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Direito ao meio ambiente equilibrado como direito fundamental e teoria dos limites dos limites

LIMITES FORMAIS

8. OS LIMITES DA FUNÇÃO NORMATIVA DO PODER EXECUTIVO NO SUBSISTEMA DO DIREITO AMBIENTAL

8.2. Direito ao meio ambiente equilibrado como direito fundamental e teoria dos limites dos limites

Impõe-se partir da premissa de que o direito ao meio ambiente equilibrado enquadra-se como um direito fundamental. Não se pode pensar na defesa e desenvolvimento da saúde e da vida, por exemplo, de forma

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Foi excluída Resolução que versava apenas sobre aspecto interno das reuniões do CONAMA.

dissociada do meio ambiente equilibrado.

Nesse mesmo sentido, a exploração sustentável dos recursos naturais subsidia o desenvolvimento econômico e coaduna com a vedação ao retrocesso.

A vida deve ser um caminhar para frente. O direito ao meio ambiente equilibrado agasalha o princípio da dignidade da pessoa humana, não se restringindo a tutelar os interesses das gerações presentes, mas assegurando a existência digna e a fruição dos recursos naturais pelas gerações futuras.

Mais que conferir acesso aos recursos pelos cidadãos de hoje ou de amanhã, como direito fundamental, exige uma prestação estatal positiva no sentido de concretizá-lo, desenvolvê-lo e conformá-lo às necessidades de seus destinatários, protegendo seu núcleo intangível nos casos de conflitos.

Em seus estudos, anota José Adércio Leite Sampaio (2003), o direito ao meio ambiente é fundamental e estruturalmente aberto, pois exige de todos um dever de configuração e de efetividade.

O Supremo Tribunal Federal já apreciou a matéria, assim como nossos Tribunais Estaduais e o próprio Superior Tribunal de Justiça, sendo reiteradas as decisões que confirmam a sua estatura de direito fundamental. A propósito:

"Meio ambiente – Direito à preservação de sua integridade (CF, art. 225) – Prerrogativa qualificada por seu caráter de metaindividualidade – Direito de terceira geração (ou de novíssima dimensão) que consagra o postulado da solidariedade – Necessidade de impedir que a transgressão a esse direito faça irromper, no seio da coletividade, conflitos intergeneracionais – Espaços territoriais especialmente protegidos (CF, art. 225, § 1º, III) – Alteração e supressão do regime jurídico a eles pertinente – Medidas sujeitas ao princípio constitucional da reserva de lei – Supressão de vegetação em área de preservação permanente – Possibilidade de a administração pública, cumpridas as exigências legais, autorizar, licenciar ou permitir obras e/ou atividades nos espaços territoriais protegidos, desde que respeitada, quanto a estes, a integridade dos atributos justificadores do regime de proteção especial – Relações entre economia (CF, art. 3º, II, c/c o art. 170, VI) e ecologia (CF, art. 225) – Colisão de direitos fundamentais – Critérios de superação desse estado de tensão entre valores constitucionais relevantes – Os direitos básicos da pessoa humana e as sucessivas gerações (fases ou dimensões) de direitos (RTJ 164/158, 160-161) – A questão da precedência do direito à preservação do meio

atividade econômica (CF, art. 170, VI) – Decisão não referendada – consequente indeferimento do pedido de medida cautelar. A preservação da integridade do meio ambiente: expressão constitucional de um direito fundamental que assiste à generalidade das pessoas. 284

Suspensão de tutela antecipada. Importação de pneumáticos usados. Manifesto interesse público. Grave lesão à ordem e à saúde públicas. (...) Importação de pneumáticos usados. Manifesto interesse público. Dano ambiental. Demonstração de grave lesão à ordem pública, considerada em termos de ordem administrativa, tendo em conta a proibição geral de não importação de bens de consumo ou matéria-prima usada. Precedentes. Ponderação entre as exigências para preservação da saúde e do meio ambiente e o livre exercício da atividade econômica (art. 170 da CF). Grave lesão à ordem pública, diante do manifesto e inafastável interesse público à saúde e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225 da CF). Precedentes. Questão de mérito. Constitucionalidade formal e material do conjunto de normas (ambientais e de comércio exterior) que proíbem a importação de pneumáticos usados. Pedido suspensivo de antecipação de tutela recursal. (...) Impossibilidade de discussão na presente medida de contracautela.”285

Como se verifica, até mesmo pelo teor das ementas dos Acórdãos do Supremo Tribunal Federal, o legislador infraconstitucional possui um papel fundamental na tutela do direito ao meio ambiente equilibrado, como o tem o Judiciário e o Executivo.

As conformações de seu conteúdo estruturalmente aberto permitem que ele seja aplicado sem incorrer em colisão frontal, por exemplo, ao livre exercício de atividade econômica, ou, quando muito, por meio de limitações necessárias, proporcionais e adequadas.

Assim, aplica-se ao meio ambiente equilibrado a teoria dos limites dos limites acima referida, permitindo ao Legislativo, o Executivo e o Judiciário, no exercício de suas funções, respeitar o seu núcleo intangível.

Tal como ocorre nos direitos sociais, o direito ao meio ambiente

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BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 3.540-MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 01/09/2005, Plenário, DJ de 03/0-2/-2006. Acessado em 18/01/2012.

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BRASIL. Supremo Tribunal Federal. STA 171-AgR, Rel. Min. Presidente Ellen Gracie, julgamento em 12/12/2007, Plenário, DJE de 29/02/2008. Acessado em 18/01/2012.

equilibrado exige uma prestação estatal ativa, importando a sua realização na maior medida do possível, buscando desenvolver a preservação e/ou intervenção nos recursos naturais por meio da aplicação da regra de proporcionalidade e suas subregras de adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito.

A definição de seu núcleo essencial exige a análise do caso, com suas circunstâncias fáticas e jurídicas, a fim de que seja definido o conteúdo mínimo que deverá corresponder aos exatos limites do que é possível realizar no contexto experimentado e diante dos conflitos de interesses.

As balizas acima referidas para mitigar a ampla flexibilidade da concepção relativa do núcleo essencial são instrumentos objetivos que devem afastar os abusos (excessos) e a insuficiente proteção.

A jurisprudência tem enfrentado esse desafio: vencer os conflitos entre direitos fundamentais, como o meio ambiente equilibrado e a livre iniciativa, definindo a proteção de um núcleo essencial aliado a princípios próprios do regime jurídico-ambiental, como o princípio da prevenção e precaução, do desenvolvimento sustentável e in dubio pro meio ambiente.

Existem casos emblemáticos que já podem ser citados a título de exemplo quanto a zona de conflito entre o direito ao meio ambiente equilibrado e a proteção das manifestações culturais, bem como em relação ao direito de propriedade, dentre outros. Em tais casos, o Judiciário exerceu o juízo de sopesamento, definindo o conteúdo essencial a ser protegido.

Cite-se, por exemplo, a controvérsia acerca da “farra do boi”. Verdadeira tradição dos catarinenses, a festa é por muitos considerada como maus tratos aos animais, já que, nela, as pessoas saem às ruas em disparada para matar um boi. Segundo o Supremo Tribunal Federal, tal prática violaria o disposto na Constituição da República de 1988, artigo 225, §1º, inciso VII.286

O confronto entre o direito ao meio ambiente equilibrado e o direito de propriedade, por outro lado, evidenciou-se no caso da criação de Reserva Florestal na Serra do Mar, atingindo inúmeros proprietários rurais. Ao mesmo

286

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RE n. 153.531-SC. Rel. Ministro Marco Aurélio. DJ 1, p. 13, 13/03/1998.

estabelecimento de restrições pelo Estado, entendeu como devido o pagamento de indenizações referentes aos prejuízos sofridos pelos proprietários rurais a partir da implantação da medida287.

Brevemente descritos, tais casos ilustram bem a busca do Poder Judiciário pela definição de um asilo de proteção dos direitos fundamentais, a fim de afastar o seu esvaziamento e até mesmo sua extinção.

Desse modo, o núcleo essencial do direito ao meio ambiente equilibrado é definido sob o enfoque relativista, exercendo o Poder Judiciário, o Executivo e o Legislativo, em suas respectivas funções, a necessária conformação e aplicação com fincas a prevenir ou resolver conflitos em relação a outros direitos.

O seu conteúdo mínimo deve ser sempre o resultado do exercício de proporcionalidade em sentido estrito, de adequação e de necessidade, afinado à proteção da dignidade da pessoa humana em relação às gerações presentes e futuras.

8.3. A Constituição da República de 1988, Lei Complementar nº 140/2011

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