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P rincipais transformações nos séculos XX e

A forma urbana da Vila de Ponte de Lima resultou, desde os primórdios tempos, num desenvolvimento maioritariamente ordenado a Nascente do rio Lima, quer por influência do rio, quer pela presença de um maior núcleo urbano. As principais vias de acessibilidade, conjuntamente com a maior agregação de propriedades com capacidade de desenvolvimento urbano, serviram de base a grande parte das intervenções que decorrem durante o século XX, consequência de um período de maior expansão do tecido urbano, fruto da implementação de um conjunto de políticas públicas de planeamento com impacto na transformação do território. As primeiras iniciativas decorrem no núcleo histórico através de profundas alterações do tecido existente e introdução de novos e fundamentais elementos que se apresentam como ícones do atual quadro urbano da Vila. Para além da implementação de espaços de cariz social e ambiental, regista-se de primordial importância para o inicio de maior desenvolvimento urbano, a abertura da Avenida António Feijó, decorrente de uma política que defendia a necessidade de criar mais e melhores estradas, face ao crescimento do uso do automóvel (Mattoso, 1994, p. 583), forçando a câmara municipal a abrir caminho aos novos veículos.

A emergente rede de transportes públicos de Ponte de Lima no início do século fica marcada pela interrupção das obras do caminho-de-ferro, projetado para facilitar as

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deslocações de Viana do Castelo a Ponte da Barca, com uma estação em Ponte de Lima com localização prevista em Arcozelo. Contudo, por coincidir com o forte impulso do automóvel após a Grande Guerra e a garantia dos serviços de camionagem para passageiros, por se tratar de percursos curtos, terão sido determinantes para o insucesso do projeto, pese embora o adiantado estado das obras de construção de grande parte das infra-estruturas necessárias. Com o avanço dos trabalhos, havia a necessidade de criar novos acessos para melhor servir as populações locais. A estação, já em desenvolvimento e localizada de forma estratégica, promoveu, a exemplo da maioria das localidades servidas por uma estação ferroviária, a abertura de uma nova avenida – denominada de Avenida da Estação - na projeção da ponte Romana que, não fosse o fracasso da implementação do projeto, teria funcionado como elemento gerador de um maior e acelerado crescimento urbano nesta margem do rio Lima. Até ao período de institucionalização e afirmação do Estado Novo8, a sociedade

Portuguesa era débil e dependia fundamentalmente da agricultura. Com o novo regime, que vigora de 1933 a 1974 após derrubar a Ditadura Militar da I República (1926 a 1933), emerge uma nova política de investimento em novas infra-estruturas de desenvolvimento regional, direcionada para um conjunto de melhoramentos locais, na sequência das grandes crises económicas e socias que se espalharam por todo o mundo ocidental, durante a década de trinta, com o objetivo específico da correção dos desequilíbrios económico-sociais entre as diferentes regiões (Rosas, Brito, 1996, p.315). Pese embora o maior investimento público a nível nacional recair, neste período, sobre os Portos de Mar (Rosas, 1994, p.255), destaca-se, no perímetro urbano de Ponte de Lima, um conjunto de obras direcionados fundamentalmente para os setores rodoviário, escolar, hospitalar e da habitação económica. Apresenta-se como exemplo e de relevante destaque para a forma como o crescimento urbano da periferia haveria de se organizar, a abertura da variante à Estrada Nacional 203, a nascente do núcleo urbano, assim como o início das obras de construção da ponte N. Senhora da Guia (concluída e inaugurada em 1980), a construção do Hospital da Misericórdia (1958), a construção da Escola Primária e a construção do conjunto de

8 Regime político autoritário, autocrata e corporativista de Estado que vigorou em Portugal durante 41

anos sem interrupção, desde a aprovação da Constituição de 1933 até ao seu derrube pela Revolução de 25 de Abril de 1974.

edifícios de habitação económica (1972), promovida pelo Fundo de Fomento da Habitação, localizados próximo do posto da PSP. Em suma, este período que antecedeu a revolução de 25 de Abril de 1974 e consequente alteração de um regime ditatorial para uma república democrática que hoje prevalece, foi determinante, sobretudo ao nível das principais vias rodoviárias locais da periferia, pois influenciou a expansão e atual organização do território urbano da Vila Ponte de Lima.

Verifica-se, sobretudo no período que se estende entre os anos 20 e o início da década de 80, um lento crescimento do aglomerado urbano. O panorama desde este período revela-se de forma significativa bem diferente no que se refere à habitação, equipamentos e infra-estruturas. Assiste-se a uma maior intervenção do Estado no incentivo da melhoria de condições de vida das populações, com evidência para a necessidade de criar mais e melhores alojamentos. Estas preocupações resultam na publicação de diversa legislação sobre os programas habitacionais, com realce para o reforço dos projetos de construção de habitação social e de habitações a custos controlados, bem como a política de aquisição de terrenos para diversos programas habitacionais, da qual se destaca o projeto da Urbanização da Quinta da Graciosa, evidenciando significativa preocupação com a componente social da habitação, apesar de atribuir a cada cidadão a responsabilização do seu total financiamento, agora apoiados por sistemas de crédito para a aquisição de habitação própria.

Ao período de maior instabilidade económica do País, com reflexo na queda muito significativa no número de fogos construídos nos anos imediatamente à revolução em resultado da instabilidade dominante, assiste-se, no final dos anos 80, a um aumento da construção para habitação alicerçada por uma emergente especulação imobiliária (Vara, 1994, p.347). Esta necessidade de um proeminente aumento de edifícios de habitação, que emerge sobretudo no modelo de utilização coletiva no regime de propriedade horizontal, acabou por dar origem a vazios urbanos, colmatados maioritariamente de forma ocasional, consequência da ausência de medidas de um planeamento global, acentuados pelo crescimento que se verifica após o período correspondente à entrada de Portugal na Comunidade Europeia (1986), que haveria de influenciar novas oportunidades de emprego e consequente melhoria de vida da população. Regista-se então, após esta nova e emergente orientação de abertura dos

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mercados internos e externos, a par da canalização de maior volume de recursos nacionais para a construção de infra-estruturas comparticipadas pela Comunidade Europeia, a um avolumar de investimento no setor imobiliário, dando origem a novos volumes de habitação e à introdução de novas infra-estruturas urbanas, que se foram ajustando à medida que as contingências temporais assim o determinavam. Toda esta análise sintetizada que culmina na atual imagem urbana de Ponte de Lima será seguidamente abordada de forma mais abrangente por diferentes períodos temporais.

4.2.1. 1900 a 1927