• Nenhum resultado encontrado

DO DIREITO ADQUIRIDO, DAS REGRAS PERMANENTES, TRANSITÓRIAS E DE TRANSIÇÃO APLICADAS AOS FILIADOS AO RGPS

3 APOSENTADORIA ESPECIAL (RGPS) APÓS A REFORMA DA PREVIDÊNCIA (EC 130/2019)

3.1 DO DIREITO ADQUIRIDO, DAS REGRAS PERMANENTES, TRANSITÓRIAS E DE TRANSIÇÃO APLICADAS AOS FILIADOS AO RGPS

O art. 3 da EC N. 103/2019 garante o direito adquirido ao segurado no RGPS que tenha cumprido os requisitos para a obtenção de benefícios até 12/11/2019, com aplicação, inclusive, dos critérios da legislação então vigente. Para tanto, é necessário exercer atividade sujeita a condições especiais que prejudiquem a saúde

ou a integridade física, de forma permanente, e não ocasional nem intermitente, com efetiva exposição aos agentes químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou integridade física, durante 15, 20 ou 25 anos.

(SANTOS, 2020). De tal forma, positiva o art. 3º da EC 103/2019:

Art. 3º A concessão de aposentadoria ao servidor público federal vinculado a regime próprio de previdência social e ao segurado do Regime Geral de Previdência Social e de pensão por morte aos respectivos dependentes será assegurada, a qualquer tempo, desde que tenham sido cumpridos os requisitos para obtenção desses benefícios até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional, observados os critérios da legislação vigente na data em que foram atendidos os requisitos para a concessão da aposentadoria ou da pensão por morte. (BRASIL, 2019).

Ademais, além de estar previsto na EC, o próprio INSS, no Art. 3º da Portaria 450/2020, manifestou que a Reforma seria aplicada respeitando o direito adquirido, independentemente da data de entrada do requerimento – DER. Sendo assim, é possível utilizar as regras anteriores mesmo que a Data de Início do Benefício seja posterior à reforma da previdência. Os segurados que alcançaram o direito adquirido, se beneficiarão das regras citadas nos capítulos anteriores, tais como as do Anexo IV do RPS, carência de 180 contribuições, média de 100% do salário de benefício e exigência apenas de tempo de contribuição, independentemente de limite etário. (DOMINGOS, 2020).

A regra permanente será aplicada aos filiados ao RGPS após a edição da lei complementar que regulamentará o art. 201, § 1º, II, da CF/88, que dispõem da seguinte redação:

Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral da Previdência Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observando critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a:

§1º. É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados para a concessão de benefícios, ressalvada, nos termos de lei complementar, a possibilidade de previsão de idade e tempo de contribuição distintos da regra geral para a concessão de aposentadoria exclusivamente em favor dos segurados:

II- Cujas atividades exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou a associação desses agentes, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019) (BRASIL, 2019).

Portanto, foge do campo constitucional a reserva legal perseguida pelo legislativo da CF/1988, a competência de estabelecer quais seriam as situações motivadoras de especialidade, conforme descreve a antiga redação do artigo, em

que o legislativo definiu os casos de atividades exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física. (LADENTHIN, 2020).

A modificação do texto da Lei Maior, em tese, “possibilitará ao Executivo, após tantas investidas (MPs nº 1.523/96 e 1.596-14; Decretos nº 357/91, 611/92, 2.172/97 e 3.048/99), arrebatar para si de vez a competência para definição das mencionadas situações adversas que possibilitem a inativação antecipada,” (DOMINGOS, 2020, p.

363) tentativas estas frustradas no aspecto constitucional, mas efetivas na prática devido a inércia do Legislativo em elaborar a lei que disciplinaria condições especiais de trabalho. Essa nova redação, pode respaldar a inconstitucional alegação de competência operada pelo Legislativo em favor do Executivo quando da convocação da MP Nº 1.523/96 na Lei Nº 9.528/97. (DOMINGOS, 2020).

Sob a ótica de Carlos Domingos, não há mais necessidade que a regulamentação das condições especiais de trabalho seja feita através da lei complementar, em razão da alteração constitucional acima citada. E estando o artigo 58 da LBPS, com redação trazida pela Lei nº 9.528/97, em plena vigência, apesar de sua flagrante inconstitucionalidade, a competência atribuída ao Executivo pelo citado disposto ganha sobrevida. Afastada a inconstitucionalidade da transferência de competência ocorrida com a edição da Lei 9.528/97, também sofre diretamente esse efeito o Decreto Nº 3.048/99, publicado quando vigia o texto constitucional anterior do §1, do artigo 201 da Constituição Federal, com redação dada da EC. Nº 20/98, que declara e expressamente destinava a atribuição para definição dos labores agressivos ao Poder Legislativo, e por meio de lei complementar que, como visto, não pode ser delegada ante a vedação contida no artigo 68 §1 da CF. (DOMINGOS, 2020).

Ademais, outra inovação da aposentadoria especial trazida pela EC 103/2019, é a retirada da expressão “integridade física” contida na redação antecedente, e que abarcava os casos de trabalhos realizados “com riscos superiores aos normais”, ou seja, as atividades perigosas. O texto do art. 201 §1º II da CF/88, traz a previsão de especialidade para trabalhos “com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde ou a associação desse agentes”, ou seja, insalubres não mais contemplando os serviços danosos à "integridade física”, aqueles que

expõem o trabalhador a riscos elevados, tidos como perigosos ou periculosos.

(DOMINGOS, 2020).

Destaca-se que a proibição de especialidade decorrente do exercício de atividades perigosas estava expressamente contida no texto original da PC nº 06/2019, e foi retirada momentos antes de sua aprovação no Senado Federal, mediante acordo entre as lideranças partidárias, possibilitando, que tais ofícios sejam disciplinados como especiais através de lei complementar, ou até mesmo ordinária, ou seja, se mantida a redação atual do artigo 58 da LBPS, por meio do Decreto do Poder Executivo. Sendo assim, “a nova redação dada pela EC nº 103/2019 alçou ao patamar constitucional a proibição de enquadramento por categoria profissional ou ocupação, antes residente no somente campo legal, instituída pela Lei nº 9.032/95, que retirou do caput do artigo 57 da Lei 8.213/91, o termo atividade profissional.” (DOMINGOS, 2020, p. 365). Portanto, a regra permanente para concessão de Aposentadoria Especial será concretizada com edição de Lei Complementar prevista na redação do §1º do artigo 201 CF/88. Por fim, Luciano Martinez observa:

“A Emenda Constitucional, porém, não estabeleceu exatamente a idade e o tempo de contribuição exigíveis enquanto regra permanente. O importante detalhamento poderá ser feito por lei complementar. Enquanto não seja publicada nesta lei complementar, as disposições transitórias previstas nesta Emenda serão aplicáveis a situação.” (MARTINEZ, 2020, p. 278).

Ademais, a regra Transitória se aplica para os segurados que ingressarem no regime Geral da Previdência após sua entrada em vigor, e enquanto não surgir no ordenamento à lei complementar que estabeleça idade e tempo de contribuição inferiores aos da Regra Geral, para os segurados que exerçam atividades nocivas.

(DOMINGOS, 2020).Portanto, a regra transitória segue o disposto no art. 19, § 1°, I e alíneas da EC n°103/2019:

Art. 19. § 1º Até que lei complementar disponha sobre a redução de idade mínima ou tempo de contribuição prevista nos §§ 1º e 8º do art. 201 da Constituição Federal, será concedida aposentadoria: I - aos segurados que comprovem o exercício de atividades com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação, durante, no mínimo, 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, nos termos do disposto nos arts. 57 e 58 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, quando cumpridos: a) 55 (cinquenta e cinco) anos de idade, quando se tratar de atividade especial de 15 (quinze) anos de contribuição; b) 58 (cinquenta e oito) anos de idade, quando se tratar de atividade especial de 20 (vinte) anos de contribuição; ou c) 60 (sessenta) anos de idade, quando

se tratar de atividade especial de 25 (vinte e cinco) anos de contribuição.

(BRASIL,2019).

Sendo assim, os trabalhadores que desenvolvam trabalhos em condições prejudiciais saúde e que se filiaram ao RGPS a partir de 13.11.2019 (data da publicação da EC. 103/2019), deverão contar com tempo mínimo de desempenho de labor deletério conforme sua atividade exige (15, 20, 25 anos), além de um requisito etário, que igualmente varia de acordo com os serviços que realizam, conforme disposto acima. O estabelecimento do requisito de idade mínima para o acesso da Aposentadoria Especial é novidade no texto constitucional. É importante frisar que este benefício em seu nascedouro, 1960, Lei Nº 3.807, continha em seu artigo 31 essa exigência etária, na época, 50 anos de idade, e que logo foi extinta, em 1968.

Salienta-se que essa regra é transitória, aplicável somente enquanto não for editada a necessária lei complementar. (DOMINGOS, 2020).

A Regra de Transição é destinada para os segurados que já estavam inscritos no RGPS quando a Emenda foi publicada, e que exerciam seus ofícios em situações insalubres, poderão fazer uso enquanto não surgir lei complementar, através da seguinte regra de transição do art. 21, da EC n° 103/2019, o qual dispõe:

O segurado ou o servidor público federal que se tenha filiado ao Regime Geral de Previdência Social ou ingressado no serviço público em cargo efetivo até a data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional cujas atividades tenham sido exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação, desde que cumpridos, no caso do servidor, o tempo mínimo de 20 (vinte) anos de efetivo exercício no serviço público e de 5 (cinco) anos no cargo efetivo em que for concedida a aposentadoria, na forma dos arts. 57 e 58 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, poderão aposentar-se quando o total da soma resultante da sua idade e do tempo de contribuição e o tempo de efetiva exposição forem, respectivamente, de: I - 66 (sessenta e seis) pontos e 15 (quinze) anos de efetiva exposição; II - 76 (setenta e seis) pontos e 20 (vinte) anos de efetiva exposição; e III - 86 (oitenta e seis) pontos e 25 (vinte e cinco) anos de efetiva exposição. § 1º A idade e o tempo de contribuição serão apurados em dias para o cálculo do somatório de pontos a que se refere o caput. (BRASIL, 2019).

Para a somatória tempo de contribuição com idade, a contagem considerará os dias de ambos, e não somente os anos completos, fechados. Caso o segurado tenha laborado em situações comuns, sem sujeição de agentes agressivos, esses lapsos poderão ser acrescidos ao tempo de contribuição para a apuração da pontuação final, sendo sempre necessário o efetivo exercício de no mínimo 15, 20, 25 anos em condições especiais, conforme a situação. Aqueles que já estavam

inseridos no sistema até a data da publicação da Emenda e que desenvolvam serviços prejudiciais à saúde, poderão fazer uso da regra de pontos, um critério análogo a conhecida "fórmula 85/95”, e que foi criada como alternativa ao fator previdenciário, servindo para afastar a incidência deste redutor. (DOMINGOS, 2020).

Para atingir o número mínimo de pontos exigidos pela referida regra, poderão ser computados tanto períodos laborados em condições especiais quanto comuns, mas sendo necessário alcançar o patamar mínimo imposto de anos em atividade deletéria. Portanto, “o trabalhador já filiado ao RGPS em 13.11.2019, que desenvolve seu mister em minas subterrâneas, na frente produtiva, poderá ter concedida a aposentadoria especial quando a soma do tempo de exercício dessa atividade e sua idade atingir, pelo menos, 66 pontos, sendo que necessitará, ainda, demonstrar que no mínimo 15 anos de trabalho foram desenvolvidos exatamente nesta função.” (SANTOS, 2020, p. 330).

Carlos Domingos nos traz o seguinte exemplo da regra de transição, que para uma pessoa de 50 anos de idade e 20 anos de atividade especial, filiado antes da EC 103/2019, este poderá se aposentar em 3 anos, caso permaneça na atividade.

Porém, se tiver ingressado depois da reforma, terá de trabalhar mais 8 anos, para atingir 58 anos de idade, mesmo já tendo os 20 anos de contribuição em atividade especial. (DOMINGOS 2020).

Por isso, para os já inscritos no RGPS antes da EC 103/2019, muito dificilmente a regra transitória será mais favorável que a de transição. Ademais, não é condizente com a natureza dessa aposentadoria a exigência de idade mínima para a inativação, pois este benefício se presta a proteger o trabalhador exposto a condições de trabalho inadequadas e sujeito a um limite máximo de tolerância com exposição nociva à saúde. (LAZZARI, CASTRO, ROCHA, KRAVCHYCHYN, 2020).

3.2 O NOVO CÁLCULO DA RMI DA APOSENTADORIA ESPECIAL E A