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As dúvidas, questões e expectativas que se têm colocado no nosso ordenamento não são exclusivas do solo nacional, havendo ordenamentos que já deram passos decisivos no sentido de regular o bem-estar dos animais, aprofundando a sua protecção e tutela, e outros onde a questão está longe de estar resolvida e tem ainda um tratamento legal insipiente.

No sentido de comparar a legislação e procedimentos de diferentes ordenamentos jurídicos sobre a protecção e o bem-estar animal seleccionámos alguns países próximos e outros mais distantes - quer do ponto de vista jurídico quer do ponto de vista cultural. Assim, debruçar- nos-emos em particular sobre a legislação e regulamentação animal nos seguintes países: Áustria, Alemanha, Suíça, França, Bélgica, Itália, Espanha, Brasil, EUA, India e China. Comparando estas diferentes jurisdições podemos constatar diferenças e semelhanças, mas como salienta David Favre96, as melhorias ao nível do bem-estar animal não ocorreram através do sistema legal, mas das discussões sociais sobre questões relacionadas com o bem- estar animal.

O nível de protecção e reconhecimento concedido aos animais através das Constituições varia muito de país para país. Algumas constituições têm muitas disposições enquanto outras

96 Professor de Direito na Michigan State College of Law (USA) e responsável pela coordenação do portal da

Michigan State University College sobre Direito Animal. Afirmação proferida no V Congresso Mundial de Bioética e Direito Animal, realizado entre 26 e 28 de Outubro de 2016, na sede da OAB do Paraná, e promovido pelo Instituto Abolicionista Animal e pela Ordem dos Advogados do Brasil. Neste Congresso, especialistas de diferentes países, dos quais destacamos Alemanha, Suíça, Estados Unidos, Espanha, Chile, Paraguai e Argentina abordaram as leis de proteção animal na Europa, nos Estados Unidos e na América do Sul. Esta e outras afirmações podem ser consultadas em: http://www.oabpr.com.br/Noticias.aspx?id=23752 (acesso a 18.04.2017).

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podem conter apenas uma única disposição; algumas referem que todos os animais são merecedores de protecção, enquanto outras preocupam-se apenas com espécies raras ou nativas. As Constituições de muitos países enfatizam a importância da protecção das espécies como recursos e bens nacionais, enquanto outras vêem os animais como merecedores de protecção por direito próprio.

Segundo Gabriela Carvalho97 poucos países do mundo referem os animais nas suas constituições - o Brasil, a Suíça, a Alemanha, a Índia e a Sérvia estão entre eles, destacando ainda que “nos últimos anos observamos que o ordenamento jurídico está se adaptando a

novos conhecimentos científicos e novos anseios sociais à relação com os animais. Por exemplo, vários países reconhecem de forma expressa os animais como seres sencientes e sensíveis (…). No Brasil e na Suíça, o constituinte se preocupou em regulamentar a relação do homem com os animais e fez a tutela dos animais um objectivo estatal, um princípio constitucional”. 98

Nos países que «obrigam» os cidadãos a desempenhar um papel na protecção dos animais, transformando a protecção dos animais numa verdadeira matéria de cidadania, encontra-se Cuba, India, Hungria, Quirguistão e Sérvia.99

Os ventos da mudança da compreensão do papel que os animais ocupam no nosso mundo têm soprado de todos os cantos do globo. A este respeito há que referir que muito recentemente a chimpanzé «Cecília» tornou-se o primeiro não-humano a usufruir de um pedido de habeas corpus100, quando todas as outras tentativas de libertação de grandes primatas em cativeiro (no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa) por este meio foram sempre recusadas.

97 Da Universidade de Freiburg; afirmação igualmente proferida no V Congresso Mundial de Bioética e Direito

Animal.

98 A respeito destes dois países, referiu ainda que a legislação de proteção dos animais tem dois objetivos

fundamentais: a tutela do bem-estar animal e a tutela da dignidade animal, esclarecendo que “o bem-estar

refere-se a uma vida livre de dor e medo, com a possibilidade de se comportar e desenvolver de acordo com as características de cada espécie. Já o conceito de dignidade vai além da proteção contra dor e sofrimento e refere-se à própria existência do animal”.

99 De acordo com quadro intitulado Animal Protection in World Constitutions, datado de Outubro de 2014,

disponível em: http://worldanimal.net/our-programs/constitution-project-resources/constitutions-chart (acesso a 16.04.2017)

100 O pedido do Habeas Corpus foi feito pela ONG argentina AFADA (Associacion de Funcionarios y Abocados

pelos Derechos de los Animales à Justiça), com o argumento que a chimpanzé era um sujeito de direito, e não um objeto, além de que se encontrava em péssimas condições de cativeiro no jardim zoológico onde era mantida. O processo correu durante mais de um ano na justiça argentina até que a Juíza Maria Alejandra Maurício, de Mendoza, concedeu o pedido e determinou a transferência de Cecília para um santuário brasileiro. Mais informações podem ser encontradas aqui: http://www.projetogap.org.br/noticia/chimpanze-libertada-por- habeas-corpus-e-transferida-de-zoologico-argentino-para-santuario-de-grandes-primatas-afiliado-ao-projeto- gap-em-sao-paulo/ (acesso a 16.04.2017)

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Esperamos que no fim desta breve tentativa de alargamento dos nossos «horizontes» jurídicos estejamos em melhores condições de analisar objectivamente a recente legislação nacional e as suas implicações.

Áustria

A Áustria foi o primeiro país a aprovar, em 1988, uma lei que, adicionando os § 285.a e 1332.a ao Código Civil101, regulamentou um estatuto jurídico próprio para os animais, diferente do das coisas.

Foi aprovada a «Federal Law of 10 March 1988 on The legal position of animals»102, aditando o § 285a que prevê que: “Animals are not things; they are protected by special laws.

The provisions in force for the things apply to animals only if no contrary regulation exists.”

Foi também aditado o § 1332ª, que dispõe que “If an animal is injured, pay the actual cost of

healing or the attempted cure even when they exceed the value of the animal, as if an informed animal keeper put in the situation of the injured party, would do”.103

Na «Federal Constitutional Law – B-VG»104, estabelece-se que legislar sobre a protecção dos animais (desde que não esteja federalmente atribuída através de outra regulamentação, e excluindo as matérias da caça e a pesca) é da competência da Federação (artigo 11.º (1) 8.). Já o «Federal Act on the Protection of Animals»105, dispõe no § 1. que: “This Federal Act

aims at the protection of the life and well-being of animals based on man’s special responsibility for the animal as a fellow creature.”106

101 No original, “Allgemeines Bürgerliches Gesetzbuch ABGB”. Disponível em: https://www.ris.bka.gv.at/GeltendeFassung.wxe?Abfrage=Bundesnormen&Gesetzesnummer=10001622 (acesso a 02.02.2017)

102 Tradução livre nossa. No original “Bundesgesetz vom 10. März 1988 über die Rechtsstellung von Tieren” 103 Tradução livre nossa. No original § 285a: “Tiere sind keine Sachen; sie werden durch besondere Gesetze

geschützt. Die für Sachen geltenden Vorschriften sind auf Tiere nur insoweit anzuwenden, als keine abweichenden Regelungen bestehen” e § 1332ª.: Wird ein Tier verletzt, so gebühren die tatsächlich aufgewendeten Kosten der Heilung oder der versuchten Heilung auch dann, wenn sie den Wert des Tieres übersteigen, soweit auch ein verständiger Tierhalter in der Lage des Geschädigten . diese Kosten aufgewendet hätte”.

104 Disponível em https://www.ris.bka.gv.at/Dokumente/Erv/ERV_1930_1/ERV_1930_1.pdf (acesso a

02.02.2017)

105 No original “Bundesgesetz über den Schutz der Tiere (Tierschutzgesetz – TSchG)”, emitido em 2004 e

disponível em: https://www.ris.bka.gv.at/Dokumente/Erv/ERV_2004_1_118/ERV_2004_1_118.pdf (acesso a 02.02.2017)

106 No original: “Ziel dieses Bundesgesetzes ist der Schutz des Lebens und des Wohlbefindens der Tiere aus der

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Prescreve, logo de seguida, no § 2., as obrigação das restantes entidades administrativas na prossecução dos objectivos de protecção animal, prescrevendo que: “The federal, provincial

and municipal authorities are obligated to create and deepen understanding for animal protection on the part of the public and in particular on the part of youth and, to the extent possible within their budgets, to promote and support animal-friendly keeping systems, scientific animal protection research as well as any matters of animal protection” e

esclarecendo que esta lei (com exclusão do § 7. a 11. e Capítulo 2, com exceção do § 32., são aplicáveis apenas para vertebrados, cefalópodes e decápodes) é aplicavel a todos os animais. No que toca à protecção dos animais, o § 5. (1) estabelece que “It is prohibited to inflict

unjustified pain, suffering or injury on an animal or expose it to extreme anxiety”,

desenvolvendo nos pontos seguintes quais os comportamentos que se incluem na previsão. Destacamos, que é, designadamente, proibida a organização de lutas, a negligência no que respeita à acomodação, alimentação e cuidados de um animal, o abandono, a exposição a temperaturas, condições meteorológicas, falta de oxigénio ou a restrição da movimentação livre que inflija dor, sofrimento ou ansiedade ao animal, e que, nos termos do § 6. (1) “It is

prohibited to kill animals without proper reason”, prosseguindo o (2) “It is prohibited to kill dogs or cats for the purpose of manufacturing food or other products”.

Alguns outros preceitos merecem destaque, como o que proíbe as operações de corte de caudas, orelhas, retirada de garras ou presas (§ 7.), o que obriga à prestação de primeiros socorros ou de providenciar que estes sejam prestados por aquele que colocar em risco a integridade física de um animal (§ 9.) e o que prescrevem quais as qualificações necessários do detentor do animal (§ 12.).107

Em termos de sanções dispõe o § 38., que quem infligir dor nos termos do § 5., matar animal nos termos do § 6., realizar uma operação contrária ao disposto no §7 ou violar o §8, comete uma infracção administrativa, que deve ser punida com multa até 7.500€ (até 15.000€ se reincidente). Se estiver em causa uma situação de grave crueldade para com os animais a multa não deve ser inferior a 2.000€ e a tentativa é punível. No entanto, em qualquer dos

107 Assim dispõe o § 12. “(1) Everybody capable of complying with the provisions of this Federal Act and the

regulations based on it and in particular also in possession of the necessary knowledge and capabilities, is authorized to keep animals. (2) If the keeper of an animal is not able to provide for keeping an animal in accordance with this Federal Act, he shall pass it on to such associations, institutions or persons who are able to provide for keeping the animal in compliance with the provisions of this Federal Act. (3) Minors of less than 14 years of age are not allowed to obtain animals without the consent of their legal guardian.” Prossegue até ao § 23. com normas respeitantes aos cuidados a ter no que toca à acomodação de animais, à sua alimentação, reprodução, etc.

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actos definidos nos §1. a §3. que, de acordo com a jurisdição dos tribunais, seja penalmente punido, não deve ser considerado como ofensa administrativa. É ainda possível que, de forma cumulativa, transitória ou permanentemente, alguém seja impedido de deter animais ou de deter animais de determinada espécie.

Consideração merece ainda o «Federal Constitutional Act on sustainability, animal

protection, comprehensive environmental protection, on water and food security as well as research»108 que no § 2. do preâmbulo estabelece que “The Republic of Austria (federal

government, federal provinces and municipalities) is committed to animal protection”.

Alemanha

A Alemanha pertence, tal como a Áustria, ao restrito número de países cuja legislação de protecção dos animais cobre três elementos fundamentais, associando uma previsão constitucional específica, normas civis que atribuem estatuto jurídico aos animais e a uma legislação base de protecção do bem-estar animal.

Assim, o artigo 20.º-A109 da «Grundgesetz für die Bundesrepublik Deutschland»110, afirma que “Der Staat schützt auch in Verantwortung für die künftigen Generationen die natürlichen

Lebensgrundlagen und die Tiere im Rahmen der verfassungsmäßigen Ordnung durch die Gesetzgebung und nach Maßgabe von Gesetz und Recht durch die vollziehende Gewalt und die Rechtsprechung.”111112

108 No original “Bundesverfassungsgesetz über die Nachhaltigkeit, den Tierschutz, den umfassenden

Umweltschutz, die Sicherstellung der Wasser- und Lebensmittelversorgung und die Forschung”, emitido em

2013 e disponível em: https://www.ris.bka.gv.at/Dokumente/Erv/ERV_2013_1_111/ERV_2013_1_111.pdf

(acesso a 02.02.2017).

109 Esta versão, com referência expressa aos animais foi introduzida em 2002. De acordo com Claudia E. Haupt

(International and Comparative Law fellow at The George Washington University, Law School: “After German

unification in 1990, changes to the Basic Law were discussed, and a committee that also gathered input from the German public was established for this purpose. The committee received 170,000 requests from citizens concerning animal protection and the preservation of fellow creatures. This amounted to the second-highest number of requests on a single issue. Although only a few changes were made beyond “structural changes necessary to reflect the actual mechanics of unification,” one new addition was the original version of Article 20a. The provision initially contained no reference to animals but focused solely on environmental protection. (…) However, the clause did not provide for the protection of individual animals. The later constitutional amendment, adding the words “and the animals” to Article 20a, was a response to the ritual slaughter decision of the Federal Constitutional Court” (Haupt, 2010, p. 219)

110 Disponível em: https://www.gesetze-im-internet.de/gg/art_20a.html (acesso a 01.02.2017)

111 De acordo com a tradução oficial: «Basic Law for the Federal Republic of Germany», sendo a epigrafe do

artigo 20.º traduzida para «Protection of the natural foundations of life and animals» e o seu conteúdo para: “Mindful also of its responsibility toward future generations, the state shall protect the natural foundations of

life and animals by legislation and, in accordance with law and justice, by executive and judicial action, all within the framework of the constitutional order.” Tradução oficial disponível em: https://www.gesetze-im- internet.de/englisch_gg/englisch_gg.html#p0116 (acesso a 01.02.2017).

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Já o «Bürgerliches Gesetzbuch» (BGB)113 prevê no § 90a, incluído na Divisão II, referente às «Coisas e Animais» e epigrafado de «Animais» que: “Tiere sind keine Sachen. Sie werden

durch besondere Gesetze geschützt. Auf sie sind die für Sachen geltenden Vorschriften entsprechend anzuwenden, soweit nicht etwas anderes bestimmt ist.”114115

Ainda no BGB, merecem a nossa referência o § 903 relativo aos poderes do proprietário que prevê que no que respeita aos animais e quando exerça os seus poderes de propriedade, o dono teve ter em conta as disposições específicas relativas à protecção dos animais116, bem como o § 960, referente à apropriação de animais selvagens, que estabelece que os animais selvagens não têm dono, que se tiverem dono e escaparem, ficam sem dono e que se um animal domesticado deixar de regressar ao local para este determinado, fica sem dono117,

claramente procurando proteger a liberdade dos animais selvagens.

Uma última nota para esclarecer que também em termos de penhora, de acordo com o ZPO, os animais que não sirvam propósitos económicos, não podem ser objecto de penhora.118 No que toca à legislação de protecção do bem-estar animal «Tierschutzgesetz»119, esta foi adoptada no ano de 2006, tendo tido a última alteração em Julho de 2013120. Este diploma

112 Nos termos do artigo 74.º da Constituição Federal Alemã, legislar sobre a protecção dos animais é

competência concorrente dos estados federais (Länder) e da Federação.

113 Disponível em: https://www.gesetze-im-internet.de/bgb/__90a.html (acesso a 01.02.2017)

114 De acordo com a tradução oficial, disponível em https://www.gesetze-im-internet.de/englisch_bgb/ :

“Animals are not things. They are protected by special statutes. They are governed by the provisions that apply

to things, with the necessary modifications, except insofar as otherwise provided.” (acesso a 01.02.2017).

115 Este preceito foi introduzido a 20 de Agosto de 1990 através da «Gesetz zur Verbesserung der Rechtsstellung

des Tieres im bürgerlichen Recht» (Law to improve the legal position of the animal in civil law). Disponível em:

https://goo.gl/ogVEMd (acesso a 02.02.2017).

116 Nos termos da tradução oficial disponível em https://www.gesetze-im- internet.de/englisch_bgb/englisch_bgb.html#p3699 : “Section 903 - Powers of the owner - The owner of a thing

may, to the extent that a statute or third-party rights do not conflict with this, deal with the thing at his discretion and exclude others from every influence. The owner of an animal must, when exercising his powers, take into account the special provisions for the protection of animals.” (acesso a 01.02.2017)

117 Recorrendo novamente à tradução oficial para inglês (https://www.gesetze-im- internet.de/englisch_bgb/englisch_bgb.html#p3864): “Section 960 - Wild animals - (1) Wild animals are

ownerless as long as they are free. Wild animals in zoos and fish in ponds or other self-contained private waters are not ownerless. (2) Where a captured wild animal regains freedom, it becomes ownerless if the owner fails to pursue the animal without undue delay or if he gives up the pursuit. (3) A tamed animal becomes ownerless if it gives up the habit of returning to the place determined for it.” (acesso a 01.02.2017)

118 Assim, a secção 811 (n.º 3) e 811c do Zivilprozessordnung (ZPO), disponível em: https://www.gesetze-im- internet.de/zpo/__811.html (acesso a 01.02.2017)

119 Disponível em e com acesso a 01.02.2017:

http://www.cgerli.org/fileadmin/user_upload/interne_Dokumente/Legislation/TierSchG2011.pdf

120 A última alteração do «Animal Welfare Act» veio introduzir algumas melhorias a este regime, alargando a

diferentes espécies de animais e dando especial atenção aos animais de laboratório e à experimentação animal (a Alemanha já havia banido a experimentação em animais para a industria cosmética) e procurando banir a «reprodução em agonia». Esta lei foi promulgada a 12 de Julho de tendo entrado em vigor em 13 de Julho de 2013. Mais informações disponíveis em:

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começa desde logo por estabelecer que os seres humanos têm uma responsabilidade para com as criaturas, enquanto seus semelhantes, afirmando que ninguém pode causar dor, sofrimento ou dano a um animal sem que para tal exista uma boa razão.

São estabelecidas as obrigações a cargo do proprietário ou detentor e consagrando que este deve ter conhecimentos específicos e fornecer comida, cuidado, abrigo e liberdade de movimentos de acordo com as especificidades do animal.

Dispõe ainda, que os vertebrados apenas podem ser mortos se antes atordoados ou de forma indolor e que, caso a morte sem atordoamento seja autorizada, como no caso da caça, devem ser mortos com não mais do que a dor necessária, acrescentando que apenas pessoas com o conhecimento e as capacidades podem matar vertebrados.

Dispõe, ainda, que as operações dolorosas apenas podem ser levadas acabo após o animal ter sido anestesiado (Secção 5) e que as amputações são, em geral, proibidas, excepto se for com indicação veterinária ou se em cães de caça e não houver contra-indicação veterinária.

O diploma regula ainda várias outras matérias, desde a experimentação animal até disposições sobre o transporte de animais121, estabelecendo ainda as sanções associadas à violação das normas previstas.

Para o que nos interessa, é punido com pena de prisão até três anos ou pena de multa, quem matar um vertebrado sem uma boa razão ou lhe causar dor ou sofrimento consideráveis apenas por crueldade, ou lhe infligir dor ou sofrimento repetido ou persistentes. Incorre ainda em multa até 25.000 euros aquele que, intencional ou negligentemente, infligir dor severa, sofrimento ou dano sem uma boa razão a um vertebrado que detém, do qual cuida ou do qual está obrigado a cuidar.

É incontornável notar que a protecção não se restringe aos animais de companhia, mas a todos os animais, ainda que com especial atenção aos animais vertebrados. De facto, é a única forma de não esvaziar de sentido o próprio artigo 20.ºA da Constituição Federal, uma vez que seria difícil de justificar que, no âmbito da responsabilidade pelas futuras gerações, os

https://www.bmel.de/EN/Animals/AnimalWelfare/_Texte/Versuchtierrichtline_Tierschutzgesetz.html (acesso a 01.02.2017)

121 Por se afastarem do objectivo fundamental desta dissertação, não abordaremos o desenvolvimento das

restantes matérias, mas não deixa de ser útil conhecer a «tábua de matérias»: Parte V – Experimentação Animal; Parte VI - Operações e tratamento para fins de educação, formação e aperfeiçoamento; Parte VII - Operações e tratamento para o fabrico, produção, armazenagem e propagação de substâncias, produtos ou organismos; Parte