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PROCESSOS DE TRANSFORMAÇÃO: A CONFIGURAÇÃO DOS DISCURSOS INFORMATIVOS ESTRATÉGICO E JORNALÍSTICO

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PROCESSOS DE TRANSFORMAÇÃO: A CONFIGURAÇÃO DOS DISCURSOS INFORMATIVOS ESTRATÉGICO E JORNALÍSTICO

O discurso informativo midiático busca diferentes equações entre o “fazer saber” e a necessidade de “fazer seduzir” e para construção do efeito de sentido de verdade (autenticidade, verossimilhança e dramatização) precisa responder a três questões: Por que informar? Quem informa? Quais são as fontes? As pistas e marcas do discurso jornalístico, seguidas pelos assessores, têm como base a produção da informação nas redações. Para ser reconhecido enquanto notícia, no veículo de comunicação, o material do assessor precisa se adequar às regras desse jogo. Esse domínio do fazer jornalístico e das dinâmicas específicas de cada empresa de comunicação atesta também a qualidade e competência do assessor, relacionadas ao grau de aderência da sua produção aos discursos informativos, ou seja, espera-se que esteja imerso na prática e dotado do habitus (BOURDIEU, 1996).

Como numa gangorra de interesses, o assessor parece ter que negociar, em algum instante, entre os interesses da redação/do discurso jornalístico e os interesses da instituição/do discurso estratégico.

O contato AI-redação jornalística, no estudo proposto, marca a primeira etapa do processo de construção da notícia, por assim dizer. Para transformar o mundo a configurar em mundo configurado, a AI precisa negociar entre os interesses da instituição (construção de imagem e reputação) e os interesses da redação por boas pautas. Que negociações são feitas para transformar o mundo a configurar (acontecimento a configurar) em mundo configurado (acontecimento configurado) e, ao mesmo tempo, “agradar” cliente e jornalista de veículo?

Podemos pensar melhor na produção do discurso informativo, a partir da comparação dos processos expostos nas figuras a seguir:

Figura 1

Fonte: Livre adaptação da autora, a partir Charaudeau (2012), Ferreira (1997, 1999), Ricoeur (2010a).

Essa figura representa o processo de construção do discurso informativo, considerando apenas a mediação da redação jornalística. Observemos, então, apróxima imagem, que demonstra a construção do discurso informativo, a partir darelação entre assessoria de imprensa e veículo jornalístico.

Figura 2

Fonte: Livre adaptação da autora, a partir Charaudeau (2012), Ferreira (1997, 1999), Ricoeur (2010a)

Ao observar esta imagem, podemos inferir que, na interação AI-Jornalismo, o acontecimento chega à redação como narrativa, e não enquanto mundo a significar.

O acontecimento já sofreu sua primeira configuração. Temos, então, que a primeira configuração do mundo a significar em mundo significado, ou seja, acontecimento em acontecimento narrado (notícia), é feita pela AI com vistas para uma instância de reconhecimento, formada pelo jornalista. Entretanto, o alvo último é o leitor. Em outras palavras, se não houver um trabalho de investigação ou redirecionamento da pauta, pelos veículos jornalísticos, existe a possibilidade de ser divulgado o ponto de vista ou o enquadramento pretendido pela instituição fonte da informação.

No que tange à análise dos discursos citados e, consequentemente, da zona de interseção entre eles, elaboramos um resumo, espécie de guia, com indicativos de operadores analíticos, que desenvolvemos, mediante as contribuições de Patrick Charaudeau (1997, 2003, 2005, 2012). A partir do pressuposto de que tanto o discurso informativo estratégico quanto o jornalístico são modulados pela necessidade de, simultaneamente, “fazer saber” e “fazer seduzir”, sugerimos que a análise seja conduzida pela busca de repostas para duas indagações chave: a) Como conseguem os efeitos de sentido de verdade? b) Como conseguem os efeitos de dramatização?

Quadro 1 - Questões de orientação para a análise do discurso informativo

Discurso Informativo O paradoxo do saber fazer e saber seduzir

Como conseguem os efeitos de sentido de verdade?

Aspectos atinentes à seleção e à construção do acontecimento (Abordagens do newsmaking, agendamento/enquadramento) Como conseguem os efeitos de dramatização?

Atributos dos dispositivos Modos de dizer (Espaços de locução, interação e sedução) Fonte: Adaptação da autora, a partir de Charaudeau (2003, 2012), Pinto (2002), Verón (1998, 2004) Já sinalizamos que os critérios para seleção e construção do discurso informativo por parte de assessores e jornalistas precisam convergir, mas são, a priori, marcados por interesses distintos, uma vez que um está vinculado à chamada comunicação organizacional e o outro ao jornalismo, enquanto campo social autônomo

(BOURDIEU, 1999, 2010). A tarefa do analista, portanto, é mapear em que aspectos os critérios de noticiabilidade são convergentes e divergentes, assim, terápistas que o conduzirá também ao agendamento. Ainda no que tange à questão sobre a busca pelos efeitos de sentido de verdade, dela se desdobram três outras indagações: Por que informar? Quem informa? Quais são as provas?

Quadro 2 - Questões de orientação para a busca do efeito de sentido de verdade

Discurso Informativo Em busca do efeito de sentido de verdade

Por que informar?

As motivações do jornalismo e as motivações da assessoria de imprensa/ relações públicas (A construção social da realidade)

Quem informa?

Características e posicionamentos das fontes (A relação do jornalismo com as fontes e o lugar da assessoria de imprensa como mediadora)

Quais são as provas? Do testemunho ao registro

Fonte: Adaptação da autora, a partir de Charaudeau (2003, 2012)

As perguntas suscitadas pela questão mais ampla sobre a produção dos efeitos de sentido de verdade também reverberam na abordagem do newsmaking. O vínculo entre jornalistas e assessores é estabelecido por meio da partilha e comunhão dos critérios, rotinas, protocolos e práticas do jornalismo (RUSSI, 2010; SANT’ANNA, 2008). Todavia, como já vimos, esses profissionais defendem interesses distintos.

No processo analítico, portanto, ao abarcar o discurso informativo estratégico e o discurso informativo jornalístico, é possível deduzir os “modos de dizer” da assessoria e do suporte jornalístico e, também, os critérios de seleção e construção da informação em ambos, além de contemplar o agendamento. Ou seja, a averiguação da zona de interseção entre o discurso informativo estratégico e o discurso informativo jornalístico nos permite: a) inferir quais critérios de noticiabilidade foram trabalhados e acionados, em consonância, nas duas instâncias de produção, a assessoria e a redação jornalística; b) investigar também as convergências entre os “modos de dizer” de ambos e c) verificar, ainda, como essa simultaneidade influiu para o processo de agendamento.

Vamos, agora, tratar dos contratos, das negociações, que possibilitam a construção discursiva.

PROCESSOS DE TRANSAÇÃO: DOS CONTRATOS COMUNICATIVOS E