• Nenhum resultado encontrado

3 O TRABALHO NA TERCEIRA IDADE COMO DIREITO FUNDAMENTAL NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

4 CONQUISTAS SOCIAIS DOS IDOSOS NO SÉCULO XX: REFLEXOS NO BRASIL E MEDIDAS PROTETIVAS CONTRA A DISCRIMINAÇÃO AO

4.4 Princípio do pleno emprego

A busca do pleno emprego é uma das preocupações constitucionais. Salienta Kon (2005, p. 8) sobre a conotação econômica do pleno emprego:

De um modo geral, pleno emprego pode significar que em determinado momento a população economicamente ativa realiza o volume de atividade máxima que é capaz de realizar e pode dizer-se que o pleno emprego se traduz numa situação em que todo o indivíduo que se apresenta no mercado de trabalho a procura de ocupação a encontra. O conceito de pleno emprego, em economia, tem como base uma situação em que não existe qualquer forma de desperdício, seja do capital ou do trabalho. O pleno emprego significa a utilização da capacidade máxima de produção de uma sociedade e, evidentemente, deve ser utilizada para elevar a qualidade de vida da população. [...]. Para os neoclássicos, o conceito de pleno emprego, em economia, tem como base o estado de equilíbrio entre a oferta e a demanda dos fatores de produção, com capacidade máxima de produção da sociedade instalada.[...].

A Constituição Federal de 1988 no artigo 170 fundamenta a ordem econômica na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, almejando a paz social,

observado entre os seus princípios da ordem econômica, o pleno emprego. In verbis (BRASIL, 1988, online):

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

I - soberania nacional; II - propriedade privada;

III - função social da propriedade; IV - livre concorrência;

V - defesa do consumidor; [...]

VIII - busca do pleno emprego; [...]

Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.

objetiva a plenitude da ordem econômica. Visa, inclusive, eliminar as formas de subemprego e buscar uma existência digna. Nesse sentido, assevera Junkes (2005, online):

A busca do pleno emprego é um princípio diretivo da ordem econômica que se contrapõe às políticas recessivas. Estabelece que ela deve ensejar o máximo aproveitamento de todos aqueles que estejam aptos a exercer atividades produtivas, respeitando as respectivas inclinações. A busca do pleno emprego vincula a ordem econômica a criar oportunidades de trabalho para todos viverem dignamente. Tal preceito, portanto, determina que a ordem econômica propicie a erradicação dos subempregos, como os de bóia-fria e de biscateiros. A plenitude do emprego, por outro lado, não se coaduna com a mera busca em termos quantitativos e com o indiscriminado postulado econômico da oferta e da procura. Implica, sim, que ao trabalho corresponda uma remuneração proporcional à sua participação na geração da riqueza, de conformidade com sua posição prioritária na ordem econômica. Aliás, a remuneração de trabalho deve ser suficiente a assegurar “existência digna” ao trabalhador, conforme o caput do art. 170 da Constituição.

[... ]

Ao privilegiar a tutela da livre iniciativa, do trabalho e do pleno emprego, o mandamento constitucional relativo à justiça social, expresso no art. 170 da Constituição, quer se referir, ainda, a uma igualdade de oportunidades. Isso porque para que alguém consiga trabalho ou possa ser um empreendedor, é premissa lógica que sejam abertas portas nesse sentido. Ou seja, são necessárias determinadas condições para que tal possa ocorrer. Isso eqüivale a dizer que o art. 170, caput, do Texto Magno, assegura a igualdade de oportunidades a todos, tanto para trabalhar como para iniciar um empreendimento, vinculando a atuação fomentadora do Estado nessa direção.

Usando-se o mesmo critério hermenêutico utilizado por Bandeira de Mello em relação à Constituição anterior, tem-se que todos os princípios contidos nos incisos e no caput do art. 170 da Constituição integram o conteúdo jurídico da justiça social.

Para que homens e mulheres prossigam suas atividades laborais, as mesmas devem são regradas pelo Direito, que não veta, tampouco dificulta o exercício desse direito ao trabalho, segundo as condições individuais de cada pessoa, garantindo ao trabalhador, inclusive o idoso, também, a mesma assistência nos casos de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais.

Trata-se, pois, da otimização das forças produtivas para a geração de renda, tanto individual, quanto para a nação. Nesse diapasão versa Figueiredo (2006, p.43):

Ressalte-se que, quanto maior o número de cidadãos economicamente ativos laborando de forma rentável, maior será a renda per capita do País, maior será o volume de arrecadação com tributos, diminuindo-se os gastos com despesas oriundas da seguridade social, notadamente previdência e assistência, que poderá focar seus esforços e recursos, tão somente, no notadamente necessitado.

Abre-se um breve comentário no caso da aposentadoria compulsória aos

setenta e cinco anos de idade dos servidores públicos no artigo 1º e 2º da Lei Complementar nº 152, de 03 de dezembro de 2015 (BRASIL, 2015, online):

Art. 1º Esta LC dispõe sobre a aposentadoria compulsória por idade, com proventos proporcionais, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Fede- ral e dos Municípios, dos agentes públicos aos quais se aplica o inciso II do § 1º do art. 40 da Constituição Federal.

Art. 2º Serão aposentados compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição, aos 75 (setenta e cinco) anos de idade:

I - os servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Dis- trito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações; II - os membros do Poder Judiciário;

III - os membros do Ministério Público; IV - os membros das Defensorias Públicas;

V - os membros dos Tribunais e dos Conselhos de Contas.

Com a Lei Complementar supracitada, houve acréscimo em cinco anos na permanência dos servidores públicos nos âmbitos federais, estaduais e municipais até a aposentadoria compulsória, pois o legislador entendeu que os referidos servidores poderiam permanecer mais tempo no serviço público e contribuir de forma proveitosa no repasse de seus conhecimentos para melhoria do serviço.

Geralmente isso se evidencia nas universidades. São profissionais (professores, técnicos e cientistas) renomados, com alta qualificação que dão continuidade ao seu trabalho, colaborando para levar mais descobertas e conhecimento nos meios acadêmicos, com ganhos sociais relevantes. No serviço público há, portanto, esta concessão de permanência dos servidores no exercício de suas atividades até a aposentadoria compulsória.

No serviço privado, há pouco incentivo e, quando o idoso é admitido, ocorre algumas vezes a estipulação de salário inferior ao valor de mercado, devido a sua condição etária ou ainda o empregador diminui sua remuneração, justificando o fato do empregado já possuir o benefício da aposentadoria, fato este reprovável sobre todos os aspectos éticos e jurídicos. Acerca do tema, José Afonso da Silva (2002, p. 224) relata:

relações de emprego. Por um lado, recusa-se emprego a pessoas mais idosas, ou quando não, dão-se-lhes salários inferiores aos dois demais trabalhadores. Por outro lado, paga-se menos a jovens, embora para a execução de trabalho idêntico ao de homens feitos. A Constituição traz norma expressa proibindo diferença de salários, de exercício de funções e de critérios de admissão por motivo de idade (art. 7º, XXX). À vista desse texto, fica interditado estabelecer idade máxima para o ingresso no serviço, como tem ocorrido até agora.

Neste aspecto, os longevos se tornaram vítimas das práticas neoliberais, fato este agravado pela cultura discriminatória arraigada em nossa população em se ter a imagem destas pessoas como inúteis e obsoletas, ultrapassadas ao mercado, ao trabalho, a sociedade, a vida. Os avanços cibernéticos, tecnológicos, fizeram com que esquecêssemos o que realmente somos: humanos, frágeis, passíveis de erros. Mas mesmo assim, atingimos um grau de soberba que nos faz desprezar estas gerações que nos antecederam, os rotulando de velhos e inúteis. Delineando, assim, um quadro nefasto típico da exclusão e discriminação, agravado pela evolução tecnológica e globalização, que os têm levado a serem expulsos do processo produtivo e, consequentemente, ao desemprego.

Seguindo essa diretriz, cita-se o artigo 3º da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988, online), que define os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, dentre eles, a promoção do “bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. Na mesma Carta, temos a vedação de diferenças salariais por motivo etário, conforme o já citado artigo 7º, XXX: “proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil” (BRASIL, 1988, online).

4.5 Avaliação da proteção do idoso no Ordenamento Jurídico Brasileiro, sem