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Dinâmicas de investimento público

A análise às plantas cartográficas de 1927 e 1958 revela a introdução de um novo período morfológico em Ponte de Lima, correspondente ao momento de adoção de novos modelos urbanísticos. O crescimento urbano no início do século decorre de forma lenta. Embora se assista à adoção de um novo modelo de “Cidade”, generalizada pela fragmentação e dispersão dos tecidos, evidenciada por um contínuo de vivendas de implantação isolada, regista-se um período de estagnação em relação à construção do edificado, sobretudo o de promoção privada, com o investimento a revelar-se sobretudo através do estabelecimento de empreendimentos públicos.

Figura 30. Avenida Nova na década de 80.

A expansão urbana é estruturada pela existência dos traçados perpendiculares à Avenida Nova, com as ruas a apresentarem perfil reduzido e variável, do tipo linear,

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umas assentes pela sua posição topográfica e outras organizadas para desempenhar uma função previamente estabelecida (Silva, 2013, p.104), a exemplo do prolongamento da rua Conde de Bertiandos, cujo traçado ocorre por força da construção do novo hospital. Da leitura à planta cartográfica de 1927 (a mais antiga conhecida), é possível aferir que as atuais ruas que derivam da Avenida já existiam quando decorreu a sua abertura em 1916. O traçado marcado pela Rua Gonçalo Coelho de Araújo, proveniente do Largo dos Quartéis, prolongava-se para o Largo da Lapa até à Rua General Norton de Matos, e a Rua da Porta de Braga circundava pela Rua Dr. Luís Gonzaga até o Largo da Lapa.

Figura 31. Mercado Municipal e antiga Central de Camionagem

Salienta-se a introdução de novos edifícios de residência unifamiliar na faixa lateral da Avenida Nova, organizados de forma linear, num conceito de “Cidade Jardim”, modelo criado por Ebenezer Howard (Lynch, 1981, p.61), assente na construção individual, da moradia implantada no centro do lote, rodeada de espaços verdes privados. A forma organizada das parcelas ao longo da Avenida, de largura similar, deixa antever um crescimento planeado, adotando um modelo criado na Europa, no início do século XX,

por Howard, e aplicado em Portugal por influência de Groer na década de trinta e, nos anos quarenta, por João Aguiar (Carvalho, 2003, p.84) rejeitando as grandes concentrações urbanas e rompendo com a forma clássica e orgânica que carateriza a Urbe antiga.

Figura 32. Imagem geral anterior à construção do Mercado Municipal.

Assinala-se neste período a construção de dois edifícios singulares estruturantes: o novo Hospital e o Mercado Municipal. O edifício do Hospital implanta-se a Nascente do Núcleo Central e ocupa uma parcela pertencente à Quinta dos Carreiros (Arquivo Municipal), numa extensa área de caraterísticas rurais ainda livre de elementos urbanos; O Mercado Municipal, construído no final dos anos vinte, ocupa parcela de terreno a Poente do Núcleo Histórico próximos da Avenida dos Plátanos. A análise a documentos dos finais dos anos vinte revela a existência de uma linha de construções residenciais nas imediações do Largo Doutor António de Magalhães e Passeio 25 de Abril, onde hoje se encontram as frentes nobres do Mercado, composta por três torreões e espaços comerciais. O mau estado de conservação dos edifícios ditaram a demolição total, contribuindo para alterar a imagem da frente ribeirinha e estabelecer novas dinâmicas de vivência urbana.

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Evolução urbana entre 1928 e 1958

Continua o processo de abertura de novas infra-estruturas viárias com registo para a Avenida da Estação, em Além da Ponte.

Evidencia-se o início da implementação de edifícios de utilização pública com destaque para a construção do Hospital Conde de Bertiandos e do Mercado.

Identifica-se o assentamento disperso de alguns edifícios privados.

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O espaço livre a Sul, adjacente ao mercado, deu origem à extinta central de camionagem que, em épocas emergentes de utilização dos transportes públicos, revelou-se num dos pontos de maior confluência populacional da Vila. Com a deslocalização dos transportes públicos para a periferia e o declínio da atividade agrícola, a par de um conjunto de superfícies comerciais de maior dimensão que se instalaram no perímetro urbano, o espaço perdeu a vitalidade de outrora estendendo- se ao pequeno comércio envolvente. Em resultado do projeto de valorização paisagística do rio Lima, o edifício sofreu obras de remodelação, concluídas em 2002, da autoria do arquiteto Guedez Cruz, alterando a escala e imagem inicial (Arquivo Municipal). O espaço, apesar da introdução de novas valências e de um parque de estacionamento subterrâneo, perdeu a função a que fora destinado e o dinamismo de outrora.

Figura 35 – Traçado da Linha do caminho-de-ferro do Vale do Lima e Avenida de Além da Ponte

Na margem direita do Rio Lima, as pesquisas efetuadas revelam, através da leitura da carta militar do início do século XX, o desenvolvimento do projeto para o traçado da linha de caminho-de-ferro do Vale do Lima que previa a ligação ferroviária de Viana do Castelo a Ponte da Barca, com passagem em Ponte de Lima. Da consulta à informação disponibilizada pela Infra-estruturas de Portugal, a via ferroviária foi pensada em 1874 mas tornou-se inconclusiva quer pelo início tardio das obras (1922) quer por coincidir com a I Guerra Mundial, para além de uma época de grandes indefinições no País, mas

sobretudo pelo consequente desenvolvimento dos transportes rodoviários. O projeto, que previa a instalação de uma estação ferroviária em Arcozelo determinou a abertura de uma nova avenida, em Além da Ponte, na linha da Ponte Romana. As obras da linha, que foram suspensas em Dezembro de 1936, nunca viriam a ser concretizadas. Com esta decisão, a construção do arruamento não produziu grandes transformações na área nem constituiu diretrizes de crescimento urbano.

O registo de novos elementos na paisagem urbana, apesar de não evidenciar grande evolução, determina o início da alteração da imagem da periferia do tecido antigo de Ponte de Lima e assume, claramente, a intenção de alterar a escala do modelo existente, influenciada pelos modelos urbanos que muito rapidamente proliferavam nos grandes aglomerados.

4.2.3. 1959 a 1978