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COOPERAÇÃO ENTRE BRASIL E ORIENTE MÉDIO NO PERÍODO 2003-

4.2 DIPLOMACIA CULTURAL BRASILEIRA NA ASA

A I Reunião de Cúpula América do Sul–África (Asa) ocorreu em 2006 em Abuja na Nigéria com vistas à reaproximação política, econômica e cultural entre essas duas regiões. A Asa se constitui como mecanismo inovador no tocante à articulação de chefes de Estado e de Governos relativos aos 65 países que compõem a Cúpula, além de integrantes da Unasul e da União Africana.

Esse mecanismo, segundo o Itamaraty (2010), resulta de negociações realizadas durante a visita do Presidente Lula à Nigéria em 2005. Seu homólogo, Olusegun Obasanjo - interessado na criação de um âmbito para aproximação dos países africanos com o Brasil - fez a proposta ao então presidente brasileiro (PAUTASSO; ALBANUS, 2012) que, por sua vez, sugeriu ao Chefe político da Nigéria a criação de um mecanismo com participação dos demais países da América do Sul.

Nessa perspectiva, durante a I Cúpula da Asa foi assinada a Declaração de Abuja com a inserção do primeiro plano de ação e resolução para criação do Fórum de Cooperação América do Sul-África (ASACOF). Em 2009, em Isla Magarita na Venezuela, realizou-se então a II Cúpula. Nesse encontro foi firmada Declaração do Estado de Nueva Esparta. Ademais, buscou-se aprofundar laços entre as regiões componentes da Asa. Assim, ocorreram também reuniões entre chanceleres, outros ministros e altos funcionários de distintos setores governamentais, como por exemplo: comércio exterior, energia, transportes, ciência e tecnologia, governança, temas sociais e esportivos, dentre outros.

De modo geral, a ASA reúne 12 países da América do Sul e 56 países da África. Constitui-se como Fórum Intergovernamental com encontros bienais ordinários. Em termos de gestão, foi elaborado plano de ação que incluiu agenda de trabalho composta por temáticas diversas: direitos humanos, saúde, ciência e tecnologia, dentre outros. Percebe, pois, que diante da inserção de temas distintos, a Asa tem se configurado como meio para aglomerar interesses convergentes de países que pertencem a dois continentes situados no Eixo Sul (PAUTASSO; ALBANUS, 2012).

Em relação à política externa brasileira, a formatação da Asa reflete “[...] oportunidade histórica para as duas regiões constituírem os alicerces de um novo paradigma de cooperação

sul-sul”. (MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, 2011, p.01). Além disso, a Asa está em consonância com a reorientação da política externa brasileira uma vez que o diálogo entre América do Sul e África tem sido visto como estratégico no que se refere a interesses internacionais do País particularmente a partir de 2003.

Assim, o Brasil reordenou sua inserção no continente africano, o que tem contribuído para aproximar esse continente com a região sul-americana. Ademais, a Asa tem sido possibilidade para concretização de interesses comerciais brasileiros. Entretanto, o reconhecimento entre as partes necessita ser fortalecido. As relações culturais nesse caso podem contribuir para a descoberta de oportunidades benéficas entre ambas as partes. Pois, a presença da diáspora africana na América do Sul, sobretudo nos 388 anos de escravidão, contribuiu para o processo de formação social e cultural nessa região continental. O Itamaraty nesse sentido advoga que:

A Asa busca dar forma a uma realidade que se configura dia a dia e que constitui a gradual ascensão dos países em desenvolvimento no cenário político e econômico internacional. Por meio de fóruns de formatos diversos – inter-regionais ou multilaterais –, os países em desenvolvimento procuram contribuir para uma reforma da estrutura do poder mundial e para o estabelecimento de uma ordem menos centralizada, mais multipolar e mais democrática. (MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, 2011, p.207).

Além disso, a região do Magreb no noroeste da África – formada por Argélia, Tunísia e Marrocos - tem sido espaço de atuação da política externa brasileira a partir de 2003. Nesse território, o Brasil estabeleceu mecanismo de aproximação e busca de autonomia de suas relações internacionais por meio da diversificação de parcerias, negociações e diálogos diplomáticos. Exemplifica-se tal tese com o fato de que foi citada a Cúpula América do Sul- Países Árabes (Aspa) a qual ilustra essa nova diretriz externa do Estado brasileiro.

Em 2008 a estrutura da Asa foi definida em sua I Reunião de Altos Funcionários, realizada em Brasília. Nesse sentido, foram criados oito Grupos de Trabalho (GTs), conforme áreas definidas pela Declaração de Abuja. Três grupos de trabalho dialogam com a diplomacia cultural: a) Ciência e Tecnologia; b) Temas Sociais e Esporte; c) Educação e Assuntos Culturais. No Brasil, ademais, aconteceram reuniões desses GTs entre junho e agosto de 2009.

No tocante particularmente ao Grupo de Trabalho de Educação e Cultura da Asa, foi acordado em sua reunião inaugural ocorrida em Caracas em março de 2009, o Plano de Ação.

Nesse documento, definiu-se que seria desenvolvida uma política editorial para a ASA. Assim,

[...] Acordou-se estabelecer uma seção de livros de autores relevantes de ambas as regiões nas diversas áreas do conhecimento, nas bibliotecas públicas dos países africanos e sul-americanos. Desta ideia, surgiu a publicação do livro ― América do Sul e África: um olhar próprio, pela FUNAG, distribuído durante a II Cúpula Asa. Fruto da crescente aproximação das comunidades acadêmicas e das representações da sociedade civil de ambas as regiões, o Catálogo marcou o evento de maneira simbólica. A riqueza cultural de nossas regiões e o interesse por maior conhecimento recíproco formou a base do referido volume, que despertou grande interesse dos Estados- membros e da mídia ao ser distribuído durante a II Cúpula ASA, em Isla Margarita (26-27 de setembro de 2009). (MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, 2011, p.208).

Decidiu-se que seria compartilhada a gestão dos GTs entre um país africano e um sul- americano. O Grupo de Trabalho de Educação e Cultura da Asa ficou a cargo da Venezuela e do Senegal. O GT de Ciência e Tecnologia, sob a responsabilidade do Brasil e do Camarões. E o de Temas Sociais e Esportes, por parte do Paraguai e da Namíbia. (MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, 2010).