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DISCUSSÃO INTEGRADA DOS RESULTADOS

O primeiro objetivo desta investigação assentava sobre a estimação do valor monetário médio que os participantes estão dispostos a pagar para reduzir o risco, em 75%, de ocorrerem crimes de assalto à habitação, nas suas áreas de residência e a estimação do valor médio que os participantes já gastaram com medidas de segurança no contexto da habitação.

Principiando pela WTP, esta determinou-se ser de 8 euros e 20 cêntimos por mês. Tal significa que os indivíduos estão dispostos a gastar, por ano, cerca de 98 euros e 40 cêntimos para reduzir o risco de vitimação deste crime, na sua área de residência, em 75%. Não foi feito o posterior escalamento deste valor para toda a população portuguesa, como é comum nos estudos que estimam a WTP, dado que a amostra utilizada não se trata de uma amostra suficientemente abrangente ou representativa da população portuguesa. Adicionalmente, o valor que os participantes indicam estarem dispostos a pagar é calculado em função dos seus rendimentos per capita (i.e., dos seus orçamentos familiares) o que impreterivelmente já inclui a contribuição dos outros membros do agregado familiar. Com efeito, mesmo que esta amostra fosse representativa da população portuguesa, o escalamento para toda a população iria, possivelmente, sobrestimar o valor da disponibilidade para pagar desta população.

Em acréscimo, importa ainda advertir que mesmo a estimativa acima obtida deverá ser considerada com alguma precaução dado que, na conceptualização da questão sobre a WTP,

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não foi incluída uma pergunta adicional através da qual os inquiridos que responderam não estarem dispostos a pagar nada pudessem justificar a sua resposta, impossibilitando a separação dos indivíduos que não estão realmente dispostos a pagar nada, dos protesters19. Quanto a uma

possível comparação da estimativa monetária calculada com as estimativas obtidas noutros estudos, tal tarefa revelar-se-ia praticamente impossível. Em primeiro lugar, o contexto económico português é necessariamente distinto do de países mais desenvolvidos onde são normalmente aplicados os estudos sobre a WTP no âmbito criminal. Em segundo lugar, mesmo uma comparação com estudos aplicados em países em desenvolvimento, ou em Portugal (como o de Soeiro, 2009 e o de Soeiro & Teixeira, 2010), revelar-se-ia de baixa fiabilidade, visto tenderem a ser incluídos diferentes tipos de crime e os cenários hipotéticos contemplarem uma percentagem distinta da redução do risco de vitimação.

Já o valor médio dos gastos totais com as medidas de segurança estimou-se ser de aproximadamente 68 euros (especificamente 67 euros e 77 cêntimos) mas, devido ao extenso intervalo desta variável (0-1000), o desvio-padrão é considerável (de 178 euros e 22 cêntimos). É ainda necessária alguma prudência na consideração do valor médio dos gastos que advêm dos comportamentos de proteção dado que os valores indicados pelos participantes poderão tratar-se de valores aproximados e arredondados e não necessariamente do valor absoluto gasto.

Independentemente das limitações acima descritas, que deverão ser acauteladas na consideração das estimações feitas (i.e., do valor total médio gasto com as medidas de segurança e da quantia que o agregado familiar médio está disposto a pagar para reduzir o risco de vitimação), a importância de obter estes custos não pode ser descurada. A informação de quanto o agregado familiar médio já gastou e está ainda disposto a pagar para não só proteger a sua habitação e a sua família mas também para diminuir o sentimento de insegurança é imprescindível para análises de custo-benefício de políticas ou medidas públicas destinadas a diminuírem o medo do crime. Uma outra possível utilização destes valores, poderá ser, a título de exemplo, proporcionar a reflexão acerca dos gastos que a sociedade tem, nos mercados de segurança privada, de forma a reduzir o risco de vitimação, permitindo até uma possível comparação temporal ou geográfica destes gastos.

O segundo objetivo desta investigação visava a análise das possíveis relações entre as variáveis dependentes (a WTP, os gastos, os comportamentos de precaução e as suas

19 Ou seja, que indicam não quererem pagar devido a algum aspeto do cenário hipotético criado, como, por

exemplo, não acreditarem na eficácia da contratação de pessoas de uma empresa de segurança privada, quando o cenário descrito as mencionar como solução para a redução do risco.

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frequências) e as variáveis individuais e do contexto da habitação. Atentemos sobre a primeira hipótese colocada, a WTP apresenta uma relação negativa com a idade e positiva com as

habilitações literárias, a insegurança económica, o rendimento per capita e com a eficácia subjetiva do trabalho da polícia.

Comecemos pelas variáveis sociodemográficas. Em consonância com a literatura (e.g., Soeiro, 2009), as mulheres da amostra não revelaram diferenças estatisticamente significativas na decisão de gastar, ou não, alguma quantia monetária com vista a reduzir o risco de vitimação na zona de residência comparativamente com os homens. Em relação à idade, no início da apresentação dos resultados constatou-se que as pessoas mais jovens não só optam significativamente mais por pagar alguma quantia, como estão também dispostas a pagar uma quantia significativamente superior (r=-,237; p=,001). Este resultado vai também ao encontro das conclusões da comunidade científica – por exemplo, tanto no estudo de Cohen et al. (2004) como na dissertação de Soeiro (2009), esta relação revelou-se como estatisticamente significativa. Ora, verificou-se anteriormente, na apresentação dos resultados, que as pessoas mais velhas (com idade igual ou superior a 43 anos) têm níveis significativamente superiores de eficácia coletiva, ou seja, confiam mais que os vizinhos irão ajudar caso alguma coisa má ocorra. Este resultado poderá ser especialmente importante para explicar o porquê de as pessoas mais jovens estarem dispostas a pagar mais para reduzirem o risco – na ausência do controlo social informal na zona onde residem aceitam pagar uma quantia superior para reduzirem o risco de vitimação. Adicionalmente, as pessoas mais jovens são as que tendem a reportar rendimentos significativamente superiores (r=-,200; p=,005). Ora, a relação reportada na literatura entre rendimento e WTP parece ser relativamente coesa, indicando que, quanto maior parece ser o rendimento do inquirido, mais disposto estará a pagar para reduzir o risco de vitimação. Esta relação foi encontrada, de forma estatisticamente significativa, no estudo de Ludwig e Cook (1999), no de Cohen et al. (2004) e no de Atkinson, Healey e Mourato (2005). Cohen et al. (2004) argumentam até que esta relação demonstra que a capacidade de pagar tem um papel importante na explicação da quantia reduzida, ou nula, da WTP indicada por pessoas com baixos rendimentos e que residem em áreas com taxas criminais elevadas. Na presente investigação, interessantemente, concluiu-se que estar disposto ou não, a pagar alguma quantia para reduzir o risco de vitimação, não difere significativamente em termos do rendimento per

capita. Contudo, a correlação entre o rendimento per capita e a WTP é, de facto,

estatisticamente significativa (r=,167; p=,011), onde as pessoas com maiores rendimentos estão dispostas a pagar significativamente mais para reduzir o risco de vitimação.

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Em relação às habilitações literárias, os indivíduos com uma maior escolaridade optam significativamente mais por pagar alguma quantia para reduzirem o risco de vitimação assim como por pagarem uma quantia significativamente superior (r=,152; p=,031). Machado (2004) refere que as vitimações relatadas em Portugal, principalmente as patrimoniais, incidem maioritariamente sobre as pessoas que têm mais habilitações literárias e um nível socioeconómico superior. Assim, as pessoas com uma maior escolaridade, que anteriormente se verificou terem também significativamente mais rendimentos (r=,391; p<,001), podem estar dispostas a pagar mais por entenderem o seu risco de vitimação como maior. Uma outra explicação que podemos avançar para este resultado trata-se da possibilidade das pessoas com mais habilitações literárias terem uma maior facilidade em perceber o cenário hipotético descrito o que poderá resultar numa maior disponibilidade para pagar alguma quantia para reduzir o risco assim como em montantes mais elevados. Os resultados na literatura em relação às habilitações literárias não são tão consistentes como quanto à idade. A título de exemplo, Atkinson, Healey e Mourato (2005) obtiveram uma relação positiva, e estatisticamente significativa, entre a WTP e as habilitações literárias, mas, no estudo de Piquero, Cohen e Piquero (2011) esta relação não se revelou como estatisticamente significativa. Ora, dado que as pessoas mais jovens da amostra têm significativamente mais habilitações literárias, e que a educação se trata de um preditor mais forte (da WTP) do que a idade, fica em aberto a questão de se a relação da WTP com a idade não será mediada pelas habilitações literárias.

A insegurança económica também se revelou uma variável estatisticamente significativa, tendo-se observado que os inquiridos com maiores níveis de insegurança económica apresentam uma maior probabilidade não só de investirem monetariamente na redução do risco, mas também de pagarem mais (r=,208; p=,009). Relativamente à relação da insegurança económica com a WTP, diversos autores sugerem que o medo do crime se alimenta de outras ansiedades sociais como a crise económica e a precarização das condições de vida. Esta é também a tese defendida por Fattah (1997) que associa o sentimento de insegurança com a insegurança económica e a incerteza relativamente ao futuro. Desta forma, as pessoas que reportam uma maior insegurança económica podem estar dispostas a pagar mais para reduzirem o risco porque se sentem mais inseguras de modo geral. De facto, como foi possível observar na descrição dos resultados, os indivíduos que sentem mais insegurança económica reportam igualmente uma maior perceção do risco de vitimação (r=,166; p=,037), mais medo de serem vitimizados (r=,354; p<,001) e sentem-se mais inseguros a caminhar sozinhos, na zona de residência, após escurecer (r=,189; p=,017). Uma outra possível justificação para este resultado

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poderá advir da possibilidade de, caso a vitimação acontecesse, as consequências financeiras serem mais problemáticas para estas pessoas.

Importa, contudo, salientar que, na presente investigação, apesar de as variáveis sociodemográficas anteriormente abordadas (i.e., a idade, o rendimento, as habilitações literárias e a insegurança económica) se terem revelado inicialmente como estatisticamente significativas (i.e., na caracterização da amostra segundo a WTP e as variáveis sociodemográficas assim como na análise da correlação entre estas variáveis), no modelo de regressão logística para a predição de estar disposto, ou não, a pagar alguma quantia para a redução do risco, estas variáveis não se revelaram como um preditores estatisticamente significativos.

Por fim, em relação à eficácia subjetiva da polícia, os resultados na literatura são muito limitados; apenas Atkinson, Healey e Mourato (2005) e Soeiro (2009) reportam uma relação positiva entre a WTP e aqueles que consideram a polícia como uma forma eficaz de reduzir o crime. Apesar de nesta investigação não se ter mensurado o mesmo que nos estudos anteriores (visou-se a opinião das pessoas sobre a qualidade do trabalho da polícia), verificou-se que a decisão de gastar, ou não, alguma quantia para reduzir o risco de vitimação não difere em função da forma como os indivíduos avaliam o trabalho da polícia. Adicionalmente, também não se verificou uma relação significativa entre esta variável e estar disposto a pagar mais, ou menos, para a redução do risco na zona de residência.

É ainda de acrescentar que, a respeito da WTP, se obteve um outro resultado interessante no que toca às variáveis do contexto da habitação, que vai para além da hipótese colocada. Especificamente, o meio onde os inquiridos residem revelou-se como um preditor estatisticamente significativo no modelo de regressão logística de explicação final da WTP, onde os participantes que habitam num meio urbano têm uma chance 52% superior de despenderem de uma quantia monetária para reduzir o risco de vitimação na área onde residem. Ora, anteriormente na apresentação dos resultados verificou-se que os participantes que residem num meio urbano são mais jovens e com mais habilitações. Deste modo, mais uma vez fica por responder se esta relação não poderá ser mediada por essas variáveis. Trabalhos de investigação com vista a explorar a possibilidade de mediação, não realizados para efeitos desta dissertação, serão desenvolvidos subsequentemente.

Sumariamente, apesar de a literatura científica sobre os preditores da WTP ser surpreendentemente escassa, especialmente no contexto criminal, a presente investigação permitiu confirmar alguns dos resultados obtidos pela comunidade científica. Outros poder-se-

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ão até considerar como exploratórios, visto que vão para além da análise das variáveis comummente incluídas nos estudos anteriores, fazendo, a nosso ver, evoluir a compreensão e o conhecimento das temáticas a que nos dedicamos neste estudo. Adicionalmente, ao contrário do que é habitual nos estudos que pretendem estimar a WTP para um determinado bem (onde são determinados os preditores de quem está disposto a pagar mais), neste estudo optou-se por relevar, principalmente, os preditores da variável da WTP dicotómica (i.e., de quem está disposto a pagar, ou não, para reduzir o risco de vitimação) não descurando, no entanto, a análise das correlações de quem está disposto a pagar uma maior quantia com as variáveis independentes. Assim, os resultados deste estudo permitiram corroborar a hipótese em questão quase na sua totalidade, encontrando relações estatisticamente significativas referentes à WTP (na sua forma binária e/ou intervalar), exceto no caso da variável da eficácia subjetiva da polícia.

Atentemos agora na segunda hipótese colocada, os gastos com as medidas de segurança

estão associados a um maior rendimento per capita. Se, no caso da WTP aplicada no âmbito

criminal, as análises detalhadas dos seus preditores são relativamente escassas, no caso dos preditores dos gastos com as medidas de segurança, estas são praticamente nulas. Isto traduz- se numa formulação limitada da hipótese de investigação acerca desta variável, hipótese essa que, no presente estudo, foi contradita. De facto, como foi possível observar na apresentação dos resultados, a decisão de gastar, ou não, dinheiro na compra de medidas de segurança não difere em função do rendimento, e o mesmo se verifica no caso da quantia que foi gasta.

Contudo, observou-se um resultado particularmente interessante em relação aos gastos com as medidas de segurança, resultado esse que ultrapassa o escopo da hipótese colocada. Este diz respeito à variável da situação perante a habitação, que se revelou como um preditor estatisticamente significativo no modelo de regressão logística de explicação final do comportamento de ter, ou não, algum gasto com medidas de segurança para proteger a habitação. Verificou-se que as pessoas que têm casa própria têm 37% mais chances de não terem gasto nenhuma quantia monetária com medidas de segurança para proteger a habitação. No entanto, dentro do grupo de quem gastou alguma quantia, a maior incidência trata-se da categoria das pessoas que têm casa própria. De facto, parece-nos lógico que os participantes que sejam os proprietários da habitação onde residem tenham mais gastos com medidas de segurança permanentes para protegerem aquilo que é deles, apesar de não conhecermos outros resultados empíricos que relacionem estas duas componentes. No que diz respeito às restantes variáveis a que nos dedicamos neste segundo objetivo – e à relação destas com os gastos –, não

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se verificou nenhuma outra relação estatisticamente significativa com exceção da relação da WTP com os gastos (r=,224; p=,002). Tal significa que, curiosamente, os indivíduos que tiveram mais gastos com as medidas de segurança estão também dispostos a pagar ainda mais para reduzirem o risco de vitimação. Ora, este resultado deixa-nos com mais perguntas do que respostas. Soeiro (2009) levanta a hipótese de os traços psicológicos da pessoa desempenharem um papel central na predição da WTP, hipótese essa que, segundo este resultado, poderia também abranger os gastos concretos que esses participantes já tiveram – i.e., poderá existir uma propensão individual intrínseca para adotar medidas de proteção contra o crime. Outra possível explicação para este resultado, e talvez complementar da primeira, seria a existência de uma perceção de insegurança crónica por parte dos inquiridos que já compraram dispositivos para proteger a habitação, ou seja, como estas medidas de segurança potencialmente não reduziram o sentimento de insegurança, estas pessoas encontram-se dispostas a experimentar outras soluções e a pagar uma quantia adicional para a redução do risco (quer real, quer percebido). Importa ainda acrescentar que a operacionalização da variável dos gastos nesta investigação não está isenta de problemas. Apesar de não se terem observado relações estatisticamente significativas desta variável com as variáveis sociodemográficas, tal não é particularmente revelador, porque não se controlou quem foi o principal motivador da compra (ou seja, que membro do agregado familiar), quando a compra foi realizada e se foi motivada por algum evento em particular.

Passemos agora para a terceira hipótese colocada neste estudo, tanto o comportamento de

evitamento como a frequência com que este é adotado são influenciados pelo sexo, idade, perceção do estado de saúde e pela eficácia coletiva. Recordemos a revisão da literatura, onde

se verificou que o preditor mais relevante e consistente deste tipo de comportamento é o sexo, especificamente ser do sexo feminino (Garofalo, 1979; Lavrakas & Lewis, 1980; Gates & Rohe, 1987; Cobbina, Miller & Brunson, 2008; May, Rader & Goodrum, 2010). Aliás, mais do que isto, teoriza-se que os preditores que advêm da perspetiva da vulnerabilidade (ser do sexo feminino, ter uma idade mais avançada, ter uma saúde mais debilitada, assim como uma menor eficácia coletiva) representam um papel central na predição dos comportamentos de evitamento (Biderman & Reiss, 1967; Clemente & Kleinman, 1976; Riger, Gordon & LeBailly, 1982; Warr, 1984). Contudo, na presente investigação, das variáveis consideradas na hipótese colocada, apenas o sexo (e, especificamente, pertencer ao sexo feminino) se revelou como um preditor estatisticamente significativo, tal aconteceu tanto no modelo de regressão logística final de explicação do comportamento de evitamento, como também no modelo de regressão

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linear da frequência com que este comportamento é adotado. Isto significa que as mulheres não só optam mais por evitar atender estranhos à porta, como o fazem com uma maior frequência comparativamente com os homens.

Porém, verificou-se um resultado interessante nesta investigação, referente ao comportamento de evitamento, que vai para além da hipotése colocada. Especificamente, observou-se que os indivíduos que nunca passaram por uma experiência de vitimação indicam não só optarem por este comportamento de evitamento como o praticam com uma frequência significativamente superior (r=,224; p=,008). Contudo, nos modelos de regressão do comportamento de evitamento e da frequência com que é adotado, a variável da vitimação, em termos da sua prevalência cumulativa, não se revelou como um preditor estatisticamente significativo. Apesar de este resultado poder parecer algo contraditório, a relação da vitimação com os comportamentos de precaução, especificamente de evitamento, tem resultado em conclusões mistas, como observado, por exemplo, no estudo de Yuan e McNeeley (2015). Adicionalmente uma possível explicação para haver uma maior frequência deste comportamento por quem não foi vitimizado poderá advir, por exemplo, do estudo de Dull e Wint (1997), onde os autores indicam que as pessoas que já passaram por uma experiência de vitimação têm uma imagem mais realista do crime comparativamente com as pessoas que nunca foram vitimizadas que, por sua vez, poderão ter uma imagem distorcida do crime, apresentada pelos media, que enfatiza o crime violento e parece dominar a consciência de quem não tem experiência do crime ‘em primeira mão’ (Machado, 2004).

Importa ainda acrescentar que o comportamento de evitar atender estranhos à porta tratou- se do segundo comportamento mais praticado pela amostra considerada. Comparativamente, no estudo de Warr (1987), o autor indica que apenas 18% dos participantes responderam que se recusam a atender quem bate à porta por terem medo de uma possível vitimação. Contudo, esta discrepância pode dever-se ao facto de o autor ter incluído o termo ‘medo de vitimação’ na questão e, no presente estudo, se ter apenas questionado se os inquiridos tinham esse comportamento por razões de (in)segurança. Por fim, resta apontar algumas limitações à conceptualização do comportamento de evitamento. Para começar, foi apenas considerado um comportamento de evitamento, o de evitar atender estranhos à porta, por se ter restringido os comportamentos praticados por razões de insegurança ao contexto da habitação (i.e., aos comportamentos que podem ser aí praticados). Aliás esta decisão poderá resultar em conclusões um pouco distintas das obtidas para os comportamentos de evitamento mais comummente contemplados na literatura, como, por exemplo, evitar determinados sítios considerados como

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perigosos, o que poderá, à partida, justificar o porquê dos resultados não irem ao encontro da hipótese colocada (exceto no caso do sexo). Adicionalmente, ainda a respeito desta terceira