• Nenhum resultado encontrado

2 REQUISITOS NECESSÁRIOS À APOSENTADORIA ESPECIAL

2.1 TEMPO MÍNIMO DE CONTRIBUIÇÃO E CARÊNCIA

Existem três tipos de Aposentadoria Especial, a primeira com requisito de tempo mínimo de 15 anos de contribuição, a segunda 20 anos e a terceira 25 anos de contribuição exposto a atividade insalubre. O art. 57 da Lei Nº 8.213/91 estabelece as referidas modalidades:

Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme dispuser a lei.

(BRASIL, 1991).

Antônio Vendrame, ao citar sua teoria sobre o tempo mínimo de labor, expõe:

Determinadas atividades, pelo grau de nocividade que oferecem ao trabalhador, concedem a aposentadoria a períodos menores, como é o caso dos mineiros que trabalham no subsolo, cuja aposentadoria se dá após os 15 anos de trabalho. Da mesma forma, existem trabalhadores com direito de se aposentarem aos 20 ou 25 anos, segundo a atividade, ressalvado que a Aposentadoria Especial só é concedida aos 15, 20 ou 25 anos de trabalho 11 em atividade exclusiva exposta a agentes nocivos. (VENDRAME, 2000, p. 12 apud LADENTHIN, 2018, p. 37).

De acordo com o quadro de Anexo IV, código 4.0.2, do Decreto Nº 3.048/1999, a aposentadoria aos 15 anos é exclusiva dos mineiros que trabalham permanentemente no subsolo de empresas de mineração, cujos agentes correspondem a uma associação de agentes agressivos, físicos, químicos e biológicos. (LADENTHIN, 2018).

A referida normativa está disposta no Quadro do Anexo IV, código 4.0.2 do Decreto Nº 3.048/99: Agentes Físicos, químicos e biológicos - a) trabalhos em atividades permanentes no subsolo de minerações subterrâneas em frente de produção. (BRASIL, 1999).

Ademais, conforme o quadro de Anexo IV, códigos 1.0.2 e 4.0.1, do Decreto Nº 3.048/1999, para as aposentadorias especiais aos 20 anos, os únicos trabalhadores que fazem jus a essa modalidade são aqueles expostos a asbestos1e os mineiros, sendo estes que trabalham nas rampas de superfícies, afastados das frentes de trabalho. (LADENTHIN, 2018). Disposto no Quadro do Anexo IV, códigos 1.0.2 e 4.0.1 do Decreto Nº 3.048/99:

1.0.2 Asbestos – a) extração, processamento e manipulação de rochas amiantíferas; b) fabricação de guarnições para freios, embreagens e materiais isolantes contendo asbestos; c) fabricação de produtos de fibrocimento; d) mistura, cardagem, fiação de tecelagem de fibras de asbestos.

4.0.1 Físicos, químicos e biológicos – a) mineração subterrânea cujas atividades sejam exercidas afastadas das frentes de produção. (BRASIL, 1999).

Todos os outros agentes agressivos do referido Decreto destinam-se à aposentadoria aos 25 anos, e para os que não estiverem especificados no regulamento, vale a regra geral da aposentadoria aos 25 anos. (LADENTHIN, 2018).

De acordo com as estatísticas da Previdência Social, verifica-se que a Aposentadoria Especial possui maior número de concessões para pessoas do sexo masculino do que feminino, é o que aponta o Informe da Previdência Social de Fevereiro de 2019, do período de 2012 a 2016:

Sexo Frequência %

Feminino 10.224 12,73%

1 1 Julgamento da ADI 4066/24/08/2017 se discutiu a invalidade de dispositivo da Lei 9.099, que autoriza e disciplina a extração, industrialização, utilização e comercialização do amianto crisólita (asbestos brancos) e de produtos que o contenham. Reconheceram a procedência do pedido, juntamente com a proteção à saúde humana, deve prevalecer em situações semelhantes o princípio da precaução para que, em caso de ameaça ao equilíbrio do meio ambiente, a causa seja neutralizada. Fica portanto, proibido o trabalho com o uso do

amianto em todo o país. Disponível em

<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=353578&caixaBusca=N> Acesso em: 06 mar. 2021.

Masculino 70.080 87,27%

Total 80.304 100%

Fonte: Informe da Previdência(2019).2

Conforme positivado, as regras não fazem distinção entre quais segurados podem acessar a aposentadoria especial, pois nem a Constituição o faz. As restrições existentes para que certas categorias de segurados não possam ter reconhecido seu tempo de contribuição como especial, não possuem previsão nos planos legais. São instituídas por normas de menor envergadura, como decretos, portarias e instruções normativas. (DOMINGOS, 2020). Neste sentido, a previsão do art. 64 do Decreto Nº 3.048/99, na redação dada pelo Decreto Nº 10.410, dispõe:

Art. 64. A aposentadoria especial, uma vez cumprido o período de carência exigido, será devida ao segurado empregado, trabalhador avulso e contribuinte individual, este último somente quando cooperado filiado a cooperativa de trabalho ou de produção, que comprove o exercício de atividades com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou a associação desses agentes, de forma permanente, não ocasional nem intermitente, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupação, durante, no mínimo, quinze, vinte ou vinte e cinco anos, e que cumprir os seguintes requisitos: (Redação dada pelo Decreto nº 10.410, de 2020). (BRASIL, 2020).

Sendo assim, nenhum disposto exclui as categorias profissionais de adquirir o direito à Aposentadoria Especial. De forma ilegal e inconstitucional, o Regulamento da Previdência Social restringe a concessão de aposentadorias especiais somente para segurados empregados, avulsos ou cooperados, esses últimos quando na qualidade de contribuintes individuais, excluindo todas as demais categorias.

(DOMINGOS, 2020).

Conforme dispõe Carlos Domingues, “todas as categorias de segurados, com exceção do facultativo, possuem direito ao reconhecimento do tempo de trabalho na condição de especial, inclusive o segurado especial.” (DOMINGOS, 2020, p. 109).

Para tanto, basta fazer a prova de que seu labor foi desempenhado em condições

2 SUB – período 2012-2016,número de concessões para pessoas do sexo masculino e do que

feminino disponível em:

http://sa.previdencia.gov.br/site/2019/03/Informe-de-Previdencia-fevereiro-de-2019. Acesso em 06 mar. 2021.

prejudiciais à saúde ou à integridade física, pouco importando a qual categoria o segurado está filiado.

De acordo com os dados da Previdência Social, no período de 2012 a 2016, a Forma de Filiação dos segurados que obtiveram o direito à Aposentadoria Especial foi a seguinte:

Forma de filiação Frequência %

Sem vínculo na data de concessão 41.321 51,46%

Empregado 36.733 45,74%

Autônomo 1.839 2,29%

Trabalhador Avulso 169 0,21%

Outros 242 0,30%

Total 80.304 100%

Fonte: Informe da Previdência(2019).3

Conforme é possível observar, o número de segurados que obtiveram o benefício na condição de empregado e sem vínculo empregatício totalizam a marca de 97% das concessões.

Dentre os requisitos mínimos de concessão, está a carência, positivada no art. 24 da Lei Nº 8.213/91 e exige para as aposentadorias especiais 180 contribuições mensais. Aplica-se a regra de transição do art. 142 da Lei Nº 8.213/91

3 SUB – período 2012-2016, Forma de Filiação dos segurados que obtiveram o direito à

Aposentadoria Especial disponível em:

http://sa.previdencia.gov.br/site/2019/03/Informe-de-Previdencia-fevereiro-de-2019. Acesso em 06 mar. 2021.

aos segurados inscritos na Previdência Social antes da publicação da legislação previdenciária em comento, ocorrida em 24/07/1911. O referido artigo trouxe a tabela de transição que foi criada em razão da bruta alteração da carência, de 60 para 180 contribuições mensais após a Lei Nº 8.213/91. (LADENTHIN, 2018).

Para garantir o direito daqueles segurados que já estavam inscritos no sistema antes da referida alteração, o legislador ordinário criou essa regra de transição para que a carência pudesse ser alcançada mais cedo, respeitando as regras da época e aqueles que já estavam inscritos no sistema Previdenciário antes de ter sido alterada. Assim, “a tabela de transição passou a permitir que a carência fosse sendo completada conforme o ano do implemento dos requisitos para a aposentadoria.” (LADENTHIN, 2018 p. 40). Esta regra foi extinta em 2011, em razão de terem sido alcançadas as 180 contribuições mensais exigidas pela lei em vigor.

O período mínimo de carência são 180 contribuições mensais feitas pelo segurado mais a comprovação do tempo de serviço exigido em atividades prejudiciais à saúde. Sobretudo, o tempo de serviço deve ser disciplinado pela lei vigente à época em que efetivamente foi prestado, passando a integrar, como direito autônomo, o patrimônio jurídico do trabalhador. A lei nova que venha a estabelecer restrição ao cômputo do tempo de serviço não pode ser aplicada retroativamente, em razão da intangibilidade do direito adquirido. (CASTRO; LAZZARI, 2016).

De acordo com Adriane Bramante de Castro Ladenthin, é de causar estranheza a lei exigir expressamente carência, já que o segurado deve comprovar o tempo de trabalho exposto aos agentes agressivos. (LADENTHIN, 2018 p. 40).

Como o tempo mínimo para aposentadoria dos mineiros de subsolo é de 15 anos, estaria implicitamente cumprida a carência nesta e nas outras modalidades de aposentadorias especiais que exigem 20 ou 25 anos de contribuição. (LADENTHIN, 2018).

Na concepção de Carlos Domingos, para fins de carência, “consideram-se presumidos os recolhimentos das contribuições descontadas pela empresa dos segurados empregados, avulso e, a partir de abril de 2003, do contribuinte individual.'' (DOMINGOS, 2020, p. 110). O período de carência é contado a partir da data de filiação para os segurados empregados e avulsos. Já para o contribuinte individual, a partir do recolhimento da primeira contribuição sem atraso, com

exceção daqueles que tiverem o valor referente a sua contribuição descontado pela empresa tomadora de serviço.

Surge então, conforme Carlos Domingues, um problema em relação ao cooperado, em especial na esfera administrativa, pois a obrigatoriedade pela retenção e recolhimento da contribuição deste trabalhador é da cooperativa desde abril de 2003. (DOMINGUES, 2020). Por força do disposto do artigo 4º, §1º, da Lei Nº 10.666/03:

Art. 4º (...).

§1º. As cooperativas de trabalho arrecadam a contribuição social dos seus associados como contribuinte individual e recolherão o valor arrecadado até o dia 20 do mês subsequente ao de competência a que se referir, ou até o dia útil imediatamente anterior se não houver expediente bancário naquele dia. (BRASIL, 2003).

Logo, as contribuições do cooperado contribuinte individual retidas pela cooperativa gozam de presunção de recolhimento. Entretanto, é comum situações nas quais a entidade não efetuou o recolhimento, ou o realizou com atrasos, e a autarquia na seara administrativa deixa de computar tais períodos para fins de carência, ou emite exigências absurdas para convalidar tais contribuições, cabendo ao Judiciário reparar tal erro. (DOMINGOS, 2020).

Está positivado na Instrução Normativa 77/2015 os períodos que podem e que não podem ser considerados para efeitos de carência, respectivamente, cabendo destacar o decidido pelo STJ no Recurso Especial n. 1.414.439/RS, no sentido de ser devido ao cômputo dos períodos de percepção de benefícios por incapacidade, desde intercalados com períodos de atividades, para fins de carência. (DOMINGOS, 2020).

2.2 HABITUALIDADE E PERMANÊNCIA NÃO OCASIONAL E NÃO INTERMITENTE