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CAPÍTULO 4 METODOLOGIA

4.9 Procedimento de análise

As análises e discussões desenvolvidas neste trabalho obedeceram à seguinte organização: primeiramente foi feita a análise do estudo 1 relativo ao material obtido no questionário de evocação livre, em seguida, procedemos à análise do estudo 2 decorrente do material obtido nas entrevistas.

4.9.1 Procedimento de análise – estudo 1

O estudo 1 correspondeu à análise dos dados coletados a partir do questionário da TALP. Esses dados foram inicialmente tratados com o auxílio do software desenvolvido por Vergès, denominado Esemble de programmes permettant (EVOC) – versão 2003. Esse software organiza as evocações produzidas de acordo com as suas frequência e com a ordem de evocação ou como se adota no presente estudo, de importância, possibilitada pela hierarquização dos termos enunciados pelos sujeitos.

O EVOC é um conjunto de 16 programas que realiza dois tipos de análise: a lexicográfica, e a categorização por análise de conteúdo. Os programas que constituem o EVOC são os seguintes: Lexique, Trievoc, Nettoie, Rangmot, Listvoc, Aidecat, Rangfrq, Catevoc, Catini, Discat, Tricat, Recodcat, Stalcat, Rangmotp, Selevoc e Complex. Cada um deles executa uma etapa na análise das evocações obtidas, desde a separação por ordem alfabética, correção de erros de grafia, definição de unidades léxicas, lista de distribuição de ordens médias de evocação para todas as palavras até a distribuição das palavras por frequência (CARVALHO; RAFFIN; ACCIOLY JÚNIOR, 2011).

A técnica de evocação se dá pela apresentação de uma palavra ou frase indutora aos indivíduos e solicitação para que falem todas as palavras, expressões ou adjetivos que emergirem a partir dela. Entendemos que o caráter espontâneo dessa técnica facilita o reconhecimento dos elementos constitutivos do conteúdo da representação. No nosso estudo, a frase indutora foi: “O aluno com deficiência intelectual em turmas regulares de ensino médio é:...”

O cruzamento entre a frequência e a hierarquização das evocações permite a formação de um Quadro de Quatro Casas ou de Quatro Quadrantes, que expressa o

conteúdo e a estrutura das representações sociais (SÁ, 1996). A interpretação dos dados da análise das evocações livres, a partir do Quadro de Quatro Casas, pautou-se na abordagem estrutural das representações sociais, que segue a seguinte organização:

F R E Q U Ê N C I A

Ordem Média de Evocação

1.º Quadrante Núcleo Central

2.º Quadrante 1.ª Periferia

3 º Quadrante 2.ª Periferia /zona de contraste

4.º Quadrante 3.ª Periferia/Periferia Distante

Quadro 1: Disposição das palavras evocadas em quadrantes conforme a teoria do Núcleo Central. Fonte: Ribeiro (2006).

A distribuição das palavras evocadas no Quadro de Quatro Casas ou Quadrantes segue, de acordo com Abric (2003), a seguinte organização:

– Os elementos presentes no quadrante superior esquerdo são considerados prováveis cognições do Núcleo Central (NC) por serem as palavras evocadas com mais frequência e estando entre as mais importantes para os respondentes. Em outras palavras, assume-se que nesse quadrante, que corresponde ao provável núcleo central da representação de um dado objeto, estão as palavras com maior frequência e mais prontamente evocadas.

– O núcleo central, de acordo com Abric (2003), é diretamente determinado pelas condições históricas, sociológicas e ideológicas e, portanto, fortemente marcado pela memória coletiva do grupo e pelo sistema de normas ao qual ele se refere. Ele constitui a base comum, coletivamente partilhada, da representação. Em torno do núcleo central e organizados por ele estão os elementos periféricos, situados nos segundo, terceiro e quarto quadrantes. Enquanto o núcleo central está ligado à memória coletiva, o sistema periférico permite a integração das experiências e das histórias individuais, é flexível e suporta contradições (ALVES-MAZZOTTI, 2002). Dessa forma, a despeito da rigidez do núcleo central, as representações sociais são suscetíveis de modificações através das variações dos elementos periféricos, constituídos das experiências e das histórias individuais (ABRIC, 1998).

– No quadrante superior direito do Quadro de Quatro Casas (segundo quadrante) está a primeira periferia da representação social, a qual abarca os componentes periféricos considerados mais relevantes. Possui maiores frequências de evocação, porém, menor importância para os respondentes. No quadrante inferior esquerdo (terceiro quadrante) ou

zona de contraste, estão evocações proferidas por um menor número de sujeitos que, entretanto, as consideram mais importantes (ABRIC, 2003). Por último, o quadrante inferior direito, (quarto quadrante) ou periferia distante, abarca as cognições evocadas por um quantitativo menor de respondentes, que as consideram menos importantes (ABRIC, 2003).

Importante também ressaltar que os elementos periféricos, de acordo com Abric (1998), compõem as representações e articulam-se com os elementos presentes no núcleo central, além disso, esses elementos podem vir a ser as representações futuras.

4.9.2 Procedimento de análise – estudo 2

Os dados coletados a partir das entrevistas forneceram-nos informações sobre o sentido dado à interação entre os professores e os jovens com deficiência intelectual no contexto de sala de aula regular, no segmento de ensino médio. A análise dos resultados foi desenvolvida por meio de uma adaptação da técnica de análise de conteúdo proposta por Bardin (2002).

A análise de conteúdo pode ser utilizada para produzir inferências e compreender melhor sobre a relação entre comportamento humano e representações sociais (MOSCOVICI, 2003). A análise de conteúdo se estrutura como concepção crítica e dinâmica da linguagem. Ela se constitui em [...]

[...] um conjunto de técnicas de análise da comunicação e para tanto faz uso de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens. A análise de conteúdo se propõe a fazer inferências sobre o conhecimentos relacionados às condições de produção e de recepção das mensagens, buscando assim os indicadores quantitativos ou qualitativos ( BARDIN, 2002, p. 37).

Para análise de conteúdo do material coletado nas entrevistas, desenhamos a trajetória ensinada por Bardin (2002), que se constitui basicamente de quatro passos, a saber:

a) A primeira etapa da análise, após a coleta dos dados, procedemos à transcrição das falas dos professores, o que constituiu um exercício árduo que exigiu dedicação, tempo e muita atenção, já que respeitamos os detalhes de pausas, silêncios e repetições. Algumas entrevistas tivemos de ouvi-las mais de uma vez para fazer o registro adequado da situação. Mesmo sendo um trabalho que exigiu tempo e dedicação, não delegamos a responsabilidade da transcrição para outrem, o que nos rendeu a possibilidade de reviver as interações durante a entrevista e configurou- se como um primeiro momento de análise.

b) A segunda etapa de análise destinou-se à pré-análise do material. Nesse momento, procedemos à leitura flutuante a partir da qual foi possível uma exploração mais detalhada de um vasto material. Considerando que obtivemos um material extenso, selecionamos a parte dele que estava diretamente relacionada ao nosso objetivo e seguimos com a organização das falas em unidades de sentido.

c) A partir da organização das falas em unidades de sentido, no formato de frases resumidoras de um significado, chegamos ao agrupamento em categorias, uma construção feita pelo pesquisador a partir dos conteúdos emergidos das falas dos entrevistados, em consonância com os objetivos da pesquisa. Essas categorias foram organizadas por afinidade de sentido. Reforçamos que o número de ocorrências representadas pelas frases resumidoras de um significado não necessariamente corresponde ao número de entrevistados, visto que um mesmo entrevistado pode ter mais de uma resposta compatível com aquela categoria. d) Por último, procedemos ao tratamento dos resultados em consonância com a

literatura. De acordo com Moraes (1999), a análise do conteúdo, embora tenha sido orientada por muito tempo pelo paradigma positivista, tem atingido novas e mais desafiadoras possibilidades à proporção se integra à exploração qualitativa. Nessa perspectiva, o investigador pode escolher o tipo de conteúdo que deseja examinar: conteúdo manifesto ou conteúdo latente. O nível manifesto, de acordo com Moraes (1999), está associado a uma leitura representacional, enquanto o conteúdo latente, com o qual trabalhamos neste estudo, trata de uma compreensão mais profunda, revelado pelo não dito, pelas entrelinhas, as motivações inconscientes, articulando o texto com o contexto psicossocial e cultural, relacionando-a a uma análise indutiva, gerativa, construtiva e subjetiva.