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Discursos dos (as) Gerentes: entrevistas não concedidas

5.2 Dez Casos em Análise sob óticas distintas

5.2.2 Ótica dos (as) Gerentes

5.2.2.1 Discursos dos (as) Gerentes: entrevistas não concedidas

Dentre as treze empresas de grande porte (nove na condição de primeira ré e quatro segunda ré) citadas nos autos dos dez processos procedentes selecionados, entrevistaram-se

seis gestores (gerentes gerais das filiais); um deles, o agressor citado no processo. Mas em sete organizações não foi possível realizar as entrevistas.

As negativas dos (as) gerentes correspondem aos casos: de Carmela e Jordana – para as primeiras empresas responsabilizadas (primeira ré), bem como para as coresponsabilizadas (segunda ré); e de Diná, Efrata, Zilá e Odaleia – para as primeiras empresas responsabilizadas (primeira ré). Cabe mencionar que há dois casos em que a empresa VII (de serviço de cobrança) foi autuada como primeira ré.

Os argumentos das não concessões foram:

• Empresa II de serviço de segurança (primeira responsabilizada) no caso de Carmela: nos dois contatos telefônicos, o gerente Chaim mencionou, enfaticamente, que são normas da empresa II não responder sobre esse assunto (assédio moral).

• Empresa XI do segmento industrial (segunda responsabilizada) no caso de Carmela: o gerente geral da indústria XI pediu um briefing por e-mail da pesquisa e informou que passaria para o responsável regional. A resposta por e-mail recebida foi: “Após apresentação do conteúdo de seu trabalho para os responsáveis, informamos que infelizmente por outras demandas, não poderemos atender à sua solicitação. Nos colocamos a disposição (sic) para futuro contato” (CAM, destaque nosso). Em virtude da negativa recebida, um novo retorno foi enviado na tentativa de que o gerente respondesse por e-mail às questões da pesquisa (tendo em vista as “outras demandas” da empresa que impossibilitavam a entrevista presencial). No entanto, nenhuma resposta, a partir da data de 20 de setembro de 2012 até o encerramento desta pesquisa, foi recebida.

• Empresa V do segmento financeiro no caso de Diná: depois da realização de diversas ligações sem retorno, procedeu-se a uma visita à organização. Porém, a gerente Débora não recebeu a pesquisadora e, por intermédio da secretária Debra, disse que não seria possível sequer agendar um retorno. Alegou que a empresa estava recebendo a visita do seu presidente e, além disso, estava passando por processo de avaliação e, nesse caso, a gerente Débora encontrava-se demasiadamente ocupada. Na sequência, novas tentativas foram realizadas por contatos telefônicos, mas não foram bem sucedidas.

• Empresa VII de serviço de cobrança no caso de Efrata: a gerente Electa, por telefone, informou que não tinha autorização para falar sobre o assunto, que era norma da empresa não conceder entrevistas. Segundo Electa, jornalistas já haviam procurado a empresa e, por isso, a ordem dos proprietários era não fornecer nenhum tipo de informação interna. Explicou-

se à gerente que o trabalho era de cunho acadêmico, solicitando-se o contato dos proprietários, na matriz em Belo Horizonte, porém Electa não passou nenhum tipo de informação.

• Empresa I do segmento industrial no caso de Zilá: o gerente geral da empresa tem uma secretaria executiva exclusiva, cujo nome é Zelfa, com qual se realizou todo o contato. Conforme essa secretária, o gerente Zebulom, por ocupar uma posição estratégica, é muito ocupado e, por esse motivo, solicitou um resumo da pesquisa por e-mail, o qual foi enviado com as explicações solicitadas. Não houve qualquer retorno desta empresa. Em outra conversa por telefone, Zelfa informou que imprimiu o e-mail para Pietro e deixou na mesa dele e, dias depois, ele disse que não teve tempo para lê-lo na íntegra. Disse que apenas “correu os olhos bem rápido, pois não tem tempo nem para assinar os contratos que precisa (sic)” (DIÁRIO DE CAMPO). Na sequência, depois de corrido um prazo, em um novo contato telefônico, a secretária relatou que o gerente geral delegou a tarefa de fornecer a entrevista para o subgerente. Contudo, o subgerente informou à secretaria que responderia por e-mail, pois não iria receber a pesquisadora em virtude de outros compromissos. As questões foram enviadas por e-mail, assim como lembretes foram passados para Zelfa, mas, depois de várias semanas, as questões continuaram sem respostas e nenhum retorno foi fornecido. • Empresa VI do segmento de varejo no caso de Odaleia: após ligações telefônicas, as quais não foram bem-sucedidas, realizou-se uma visita a uma das lojas da cidade, em Uberlândia, tendo sido possível conversar com Obdias (gerente da loja), que informou não ter autorização para participar do estudo e que o ideal seria tratar com o consultor Orebe, coordenador das filiais da cidade. Por telefone, Obdias contatou Orebe, que não quis conversar com a pesquisadora, informando apenas um número de telefone celular do responsável pela área de RH, localizada em Belo Horizonte. O contato com esse responsável, Onã, foi realizado, e ele pediu que as questões da pesquisa fossem encaminhadas por e-mail, porém não retornou e não atendeu mais as ligações realizadas.

• Empresa VII de serviço de cobrança (primeira responsabilizada) do caso de Jordana: Trata- se da mesma empresa do caso de Efrata. A gerente não concedeu entrevista – Electa.

• Empresa XII do segmento financeiro (segunda responsabilizada) do caso de Jordana: o gerente estava de férias e, por esse motivo, o contato inicial foi realizado com Jasão, que atendeu a pesquisadora em sua sala, a fim de conhecer melhor o trabalho. Mostrou-se receptivo, todavia mencionou que precisava do aval do gerente Jerusha, sendo ideal que a pesquisadora retornasse à empresa na semana seguinte. O retorno foi realizado, porém Jerusha

atendeu à pesquisadora no saguão da empresa e disse que não gostaria de participar da pesquisa, pois sua vivência era pessoal e não gostaria de compartilhar. Solicitou-se, então, o contato com um responsável pela área de RH e, nesse momento, o gerente, já um pouco exaltado, disse para a pesquisadora que ela estava insistindo muito e que ele só possuía o telefone do 0800 da empresa. A pesquisadora agradeceu a atenção e Jerusha logo entrou em sua sala. Um dos funcionários que estava no saguão (na área de atendimento ao cliente) comentou com uma expressão de desapontamento: “nossa, ele poderia ter te ajudado, eu sei como é difícil fazer pesquisa de faculdade” (DIÁRIO DE CAMPO).

As negativas dos (as) gerentes das empresas citadas nos processos procedentes selecionados parecem divergir das recomendações de uma política diretiva contra o assédio moral no trabalho (KEASHLY; NEUMAN, 2004; MARTININGO FILHO; SIQUEIRA, 2008), pois indicam falta de transparência. Alguns gerentes negaram, diretamente, o envolvimento na pesquisa, devido às “normas da empresa”. Outros, pelo teor do trabalho, expressando na voz receio em falar de tal assunto. E, ainda, outros gerentes, por intermédio de outra pessoa, postergaram a recusa, entendida pelo fato de não terem retornado a uma solicitação feita, e, na Instituição Financeira V, a gerente Débora nem ao menos quis ouvir os termos da pesquisa.

Na empresa V, notou-se, inclusive, que a própria secretária ficou desconcertada ao retornar da sala da gerente. No balcão de atendimento, na primeira visita à empresa, após a pesquisadora explicar o estudo à secretária, ela foi até a sala da gerente com um papel no intuito de agendar uma visita, mas retornou com o papel em branco. E ao fazê-lo afirmou apenas que a gerente encontrava-se muito ocupada (DIÁRIO DE CAMPO). Vale ressaltar que a empresa em questão “[...] é uma das maiores organizações de serviços financeiros e bancários do mundo” (SITE EMPRESA V), e o grupo atua em mais de oitenta países no mundo.

Já na Indústria I - líder no mercado brasileiro em sua área de atuação, além de ser uma companhia de capital aberto (SITE EMPRESA I) -, a vítima Zilá alegou que após sua saída a empresa passou a desenvolver práticas contra o assédio. Passou a ofertar treinamentos e palestras sobre o assunto, por exemplo. Entretanto, a negativa nesta organização, entendida, pela extensiva prolongação em não atender a pesquisadora do estudo, causaria no mínimo insegurança por parte de um investidor. O gerente geral, após sucessivas desculpas da secretaria (tentando justificar porque ele não retornou para tratar o assunto), repassou para outro profissional a tarefa de responder a pesquisa. Este segundo indicado informou que não

poderia receber a pesquisadora e pediu as questões por e-mail, mas nunca respondeu ou sequer justificou a razão disso. Tudo, portanto, ficou na eterna promessa. Não foi possível nessa empresa em nenhum momento ao menos explicar a pesquisa diretamente para o gerente, pois nenhuma resposta direta nos foi dada, todo diálogo ocorreu via secretária.

Assim, é de causar estranheza que algumas empresas tenham por norma não discutir o tema, parecendo que a própria organização tem medo de falar do assunto. Isso demonstra que sua ação é a própria omissão. A negativa em função de outras demandas e falta de tempo também denota uma desatenção em relação ao assunto, o que, potencialmente, pode significar uma falha interna da empresa em relação a ele.

Nessas situações, o silêncio e a omissão andam lado a lado. Não discutir as ocorrências na empresa indica que para esses estabelecimentos o que houve deve ficar no passado. No entanto, se enganam, pois a cada vez que tentam colocar o assunto “por debaixo do tapete” estão na verdade, reforçando o comportamento dos assediadores e construindo um significado positivo para tais ações. Salin (2003a) explica que tal conduta cria um terreno fértil à proliferação do assédio que se manifesta como uma epidemia silenciosa (PIÑUEL Y ZABALA, 2003) e representa diversos efeitos prejudiciais à organização. Entre estes estão o maior absenteísmo, aumento na rotatividade, queda na produtividade, baixa satisfação com a empresa, queda no comprometimento organizacional, atos agressivos contra a empresa. Inclusive pode-se elencar a baixa confiança nos líderes, aumento na frustração, piora no ambiente de trabalho, aumento nos custos de produção, piora da imagem da empresa, perda de clientes, sobrecarga de trabalho sobre colegas, entre outros (BRADASCHIA, 2007).