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As relações culturais internacionais do Brasil envolveram nesses governos, pelo menos, os ministérios das Relações Exteriores; Cultura; Educação; Ciência e Tecnologia; Esporte; Turismo e Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior, conforme Bruno Novais (2013, p.76). O Ministério das Relações Exteriores já possuía experiência na difusão internacional da cultura, em especial, através de Departamento Cultural (DC) e suas atividades no exterior. O Ministério da Cultura atuou em sintonia com diretrizes do governo Lula. Gilberto Gil, ministro entre 2003 e 2008, chegou a afirmar que: “...o governo Lula e o Ministério da Cultura vêm deslocando as políticas culturais para o centro do debate do desenvolvimento nacional e das relações de intercâmbio do Brasil com outros países” (GIL apud NOVAIS, 2010, p.220). Afinado com a política de maior presença internacional do Brasil, o Ministério da Cultura agiu, associado com o Ministério das Relações Exteriores, na ampliação do trabalho cultural fora do país. A convergência de esforços ocorreu, em emblemático exemplo, na delicada construção da convenção da diversidade cultural, na qual os dois ministérios realizaram uma competente ação conjunta, reconhecida por diversos estudiosos (KAUARK, 2009; KAUARK, 2010; NOVAIS, 2010).

A atenção destinada à América do Sul, à América Latina e Caribe, aos grandes países em desenvolvimento, à África e aos países árabes foi compartilhada, mas efetivada de modo desigual, nos governos Lula e Dilma. Tal ênfase obscureceu as relações com alguns países a exemplo de Portugal. Mas essa inibição não ocorreu no âmbito cultural. A Ibero-América não apareceu entre as prioridades dos governos Lula e Dilma, apesar da história comum do Brasil com Portugal e da presença recente de muitas empresas e capitais espanhóis no país. Neste caso específico, o Ministério da Cultura assumiu posição dissonante do governo e do Ministério das Relações Exteriores. Assim, o Ministério da Cultura protagonizou relações diferenciadas e intensas com a Ibero-América e seus organismos multilaterais, em especial a Secretaria Geral Ibero-Americana (SEGIB) e Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI).

O Brasil participou de todas os congressos de autoridades ibero-americanas, organizados pelas SEGIB, inclusive sediando a III Cimeira de Chefes de Estado e de Governo, realizada em Salvador-Bahia, em 1993. Já Portugal, por duas vezes, acolheu a Conferência Ibero-Americana: a VIII na cidade do Porto em 1998 e a XIX em Estoril / Cascais em 2009. A presença do secretário-geral da OEI como única autoridade estrangeira na mesa de abertura da I Conferência Nacional de Cultura, em 2005, expressou o positivo relacionamento existente entre o ministério e a OEI. Ela, o Ministério da Cultura e o Centro de Estudos Multidisciplinares da Cultura (CULT) da Universidade Federal da Bahia (UFBA) estiveram juntos na organização do IV Campus Euro-Americano de Cooperação Cultural, acontecido em Salvador-Bahia, em 2005 (OEI; MINC, 2005). Em 2007, Almada / Portugal sediou o V Campus Euro-Americano de Cooperação Cultural. Nada estranho que anos depois, no primeiro governo Dilma, o então ex-Ministro Juca Ferreira fosse dirigir projetos na SEGIB e que ex-reitor Paulo Speller se tornasse o primeiro brasileiro a assumir o cargo de secretário-geral da OEI, em 2015.

Não cabe no texto listar todas as iniciativas culturais que associaram o Brasil à Ibero-América. Algumas, no entanto, devem ser lembradas. A Carta Cultural Ibero- Americano, documento precioso de compromisso com a diversidade cultural, aprovada na XVI Cimeira Ibero-Americana de Chefes de Estado e de Governo, ocorrida em Montevidéu, em 2006, com participação ativa do Brasil (SEGIB; OEI, 2006). O I Encontro Ibero-Americano de Museus desenrolado em Salvador - Bahia, em 2007, com repercussões relevantes. O recém-criado Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) tornou-se ativo participante do Programa IBERMUSEUS. O Brasil, além do IBERMUSEUS, passou a atuar em diversos programas dos organismos ibero- americanos, tais como: Programa de Desenvolvimento Audiovisual em Apoio à Construção do Espaço Visual Ibero-Americano (IBER-MEDIA); Programa da Associação de Estados Ibero-Americanos para o Desenvolvimento das Bibliotecas Nacionais dos Países Ibero-Americanos (ABINIA); Repertório Integrado de Livros em Venda em Ibero-América (RILVI); Rede Ibero-Americana de Teatros e Salas de Concerto (IBERES-CENA); Programa do Fórum Ibero-Americano de Responsáveis Nacionais de Bibliotecas Públicas e Programa de Fomento à Produção e Teledifusão do Documentário Ibero-Americano (DOCTV-IB), um desdobramento do DOCTV Brasil, assim como o DOCTV-CPLP, que se tornou uma das melhores iniciativas culturais no âmbito da CPLP.

A listagem pode acolher outras iniciativas. A Cátedra Andrés Bello implantada nos anos de 2005 e 2006, em Salvador - Bahia, através da parceria entre o Convênio Andrés Bello, que reunia diversos países ibero-americanos, e CULT-UFBA, com apoio do Ministério da Cultura. As duas versões da Cátedra, que conjugaram curso e pesquisa, tiveram como tema: Políticas e redes de cooperação em cultura no âmbito ibero- americano (RUBIM; RUBIM; VIEIRA, 2005 e RUBIM; RUBIM; VIEIRA, 2006).

Livros sobre o tema da cultura na Ibero-América têm sido publicados no Brasil, a exemplo de Culturas da Ibero-América. Diagnósticos e propostas para seu

desenvolvimento, organizado por Néstor García Canclini e editado com o apoio da OEI

(CANCLINI, 2003) e Políticas culturais na Ibero-América, lançado no Brasil (RUBIM; BAYARDO, 2008) e na Colômbia (RUBIM; BAYARDO, 2009). Outro livro sobre o

Panorama da Gestão Cultural na Ibero-América está sendo publicado em 2016

(RUBIM; YANEZ; BAYARDO, 2016). Nesses dois últimos livros existem textos específicos sobre as políticas culturais do Brasil e de Portugal, escritos respectivamente por mim, no caso brasileiro, e por Maria de Lourdes Lima (2008) e Maria Manuel Baptista e Jenny Campos (2016) no contexto luso. Dois outros livros podem ser agregados nessa listagem: Estudos da cultura no Brasil e em Portugal (2008) e

Políticas públicas culturais: dinâmicas, tensões e paradoxos (2014), que trata das

políticas culturais brasileiras e portuguesas. A esses livros deve ser acrescida a publicação proveniente do I Congresso Internacional de Cultura, ocorrido na Covilhã, em 2015.