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O direito do idoso ao trabalho no âmbito infraconstitucional: Estatuto do Idoso

3 O TRABALHO NA TERCEIRA IDADE COMO DIREITO FUNDAMENTAL NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

3.3 O direito do idoso ao trabalho no âmbito infraconstitucional: Estatuto do Idoso

O movimento social do idoso se constituiu em um dos protagonistas do Estatuto, diferente do que aconteceu com a Lei 8.842 de 04 de janeiro de 1994, que implantou a Política Nacional do Idoso, tendo como destaque a pressão da sociedade civil, onde se destacaram a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e a Associação Nacional de Gerontologia (ANG) (PAZ E GOLDMAN, 2006, online). Essa lei, em seu artigo 1°, afirma que a Política Nacional do Idoso tem como finalidade: “[...] assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade” (BRASIL, 1994, online).

Para regular a Lei supracitada foi publicado o Decreto n° 1.948, de 03 de julho de 1996 (BRASIL, 1996, online), que dentre outras regulamentações definiu as várias modalidades de atendimento às pessoas idosas, articulando e estruturando uma política nacional de proteção e defesa dos direitos da pessoa idosa (RAMOS, 2014, p. 158).

Posteriormente, como reconhecimento a esta demanda, foi publicado o Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, que nasce regulando direitos e fixando obrigações às entidades de atendimento a essa faixa etária da população. Iniciando-se uma nova fase de reconhecimento de direitos destes senhores e senhoras, antes negligenciados. Assim, estes homens e mulheres, que tiveram seus direitos não reconhecidos ou aviltados pela sociedade por anos, finalmente encontraram novas perspectivas às suas condições. Paz e Goldman (2006, p. 3-4) discursam sobre sua elaboração:

Num ato histórico, a Comissão Especial resolve convocar a representação do movimento social do idoso, através de Seminário, a fim de realizar os trabalhos de discussão sobre as referidas matérias. Essa atitude da Comissão foi em reconhecimento às pressões do movimento social organizado dos idosos, em especial, considerando a legitimidade dos Fóruns da Política Nacional do Idoso [...]. O objetivo dessa Comissão foi apreciar as propostas e elaborar um único Projeto denominado Estatuto do

Idoso, após o debate em conjunto com a representação da sociedade civil e que se definissem os parâmetros e diretrizes para futuras Leis e tivessem o caráter de assegurar direitos aos idosos. Este encontro gerou o denominado Seminário sobre o Estatuto do Idoso que contou com mais de 500 participantes que trabalharam na discussão dos referidos projetos e com a perspectiva de condensá-los num único Projeto.

Dessa forma intentou-se escrever uma legislação para esta faixa etária oportunizando dignidade e reconhecendo direitos para as pessoas idosas. Desta maneira, no âmbito infraconstitucional, foi incluído em nosso ordenamento jurídico o Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741 (aprovada e sancionada em 2003).

Em seu artigo 1º:“É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos” (BRASIL, 2003, online).

Veio com a proposta de garantir a condição digna e plena da cidadania, ou seja, tal procedimento visa amenizar a atroz lei mercantilista que reduz tudo e todos a cifras. Sobre este aspecto negativo da sociedade, Paulo Roberto Barbosa Ramos comenta (2003, p. 133):

Sabe-se que a velhice é visualizada pela sociedade brasileira de forma ne- gativa. Em regra, as pessoas fazem de tudo para evitar a velhice, apesar de a natureza empurrar os homens, salvo motivo de força maior, para essa eta- pa da vida. A visão consoante a qual a velhice é um ciclo faz com que ho - mens e mulheres abdiquem, quando chegam a essa fase da existência, de seus direitos, como se a velhice acarretasse a perda da condição humana. A incorporação dessa idéia torna os idosos seres que ruminam o passado e digam, dia após dia, que seu tempo já passou, esquecendo-se que é o tem- po que está no homem e não o contrário. Disso tudo decorre uma séria con- seqüência: a apatia política dos idosos. Se o tempo de quem é idoso já pas- sou, já não há como interferir no presente. Assim, os idosos são sutilmente excluídos da sociedade em que vivem.

Constata-se formalmente a preocupação com a dignidade da pessoa idosa nos artigos 2º, 9º e 10 do Estatuto do Idoso (BRASIL, 2003, online):

Art. 2° O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegu- rando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilida- des, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. [...]

Art. 9° É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam um

envelhecimento saudável e em condições de dignidade. [...]

Art. 10. É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direi- tos civis, políticos, individuais e sociais, garantidos na Constituição e nas leis.

Assim, pode-se afirmar que assegurar a dignidade na velhice é proporcionar ao idoso a oportunidade de trabalho e a manutenção de emprego daqueles que ainda se encontram trabalhando (LINDOSO, 2001, online).

Consequentemente, o Capítulo VI do Estatuto do Idoso (BRASIL, 2003, online) consagra o direito ao trabalho e a profissionalização deste grupo de pessoas. Segue:

CAPÍTULO VI - Da Profissionalização e do Trabalho

Art. 26. O idoso tem direito ao exercício de atividade profissional, respeitadas suas condições físicas, intelectuais e psíquicas.

Art. 27. Na admissão do idoso em qualquer trabalho ou emprego, é vedada a discriminação e a fixação de limite máximo de idade, inclusive para concursos, ressalvados os casos em que a natureza do cargo o exigir. Parágrafo único. O primeiro critério de desempate em concurso público será a idade, dando-se preferência ao de idade mais elevada.

Art. 28. O Poder Público criará e estimulará programas de:

I – profissionalização especializada para os idosos, aproveitando seus potenciais e habilidades para atividades regulares e remuneradas;

II – preparação dos trabalhadores para a aposentadoria, com antecedência mínima de 1 (um) ano, por meio de estímulo a novos projetos sociais, conforme seus interesses, e de esclarecimento sobre os direitos sociais e de cidadania;

III – estímulo às empresas privadas para admissão de idosos ao trabalho.

Assim, buscando minimizar e coibir formas de preconceito, atos discriminatórios e vexatórios, o legislador buscou a inserção deste grupo de forma mais participativa nos meios sociais e laborais, objetivando minimizar atos que desvalorizassem estas pessoas e estimulando sua inclusão social como pessoas dignas e produtivas à sociedade.

Segundo Bobbio (1997, p. 29), “a perspectiva negativa da velhice, presente na gênese de sua ideia, teve como maior consequência um fato do qual os velhos ainda hoje não conseguiram superar: a sua exclusão da vida social”.

Nesse contexto, entende-se que os idosos devem ter o poder de decisão sobre inserir-se ou não no mercado, compreendendo este ato como uma proteção aos direitos fundamentais desta classe.