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Em 1997, o Brasil incluiu no ordenamento jurídico pátrio a Lei n° 9.474, sancionada pelo ex Presidente Fernando Henrique Cardoso, que implementou os meios protetivos

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MAHLKE, Helisane. Direito Internacional dos Refugiados: Novo Paradigma Jurídico. Belo Horizonte: Arraes Editores, 2017. P. 113

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Tema tratado no artigo: OLIVEIRA, Paulo; FONTOURA, Thalita. O Devido Processo Legal Dentro do

Direito Internacional e seus Reflexos nos Sistemas de Proteção aos Direitos Humanos. II Congreso

Iberoamericano Sobre Nuevos Desafíos Jurídicos. Dez, 2017.

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MAHLKE, Helisane. Direito Internacional dos Refugiados: Novo Paradigma Jurídico. Belo Horizonte: Arraes Editores, 2017. P. 118

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MAHLKE, Helisane. Direito Internacional dos Refugiados: Novo Paradigma Jurídico. Belo Horizonte: Arraes Editores, 2017. P. 118

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ECHR. “ ” cases . Disponível em: <http://www.echr.coe.int/Documents/FS_Dublin_ENG.pdf>. Acesso em: 06 jan. 2018

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ECRE, UNHCR. Regulation establishing the criteria and mechanisms for determining the Member State responsible for examining an asylum application lodged in one of the Member States by a third- country national. Disponível em: <http://www.unhcr.org/4a9d13d59.pdf> . Acesso em: 06 jan. 2018

adotados pelo Estatuto dos Refugiados de 1951 e do Protocolo de 1967 no sistema interno119. Esta Lei foi elaborada e planejada em parceria com o ACNUR e com a Sociedade Civil, por intermédio de departamentos/órgãos internos do governo120. Tornou-se, portanto, um marco frente ao compromisso do país com as questões dos refugiados e com as normas de Direitos Humanos. Ademais, como bem destaca o ACNUR, a referida lei discorre sobre “ principais instrumentos regionais e internacionais sobre o ” 121.

A Lei n° 9.474/97 possui grande relevância não somente pelo nível de debate e articulação através do qual surgiu, mas também pelas suas implementações e inovações. A princípio, destaca-se a definição ampliada de refugiado apresentada pela legislação122:

Art. 1º Será reconhecido como refugiado todo indivíduo que:I - devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas encontre-se fora de seu país de nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se à proteção de tal país;II - não tendo nacionalidade e estando fora do país onde antes teve sua residência habitual, não possa ou não queira regressar a ele, em função das circunstâncias descritas no inciso anterior;III - devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país123.

Além das hipóteses previstas na Convenção de 51 e Protocolo de 67, o Brasil reconhece que uma pessoa será declarada refugiada quando “ devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país”124. Como consequência, a Lei nacional extende a aplicação das garantias e as hipóteses de refúgio a uma quantidade maior de possibilidades e, por isso, amplia a utilização de um complexo conjunto de normas de Direitos Humanos. Sendo, portanto, o Brasil um dos grandes exemplos para a comunidade internacional nesta seara.

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BRASIL. Lei n° 9.474/97. Define mecanismos para a implementação do Estatuto dos Refugiados de 1951, e determina outras providê em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l9474.htm>. Acesso em: 01 fev de 2018

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MILESI, Irmã Rosita; ANDRADE, William Cesar de. Atores e Ações por uma Lei de Refugiados no Brasil. In: BARRETO, Luiz Paulo Teles Ferreira (org). Refúgio no Brasil A Proteção Brasileira Aos Refugiados e Seu

Impacto nas Américas. Ed.1. Brasília: ACNUR, Ministério da Justiça, 2010. P. 22-47.

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ACNUR. Dados sobre refúgio no Brasil. vel em:

<http://www.acnur.org/portugues/recursos/estatisticas/dados-sobre-refugio-no-brasil/>. Acesso em: 01 fev de 2018

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ACNUR. Dados sobre refúgio no Brasil. vel em:

<http://www.acnur.org/portugues/recursos/estatisticas/dados-sobre-refugio-no-brasil/>. Acesso em: 01 fev de 2018

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BRASIL. Lei n° 9.474/97. Define mecanismos para a implementação do Estatuto dos Refugiados de 1951, e determina outras providê em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l9474.htm>. Acesso em: 01 fev de 2018

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BRASIL. Lei n° 9.474/97. Define mecanismos para a implementação do Estatuto dos Refugiados de 1951, e determina outras providê em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l9474.htm>. Acesso em: 01 fev de 2018

A Lei n° 9.474/97, que visa a implementação e a efetivação do Direito dos Refugiados, também criou o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), cujo objetivo “ gio apresentadas no Brasil”125. Ademais, o CONARE tem legitimidade para elaborar “ gio”126

.

O CONARE, cuja sede situa-se no Ministério da Justiça, em Brasília127, é formado por:

I - um representante do Ministério da Justiça, que o presidirá; II - um representante do Ministério das Relações Exteriores; III - um representante do Ministério do Trabalho; IV - um representante do Ministério da Saúde; V - um representante do Ministério da Educação e do Desporto; VI - um representante do Departamento de Polícia Federal; VII - um representante de organização não-governamental, que se dedique a atividades de assistência e proteção de refugiados no País128.

Observa-se que o ACNUR não está presente na base de formação do CONARE, contudo é imperioso destacar que está previsto em lei a participação ativa do ACNUR em reuniões do CONARE, "com direito a voz, mas sem direito a ”129 , “ H H Arquidiocesana do Rio de Janeiro/ São Paulo, como representantes da sociedade civil ”130.

Outro aspecto relevante da Lei n° 9.474/97 é a descrição dos procedimentos para obter a declaração de refúgio no Brasil. Dentre os principais atos regulados, devem ser destacados, a princípio, que o estrangeiro deve comunicar e solicitar às autoridades responsáveis a declaração do seu status de refugiado e, mediante as barreiras linguísticas, terá o direito de ser assessorado por um intérprete, devendo “preencher a solicitação de reconhecimento como

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BARRETO, Luiz Paulo Teles Ferreira. A Lei Brasileira de Refúgio - Sua história. In: BARRETO, Luiz Paulo Teles Ferreira (org). Refúgio no Brasil A Proteção Brasileira Aos Refugiados e Seu Impacto nas Américas. Ed.1. Brasília: ACNUR, Ministério da Justiça, 2010. P. 12 - 21.

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ACNUR. Cartilha para Solicitantes de Refúgio no Brasil. Disponível em: < http://www.acnur.org/fileadmin/scripts/doc.php?file=fileadmin/Documentos/portugues/Publicacoes/2014/Cartilh a_para_solicitantes_de_refugio_no_Brasil>. Acesso em: 02 fev 2018

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ACNUR. Cartilha para Solicitantes de Refúgio no Brasil. Disponível em: < http://www.acnur.org/fileadmin/scripts/doc.php?file=fileadmin/Documentos/portugues/Publicacoes/2014/Cartilh a_para_solicitantes_de_refugio_no_Brasil>. Acesso em: 02 fev 2018

128 BRASIL. Lei n° 9.474/97. Define mecanismos para a implementação do Estatuto dos Refugiados de 1951, e

determina outras providê em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l9474.htm>. Acesso em: 01 fev de 2018

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BRASIL. Lei n° 9.474/97. Define mecanismos para a implementação do Estatuto dos Refugiados de 1951, e determina outras providê em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l9474.htm>. Acesso em: 01 fev de 2018

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ACNUR. Protegendo Refugiados no Brasil e no Mundo. Disponível em: < http://www.acnur.org/fileadmin/scripts/doc.php?file=fileadmin/Documentos/portugues/Publicacoes/2018/Cartilh a_Protegendo_Refugiados_No_Brasil_2018>. Acesso em: 12 fev 2018

refugiado” e demonstrar que se enquadra nas hipóteses de refúgio131. Em momento subsequente, o ACNUR será informado da abertura “do processo de solicitação de refúgio” para que possa encaminhar propostas que tornem o andamento do processo mais efetivo132. Neste cenário, a Polícia Federal desempenha o papel de “receber os pedidos de refúgio, emitir documentos para solicitantes de refúgio e refugiados, informar os solicitantes de refúgio sobre o resultado dos seus pedidos” 133. Além disso, a Polícia Federal expedirá protocolo provisório, cuja validade será de um ano e sendo passível de renovação até a decisão do CONARE134. O Ministro da Justiça, por sua vez, aprecia todos os recurso dos pedidos de refúgio para deferi-los ou não, conforme os parâmetros da lei135.

O Brasil tem recepcionado um número maior de refugiados ao decorrer do tempo, foi registrado, por exemplo, um aumento de 12% das declarações de refúgio no Brasil em 2016136. Neste sentido, o CONARE desenvolveu recentemente um mapeamento do perfil dos refugiados que residem no país. Foi constatado que até 2016, no Brasil, foram reconhecidos como refugiados 9.552 pessoas137, dentre as quais:

8.522 foram reconhecidos por via tradicionais de elegibilidade; 713 foram reconhecidos pelo Programa de Reassentamento e 317 por via de Reunião Familiar (extensão dos efeitos da condição de Refugiado). Os 05 países com o maior número de solicitação de refúgio em 2016 foram: Venezuela, Cuba, Angola, Haiti e Síria. Todavia, os 05 países com maior número de deferimentos das solicitações de refúgio em 2016 foram: Síria, República Democrática do Congo, Paquistão, Palestina e Angola. O perfil dos deferimentos de 2016 por faixa etária foram: de 0 a 12 ano – 7%; de 13 a 17 anos – 2%; de 18 a 29 anos – 39%; de 30 a 59 anos – 50% e maiores

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BRASIL. Lei n° 9.474/97. Define mecanismos para a implementação do Estatuto dos Refugiados de 1951, e determina outras providê em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l9474.htm>. Acesso em: 01 fev de 2018

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BRASIL. Lei n° 9.474/97. Define mecanismos para a implementação do Estatuto dos Refugiados de 1951, e determina outras providê em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l9474.htm>. Acesso em: 01 fev de 2018

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ACNUR. Cartilha para Solicitantes de Refúgio no Brasil. Disponível em: < http://www.acnur.org/fileadmin/scripts/doc.php?file=fileadmin/Documentos/portugues/Publicacoes/2014/Cartilh a_para_solicitantes_de_refugio_no_Brasil>. Acesso em: 02 fev 2018

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ACNUR. Cartilha para Solicitantes de Refúgio no Brasil. Disponível em: < http://www.acnur.org/fileadmin/scripts/doc.php?file=fileadmin/Documentos/portugues/Publicacoes/2014/Cartilh a_para_solicitantes_de_refugio_no_Brasil>. Acesso em: 02 fev 2018

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ACNUR. Cartilha para Solicitantes de Refúgio no Brasil. Disponível em: < http://www.acnur.org/fileadmin/scripts/doc.php?file=fileadmin/Documentos/portugues/Publicacoes/2014/Cartilh a_para_solicitantes_de_refugio_no_Brasil>. Acesso em: 02 fev 2018

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SECRETARIA NACIONAL DE JUSTIÇA. Refúgio em Números. Disponível em: < http://www.justica.gov.br/news/brasil-tem-aumento-de-12-no-numero-de-refugiados-em-

2016/20062017_refugio-em-numeros-2010-2016.pdf>. Acesso em: 04 fev 2018

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SECRETARIA NACIONAL DE JUSTIÇA. Refúgio em Números. Disponível em: < http://www.justica.gov.br/news/brasil-tem-aumento-de-12-no-numero-de-refugiados-em-

de 60 anos – 2%. E este perfil avaliado por gênero: homens – 25% e mulheres 75%138.

Por fim, frente aos expressivos dados coletados pelo CONARE, deve ser destacado a recente medida adotada pelo Brasil para corroborar com as proteções aos refugiados, a Lei de Migração n° 13.445/17 que revogou a Lei do Estrangeiro n°6.815/80 . A Legislação garante ao migrante “ condi o de igualdade com os nacionais, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade”139. A referida lei dispõe em um de seus objetivos garantirem acesso isonômico da educação, benefícios sociais, trabalho, moradia, entre outros140. Em que pese à mencionada lei não seja estritamente direcionada para os refugiados e, por isso não foi densamente explorada, contudo a Lei de Migração ratifica os elementos necessários para a proteção do refugiado e salienta a necessidade de preservação das normas internas e tratados já existentes que visam à proteção ao refugiado.

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SECRETARIA NACIONAL DE JUSTIÇA. Refúgio em Números. Disponível em: < http://www.justica.gov.br/news/brasil-tem-aumento-de-12-no-numero-de-refugiados-em-

2016/20062017_refugio-em-numeros-2010-2016.pdf>. Acesso em: 04 fev 2018

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SECRETARIA NACIONAL DE JUSTIÇA. Refúgio em Números. Disponível em: < http://www.justica.gov.br/news/brasil-tem-aumento-de-12-no-numero-de-refugiados-em-

2016/20062017_refugio-em-numeros-2010-2016.pdf>. Acesso em: 04 fev 2018

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BRASIL. Lei n° 13.445/17. Lei de Migraçã vel em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/L13445.htm>. Acesso em: 04 fev de 2018

3 DIREITO AO ACESSO À EDUCAÇÃO PARA CRIANÇAS REFUGIADAS NO BRASIL

O presente capítulo tem por objetivo explanar sobre os aspectos mais relevantes do direito à educação na esfera do Direito Internacional. Em segundo momento, será demonstrada a importância da preservação deste direito para as crianças que estão em situação de refúgio. Além disso, o recorte deste trabalho acadêmico é tratar especificamente sobre o direito, em si, ao acesso à educação e se o Brasil fornece as condições necessárias para o referido acesso. Por isso, em respeito ao recorte adotado, não será discorrido sobre: os tipos de sistemas educacionais existentes, os sistemas educacionais que as crianças refugiadas tinham acesso no seu país de origem ou qual sistema deveria ser implementado, embora seja importante salientar a magnitude do referido tema. O trabalho estará estritamente ligado a preservação do direito e as medidas necessárias para concretização do acesso à educação.