado factor driven economies, são os países que apresentam mão de obra pouco qualificada e abundância de recursos naturais, sendo que as empresas competem em termos de preço, vendem produtos básicos ou commodities. Conforme o país se torna mais competitivo e aumenta a sua produtividade, atinge o segundo nível de desenvolvimento que é voltado para a eficiência, pois busca melhorar seu processo produtivo e aumentar a qualidade dos produtos. Por fim, o país atinge o estágio de inovação, cuja adoção de novas tecnologias permite sustentar altos salários e qualidade de vida (SCHWAB, 2012).

Dentre os 144 países avaliados, Moçambique está em 138º. A Figura 3 compara o posicionamento de Moçambique em cada um dos pilares da competitividade em relação aos demais países que, assim como Moçambique, também são considerados pelo World Economic Forum como factor oriented economies. Dentre os fatores que justificam o baixo posicionamento, destaca-se a baixa pontuação recebida pelas instituições públicas do país, decorrente da desconfiança da população em torno da conduta dos políticos, dos gastos públicos que são considerados elevados e ineficientes, bem como pelo excesso de burocracia. Além disso, a elevada taxa de inflação também ameaça a estabilidade macroeconômica do país. Outro ponto de destaque é a baixa infraestrutura do país que é classificado com a 16ª pior infraestrutura dentre os 144 países analisados.

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Figura 3: Estágio de desenvolvimento de Moçambique em relação aos demais países classificados como “factor driven economies”.

Fonte: SCHWAB, 2012.

Além de apresentar a competitividade de diversos países, o Relatório da Competitividade Global também publicou o resultado de uma survey com empresários dos países analisados buscando saber quais são as principais dificuldades enfrentadas por estas empresas (Gráfico 3).

Gráfico 3: Principais desafios enfrentados pelas empresas de Moçambique. Fonte: SCHWAB, 2012. 1,0% 1,1% 2,0% 2,6% 3,7% 3,7% 3,8% 4,4% 4,9% 10,7% 12,2% 12,8% 16,6% 16,9% 0,0% 2,0% 4,0% 6,0% 8,0% 10,0%12,0%14,0%16,0%18,0% Instabilidade política

Saúde pública precária Leis trabalhistas restritivas Capacidade insuficiente de inovação Crime Inflação Regulamentações fiscais Taxas de impostos Falta de ética da mão de obra do país Mão de obra desqualificada Burocracia governamental ineficiente Infraestrutura precária Corrupção Acesso a financiamento

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No caso de Moçambique, o acesso ao financiamento é apontado por 16,9% dos participantes como o principal desafio, visto que as dificuldades para obtenção de crédito resultam em complicações para a empresa cumprir com as despesas no curto prazo, como no caso do pagamento de salários e fornecedores.Embora as situações que envolvem corrupção em Moçambique sejam menores que nos demais países da África Subsaariana, 16,6% das empresas participantes lidam com situações de corrupção, na qual são instadas a realizar pagamento em troca de licenças para operarem, obterem licenças de construção ou ainda pagamento de propina para ter acesso a luz e água (SCHWAB, 2012).

A infraestrutura também é um ponto relevante para o desenvolvimento do país e para o crescimento do setor empresarial. A precariedade da infraestrutura é considerada um entrave para 12,8% das empresas participantes, visto que a eletricidade e o transporte acarretam maiores custos operacionais e podem prejudicar a produção e reduzir o lucro. Para as empresas, tanto a legislação trabalhista como o nível de capacitação dos trabalhadores são vistos como entraves para o andamento dos negócios. O crime também é um problema que afeta em média 3,7% das empresas moçambicanas e acarreta custos às empresas, visto que parte dos recursos financeiros passam a ser destinados para o pagamento com seguros (SCHWAB, 2012).

De maneira semelhante o Banco Mundial realizou uma survey com 479 empresas que atuam em Moçambique no período de 2007 com o intuito de determinar quais são os principais entraves para as empresas moçambicanas. Além dos pontos já destacados acima, a informalidade em Moçambique também é apontada como outro problema que afeta o setor privado, visto que 75,5% das empresas moçambicanas competem com empresas que são informais. Além disso, o sistema judiciário em Moçambique é considerado um obstáculo para 5,4% das empresas Moçambicanas (WORLD BANK, 2007).

Apesar destas dificuldades, Moçambique apresentou crescimento na atração de IDE, visto que em 2010 foi responsável por 2% da entrada de IDE na África e passou para 5% em 2011. O desempenho positivo de Moçambique, que é classificado pela UNCTAD como um dos países mais atrativos para IDE em 2011, está vinculado aos investimentos estrangeiros na indústria extrativista do país, principalmente carvão e gás natural. Moçambique receberá 3 investimentos dos dez maiores investimentos anunciados em 2011 nos países menos desenvolvidos (LDCs) (UNCTAD, 2012).

O país apresenta elevada dependência da importação de petróleo, visto que corresponde a 15% das importações, o que o torna altamente vulnerável ao aumento de preço

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em função dos elevados gastos com importação e explica as medidas adotadas pelo governo para desenvolver fontes alternativas de energia como os biocombustíveis (IRENA, 2012).

A estratégia para os biocombustíveis envolve a adoção de metas de substituição de combustível fóssil por etanol e biodiesel em 2012. No caso do etanol, o mandato prevê mistura de 10% no período de 2012-2015, evoluindo para 15% entre 2016 e 2020 e a partir de 2021 a mistura passa a ser de 21% de etanol na gasolina. A política de biocombustíveis promovida pelo governo prioriza o abastecimento do mercado interno e, posteriormente, permite direcionar a produção também para a exportação (IRENA, 2012; JANSSEN; RUTZ, 2012).

O início das discussões sobre biocombustíveis em Moçambique teve início em 2004, com o governo moçambicano encorajando os pequenos produtores a produzirem pinhão-manso nas terras marginais (próximas aos rios). A ideia não se mostrou tão fácil de colocar em prática, visto que o país tinha que enfrentar diversos desafios, dentre os quais, a falta de conhecimento agronômico ou gerencial do negócio. A tentativa de promover a produção de biocombustível a partir do pinhão-manso atraiu também a atenção de investidores e do próprio governo moçambicano para desenvolver a produção de etanol. No entanto, surgiram diversos questionamentos sobre a disponibilidade de água e terra e o impacto na produção de alimentos. Deste modo, o governo decidiu realizar um zoneamento agro ecológico para avaliar estas questões (SCHUT et al., 2010).

Em 2009, o Governo de Moçambique definiu a política e estratégia para os biocombustíveis. O intuito da Política é estabelecer um setor de biocombustíveis no país para colaborar com a segurança energética e o desenvolvimento socioeconômico do país (MOÇAMBIQUE, 2009). A partir do relatório encomendado pelo Ministério de Energia foi feita uma avaliação de diversas culturas que serviriam de matéria prima para a produção de biocombustíveis. Critérios como rendimentos, custo de produção, impactos sociais e ambientais resultaram na seleção da cana-de-açúcar e sorgo (mapira doce) para a produção de etanol e na escolha de pinhão-manso (jatropha) e coco para a produção de biodiesel (ECOENERGY, 2008). A Figura 4 mostra a evolução dos biocombustíveis em Moçambique.

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Figura 4: Evolução dos biocombustíveis em Moçambique. Fonte: Adaptado de SCHUT, et al. (2010); NL AGENCY (2012)

Entre 2008 e 2012 o país recebeu 40 propostas de investidores interessados em investir na produção de biocombustíveis (Gráfico 4), sendo que desse total somente 14 projetos foram aprovados. Considerando-se todos os projetos aprovados, estima-se um investimento total de US$ 3,9 bilhões e a geração de mais de 140 mil empregos. Contudo, o documento do CEPAGRI (2013) não informa se os projetos foram executados ou a fase de implementação de cada projeto.

Gráfico 4:Projetos recebidos pelo governo de Moçambique para produção de biocombustíveis entre 2008 e 2012. Fonte: CEPAGRI, 2013. 2008 2009 2010 2011 2012 Pinhão-manso 10 4 6 4 1 Cana e Mapira 3 2 1 5 2 Mandioca 1 Bambú 1 Total 13 6 7 10 4 0 2 4 6 8 10 12 14 N ú m e ro d e p ro p o stas

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A produção de biocombustíveis pode resultar em impactos positivos para os países produtores; contudo, é necessário planejamento para que não resulte em impactos ambientais, sociais e econômicos negativos. Nesse sentido, o governo moçambicano decidiu desenvolver seu próprio sistema nacional de princípios da sustentabilidade. Para tanto, criou um grupo de trabalho sobre os biocombustíveis formado por quatro subgrupos, sendo cada subgrupo responsável pelo desenvolvimento de projetos que contemplem a definição de matérias primas para a produção de biocombustíveis, critérios de sustentabilidade e desenvolvimento de modelos, aspectos legais e investimentos (SCHUT et al., 2010).

Para a definição critérios de sustentabilidade, o grupo responsável elaborou um estudo no qual buscou analisar as experiências de outros países para a produção de biocombustíveis, bem como entender o sistema de certificação de outras commodities produzidas em Moçambique. Além disso, buscou-se investigar os pontos fortes e fracos das iniciativas existentes no país para a produção de biocombustíveis (SCHUT, et al., 2010). O estudo resultou em um framework elaborado com o intuito de servir como um guia que beneficie os investidores, o governo e a sociedade moçambicana bem como os países importadores de biocombustíveis (NL AGENCY, 2012).

O resultado é o documento “Operationalizing and implementing the biofuel sustainability framework for Mozambique”, no qual são apontados diversos critérios que visam garantir a sustentabilidade da produção de biocombustíveis em Moçambique. Estes critérios estão alinhados com as exigências dos mercados internacionais e certificações, viabilizando a exportação para mercados como a União Europeia. Foram adotadas três dimensões de sustentabilidade que norteiam os investimentos em biocombustíveis em Moçambique, a saber: planeta, pessoas e lucro. A partir destas dimensões, foram definidos sete princípios, sendo que cada princípio possui os indicadores correspondentes (NL AGENCY, 2012).

Dessa forma, a definição da Política e Estratégia para os Biocombustíveis, bem como a definição de critérios de sustentabilidade para a produção fez com que Moçambique se destacasse perante os demais países da África Subsaariana em termos de avanço no desenvolvimento da produção de biocombustíveis de maneira sustentável.