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Direcionalidade: importância que as pessoas dão às metas que são comuns ao

3 Implicações da doença crônica

7. Direcionalidade: importância que as pessoas dão às metas que são comuns ao

grupo.

Esses aspectos apontados revelam que o conceito de rede social descrito pelo autor enfatiza a quantidade (densidade, tamanho e intensidade) em detrimento da qualidade das relações estabelecidas.

Estudos indicam que as redes maiores trazem mais benefícios às pessoas porque oferecem mais possibilidades de ações. Dentre as vantagens destaca- se: a) Maior acesso e disponibilidade de apoio; b) Maior probabilidade de que na rede exista uma pessoa que compartilhe a mesma experiência, possibilitando assim uma ajuda mais adequada e direcionada, além de mais informações disponíveis entre elas.

Algumas das funções das redes sociais seriam (Rodríguez-Marín, 1995):

Ajuda: ajudar a pessoa para que a mesma tenha condições de cumprir suas metas

pessoais ou para que possa fazer frente às exigências de uma determinada situação;

Conselho: proporcionar informação ou conselhos;

Retro-informação: realizar avaliações acerca de como a pessoa tem cumprido as

expectativas ou as solicitações de suas próprias metas.

Ainda no tocante às funções atribuídas ao apoio social, Barrón (1996) classifica três funções:

Apoio emocional dispor de alguém para conversar, em que a pessoa demonstra

carinho, amor, afeto, empatia, estima e fazer com que a mesma sinta-se pertencendo a um grupo.

Apoio material ou instrumental fornecer ajuda seja através de ações do

Apoio informacional receber informações e conselhos que auxiliam a pessoa a

compreender seu mundo.

Percebe-se certa semelhança entre as funções definidas pelos autores no que diz respeito a aconselhar e dar informações. Rodríguez-Marín (1985) acrescenta a retro-informação, apontando a necessidade de se fazer avaliações acerca de nossas condutas, o que tende a ser ainda mais imprescindível em situações relativas à saúde, embora muitas vezes não a façamos. Em contrapartida, Barrón (1996) contribui trazendo a questão do apoio material ou instrumental que não pode ser negligenciado, uma vez que constitui necessidades práticas e reais que podem dificultar ou mesmo agravar a vida das pessoas, como por exemplo, uma pessoa que precisa ir a uma consulta médica, mas encontra-se muito debilitada, não conseguindo se locomover. Se esta não dispõe de alguém com que possa contar para auxiliá-la até o médico, seu quadro pode se tornar ainda mais sério se ficar esperando até o dia em que alguém possa acompanhá-la.

Vale salientar que o apoio das pessoas que compõem uma rede social pode ou não existir, bem como, variar (dentro das características apontadas) conforme as demandas da pessoa que necessita desse apoio social.

Igualmente, ao se falar em apoio social deve-se considerar também o contexto em que o mesmo acontece. Barrón (1996) menciona alguns aspectos contextuais:

Características dos participantes: em virtude de quem realiza, o mesmo tipo de

apoio pode ou não ser efetivo. Por exemplo, o apoio de amigos parece ser mais útil para administrar conflitos relacionados com a família; enquanto que ao se tratar de problemas relativos à saúde, a família parece ser a mais apropriada. E para ajudar as

dificuldades vinculadas às questões profissionais, os colegas de trabalho são os que melhor podem auxiliar;

Momento em que é fornecido o apoio: as necessidades de ajuda e o tipo desta

variam conforme a situação;

Duração: a habilidade daqueles que oferece ajuda para manter e ou modificar o tipo

de apoio durante um certo tempo, principalmente quando a pessoa que precisa do mesmo apresenta um problema crônico;

Finalidade: adequação entre o apoio oferecido e as reais demandas da pessoa que o

recebe.

Diante da tradicional e histórica precariedade dos serviços institucionais de saúde, as redes de apoio social constituem, na maioria das vezes, a única possibilidade de ajuda que as famílias de baixa renda podem contar; ademais, a mesma tende a ser o único suporte para ajudar a aliviar as tensões oriundas da vida cotidiana (Andrade & Vaitsman, 2002).

Outro aspecto positivo referente às redes sociais é que os indivíduos que compõem esses grupos (familiar, comunitário, colegas de trabalho), exercem um papel importante no tocante aos cuidados que as mesmas têm que ter para consigo quanto à rotina de dieta, exercícios, adesão ao tratamento medicamentoso e cuidado com a saúde em geral, bem como, a busca de ajuda profissional (Rodríguez-Marín, 1995; Andrade & Vaistman, 2002). Rodríguez-Marín (1995) denomina esses grupos de "sistema de referência leigo", os quais exercem o papel sobre a pessoa tanto na fase de tomada de decisão como também durante a fase de ação. Salienta ainda, que até mesmo a presença ou falta do apoio social pode influenciar em menor ou maior grau ao uso dos serviços de cuidado da saúde.

Reconhece-se que a sua influência varia em virtude das necessidades diferenciadas dos indivíduos, ou seja, a presença ou falta deste como recurso para lidar com a doença e a subjetividade que perpassa todo processo de adoecer. Contudo, a partir de uma perspectiva positivista, tem-se tentado definir modelos, visando explicar uma relação linear entre apoio social e saúde. Assim, Cohen e Syme (1985, citados por Castro, Campero e Hernández, 1997) propõem dois modelos:

Modelo de efeito direto: no qual o apoio social favorece os níveis de saúde,

independentemente da tensão sentida pela pessoa; isto é, o mesmo traz benefícios à saúde mesmo na ausência de eventos estressantes;

Modelo de efeito protetor: o apoio social protege a pessoa dos efeitos patogênicos

produzidos pelas tensões. Ou seja, nesse modelo, já existe a presença do estresse, sendo o apoio, um recurso utilizado para amenizar os efeitos advindos da situação estressante.

Entretanto, concorda-se com Vaux (1988, citado por Barrón, 1996) na dificuldade de identificar um ou outro modelo tentando definir padrões fixos, considerando que nosso dia-a-dia é sempre permeado por diferentes episódios que geram tensão. De forma geral, quando a pessoa dispõe de recursos materiais e emocionais, isso pode evitar que a mesma defina como sendo estressante o que normalmente, outras pessoas apontariam como fonte de tensão. Esta não definição evita que se produza uma resposta psicopatológica que por sua vez repercute na saúde (Castro, Campero & Hernández, 1997).

Igualmente, a determinação de um evento ser ou não estressante está relacionado com a subjetividade de cada pessoa, ou seja, o que é estressor para uma pessoa pode não ser para a outra. Assim, o apoio social não deve ser compreendido somente em nível objetivo, ou seja, de fato recebê-lo ou não; tendo em vista que por vezes a pessoa até pode estar recebendo-o de familiares e amigos, todavia, não consegue

percebê-lo. Por outro lado, há aquelas que de fato não recebem qualquer tipo de apoio, porém acredita recebê-lo.

Portanto, a idéia de contar ou não com o apoio das pessoas que nos cercam dependerá também de como a pessoa visualiza a mesma, como afirmam Castro, Campero e Hernández, (1997):

... la disponibilidade de apoyo para un individuo ante una situación dada puede medirse en téminos reales (cuantificando el número de amigos que podrían prestar ayuda en una situación de emergencia), como en términos virtuales (esto es, caracterizando el apoyo del que el próprio actor cree que dispone, independentemente de la realidad 'objetiva'). El apoyo virtual puede tener efectos tan importantes en la salud como el apoyo real (p. 432). Pode acontecer que, a mesma pode tê-lo, entretanto, este pode estar sendo considerado insuficiente para a pessoa que o recebe. Ou ainda, ela pode não ter apoio e mesmo assim consegue administrar sua vida, isto é, o fato de não tê-lo pode gerar uma energia pessoal que impulsiona a mesma a lutar, ainda que lhe falte o apoio.

Assim sendo, é melhor falar-se em apoio percebido ao invés de apoio recebido, até pelo fato que o apoio social é uma atitude por parte dos outros que nem sempre pode ser avaliada positivamente pela pessoa que a recebe. Depende dos processos de significação e da subjetividade da pessoa que precisa de ajuda.

Castro, Campero e Hernández (1997) referem que diferentes formas de apoio trarão distintos efeitos nas condições de saúde da pessoa conforme o contexto social de cada situação, bem como, o significado que o mesmo terá para aquelas que compõem um determinado grupo. Uma pessoa ativa pode não aceitar as limitações impostas pela doença e manter inalterada suas atividades, ao sentir que a doença está sob controle. Todavia, ela pode estar sendo poupada pelos colegas e estes acreditarem

que a estão ajudando; entretanto, essa atitude pode ser mal interpretada pela mesma que não aceita esse auxílio, pois acredita que a estejam vendo como uma doente.

Existem ainda situações em que o apoio social nem sempre tem uma conotação positiva. Há casos em que determinado tipo de apoio, como exemplo, a tendência a superproteção, manifestada pelas pessoas que integram a rede social pode gerar efeitos negativo (Rodríguez-Marín, 1995; Barrón, 1996).

Igualmente, as pessoas que se encontram gravemente doentes podem ter o apoio social negado ao estabelecer aos outros exigências excessivas ou a sintomatologia gerar nos outros sentimentos de rejeição (Rodríguez-Marín, 1995). É o caso do LES que produz sintomas visíveis no corpo do indivíduo como a fotossensibilidade, em que os outros ao verem a manifestação do sintoma, temem o contágio em virtude do impacto causado pela vermelhidão da pele e até pelo fato de desconhecê-la.

Conforme menciona Rodríguez-Marín (1995), existem vários processos que estão relacionados ao apoio social e a saúde física no transcorrer dos diferentes estágios dos ciclos de saúde e doença: bem-estar e saúde relativa, surgimento da doença, utilização dos serviços de saúde, cumprimento das orientações médicas, adaptação à doença crônica ou regresso da saúde e/ou bem-estar. Além disso, há ainda a quantidade (número de pessoas que formam a rede de apoio), tipo (material, emocional, informativo) e fonte (família, amigos, comunidade) que podem diferir. Segundo o autor, em distintos momentos, esse ciclo pode se tornar mais difícil devido a outras variáveis como as características pessoais ou os fatores sociais e ambientais, os quais devem ser considerados.

Quanto às particularidades de cada pessoa, pode-se destacar a dificuldade que algumas delas têm em fazer amigos ou que preferem se isolar do

mundo, ressaltando que problemas de relacionamento podem se agravar num contexto permeado pela doença. O estado de doença pode também contribuir para uma visão negativa da vida por parte da pessoa, levando por sua vez a um julgamento pessimista das relações sociais, pois as considera como prejudiciais a si mesma (Rodríguez-Marín, 1995).

Em decorrência dessa postura, ou no caso do mesmo negar a sua condição de ser portador de uma doença, isto é, não deixar que os outros saibam da sua patologia, provavelmente sua rede de apoio será mais restrita e talvez tenha pouca coisa a fazer pelo indivíduo, já que este não compartilha suas necessidades. Embora isso possa estar relacionado também ao fato do mesmo temer a reação dos demais frente a sua situação; o que talvez possa ser atribuído ao ambiente e não às características pessoais, tendo em vista que sua atitude constitui uma resposta ao ambiente que rejeita e/ou teme o que é desconhecido.

Diante do exposto, pode-se afirmar que a dificuldade em definir o que seja apoio social reside no fato de ser sempre uma avaliação subjetiva de cada ser humano. Por outro lado, não podendo negar sua relevância e possíveis benefícios, no sentido de reconhecer que o apoio social pode ajudar as pessoas a redefinir e/ou amenizar a situação de sofrimento pela qual passam, é importante estar atento ao contexto em que esse apoio está inserido, assim como as pessoas envolvidas. Ou seja, é sempre relevante considerar os processos de significação e geração de sentido com relação às relações interpessoais e sociais das pessoas afetadas pela doença.