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1 Direito de Informação

1.2 Direito de se informar

O direito de informar, como estudado no capítulo anterior, relaciona-se com a própria liberdade de expressão, já o direito de se informar diz respeito à liberdade de procurar informação, ou seja, a garantia de coletar dados, de procurar fontes, sem que haja qualquer impedimento.

Nesse sentido, percebe-se que o direito de se informar possui duas vertentes: negativa e positiva. Aquela se refere à liberdade propriamente dita de se informar, sem que haja qualquer obstáculo ou sanção por se buscar uma informação. É a liberdade de ter acesso à informação desejada.

Acerca do tema, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI n. 561- MC, decidiu que a obrigatoriedade de transmissão, diariamente, do programa "A Voz do Brasil", no horário das dezenove horas, nos termos do disposto na Lei nº 4.117/62, não ofende o direito a se informar, não havendo, assim, qualquer limitação ao cidadão na busca pela informação5.

5 "E M E N T A: (...) RECEPÇÃO DA LEI N. 4.117/62 PELA NOVA ORDEM CONSTITUCIONAL - PRESERVAÇÃO DO CONCEITO TÉCNICO-JURÍDICO DE TELECOMUNICAÇÕES. - A Lei n. 4.117/62, em seus aspectos básicos e essenciais, foi recebida pela Constituição promulgada em 1988, subsistindo vigentes, em consequência, as próprias formulações conceituais nela enunciadas, concernentes às diversas modalidades de serviços de telecomunicações. A noção conceitual de telecomunicações - não obstante os sensíveis progressos de ordem tecnológica registrados nesse setor constitucionalmente monopolizado pela União Federal - ainda subsiste com o mesmo perfil e idêntico conteúdo, abrangendo, em consequência, todos os processos, formas e sistemas que possibilitam a transmissão emissão ou recepção de símbolos, caracteres, sinais, escritos, imagens,

No que se refere ao aspecto positivo, o direito de se informar se relaciona ao acesso à fonte de informação, que servirá de base para a sua posterior divulgação. Normalmente, esse direito é exercido precipuamente por quem trabalha em veículos de comunicação.

Dessa forma, de acordo com Araújo e Nunes Junior (2008, p. 145):

O direito de se informar traduz igualmente uma limitação estatal diante da esfera individual. O indivíduo tem a permissão constitucional de pesquisar, de buscar informações, sem sofrer interferências do Poder Público, salvo as matérias sigilosas, nos termos do art. 5°, XXXIII, parte final.

Por ser uma garantia de cada cidadão, o fato de ele possuir o direito de se informar não significa que ele seja compelido a se manter informado. Ninguém é obrigado a ler jornal, revistas, assistir a programas televisivos ou a escutar rádio. A Constituição Federal, ao estabelecer o direito de se informar, garante, de igual forma, o direito à ignorância6.

sons e informações de qualquer natureza. O conceito técnico-jurídico de serviços de telecomunicações não se alterou com o advento da nova ordem constitucional. Consequentemente - e à semelhança do que já ocorrera com o texto constitucional de 1967 - a vigente Carta Política recebeu, em seus aspectos essenciais, o Código Brasileiro de Telecomunicações, que, embora editado em 1962, sob a égide da Constituição de 1946, ainda configura o estatuto jurídico básico disciplinador dos serviços de telecomunicações. Trata-se de diploma legislativo que dispõe sobre as diversas modalidades dos serviços de telecomunicações. O Decreto n. 177/91, que dispõe sobre os Serviços Limitados de Telecomunicações, constitui ato revestido de caráter secundário, posto que editado com o objetivo específico de regulamentar o Código Brasileiro de Telecomunicações (...)". 6 De acordo com o Dicionário Larousse, ignorante é aquele que não tem saber, conhecimento, instrução; ignaro, inculto.

1.2.1 Habeas data

Como corolário do direito de se informar, a Constituição Federal de 1988 previu, no art. Seu art. 5º, inciso LXXII7, o habeas data, que se trata de uma ação que tem por finalidade possibilitar a todos o acesso a informações pessoais, que constem em bancos de dados, ou mesmo em registros, de entidades públicas, bem como para retificá-los.

O Ministro Luiz Fux, quando do julgamento, no Superior Tribunal de Justiça (STJ), do Recurso Especial nº 781.969 expos que8:

Sob esse enfoque, a ratio essendi do habeas data é assegurar, em favor da pessoa interessada, o exercício de pretensão jurídica que se distingue nos seguintes aspectos: a) direito ao acesso de registro; b) direito de retificação de registro e c) direito de complementação de registros. Portanto, o referido instrumento presta-se a impulsionar a jurisdição constitucional das liberdades, representando no plano institucional a mais eloqüente reação jurídica do Estado às situações que lesem, de forma efetiva ou potencial, os direitos fundamentais do cidadão.

Qualquer pessoa, seja física ou jurídica, possui legitimidade ativa para impetrar a referida medida constitucional, desde que os dados que deseje obter ou retificar se referiram à própria impetrante, todavia, a legitimidade passiva restringe- se às entidades governamentais e às entidades particulares, estas desde que possuam dados de caráter público.

Nesse aspecto, pode-se afirmar que o direito de ser informado possui caráter bilateral, pois somente pode ser afirmado quando o ordenamento jurídico

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“LXXII - conceder-se-á "habeas-data":

a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público;

b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;

estabelecer, ao lado daquela garantia, a obrigatoriedade a determinada pessoa ou organismo de prestar informação. No direito brasileiro, conforme exposto, restringe- se aos organismos públicos (LEVY, 2009).

Nos termos da Lei nº 9.507/97, que regula o direito de acesso a informações e disciplina o rito processual do referido remédio constitucional, considera-se de caráter público todo registro ou banco de dados contendo informações que sejam ou que possam ser transmitidas a terceiros ou que não sejam de uso privativo do órgão ou entidade produtora ou depositária das informações (art. 1º).

Nota-se, assim, que o habeas data se restringe à obtenção ou a retificação de informações constantes em bancos de dados de entidades governamentais ou que possuam caráter público, o que impede a sua utilização para o conhecimento daqueles, quando constantes em bancos de dados privados.

O pressuposto processual para o seu manejo é a recusa em se fornecer a informação requerida ou a omissão em fazê-lo. Assim, conforme Cunha Júnior (2008, p. 788), o habeas data “pressupõe o indeferimento do pedido de informação de dados pessoais, ou da omissão em atendê-lo, constituindo tal situação requisito indispensável para que se concretize o interesse de agir.”

Quanto ao aspecto temporal para a sua interposição, ao contrário da Lei 12.016 – que disciplina o Mandado de Segurança -, que em seu art. 23 prevê que o direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos 120 (cento e vinte) dias, contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado, não há qualquer previsão similar na Lei 9.507/97, não se aplicando analogicamente aquela previsão legal, sendo, assim, o habeas data imprescritível.

Apesar de o inciso XXXIII, do art. 5º, da Constituição Federal de 1988, prever que todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado, este preceito não limita a garantia de acesso à

informação, através do habeas data, pois a ressalva final do referido dispositivo constitucional se relaciona ao sigilo de dados de terceiros, que o particular está impedido de conhecer, em virtude da segurança social ou do Estado e, não, o acesso a dados do próprio impetrante – neste caso, o particular é o próprio destinatário das informações, assim, se elas foram corretas, já eram de seu conhecimento, todavia, se forem falsas, a sua retificação não ocasionará qualquer prejuízo à segurança social ou mesmo nacional.

A interpretação dos incisos LVXII e XXXIII, ambos do art. 5º, da Constituição Federal de 1988, não pode limitar o direito de o particular obter informações sobre si, sob pena de se tornar inócua a garantia constitucional, já que os dados que possuam caráter nitidamente pessoal não podem ser sigilosos em relação ao próprio sujeito. (MENDES, 2008, p. 544)

Passos (apud Di Pietro, 2001, p. 616) afirmava que:

No habeas data não se postula a certificação judicial do direito à informação. Esse direito, no tocante à própria pessoa do interessado, foi deferido constitucionalmente sem possibilidade de contestação ou restrição. Nenhuma exceção lhe foi posta, constitucionalmente. A respeito da própria pessoa, o direito à informação é livre de barreiras, inexistindo exceções que o limitem ou excluam.

Malgrado todas essas características, conforme afirma Mendes (2008, p. 543):

O habeas data acabou por se constituir em instrumento de utilidade relativa no sistema geral da Constituição de 1988. Talvez isso se deva, fundamentalmente, à falta de definição de um âmbito específico de utilização não marcado por contingências políticas.