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Início do processo de alteração da estrutura urbana

A análise realizada neste período revela o desejo de introdução de um conjunto de novas formas urbanas na estrutura de Ponte de Lima, onde se evidenciam alterações significativas no tecido urbano, com a tradicional forma irregular das ruas e praças fechadas, a ser substituída por ruas e avenidas mais largas e arborizadas, e com praças e largos abertos.

Verifica-se que a intervenção urbanística do início do século XX promoveu e consolidou, até os dias de hoje, o processo de alteração da estrutura urbana existente. A frente ribeirinha assume um aspeto cénico através da inclusão de elementos construtivos de referência. A Avenida dos Plátanos, inaugurada em 1901, a mudança para o Largo de Camões do Chafariz Nobre, que antes se localizava no Largo Dr. António de Magalhães (apesar de se realizar em 1929), juntamente com o Passeio Cândido dos Reis e a Alameda de S. João, transformaram, no decorrer deste período, toda a frente urbana mais antiga de Ponte de Lima.

Ainda no primeiro quartel do século XX, mais precisamente entre 1923 e 1924, regista- se a demolição de parte do edifício propriedade da Santa Casa da Misericórdia, ligando a Rua Cardeal Saraiva ao então Passeio Cândido dos Reis, hoje Passeio 25 de Abril, revelando-se como uma das mais marcantes alterações urbanas da época. Esta transformação, evidenciada de forma comparativa pelas plantas das figuras 23 e 24, promove melhorias na circulação e higienização da Vila, à semelhança das intervenções que Haussmann9 exerceu na reforma urbana de Paris (Lamas, 2014, p. 212).

Figura 23 – Núcleo urbano em 1900. Figura 24 – Núcleo urbano em 2012.

9 Responsável pela elaboração do plano de transformação urbana de Paris entre 1953 e 1870. O plano

incluía a demolição de 19.730 prédios históricos e a construção de 34 mil novos. Foram destruídos 49km de ruas antigas e construídos 165km de novas, grandes e amplas avenidas, caracterizadas por fileiras de prédios neoclássicos em tons de creme, tudo de forma alinhada e proporcional. Além das grandes avenidas construiu grandes quarteirões e definiu regras arquitetônicas específicas, criando uma homogeneidade às construções de Paris.

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A abertura da Avenida António Feijó constitui o elemento fundamental da expansão urbana de Ponte de Lima para Nascente, numa forma racional (apesar da extinção de algumas preexistências), ao definir os eixos estruturantes de urbanização na direção Norte-Sul de onde convergem seis vias, três para cada lado. O traçado da Avenida, que apresenta um alinhamento reto e contínuo em relação à Rua Cardeal Saraiva, com perfil transversal largo, separador central e amplos passeios arborizados, prolonga-se até à rotunda do atual Palácio da Justiça, numa extensão de cerca de 350m.

Figura 25 – Imagem dos anos 80/90 da Avenida Nova.

O desenho que projeta o traçado da Avenida, que se assemelha às “Avenidas Novas”10, modelo muito utilizado para o desenvolvimento urbano de Lisboa nos finais do século XIX e que definiu as diretrizes de desenvolvimento da cidade sobre os vales irradiam do Tejo para nordeste (Lôbo, 1995, p. 17), evidencia claros sinais de procurar estender a Vila para o exterior, rompendo com o modelo do tecido medieval consolidado.

10 Designação utilizada para o desenvolvimento urbano que fez avançar a cidade de Lisboa para norte,

nos finais do século XIX e primeira metade do século XX. Surgem novos bairros com moradias unifamiliares e imóveis de rendimento, ocupados por uma classe média, média-alta e alta em expansão. Os novos bairros, de ruas largas, logradouros ajardinados e homogéneos no desenho das fachadas, foram numa fase inicial erguidos ao gosto de uma arquitetura eclética e vagamente Arte Nova

O traçado ajusta-se à topografia do terreno, configurado ao cimo por uma rotunda de significativa dimensão, projetando a abertura de futuros arruamentos adjacentes, revelando índices de rápido crescimento urbano.

A marginar a avenida, o solo disponível revela índices de maior atratividade para o investimento público e privado e torna-se edificável para construção de novas habitações, embora apenas acessível a uma nova burguesia constituída pela afirmação social dos novos comerciantes e altos estratos socias (Lôbo, 1995, p.18), algumas das quais carregadas de enorme simbolismo na história social, cultural e política de Ponte de Lima.

Figura 26 – Organização dos edifícios na linha da Avenida Nova

Fica bem patente ao longo da Avenida, que os lotes são geralmente quadrangulares, antevendo uma subdivisão pré definida em praticamente todos os quarteirões. Verifica-se contudo a existência de um processo de parcelamento de forma variável, sobretudo os lotes onde se instalam a antiga Escola Primária, a antiga Sede do Partido Comunista e o edifício da EDP. Ao nível dos novos traçados identifica-se especial ausência de organização e de um plano de desenvolvimento em torno do novo desenho de expansão urbana, de onde viriam a irradiar as diretrizes de novos arruamentos que, de forma ocasional, serviram para orientar o crescimento da Vila. A

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Evolução urbana entre 1900 e 1927

Início do processo de expansão urbana de Ponte de Lima com a introdução de novos e amplos traçados.

Destaca-se a abertura da Avenida António Feijó, conhecida como Avenida Nova, por evidenciar semelhanças com as avenidas de Lisboa. O novo traçado definiu as diretrizes de desenvolvimento da periferia.

Figura 27. Mapa até 1900.

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vida urbana da Avenida, que atravessou diversos processos de transformação urbanísticos ao longo do seu tempo de existência, com o principal desígnio de melhor se adaptar ao progressivo crescimento do uso dos veículos rodoviários, fica marcada na sua história pelos acontecimentos do 18 de Agosto de 1975, data na qual centenas de pessoas se juntaram para tomar de assalto a sede do Partido Comunista Português, acabando em confrontos de onde resultou a morte de um militante, sendo o edifício incendiado, ficando o seu estado reduzido a cinzas e ruínas, demorando vários anos a ser reconstruído.

Figura 29. Avenida Nova em 1975.

Contudo, dos primórdios tempos da sua existência, com apoio à leitura dos elementos cartográficos disponíveis, apenas é possível salientar a implantação do edifício da antiga Escola Primária como o único registo a novos elementos de caráter público, onde o perímetro em análise é fundamentalmente marcado pelo tecido edificado que define a urbe e se prolonga pelos arrabaldes, contrastando com a forte preponderância da atividade agrícola, caraterizada por edificações dispersas, maioritariamente constituída por quintas e casas de lavradores abastados.

4.2.2. 1928 a 1958