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I mplantação de edifícios de uso singular

Expansão urbana apoiada pelas infra-estruturas viárias estruturantes

5. I nfluências do planeamento e das dinâmicas socioeconómicas

5.2. P rincipais ações promovidas através do investimento público

5.2.3. I mplantação de edifícios de uso singular

No período em análise, regista-se um conjunto de intervenções urbanísticas ao nível do edificado impulsionado pelas políticas de investimento público que, por diferentes razões, assumem-se como elementos morfológicos influenciadores da atual organização territorial do perímetro urbano de Ponte de Lima. Importa aludir que os edifícios identificados distinguem-se sobretudo pelos efeitos causados em resultado da sua localização e não por fatores de monumentalidade ou presença de qualquer elemento decorativo.

A introdução de novas realizações é pontuada pelas renovações urbanas de investimento público, empreendidas para revitalizar a Vila através da introdução de alguns edifícios que se distinguem dos demais, quer seja pelo seu caráter e singularidade, quer seja pela forma como se disseminam no território, conquistando os novos espaços contíguos e funcionando como elemento operativo do território urbano.

A construção de um conjunto de edifícios, os de uso singular, marca assim uma nova fase no desenvolvimento urbano, evidenciada pelo processo de ocupação dispersa no território. A nova estrutura urbana (que neste caso engloba o investimento público e privado) revela uma expansão urbana organizada e apoiada por dois modelos distintos: o linear, imposto pelas novas vias e generalizado pelo contínuo de vivendas e o concêntrico, definido pela localização espontânea dos novos edifícios de utilização comum, fruto de uma ocupação difusa que, aliás, viria a evidenciar-se ao longo do tempo. Apesar da primeira metade do século XX revelar um período de alguma estagnação em relação à implementação de elementos estruturantes influenciadores de crescimento urbano, interessa exemplificar os padrões de ocupação territorial para melhor se perceber os seus níveis de influência. O desenho da figura 60 estabelece dois raios de ação de diferentes extensões. O de maior escala, que abrange as duas margens do Rio Lima e circunscreve o conjunto de elementos identificados, evidencia um crescimento radial descontínuo.

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Apesar de bem cedo os conceitos de compacidade e continuidade, se evidenciarem para Nascente do tecido urbano consolidado, as dinâmicas politicas de investimento público que perspetivavam um crescimento racional em ambas as margens, tornam-se imprevisíveis face ao insucesso da construção da Linha do Vale do Lima e respetiva implementação da Estação Ferroviária. O raio de menor escala, concentrado exclusivamente no perímetro do tecido urbano da margem Nascente, define os principais pólos influenciadores do desenvolvimento urbano da periferia que, em função dos níveis de relevância de cada equipamento público, determina os processos de organização e estabelece as linhas de orientação. Identifica-se nesta área de ação a introdução de um conjunto de novos equipamentos públicos, nomeadamente os destinados à área da educação (Escola Primária), de segurança (PSP), saúde (Hospital) e mercantil (Mercado), marcada por uma ocupação dispersa que acabaria por promover em cada intervenção novos polos de centralidade, que viriam a atingir diferentes sinergias e estratégias de ação, estabelecidas pelas tendências operativas de investimento imobiliário privado – reguladas pela administração pública - que impulsionam a organização dos espaços em função da libertação das propriedades, maioritariamente de caraterísticas rurais. Esta forma pontuada e alargada de ocupação do território, estabelece níveis de urbanização fragmentados, criando descontinuidades com influência no desenvolvimento das últimas décadas. Verifica-se ainda que os limites máximos de expansão apresentam dimensão reduzida, determinadas por uma perspetiva de baixo crescimento demográfico evidenciado nesta época.

De todas as realizações, a implantação do Hospital é a que merece particular destaque ao evidenciar-se como o principal elemento gerador de um conjunto de ações urbanas, quer as de iniciativa privada, quer as relacionadas com a estratégia de desenvolvimento público. Assim, no panorama da organização territorial, a sua localização apresenta-se, sobretudo no início do período de maior especulação imobiliária, como singular atrativo para o investimento privado. As propriedades circundantes, de características rurais, valorizam-se, dando origem a novas e diferentes organizações urbanas e à consequente necessidade de abertura de novos arruamentos. Esta organização evidencia-se pela forma antagónica revelada através da

mistura de tipologias e modelos diferenciados, com vivendas residenciais isoladas a coexistirem com blocos de uso misto de habitação e comércio, cujas iniciativas, decorrentes de cada época e pautadas sobretudo por intervenções pontuais e isoladas, proporcionam níveis de vivência que se revelam desconexados.

Figura 67. Realizações urbanas influenciadas pela localização do Hospital.

Na análise aos restantes edifícios, os mesmos revelam índices de desenvolvimento em torno da sua localização consideravelmente inferiores aos registados por influência do Hospital. Trata-se naturalmente de edifícios que se instalaram na periferia mas que, pela sua função e pelas caraterísticas com a envolvente, residem de forma isolada. Contudo, merece destaque a construção do Mercado, com data de 1930, estabelecido no limite Sul do tecido urbano antigo. A importância económica e social caraterizada pela vida mercantil do Mercado, solidificada na época pela presença da já transferida

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Central de Camionagem, viria a revelar-se determinante para transformar um quarteirão rural adjacente, num projeto de interesse privado, com a construção de um modelo imobiliário emergente e que compreende um conjunto de edifícios de habitação, comércio no piso térreo (com galerias interiores) e um hotel. O volume excessivo de todo o conjunto, para além de romper com os edifícios peculiares contíguos, carateriza-se, de forma negativa, pelo impacto volumétrico que atualmente representa na imagem urbana de Ponte de Lima. Esta forma excessiva e irracional de ocupação do quarteirão provocou irremediáveis lógicas de desconexão entre relevantes e integrantes elementos urbanos. Poder-se-ia englobar neste desígnio, se ainda fosse possível, uma interessante convergência entre o renovado Mercado Municipal, o Teatro Diogo Bernardes e o Museu dos Terceiros com a Avenida dos Plátanos, sem esquecer a Villa Moraes. Foram os interesses imobiliários que venceram a lógica de uma operação urbana equilibrada, registada pela total insubordinação com o conjunto de valores patrimoniais, arquitetónicos e ambientais que ai se inserem. A época de meados da década de 70, período conturbado na vida social e política do País, provocado pela revolução de Abril, resulta em significativas alterações nas políticas de investimento público e no modelo de ocupação do território. Se a época do Estado Novo, assente numa política de desenvolvimento urbano preconizada por Duarte Pacheco (Lamas, 2014, Pag.281), se revestiu de maior simbolismo, ocupando os espaços de forma isolada, com necessidade de fomentar o desenvolvimento urbano, o período pós-revolução resulta, na generalidade, dos efeitos dos processos de urbanização, com intervenção pública, no processo de regulação de ocupação do território, com efeitos na regulação dos processos de instalação de equipamentos de utilidade pública, que são impostos pela libertação de uma área definida no processos de urbanização de promoção privada. Dito de outra forma, já não são os edifícios de caráter público a impor as regras de ocupação, mas as organizações privadas a determinar a sua localização. Contudo, ainda numa fase inicial dos novos modelos de urbanização, o crescimento demográfico e a respetiva intensidade urbana, impõe a necessidade de aglomeração de novas funções de caráter direcional nas várias esferas da vida social, umas por decadência das estruturas existentes, outras na lógica de

agregação de novos recursos, levando o município a planear zonas estratégica para a instalação de edifícios com capacidade de servir os anseios da população.

Figura 68. Planta de Pormenor da Zona do Palácio de Justiça - 1979

Esta tese é evidenciada, por exemplo, por um conjunto de estudos de pormenor da zona estabelecida para a implantação do Palácio da Justiça (figura 68), que revela o maior envolvimento público no planeamento do desenho urbano em expansão. O estudo abrange a área compreendida entre o hospital, a Avenida Nova e a nova variante à E.N. 203. Do conjunto de elementos analisados, correspondentes a diferentes propostas, nenhuma se ajusta ao resultado final, quer em termos de configuração e implantação do edifício, quer ao nível da organização do tecido envolvente. Mas o que importa reter da localização do Palácio da Justiça são as dinâmicas introduzidas através da concentração de um conjunto edifícios de serviços e pequenos espaços comerciais, que tem como resultado a criação de restritas zonas de vivência, localizadas na envolvente, identificados no desenho da figura 69. Contudo, a organização dos conjuntos que rodeiam o Palácio da Justiça, para além de se assumirem de forma isolada, são condicionados pelas vias estruturantes que criam processos de formação desarticulados.

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Figura 69. Planta de localização do Palácio da Justiça e zonas de influência.

Por se tratar de relevante centro de afluência, destaca-se ainda, nos processos de formação, a deslocalização da Central de Camionagem da zona do Mercado para se implantar na periferia, próximo da variante à E.N. 203, em área disponível por influência dos processos de urbanização. Identifica-se vários factores relevantes associados à nova organização. O uso dos transportes públicos em Ponte de Lima, com o livre e acelerado acesso ao automóvel, vai perdendo espaço, com a sua utilização a apontar quase que exclusivamente para os jovens até à idade do secundário, idosos e pela componente feminina dos agregados de baixos recursos. A alteração de localização pode ser ainda fundamentada por uma gestão autárquica preocupada com o sistema viário e melhoria dos níveis de mobilidade sustentável do centro histórico e pelo conjunto de serviços que se deslocalizam para a periferia, sobretudo para a área urbana a Nascente da zona escolar, com influência no local de implantação. Com o encerramento do antigo Centro de serviços de transportes públicos, foi possível transformar a área com novas valências de âmbito comercial e de serviços, renovar o mercado e reorganizar o trânsito.

Em sentido oposto, a sua deslocalização, entendida como um processo de renovação urbana, que é certo contribuiu para melhorar os níveis ambientais da área envolvente ao mercado e à Avenida dos Plátanos, retira-lhe as dinâmicas urbanas de aglomeração de população que interagia com as atividades do mercado e do Centro Histórico. A atual localização não revela práticas de influência que lhe permita estabelecer maior permanência humana. A sua função resume-se praticamente ao aparcamento dos veículos enquanto aguardam pela próxima saída, sendo que para além da diminuição na utilização dos transportes públicos, a recolha de passageiros realiza-se próximo do tecido antigo, retirando-lhe a afluência necessária para estabelecer dinâmicas de vivência urbana.

Localização anterior Localização atual

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Em síntese, a introdução do conjunto de edifícios singulares em zonas de expansão coincidem com um período de novas dinâmicas de investimento público desencadeadas por Duarte Pacheco em 1934. Este momento serviu para impulsionar o desenvolvimento e ordenamento territorial das principais cidades e vilas a nível nacional, através da realização de planos e de um extenso pograma de melhoramentos urbanos considerados como necessários (Lôbo, 1995, p.35). Da leitura ao processo de multiplicação das infra-estruturas urbanas da periferia, verifica-se o défice na aplicação de linhas de orientação e regulação, fundamentado sobretudo pela inexistência de um planeamento integrante. Regista-se apenas a existência de pequenos e pontuais planos parciais, com os processos de gestão e ocupação do território dominados pela descontinuidade e rutura de escalas e tipologias. Entende-se que o resultado final de implantação dos edifícios de promoção pública tenham decorrido num processo casuístico determinado pela disponibilidade de terrenos de domínio municipal e, eventualmente, em sequência da libertação de propriedades de atividade agrícola disponíveis. O que Importava, Independentemente da localização dos edifícios, era dar resposta a um somatório de requisitos e obrigações que servissem a população e projetassem o município com diretrizes de crescimento urbano. O consequente conjunto de soluções introduzidas reveste-se de dificuldade de integração urbana que, embora preconize o caminho de expansão, não apresenta linhas de convergência entre os vários setores, quer com o tecido urbano antigo quer entre as novas realizações. Do processo de crescimento, que apontava no primeiro quartel do século XX para uma orientação radio-cêntrica em função da introdução dos novos edifícios de caráter público, resulta um conjunto de vazios urbanos não programados, caraterizando a imagem urbana da Vila de Ponte de Lima num modelo fragmentado e descontínuo. Com o início da década de 70, emerge uma nova orientação no que diz respeito ao desenvolvimento urbano, agora projetado a Sul da Avenida Nova, com registo para a introdução de novos equipamentos públicos, que viriam a promover necessariamente maior número de edifícios e consequente aumento de aglomeração humana.