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CAPÍTULO 2 INCLUSÃO DO ESTUDANTE COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

2.5 O direito e seus significados

O direito à educação tem como fundamento as normativas nacionais e internacionais que tratam de direitos humanos e afirmam a educação como direito social imprescindível para o desenvolvimento de todas as pessoas e como condição para os demais direitos. Nessa perspectiva, a educação da pessoa com deficiência intelectual recebeu impulso importante por força dos encontros internacionais e nacionais que resultaram em vários documentos que

buscaram romper com concepções assistencialistas. Entre eles estão a Declaração Mundial de Educação para Todos (1990) e a Declaração de Salamanca (1994). Esses documentos têm importantes desdobramentos sobre os significados construídos pelos professores que trabalham com a escolarização do aluno com DI em classes regulares de ensino.

Neste último encontro, por exemplo, de acordo com Balduíno (2006), utiliza-se pela primeira vez o termo inclusão para a educação. Por isso, ele é considerado um marco na delimitação dos direitos da pessoa com deficiência intelectual, já que desde sua elaboração foram tomadas medidas no intuito de ampliar legalmente as possibilidades dessas pessoas nas classes comuns. O encontro que deu origem à declaração de Salamanca reuniu pais e professores envolvidos diretamente com crianças com deficiência para exporem suas concepções acerca da importância de um ambiente inclusivo. Essa declaração prevê uma nova forma de olhar para a diferença, a partir do reconhecimento das diferenças como valor pedagógico e, deste modo, promover a aprendizagem e atender às necessidade de cada criança individualmente.

Ressaltamos que anterior à elaboração desses dois documentos, outro marco na educação inclusiva de igual importância está na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que, em seu art. 205, estabelece a educação como direito de todos e dever do Estado e da família promovê-la e incentivá-la, ou seja, se é direito de todos, é também direito da pessoa com deficiência. Essa interpretação pode ser confirmada no art. 208, inciso III, que garante atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino (BRASIL, 1988).

Além da Constituição Federal, vale ressaltar nessa seara rumo à inclusão, a Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB), no seu art. 58 pontua que a educação especial faz parte da educação básica, devendo ser oferecida, preferencialmente, na rede regular de ensino para portadores de necessidades educativas especiais (BRASIL, 1996).

Publicada pelo Ministério da Educação em 1994, a Política Nacional de Educação Especial pode ser considerada um primeiro movimento político de organização sistematizada dessa modalidade de ensino depois da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – Lei n.º 5.692, de 11 de agosto de 1971. Essa política define como público da educação especial os alunos portadores de deficiência (mental, visual, auditiva, física, múltipla), portadores de condutas típicas (problemas de conduta) e portadores de altas habilidades

(superdotados) e inaugura uma nova concepção no sistema de ensino brasileiro que traz como conceito fundamental a integração. Instaura, igualmente, o diagnóstico dos alunos como pré- requisito para a participação nos contextos escolares, acarretando a organização de um sistema misto e a constituição de parcerias entre Estado e organizações não governamentais (ZARDO, 2012).

Tanto a Política Nacional de Educação Especial, quanto a Lei n.º 8069, de 13 de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a Constituição Federal de 1998, ressalta Zardo (2012), utilizam-se do termo “portador de deficiência” em substituição a termos como aleijados, excepcionais, mongoloides das décadas de 1960 e 1970 que tinham uma carga pejorativa embutida.

Em âmbito internacional, no mesmo ano de implementação da Política Nacional de Educação Especial acontece a Conferência Mundial de Educação Especial, em Salamanca, na Espanha. O documento decorrente desse encontro constitui um marco relevante na garantia ao direito à educação para pessoas com deficiência, propagando o conceito de escola inclusiva pela previsão de uma Linha de Ação sobre Necessidades Educacionais Especiais.

A filosofia desses referenciais internacionais respinga em vários documentos no Brasil. Entre eles, no capítulo V, específico sobre educação especial, da Lei n.º 9.394/96, que entre outras coisas, determina que a educação especial é uma modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino para portadores de necessidades especiais. (ZARDO, 2012).

Em 1999, outro importante documento vem a reafirmar os direitos do portador de necessidades especiais, a Declaração de Guatemala (OEA, 1999). Essa declaração é fruto da Convenção Interamericana para a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas com Deficiência, realizada em 8 de junho de 1999, na cidade da Guatemala. Esse documento condena qualquer discriminação, exclusão ou restrição que impeçam o exercício dos direitos das pessoas com deficiência, inclusive a educação (OEA, 1999).

No Brasil, de acordo com Zardo (2012), esse processo de mudança nas políticas e normativos da educação especial é intensificado com a publicação das Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, instituídas pela Resolução n.º 2, de 11 de setembro de 2001, do Conselho Nacional de Educação (CNE) / Câmara de Educação Básica (CEB). Essa resolução, em seu art. 2.º, estabelece que os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizar-se para o atendimento aos educandos com

necessidades educativas especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de qualidade para todos. Esse documento tem grande importância, à medida que factualmente implica a escola e os professores por meio da matrícula compulsória de alunos com deficiência no ambiente escolar (BRASIL, 2001).

Nessa trajetória, ainda estreitando laços com a temática do presente projeto, destacamos o documento que busca resgatar o direito de voz das pessoas com deficiência intelectual – a Declaração de Montreal, fruto da convenção realizada em Montreal, Canadá, em 6 de outubro de 2004, evento que aprovou o Declaração de Montreal sobre Deficiência Intelectual, considerado um dos mais importantes documentos relativos ao direito da pessoa com deficiência intelectual no sentido de defesa da autonomia de decisão dessas pessoas. No referido encontro é que se institui a alteração da nomenclatura deficiência mental para deficiência intelectual. O texto desse documento reforça que os indivíduos com deficiência intelectual devem gozar de seus direitos por sua condição humana, e não em função da deficiência.

Uma das mais recentes e impactantes propostas em termos legais surge em 2008, denominada Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Esse documento ressalta que para implementação da educação inclusiva é preciso [...]

Assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência, transtorno globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, orientando os sistemas de ensino para garantir: acesso ao ensino regular, com participação, aprendizagem e continuidade nos níveis mais elevados de ensino; transversalidade da modalidade de educação especial desde a educação infantil até a educação superior; oferta do atendimento educacional especializado; formação de professores para o atendimento educacional especializado e demais profissionais da educação para a inclusão; participação da família e da comunidade; acessibilidade arquitetônica, nos transportes, nos mobiliários, nas comunicações e informações; e articulação intersetorial na implementação das políticas públicas (BRASIL, 2008, p. 14).

Em face dessa trajetória, ao mesmo tempo em que o ideal de inclusão na educação se populariza e se torna pauta de discussão obrigatória principalmente para os professores, surgem também os conflitos em relação às formas de efetivá-la, recaindo sobre a formação do professor a aposta de possibilidade de adequação às leis.

CAPÍTULO 3 FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA PERSPECTIVA DA