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CAPÍTULO 4 METODOLOGIA

4.1 Estudo piloto

Um estudo preliminar foi realizado antes do estudo principal, esse estudo consistiu em um cuidado metodológico devido à novidade e complexidade da terminologia deficiência intelectual entre os professores.

Essa terminologia foi oficializada com a aprovação do documento Declaração de Montreal sobre a deficiência intelectual em 2004. não obstante, a nomenclatura mais comumente encontrada na legislação e em boa parte da produção científica contemporânea ainda seja deficiência mental, embora a expressão deficiência intelectual seja indicada como a mais adequada em documentos recentes, como o da AAIDD.

Nesse sentido, aplicamos o questionário da Técnica de Associação Livre de Palavras (TALP) com o termo indutor: Para você “A Inclusão do aluno deficiente intelectual é”, com o objetivo de verificar se havia ou não uma representação social sobre a terminologia deficiente intelectual no grupo de professores. A seguir, descrevemos o estudo e seus resultados.

4.1.1 Participantes do estudo piloto

O critério de escolha dos professores para participar deste estudo foi o de conveniência, realizamos o estudo em uma escola, próxima a minha residência, que tinha, de acordo com o Censo Escolar de 2011, registro de matrícula de alunos com deficiência intelectual, em turmas regulares de ensino médio. A partir daí, aplicamos o questionário aos professores que consentiram em participar da pesquisa. Participaram do estudo piloto dez professores de turmas regulares de uma escola de ensino médio da rede pública de Brasília.

Abaixo, na tabela 1, destacamos algumas especificidades desses participantes. São elas: sexo, disciplina que lecionam, experiência com o aluno com deficiência intelectual, participação em curso de formação sobre educação inclusiva e escolaridade.

Tabela 1: Perfil dos professores participantes do estudo piloto (N=10)

Professores Frequência % Sexo Masculino Feminino 3 7 30% 70% Disciplina Física Química Artes História Ed.Física Sociologia Português Espanhol 1 1 1 1 1 1 2 2 10% 10% 10% 10% 10% 10% 20% 20% Experiência com aluno com DI

Professores com Experiência Professores sem experiência

7 3

70% 30% Participação em curso sobre Educação Inclusiva

Participaram de curso sobre EI Nunca participaram de curso sobre EI

3 7 30% 70% Escolaridade Superior Pós-graduação 6 4 60% 40% Total de participantes: 10 10 100%

Fonte: Dados da pesquisa

4.1.2 Instrumento do estudo piloto

O instrumento utilizado foi o questionário TALP, qualificado para coleta de representações sociais. O questionário é usado para identificar os elementos que compõem o núcleo central e o sistema periférico de uma representação social.

4.1.3 Procedimentos de coleta de dados do estudo piloto

Entramos em contato com a direção da escola, no dia 10 de dezembro de 2012, às 9 horas, pessoalmente, e solicitamos autorização para aplicação dos questionários, após termos oferecido informações sobre os objetivos da pesquisa. À medida que foram terminando a aplicação das provas, os professores se dirigiram para sala dos professores, onde eu os abordei, individualmente. Convidei-os para participar da pesquisa e posteriormente expliquei sobre os objetivos da mesma. Todos os professores abordados e convidados aceitaram participar da pesquisa prontamente, sem oferecer resistências.

4.1.4 Análise dos resultados do estudo piloto

Nesse estudo, o procedimento de análise dos dados constituiu-se em levantamento de

palavras ou expressões mais frequentes entre as respostas apresentadas. Assim, uma alta frequência de palavras, expressões ou de significados foi considerada relevante para a análise.

Abaixo estão as três primeiras respostas à frase indutora: “Incluir um aluno com deficiência intelectual no ensino médio é, considerando que P se refere à categoria professor, e os números definem os diferentes professores participantes.

Em negrito estão as palavras, expressões que se repetem nas várias frases.  P1: dor de cabeça, problema, trabalho;

 P2: questão de direito, inclusão social, desafio para instituição escolar;

 P3: desafiador, tarefa complexa, requer dedicação e trabalho de toda escola;  P4: ajuda dos colegas de classe, dificuldade de ambos, preparação do educador;  P5: incluir, planejar, adaptar o currículo;

 P6: mostrar a realidade para este aluno, mostrar a realidade deste para os outros alunos, auxiliar na constituição da autonomia, valorizar a pessoa humana;

 P7: trabalhoso, desafiador, privilégio;

 P8: dificultar o aprendizado do aluno, incoerente e sem nexo, dificultar o trabalho do professor;

 P9: adaptar, repensar, abandonar os preconceitos;  P10: temerário, difícil, complicado.

Entre as palavras ou significados principais, que se repetem estão: desafio,

humana, repensar, requer dedicação, adaptar currículo (uma repetição). Abaixo estão as

explicações sobre a primeira palavra escolhida para responder à frase indutora: “ Incluir um aluno com deficiência intelectual no ensino médio é:

 P1: é um desafio para o docente lidar com o diferente e que necessita de mais esforço;

 P2: adaptar é primordial para o sucesso dessa tarefa;

 P3: o professor tem dificuldade de atender esse aluno por causa de falta de preparo

 P4: privilégio poder ajudar quem precisa, é muito importante prá mim;

 P5: não importa a condição, todos têm uma importância no mundo, ninguém veio à toa;

 P6: a preparação do educador ainda não é muito específica para poder ajudar o aluno por completo;

 P7: um trabalho de toda escola em conjunto;

 P8: princípio do direito de considerar a diversidade sociocultural da pessoa e do cidadão;

 P9; muitas vezes a família não preocupa com o aprendizado, somente com a lei que obriga o professor a passar o aluno.

Podemos inferir, a partir dessas respostas, um conteúdo representacional que considera a inclusão, a despeito de toda dificuldade (difícil, problema, desafio), como valor humano positivo, ainda que por caridade (valorizar a pessoa humana, privilégio poder

ajudar, não importa a condição todos têm importância no mundo). Contudo, a realização

da proposta de inclusão requer (preparação do educador, repensar, dedicação, adaptar

currículo). Nesse sentido, os professores apontam para a não preparação, ou seja, a não

realização de cursos de formação profissional como uma grande barreira para a efetivação da inclusão.

4.1.5 Considerações finais do estudo piloto

As respostas dadas pelos professores não nos indicou o que inicialmente

pretendíamos: saber se os professores tinham Representações Sociais sobre a deficiência intelectual. Entretanto, o estudo piloto mostrou-nos um equívoco e um caminho. Observamos

que a escolha da frase indutora gerou nos professores uma confusão entre os termos inclusão e deficiência intelectual.

O termo indutor inclusão sobressaiu em relação à terminologia deficiência intelectual. Os professores responderam mais ao indutor inclusão que ao indutor mais específico: inclusão do deficiente intelectual, o que nos orientou sobre o equívoco de usar na frase indutora o termo inclusão junto com deficiência intelectual, haja vista sua força de sobreposição ao outro indutor. Nesse sentido, entendemos que a frase indutora do nosso estudo não deverá conter o termo inclusão. Além disso, a expressão deficiência intelectual deverá compartilhar espaço com a nomenclatura deficiência mental, como forma de sanar a dúvida sobre o não conhecimento do termo junto ao professores. O presente estudo nos remeteu à necessidade de substituir a frase indutora inicial “para você incluir o aluno com deficiência intelectual no ensino médio é” pela frase: “Para você o aluno deficiente mental/intelectual no ensino médio é:”