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Novo suporte infra-estrutural na definição do crescimento urbano

A análise a este período começa a evidenciar um conjunto de transformações urbanas, quer ao nível da definição das infra-estruturas estrutura viárias, quer ao nível do edificado. Identifica-se a introdução de importantes elementos que foram determinantes para estruturar a atual forma urbana de Ponte de lima: a abertura da nova variante à Estrada Nacional 203; a construção da Ponte da Senhora da Guia; a alteração e prolongamento do traçado da Estrada Nacional 201, entre o cruzamento da Feitosa passando pela rotunda de S. Gonçalo até o cruzamento de Sabadão, e a construção de um conjunto de edifícios de promoção privada e de investimento público.

Importa salientar que a introdução das novas infra-estruturas decorre no período em que Portugal vivia de forte controvérsia política e social, de onde decorreu a transição de um regime ditatorial para um sistema político democrata. A mudança de regime político, decorrente da revolução de 25 de Abril de 1974, marca o início de uma

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viragem histórica da sociedade portuguesa, restituindo-lhe direitos e liberdades fundamentais. Sobre este panorama, iniciam-se significativas alterações nos processos de organização urbana, impostas por novas regulamentações. Os poderes centralizados do antigo regime, passam em grande medida para as áreas administrativas municipais, apoiados pelo Código Administrativo, que lhes atribuí a função de assumirem a resolução dos problemas locais (Portas, 2012, p.12). Em forma de antevisão, ressalva-se que algumas infra-estruturas implementadas no perímetro urbano de Ponte de Lima, coincidiram com o período de transição de diferentes modelos de organização política e regulamentar do território.

Figura 36 – Imagem da Ponte de Nossa Senhora da Guia.

A Ponte de Nossa Senhora da Guia, pensada em 1969, viu o projeto ser concluído em Janeiro de 1973 e o concurso público de empreitada em 10 de Julho de 1973 (Cardoso, 1980, p.4). A construção da Ponte representa assim o exemplo de investimento em novas infra-estruturas de desenvolvimento urbano imposto pelos diferentes poderes políticos que, embora tenha decorrido num período de maior instabilidade económica

e social, com percalços de ordem financeira por parte da empresa construtura que obrigou a novo concurso, acabaria por ser concluída e inaugurada em 1980.

Os novos traçados, de maior capacidade, desenvolvem-se em torno do tecido consolidado, alterando a rede viária existente e estabelecendo a circulação exterior entre os pontos mais significativos do novo desenho urbano. A expansão da Vila passa a ser definida em função das novas vias externas, estabelecida por um programa de crescimento focado sobretudo para a zona Nascente da Escola Técnica, embora projete também o crescimento em outras direções, nomeadamente para Poente, em Além da Ponte, na linha das principais vias existentes. O crescimento faz-se de forma espontânea, sem um plano geral de ocupação do território que se organiza à medida que vão surgindo os promotores imobiliários a estabelecer as novas urbanizações, pensadas de forma individual, sem solução de conjunto, apoiadas maioritariamente nas novas infra-estruturas viárias.

A Ponte surge em prolongamento das novas vias, como o elemento estruturante fundamental, que se traduz no desenvolvimento da região e alteração da imagem urbana. Dias (1980) descreve-a como “um autêntico marco no desenvolvimento” de Ponte de Lima, para quem “crescer não corresponde necessariamente a desordem, a desarmonia, a cisão ou corte com o passado. Antes a um caminhar sereno, suave e confiante, numa continuidade perfeita, sem hiatos e sem quebras. Um caminhar sereno e suave como o Lima que lhe deu o ser, como as linhas auteras – uma belas e funcionais – da ponte que lhe completou o nome, como a Senhora que, a partir de agora, a guia também no seu desenvolvimento através da nova ponte de que é padroeira.”

Na análise ao perímetro interno em relação à localização das novas variantes, embora se verifique pequenos e dispersos aglomerados em todo o perímetro, o crescimento urbano da Vila de Ponte de Lima configura-se neste período em função da Avenida António Feijó, de onde derivaram as vias que determinaram a implantação de novos edifícios, algumas a sobrepor-se aos traçados pré-definidos, outras organizadas de forma a gerar a abertura de novos arruamentos.

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Evolução urbana entre 1959 e 1978

Figura 37. Mapa até 1928 a 1958.

Regista-se ao nível de infra-estruturas viárias a abertura das variantes 201 e 203 e a construção da ponte de Nossa Senhora da Guia.

Ao nível do edificado público, destaca-se o edifício da Escola Primária, Adega Cooperativa e habitação económica. Identificam-se concentrações de habitações privadas na linha da Avenida Nova e na periferia.

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Como já foi referenciado anteriormente, o Hospital de Ponte de Lima, inaugurado em 1958, foi construído numa área privada de acessos viários. Esta localização determinou o prolongamento da Rua Conde de Bertiandos (traçado existente entre a Rua Vasco da Gama e o Largo dos Quartéis) até à Avenida António Feijó, de onde derivava um pequeno troço a intercetar com a Rua da Porta de Braga.

Figura 39 – Ocupação urbana em 1959. Figura 40 – Ocupação urbana em 1978.

Regista-se a implementação de um conjunto de edifícios de habitação coletiva a Norte da Avenida António Feijó. O Bairro da Misericórdia, que é formado por três volumes organizados em banda, agrupados de forma colateral, assenta num conjunto ritmado e repetitivo.

Este modelo conta com dezasseis habitações de dois pisos, liberta-se do tipo da fachada confinante com a rua e promove a utilização do espaço numa perspetiva de conjunto, com espaços verdes privados em cada unidade.

Num modelo diferente do anterior surge, perpendicularmente à Rua Doutor Luís da Cunha Nogueira, um conjunto de cinco blocos de habitação social “em altura”, agrupados em banda com três pisos, acessos comuns e com uma implantação que quebra a tradicional relação do edificado com o espaço público.

Ainda numa relação direta com a Rua Conde de Bertiandos, salienta-se a implantação de um conjunto de edifícios de promoção pública, privada e industrial, nomeadamente a Adega Cooperativa e uma empresa de panificação.

Figura 41. Bairro de habitação económica.

O conjunto de operações reveste-se de grande ausência de linhas diretrizes e de orientações de crescimento, evidenciando uma ocupação espontânea que decorre em função das vias existentes e de terrenos disponíveis em posse das administrações públicas. Os modelos adotados surgem em descontinuidade com o tecido urbano da urbe medieval e coincidem com as recentes intervenções resultantes da abertura da Avenida Nova, que altera a escala urbana e impõe diferentes soluções de ordem e regularidade. Assiste-se à separação de funções e a implantações regulares, assentes na linha reta, solução utilizada na Europa, sobretudo por Le Corbusier 11(Carvalho, 2003, p.104), através do modelo de Ville Radieuse.

11 Arquiteto, urbanista e pintor franco-suíço. Foi considerado um dos mais importantes arquitetos do

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A Sul da Avenida Nova, verifica-se a configuração da Rua Doutor Ferreira Carmo, estabelecida pelo traçado rural existente de perfil irregular, e a abertura da Rua Doutor Luís Gonzaga com prolongamento até o Sobral. O desenho de 1972 prevê ainda a introdução de novas vias e alterações ao traçado existente e projeta uma ampla área para implantação de edifícios de investimento público. Estas infra-estruturas são estruturadas pelo “Plano Parcial de Urbanização da Zona Junto à Escola Técnica” (Arquivo Municipal de Ponte de Lima) e serão determinantes para o desenvolvimento urbano desta zona.

4.2.4. 1979 a 1997