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Direitos humanos das pessoas idosas: uma breve narração sobre convenções e tratados internacionais

3 O TRABALHO NA TERCEIRA IDADE COMO DIREITO FUNDAMENTAL NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

4 CONQUISTAS SOCIAIS DOS IDOSOS NO SÉCULO XX: REFLEXOS NO BRASIL E MEDIDAS PROTETIVAS CONTRA A DISCRIMINAÇÃO AO

4.1 Direitos humanos das pessoas idosas: uma breve narração sobre convenções e tratados internacionais

No âmbito do Sistema Interamericano de Direitos Humanos, no final da década de 1980, foram incorporadas medidas específicas em favor das pessoas idosas. O Protocolo Adicional à Convenção Americana de Direitos Humanos, conhecido como o Protocolo de São Salvador, é, até o momento, o único instrumento vinculativo que incorpora especificamente os direitos das pessoas idosas. Quatorze países da região já ratificaram o Protocolo de São Salvador, e apenas oito deles promulgaram uma lei específica de proteção aos direitos das pessoas idosas (NOTARI; FRAGASO, 2010, online).

O Decreto n° 3.321, de 30 de dezembro de 1999 ratificou o Protocolo de São Salvador. Este tratado foi assinado em São Salvador, El Salvador, em 17 de novembro de 1988, iniciando sua vigência apenas em 16 de novembro de 1999. Seguem descritos os pontos relativos à pessoa idosa, em seu artigo 17 (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS, 1988, online):

Toda pessoa tem direito à proteção especial na velhice. Nesse sentido, os Estados Partes comprometem-se a adotar de maneira progressiva as medidas necessárias a fim de pôr em prática este direito e, especialmente, a:

a. Proporcionar instalações adequadas, bem como alimentação e assistência médica especializada, às pessoas de idade avançada que careçam delas e não estejam em condições de provê-las por seus próprios meios;

b. Executar programas trabalhistas específicos destinados a dar a pessoas idosas a possibilidade de realizar atividade produtiva adequada às suas capacidades, respeitando sua vocação ou desejos;

c. Promover a formação de organizações sociais destinadas a melhorar a qualidade de vida das pessoas idosas.

As Nações Unidas convocaram a primeira Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento em 1982, que originou o Plano de Ação Internacional de Viena sobre o Envelhecimento, com 62 pontos sobre o tema. Constam no documento ações temáticas sobre saúde, nutrição e proteção aos consumidores idosos, habitação e meio ambiente, família, bem-estar social, educação, segurança de renda e emprego (ONU, 2016, online).

O debate durante a I Conferência Internacional sobre Envelhecimento das Nações Unidas reconheceu a dificuldade da priorização de políticas públicas pelas autoridades governamentais, pois os investimentos nesta área são percebidos como

custos onerosos ao Estado.

A importância da Conferência para os idosos no âmbito internacional motivou muitos países a refletirem sobre a velhice, gerando reflexos no Brasil. Com isso o tema ganha fôlego e, em 04 de janeiro de 1994, foi estabelecida a Política Nacional do Idoso, através da Lei nº 8.842, que criou normas para os direitos sociais dos idosos (BRASIL, 1994, online).

No âmbito internacional este assunto também é retratado com relevância, sendo tema de estudo. Segundo artigo da organização não governamental Helpage International (apud NOTARI e FRAGASO, 2010, online):

Os mecanismos de direitos humanos regionais e internacionais existentes não são suficientes para proteger de forma satisfatória os direitos das pessoas idosas. As convenções de direitos humanos que são peremptórias estabelecem que os direitos humanos são para todos. Contudo, com exceção de uma convenção (a dos trabalhadores migrantes), a idade não é explicitada como uma razão pela qual a pessoa não deveria ser discriminada. Assim, a discriminação relacionada à idade é frequentemente negligenciada pelos direitos humanos no mundo. A falta dessa previsão explícita em instrumentos existentes de direitos humanos é chamada de uma ‘brecha normativa’.

Em 16 de dezembro de 1991, a Assembleia Geral das Nações Unidas adota os Princípios das Nações Unidas em Favor das Pessoas Idosas através da resolução 46/91, enumerando 18 direitos das pessoas idosas relacionados à independência, participação, assistência, realização profissional e à dignidade (SEDH, 2016, online).

A ação em favor do envelhecimento continuou em 2002, quando a Segunda Assembleia Mundial das Nações Unidas sobre o Envelhecimento foi realizada em Madrid. Objetivando desenvolver uma política internacional para o envelhecimento focada no século XXI, a Assembleia adotou uma Declaração Política e o Plano de Ação Internacional sobre o Envelhecimento (ONU, 2016, online).

O Plano tem como objetivo a garantia de um envelhecimento com segurança e dignidade para que os idosos possam continuar participando da sociedade em que estão inseridos como cidadãos com plenos direitos. Tal documento busca oferecer um instrumento prático para auxiliar os responsáveis pela

formulação de políticas no sentido de considerar as prioridades básicas associadas com o envelhecimento dos indivíduos e das populações (CARVALHO; ROMERO; MARQUES, 2012, online). O citado Plano de Ação, em seu parágrafo 19 aponta:

Uma sociedade para todas as idades possui metas para dar aos idosos a oportunidade de continuar contribuindo com a sociedade. Para trabalhar neste sentido é necessário remover tudo que representa exclusão e discriminação contra eles (ONU, 2016, online).

Tal Plano pedia mudanças de atitudes, políticas e práticas em todos os níveis para satisfazer as enormes potencialidades do envelhecimento no século XXI. No Brasil, o Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento da ONU teve suas orientações incorporadas pela Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa do Ministério da Saúde.

Notari e Fragaso (2010, online) informam que em 2007 a Declaração de Brasília foi adotada durante a II Conferência Regional Intergovernamental sobre Envelhecimento na América Latina e no Caribe, quando os países participantes, dentre eles, o Brasil, reafirmaram o compromisso de não pouparem esforços para promover e proteger os direitos humanos e as liberdades fundamentais de todas as pessoas idosas, além de trabalhar na erradicação de todas as formas de discriminação e violência e criar redes de proteção das pessoas de Idade para fazer efetivos os direitos das pessoas Idosas. Royo (apud RAMOS, 2014, p. 83) assevera neste aspecto:

Desde a Declaração de Brasília, há um forte movimento na América Latina e Caribe pela aprovação de uma Convenção sobre o Direito das Pessoas Idosas pela Organização dos Estados Americanos, tanto que já se encontra em discussão projeto apresentado nesse sentido.

Em janeiro de 2010, foi publicado um estudo do Comitê Consultivo do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas: “Necessidade de uma abordagem de direitos humanos e de um mecanismo efetivo das Nações Unidas para os direitos humanos das pessoas idosas”. O referido estudo aponta para a necessidade de uma Convenção Internacional específica para os direitos das pessoas idosas, e recomenda que os Estados sejam incentivados a reportarem-se ao tratamento destinado às pessoas idosas em seus relatórios de direitos humanos.

Por fim, refere-se à necessidade de estabelecer-se uma agenda de direitos humanos em que os direitos das pessoas idosas sejam discutidos (NOTARI, FRAGASO, 2010, online).

4.2 Discriminação relacionada ao trabalho das pessoas na terceira idade e