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DA EXPOSIÇÃO AOS AGENTES NOCIVOS PREJUDICIAIS À SAÚDE OU A INTEGRIDADE FÍSICA

2 REQUISITOS NECESSÁRIOS À APOSENTADORIA ESPECIAL

2.3 DA EXPOSIÇÃO AOS AGENTES NOCIVOS PREJUDICIAIS À SAÚDE OU A INTEGRIDADE FÍSICA

Para a caracterização do tempo especial, faz-se necessário comprovar a efetiva exposição a agentes físicos, químicos e biológicos, prejudiciais à saúde ou associação de agentes. A NR-15, extraída do Manual de Aposentadoria Especial, Resolução INSS/DIRSAT número 600/17, traz os agentes nocivos que, se

comprovada a exposição e permanência, poderão ensejar direito à aposentadoria especial. (LADENTHIN, 2020).

Esses agentes estão dispostos em Decretos exemplificativos, dentre os principais está Quadro Anexo ao Decreto 53.831/1964, Quadro Anexo I do Decreto 83.080/1979, Quadro Anexo II do Decreto 83.080/1979, Quadro Anexo IV do Decreto 2.172/1997 e Quadro Anexo IV do Decreto 3.048/1999, todos regidos pelo princípio do tempus regit actum. Sobretudo, o INSS utiliza apenas os decretos e não a NR-15 para a análise da nocividade, já para o poder judiciário, esta lista torna-se exemplificativa, a teor da súmula 198 do extinto Tribunal Federal de Recursos.

(LADENTHIN, 2018).

Conforme define Tuffi Messias Saliba, os agentes físicos são diversas formas de energia a que possam estar expostos os trabalhadores. Já para a NR-09, agentes físicos são aqueles que podem ocasionar danos à saúde ou à integridade física, em razão de sua intensidade e exposição. Lembrando que eles podem variar de acordo com a vigência de cada Decreto. Dentre os agentes agressivos físicos, existe o frio, calor, umidade excessiva, vibração, pressão atmosférica anormal e o ruído. (SALIBA, 2018 apud LADENTHIN, 2018).

Em alguns agentes agressivos físicos, há parâmetros mínimos a serem comprovados para que haja o enquadramento do período especial. Portanto, é necessário que o segurado comprove a exposição ao agente e indique a intensidade de exposição deste agente. Esses parâmetros foram a própria legislação trabalhista CLT e as portarias ministeriais, que definiram critérios limitadores para o enquadramento da atividade especial. (DOMINGOS, 2020).

Dentre os agentes físicos – Frio, Calor, Umidade Excessiva, Vibração, Pressão Atmosférica Anormal – que podem ser reconhecidos como especiais, o Ruído é o de maior destaque. O mesmo, nada mais é do que um som originado por uma vibração mecânica que se propaga no ar e atinge a orelha. Quando essa vibração estimula o aparelho auditivo, ela é chamada de vibração sonora. Assim, “o som é definido como qualquer vibração ou conjunto de vibrações ou ondas mecânicas que podem ser ouvidas.” (SALIBA, 2018 apud LADENTHIN, 2018, p.

324).

Saliba ainda destaca que do ponto de vista da Higiene do Trabalho, “ruído é o fenômeno vibratório com características indefinidas de variações de pressão (no caso ar) em função da frequência,” (SALIBA, 2018 apud LADENTHIN, 2018, p. 324) isso é, para uma dada frequência, podem existir em forma aleatória através do tempo, variações diferentes de pressão.

A doença mais comum causada ao trabalhador que se expõe ao ruído excessivo é a chamada PAIR (Perda Auditiva Induzida por Ruído). Essa doença tem origem no ambiente de trabalho ocasionado pela exposição em ambientes ruidosos.

É irreversível. Não se trata de trauma acústico, mas de uma doença que vai diminuindo paulatinamente a audição do trabalhador. As consequências são a própria incapacidade auditiva e a desvantagem do indivíduo com relação a percepção da fala em ambientes ruidosos, televisão, rádio, cinema, teatro, sinais sonoros de alerta, músicas e sons ambientais. Além disso, a perda auditiva influencia em fatores psicossociais e ambientais. Dentre elas destacam-se o stress, ansiedade, isolamento, auto imagem pobre, as quais comprometem a relação do indivíduo com a família, no trabalho e na sociedade, prejudicando o desempenho das atividades cotidianas. Sem contar que o paciente sente um zumbido ininterrupto que o persegue incessantemente. (LADENTHIN, 2018).

Conforme a NR-094, os agentes químicos são substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo pela via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores, ou que, pela natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvidos pelo organismo através da pele ou por ingestão. Já o Manual caracteriza como produto químico ou agente químico, uma substância química pura, simples, tal como o cloro - Cl2, ou composta, como a água - H2O, ou ainda misturas. As misturas podem ser de líquidos, sólidos ou gases e mistas, com sólidos e líquidos ou gases e líquidos.

(LADENTHIN, 2020).

O Manual de Aposentadoria Especial, cita os agentes químicos como sendo

“qualquer material com uma composição bem definida que não se consegue separar por qualquer método mecânico ou físico e que mantém as mesmas características

4 NR-09 Norma Regulamentadora 09 responsável pela avaliação e controle das exposições ocupacionais a agentes físicos, químicos e biológicos. Disponível em http://www.normaslegais.com.br/legislacao/trabalhista/nr/nr9.htm, aceso em 24 jun. 2021.

físicas e químicas em qualquer amostra obtida.” (BRASIL, 2018, p.32). A exposição ocupacional se dá geralmente em recintos fechados, como fábricas e armazéns, onde os trabalhadores podem expor-se durante período prolongado às diferentes substâncias, como: metais, inseticidas, entre outros.

A nocividade do agente químico é uma propriedade intrínseca, está associada ao conceito de perigo ou potencial de causar danos e ocorrerá somente se houver a exposição. Se não houver exposição, não há risco. (BRASIL, 2018). O Manual de Aposentadoria Especial expõem vários fatores nos sob os quais a comprovação do agente químico é dependente:

I - atividade ou tarefa executada;

II - área ou local de trabalho;

III - movimentação dos trabalhadores pelos locais de trabalho;

IV - movimentação dos materiais que são fontes de gases, vapores e poeiras; V - condições de ventilação;

VI - ritmo de produção; e

VII - presença de outros agentes que produzem sinergia ou antagonismo, assim como a quantidade e a qualidade do agente. (BRASIL, 2018, p. 32).

O enquadramento dos agentes químicos está previsto no Decreto Nº 3.048/99, códigos 1.0.0 a 1.0.19, Anexo IV, NR-15, Anexo XI e XIII, que dispõem os principais agentes químicos, como arsênio, carvão, chumbo, cromo, fósforo, hidrocarbonetos aromáticos, mercúrio, silicatos, substâncias cancerígenas, benzeno, dentre os quais estão codificados nos supracitados anexos, bem como expostos seus níveis de aferição de especialidade. Conforme NR-15 do MTE, a avaliação das concentrações dos agentes químicos é realizada por meio de métodos de amostragem instantânea, de leitura direta ou não, devendo ser feitas pelo menos em dez amostragens, para cada ponto, ao nível respiratório do trabalhador. Entre cada uma das amostragens deverá haver um intervalo de, no mínimo, vinte minutos.

(LADENTHIN, 2020).

Segundo a NR-09 da Portaria MTb. No 3.214/1978, os agentes biológicos são bactérias, fungos, bacilos, parasitas, protozoários, vírus, entre outros. E pela NR- 32 da mesma portaria, os agentes biológicos são os micro-organismos, geneticamente modificados ou não, as culturas de células, os parasitas, as toxinas e os príons.

Risco biológico é a probabilidade da exposição ocupacional a agentes biológicos.

(LADENTHIN, 2020).

O Manual de Aposentadoria Especial explica que as fontes de exposição incluem as pessoas, animais, objetos ou substâncias que abrigam agentes biológicos, a partir dos quais se torna possível a transmissão a um hospedeiro ou a um reservatório. Este agente nocivo pode ser encontrado em hospitais, laboratórios, estábulos, gabinetes de autópsia, coleta industrial de lixo, entre outros, por isso não há limites de tolerância para estes agentes e seu critério de nocividade é qualitativo.

(LADENTHIN, 2020).

A via de transmissão é o percurso feito pelo agente biológico a partir da fonte de exposição até o hospedeiro. A transmissão pode ocorrer das seguintes formas:

De forma direta - transmissão do agente biológico sem a intermediação de veículos ou vetores. Exemplos: transmissão aérea por bioaerossóis, transmissão por gotículas e contato com a mucosa; ou de forma indireta -transmissão do agente biológico por meio de veículos ou vetores. Exemplos:

transmissão por meio de mãos, perfurocortantes, luvas, roupas, instrumentos, vetores, água, alimentos e superfícies. Vias de entrada são os tecidos ou órgãos por onde um agente penetra em um organismo, podendo ocasionar uma doença. A entrada pode ser por via cutânea ou percutânea (por contato direto com a pele, com ou sem lesões, por acidente com agulhas e vidraria, na experimentação animal por arranhões e mordidas), parenteral (por inoculação intravenosa, intramuscular, subcutânea), por contato direto com as mucosas, por via respiratória (por inalação, em aerossóis) e por via oral (por ingestão). (LADENTHIN, 2018, p. 107).

O raciocínio que se deve fazer na análise dos agentes biológicos é diferente do que comumente se faz para exposição aos demais agentes, pois não existe

“acúmulo” da exposição prejudicando a saúde e sim uma chance de contaminação.

O risco de contaminação está presente em qualquer estabelecimento de saúde e o critério de permanência se correlaciona com a profissiografia. (LADENTHIN, 2020).

De acordo com Adriane Bramante de Castro Ladenthin, não há EPI eficaz para agentes biológicos, recomenda-se fazer prova documental dessa ineficácia, pois na redação atual do Manual da Aposentadoria Especial, para descaracterizar a nocividade desses casos, deverá ficar comprovado que o EPI eliminou totalmente a probabilidade de exposição, evitando a contaminação dos trabalhadores por meio do estabelecimento de uma barreira entre o agente infecto contagioso e a via de absorção (respiratória, digestiva, mucosas, olho, dermal). Não havendo o desempenho adequado da eliminação do EPI, e a possibilidade de absorção de micro-organismos pelo trabalhador, a exposição estará efetivada, podendo-se

desencadear doenças infecciosas, sendo assim, o EPI não será considerado eficaz pela perícia médica.(LADENTHIN, 2020).

Na legislação previdenciária, a associação de agentes físicos, químicos e biológicos se refere exclusivamente à exposição aos agentes combinados nas atividades especificadas nos Anexos dos seus diversos Decretos. (LADENTHIN, 2020). O termo Associação de Agentes apareceu inicialmente com a publicação do Decreto Nº 83.080/1979:

Anexo I, código 1.2.11: “outros tóxicos: associação de agentes”, nas atividades ali especificadas: fabricação de flúor e ácido fluorídrico, cloro e ácido clorídrico e bromo e ácido bromídrico; aplicação de revestimentos metálicos, eletroplastia, compreendendo: niquelagem, cromagem, douração, anodização de alumínio e outras operações assemelhadas atividades discriminadas no código 2.5.4 do Anexo II): pintura a pistola - associação de solventes e hidrocarbonetos e partículas suspensas (atividades discriminadas entre as do código 2.5.3 do Anexo II); trabalhos em galerias e tanques de esgoto - monóxido de carbono, gás metano, gás sulfídrico e outros); solda elétrica e a oxiacetileno (fumos metálicos); indústrias têxteis:

alvejadores, tintureiros, lavadores e estampadores a mão. (BRASIL, 1979).

Na associação de agentes não há EPI eficaz, devendo ser reconhecida a atividade como especial, independentemente da informação de EPIs ou EPCs. A metodologia, não tem como ser pela NHO, pois não traz nenhuma regulamentação técnica desses casos. (LADENTHIN, 2020).

Sendo assim, a caracterização dos agentes nocivos se fazem necessários para o cômputo do período especial. Para ter a atividade reconhecida como insalubre para fins de aposentadoria, a atividade desenvolvida precisa estar em exposição aos agentes supracitados. Portanto, diante da explanação da necessidade de tempo mínimo de contribuição e carência, a conceituação de habitualidade e permanência com análise qualitativa e quantitativa dos agentes nocivos, no capítulo seguinte será estudado a Aposentadoria Especial após a reforma da Previdência e todas as mudanças aplicadas a ela.

3 APOSENTADORIA ESPECIAL (RGPS) APÓS A REFORMA DA PREVIDÊNCIA