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Custos do sentimento de insegurança no contexto da habitação

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Academic year: 2021

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Universidade do Porto

Letícia Salomé Alves Couto

CUSTOS DO SENTIMENTO DE INSEGURANÇA NO

CONTEXTO DA HABITAÇÃO

Mestrado em Criminologia

Dissertação realizada sob a orientação de

Professor Doutor Pedro António Basto de Sousa Professora Doutora Inês Maria Ermida de Sousa Guedes

(2)

i

A presente investigação teve como principal objetivo a análise dos custos de antecipação do crime contra a habitação associados ao sentimento de insegurança, com vista a compreender o seu verdadeiro impacto dos mesmos. Para a concretização deste objetivo, recorreu-se a uma abordagem quantitativa, aplicando-se 202 questionários na cidade do Porto. Mais concretamente, procurou-se, num primeiro momento, estimar quanto é que o agregado familiar médio estaria disposto a pagar para reduzir, em 75%, o risco de vitimação na sua zona de residência (WTP), que se determinou ser de cerca de 98 euros anuais, assim como quanto é que tinham já gasto com medidas de segurança com vista a proteger a habitação, concluindo-se que o agregado familiar médio gastou aproximadamente 68 euros. Adicionalmente, procurou-se analisar em que medida as variáveis dependentes (WTP, gastos com as medidas de segurança, os comportamentos de precaução e a frequência com que são adotados) se relacionam com as variáveis individuais do contexto da habitação e do sentimento de insegurança, tendo como objetivo determinar quais são os seus principais preditores e, mais do que isso, quais destas variáveis podem ser consideradas como reações/externalizações do sentimento de insegurança. Os resultados obtidos sugerem que tanto a disponibilidade para pagar para reduzir o risco de vitimação como os gastos com as medidas de segurança podem ser considerados como custos do medo do crime. Em relação aos comportamentos adotados por razões de insegurança, concluiu-se que o comportamento de evitamento e a frequência com que os comportamentos de proteção são postos em prática podem também ser considerados como reações/externalizações do sentimento de insegurança. Contudo, a decisão de adotar os comportamentos de proteção per se e a frequência com que o comportamento de evitamento é adotado já não. Por fim, os resultados desta investigação são discutidos em profundidade com base em investigações empíricas anteriores. Apresentam-se ainda possíveis justificações para os resultados divergentes obtidos, assim como as limitações presentes nesta investigação e recomendações para estudos empíricos futuros sobre esta temática.

Palavras-chave: Medo do crime; comportamentos de proteção; evitamento; sistemas de segurança; custos do crime; sentimento de insegurança

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ii

The main focus of the research conducted here was to analyse costs linked to a fear of crime that were incurred in anticipation of crime against households, so as to understand their true impact. A quantitative approach was adopted to achieve this goal, leading to the application of 202 questionnaires in Porto. More specifically, we sought to estimate the value an average household would be willing to pay to reduce the risk of being victimized by 75% in their residential area (WTP) – calculated to be approximately 98 euros per annum – as well as how much they had already spent on safety measures intended to protect their homes – an estimated 68 euros. Furthermore, we sought to analyse how dependent variables (WTP, spending on safety measures, precautionary behaviours and their frequency) were related to individual and contextual variables related to housing and the fear of crime, so as to determine their main predictors and, moreover, which variables may be considered as reactions/externalizations of the fear of crime. The results suggest that both the willingness to pay in order to reduce the risk of victimization and spending with safety measures can be considered costs of the fear of crime. Concerning behaviours adopted for safety reasons, we concluded that avoidance behaviours and the frequency with which protection behaviours are employed can also be considered reactions/externalizations of the fear of crime. However, the same cannot be said when it comes to the decision of adopting protection behaviours and the frequency with which avoidance behaviours are employed. Lastly, the research results are thoroughly discussed in light of previous empirical research. Possible justifications for the diverging results gathered are also presented, as are the limitations of the research conducted and recommendations for further empirical study on the subject.

Keywords: Fear of crime; protection behaviours; avoidance; security systems; costs of crime

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iii

Antes de mais gostaria de agradecer ao professor Doutor Pedro Sousa e à professora Doutora Inês Guedes, por arranjarem sempre tempo para as inúmeras reuniões onde, impreterivelmente, se discutiam os próximos passos a dar, num espírito de partilha de conhecimento e opiniões e, acima de tudo, de encorajamento para as tarefas que se seguiam. Em suma, agradeço-vos por me terem orientado com tanta disponibilidade, dedicação e apoio em todas as fases da construção desta dissertação, sem descurar das inúmeras lições de estatística, sugestões teóricas e criticas construtivas que tornaram não só esta dissertação possível como permitiram o meu desenvolvimento pessoal e profissional.

Quero expressar também a minha gratidão por todos os professores, principalmente da escola de criminologia, que passaram pelo meu percurso académico e me proporcionaram as ferramentas e conhecimentos necessários para chegar a esta importante etapa da minha vida.

Agradeço ainda a todas as pessoas que aceitaram participar neste estudo e preencher o questionário de forma anónima, contribuindo para a realização desta investigação. Ao Fernando Afonso pelas constantes palavras de encorajamento, pelos bons bocadinhos passados e por estar sempre pronto a ajudar antes de lhe pedir.

À Fátima e à Rita pelos momentos tão precisos e preciosos de desopilação.

À minha família, especialmente aos meus avós e aos meus pais que me proporcionaram as oportunidades que eles não tiveram.

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iv

Resumo ...i

Abstract ... ii

Agradecimentos ... iii

Índice Geral ...iv

Índice de Anexos ... x

Índice de Tabelas ...xi

Índice de Figuras ... xv

Introdução ... 1

PARTE I: ENQUADRAMENTO TEÓRICO ... 4

CAPÍTULO I: SENTIMENTO DE INSEGURANÇA ... 4

1. O eclodir de um possível problema social ... 4

2. Definição do objeto de estudo: o sentimento de insegurança ... 5

2.1. Componente afetiva e cognitiva do sentimento de insegurança ... 6

2.2. Operacionalização do sentimento de insegurança... 6

3. Preditores individuais da componente cognitiva e afetiva do sentimento de insegurança ... 7 3.1. Vulnerabilidade ... 8 3.1.1. Sexo ... 8 3.1.2. Idade ... 9 3.1.3. Fatores socioeconómicos ... 10 3.2. Vitimação ... 10 3.2.1. Vitimação direta ... 10 3.2.2. Vitimação indireta ... 11

4. Preditores contextuais da componente cognitiva e afetiva do sentimento de insegurança ... 13

(6)

v

5.2. Comportamentos de evitamento ... 21

5.3. Comportamentos de proteção ... 24

5.3.1. Relação da componente afetiva e cognitiva do sentimento de insegurança com os comportamentos de proteção ... 25

5.3.2. Preditores sociodemográficos dos comportamentos de proteção ... 26

5.3.2.1.Vitimação e os comportamentos de proteção ... 27

5.3.3. Preditores socioeconómicos dos comportamentos de proteção ... 27

5.3.4. Visibilidade e satisfação com o trabalho da polícia e os comportamentos de proteção ... 28

5.3.5. Eficácia dos comportamentos de proteção no contexto da habitação a reduzir o risco real e/ou percebido ... 28

5.4. Custos destes comportamentos ... 29

CAPÍTULO II: CUSTOS DO CRIME ... 29

1. Conceitos-Chave dos custos do crime ... 29

1.1. O que são custos do crime ... 29

1.1.1. Custos de oportunidade ... 30

1.1.2. Custos do impacto de primeira ordem e custos do impacto de segunda ordem ... 31

1.1.3. Custos tangíveis e intangíveis ... 31

2. Metodologias para atribuir valores monetários aos custos intangíveis ... 31

2.1.Disponibilidade para pagar ... 32

2.1.1. Revealed preferences vs. Stated preferences ... 32

2.1.2. Revealed preferences – Preço das Propriedades ... 33

2.1.3. Stated preferences ... 35

2.1.3.1.Método de Avaliação Contingente ... 35

2.1.3.1.1. Validade e fiabilidade da avaliação contingente ... 38

2.1.3.2. Abordagem da Satisfação de Vida (Life Satisfaction Approach, LSA) ... 41

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vi

Years – QALY) ... 45

3. Custos do Sentimento de Insegurança ... 47

PARTE II: ESTUDO EMPÍRICO ... 51

CAPÍTULO I: METODOLOGIA ... 51

1. Objetivos e Hipóteses ... 51

2. Materiais e Métodos ... 52

2.1. Caracterização do estudo... 52

2.2. Constituição da amostra ... 52

2.3. Instrumentos e variáveis do projeto de investigação... 53

2.3.1. Grupo I: Questões sociodemográficas ... 53

2.3.2. Grupo II: Questões sobre o contexto da habitação ... 54

2.3.3. Grupo III: Componente comportamental do sentimento de insegurança – Comportamentos de proteção e evitamento no contexto habitacional e com que frequência são adotados (variáveis dependentes) ... 54

2.3.4. Grupo IV: Questões gerais sobre insegurança ... 57

2.3.5. Grupo V: Questões sobre vitimação, eficácia coletiva e satisfação com a polícia ... 58

2.3.6. Grupo VI: Grupo de questões socioeconómicas ... 59

2.4. Procedimentos ... 60

2.5. Procedimentos de análise estatística ... 61

2.5.1. Procedimentos de análise estatística descritiva ... 61

2.5.2. Procedimentos de análise estatística inferencial ... 62

CAPÍTULO II: RESULTADOS ... 63

1. Caracterização da amostra em relação às variáveis independentes ... 63

1.1. Variáveis sociodemográficas ... 63

(8)

vii

2. Caracterização da amostra segundo as variáveis dependentes ... 74 2.1. Disponibilidade para pagar para reduzir o risco de vitimação ... 74 2.1.1. WTP em função das Variáveis Sociodemográficas e Socioeconómicas .. 74 2.1.2. WTP em função do contexto da habitação, da eficácia subjetiva da polícia e da vitimação ... 75 2.1.3. WTP em função da componente cognitiva e emocional do sentimento de

insegurança ... 75 2.2. Componente comportamental do sentimento de insegurança no contexto da habitação e os gastos que daí advêm ... 75 2.2.1. Comportamento de evitamento e a frequência com que ocorre ... 76

2.2.1.1. Comportamento de evitamento em função das variáveis

sociodemográficas ... 76 2.2.1.2. Comportamento de evitamento em função das variáveis do contexto da habitação, da eficácia subjetiva da polícia e da vitimação ... 77 2.2.1.3. Comportamento de evitamento em função da componente cognitiva e

emocional do sentimento de insegurança ... 78 2.2.2. Comportamentos de proteção e a frequência com que ocorrem ... 78

2.2.2.1. Comportamentos de proteção em função das variáveis

sociodemográficas ... 79 2.2.2.2. Comportamentos de proteção em função das variáveis do contexto da

habitação e da eficácia subjetiva da polícia ... 80 2.2.2.3. Comportamentos de proteção em função da vitimação, WTP e

comportamento de evitamento ... 81 2.2.3. Gastos monetários que advêm dos comportamentos de proteção ... 81 2.2.3.1. Gastos monetários em função das variáveis sociodemográficas ... 82 2.2.3.2. Gastos monetários em função das variáveis do contexto da habitação,

da eficácia subjetiva da polícia e das variáveis de vitimação ... 82 2.2.3.3. Gastos monetários em função da componente cognitiva e emocional

do sentimento de insegurança, da WTP e do comportamento de

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viii

vitimação e da eficácia subjetiva da polícia ... 84

3.2. Correlações das variáveis individuais e do contexto da habitação com a componente cognitiva e emocional do sentimento de insegurança ... 84

3.3. Correlações entre as variáveis dependentes e as variáveis sociodemográficas . 85 3.4. Correlações entre as variáveis dependentes e as variáveis do contexto da habitação, da eficácia subjetiva da polícia e da vitimação ... 86

3.5. Correlações entre as variáveis dependentes com a componente afetiva e cognitiva do sentimento de insegurança ... 86

4. Variáveis preditoras dos custos do sentimento de insegurança ... 87

4.1. Variáveis preditoras da WTP ... 88

4.1.1. Variáveis sociodemográficas e WTP ... 88

4.1.2. Variáveis do contexto da habitação, da eficácia subjetiva da polícia e da vitimação, em função da WTP ... 88

4.1.3. Componente cognitiva e emocional do sentimento de insegurança e WTP ... 89

4.1.4. Modelo de explicação final da WTP ... 90

4.2. Preditores de gastar alguma quantia monetária com medidas de segurança ... ... 90

4.2.1. Variáveis sociodemográficas e os gastos ... 90

4.2.2. Variáveis do contexto da habitação, da eficácia subjetiva e da vitimação em relação aos gastos ... 90

4.2.3. Componente cognitiva e emocional do sentimento de insegurança e os gastos ... 91

4.2.4. Modelo final explicativo dos gastos com medidas de segurança para a habitação ... 92

4.3. Preditores do comportamento de evitamento ... 92

(10)

ix

4.3.3. Componente cognitiva e emocional do sentimento de insegurança e o

comportamento de evitamento ... 94

4.3.4. Modelo de explicação final do comportamento de evitamento ... 94

4.4. Preditores da frequência do comportamento de evitamento ... 95

4.5. Preditores dos comportamentos de proteção ... 95

4.6. Preditores da frequência dos comportamentos de proteção ... 96

CAPÍTULO III: DISCUSSÃO INTEGRADA DOS RESULTADOS ... 97

Conclusão ... 109

Referências Bibliográficas ... 112

(11)

x ÍNDICE DE ANEXOS

Anexo I: Questionário ... 127 Anexo II: Resultados do Teste da Normalidade ... 137

(12)

xi Tabela 1: Caracterização da amostra em função das variáveis sociodemográficas categóricas ... 64 Tabela 2: Caracterização da amostra em função do rendimento per capita e das habilitações literárias ... 65 Tabela 3: Caracterização da amostra segundo as variáveis sociodemográficas quantitativas ... 65 Tabela 4: Caracterização da amostra em função das variáveis do contexto da habitação ... 66 Tabela 5: Caracterização da amostra em função das variáveis sociodemográficas sociodemográficas e do contexto da habitação... 67 Tabela 6: Caracterização da amostra segundo a eficácia subjetiva da polícia ... 68 Tabela 7: Caracterização da amostra em função da eficácia subjetiva da polícia e da eficácia coletiva ... 68 Tabela 8: Caracterização da amostra em função da prevalência cumulative e corrente de vitimação ... 68 Tabela 9: Caracterização da amostra em relação à componente cognitiva e emocional do sentiment de insegurança ... 69 Tabela 10: Insegurança a caminhar sozinho(a), na zona de residência, após escurecer, perceção do risco de vitimação e medo em função do sexo e idade (≤ 42 anos e ≥ 43 anos) ... 70 Tabela 11: Caracterização da amostra em função da componente cognitiva e emocional do sentimento de insegurança e das habilitações literárias ... 70 Tabela 12: Caracterização da amostra em função da componente cognitiva e emocional do sentimento de insegurança e da perceção do estado de saúde ... 71 Tabela 13: Caracterização da amostra em função da componente cognitiva e emocional do sentimento de insegurança e do rendimento per capita ... 71 Tabela 14: Caracterização da amostra em função da componente cognitiva e emocional do sentimento de insegurança e do meio de residência ... 72

(13)

xii Tabela 16: Caracterização da amostra em função da componente cognitiva e emocional do sentimento de insegurança e da permanência ... 73 Tabela 17: Caracterização da amostra em função da componente cognitiva e emocional do sentimento de insegurança e da eficácia subjetiva da polícia ... 73 Tabela 18: Disponibilidade para pagar (WTP) ... 74 Tabela 19: WTP em função das variáveis sociodemográficas ... 74 Tabela 20: WTP em função da componente cognitiva e emocional do sentimento de insegurança ... 75 Tabela 21: Comportamentos de precaução, no contexto da habitação, adotados por razões de (in)segurança ... 76 Tabela 22: Frequência dos comportamentos de precaução, no contexto da habitação, adotados por razões de (in)segurança ... 76 Tabela 23: Comportamento de evitamento em função das variáveis sociodemográficas ... 77 Tabela 24: Frequência do comportamento de evitamento em função das variáveis sociodemográficas ... 77 Tabela 25: Comportamento de evitamento em função da componente cognitiva e emocional do sentimento de insegurança ... 78 Tabela 26: Comportamento de proteçao e a frequência media com que ocorrem... 79 Tabela 27: Comportamentos de proteção em função das variáveis sociodemográficas . 79 Tabela 28: Comportamentos de proteção em função das variáveis do contexto da habitação e da eficácia da polícia ... 80 Tabela 29: Comportamentos de proteção em função da vitimação, da WTP e do comportamento de evitamento ... 81 Tabela 30: Gastos com as medidas de segurança ... 82 Tabela 31: Gastos monetários em função das variáveis sociodemográficas ... 82 Tabela 32: Gastos em função da componente cognitiva e emocional do sentimento de insegurança e do comportamento de evitamento ... 83

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xiii

cognitiva e emocional do sentimento de insegurança ... 85 Tabela 35: Correlações das variáveis dependentes com as variáveis sociodemográficas ... 85 Tabela 36: Correlações das variáveis dependentes com as variáveis do contexto da habitação, da eficácia subjetiva da polícia e da vitimação ... 86 Tabela 37: Correlações das variáveis dependentes com a componente cognitiva e emocional do sentimento de insegurança ... 87 Tabela 38: Predição da WTP a partir das variáveis sociodemográficas ... 88 Tabela 39: Predição da WTP em função das variáveis do contexto da habitação ... 89 Tabela 40: Predição da WTP em função da eficácia subjetiva da polícia e das variáveis de vitimação ... 89 Tabela 41: Predição da WTP em função da componente cognitiva e emocional do sentimento de insegurança ... 90 Tabela 42: Predição da WTP a partir das variáveis que nos modelos anteriores se revelaram como estatisticamente significativas ... 90 Tabela 43: Predição dos gastos em função das variáveis sociodemográficas ... 90 Tabela 44: Predição dos gastos em função das variáveis do contexto da habitação ... 91 Tabela 45: Predição dos gastos em função das variáveis de vitimação e da eficácia subjetiva da polícia ... 91 Tabela 46: Predição dos gastos em função da componente cognitiva e emocional do sentimento de insegurança ... 92 Tabela 47: Predição dos gastos a partir das variáveis que, nos modelos anteriores, se revelaram como estatisticamente significativas ... 92 Tabela 48: Predição do comportamento de evitamento a partir das variáveis sociodemográficas ... 93 Tabela 49: Tabela de contingência do comportamento de evitamento em função do sexo ... 93

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xiv Tabela 51: Predição do comportamento de evitamento a partir das variáveis de vitimação e da eficácia subjetiva da polícia ... 93 Tabela 52: Predição do comportamento de evitamento a partir da componente cognitiva e emocional do sentimento de insegurança ... 94 Tabela 53: Predição do comportamnto de evitamento a partir das variáveis que se revelaram como estatisticamente significativas nos modelos anteriores... 94 Tabela 54: Predição da frequência do comportamento de evitamento em função do sexo, idade, insegurança económica, meio de residência, eficácia coletiva e vitimação cumulativa ... 95 Tabela 55: Predição da frequência do comportamento de evitamento a partir da componente cognitiva e emocional do sentimento de insegurança ... 95 Tabela 56: Predição dos comportamentos de proteção em função do sexo, idade, insegurança económica, meio de residência, eficácia coletiva e vitimação cumulativa . 96 Tabela 57: Predição dos comportamentos de proteção a partir da componente cognitiva e emocional do sentimento de insegurança ... 96 Tabela 58: Predição da frequência dos comportamentos de proteção em função do sexo, idade, insegurança económica, meio de residência, eficácia coletiva e vitimação cumulativa ... 96 Tabela 59: Predição da frequência dos comportamentos de proteção a partir da componente cognitiva e emocional do sentimento de insegurança ... 97

(16)

xv ÍNDICE DE FIGURAS

Fig. 1. Sistematização própria da metodologia da disponibilidade para pagar e dos seus diferentes métodos ... 32

(17)

1 INTRODUÇÃO

Delimitar o objeto de estudo desta dissertação com um termo mais adequado do que ‘custos do sentimento de insegurança, no contexto da habitação’ provar-se-ia uma tarefa difícil, não obstante este possuir ainda um certo grau de ambiguidade. Para começar, o vocábulo ‘custos’ tende a remeter-nos apenas para o custo monetário, porém, como explicam Brand e Price (2000), o conceito de custo vai muito para além do estritamente pecuniário, representando todos os possíveis impactos causados, onde o monetário é apenas um de entre um número de possibilidades.

Consequentemente, importa desde já explicitar que a presente investigação, desenvolvida no âmbito do 2º Ciclo de estudos em Criminologia, não tem como finalidade obter um valor monetário agregado (que resulta do somatório de todos os custos) do sentimento de insegurança, ao contrário do que é comummente feito na maioria dos estudos na literatura dos custos do crime. Em vez disso, o objetivo central consiste em analisar os sacrifícios associados às decisões tomadas pelo indivíduo face ao sentimento de insegurança, de modo a deslindar o seu verdadeiro impacto.

Em segundo lugar, optou-se por restringir os custos do sentimento de insegurança ao contexto da habitação porque não seria possível, no decurso do tempo calendarizado para a realização desta dissertação, considerar todos os custos do sentimento de insegurança nos seus diversos contextos (e.g. espaços públicos; local de trabalho). A escolha do contexto residencial foi motivada por ser o local onde ocorrem grande parte dos comportamentos de precaução adotados por razões de insegurança com vista a proteger o indivíduo, a sua família, e a sua propriedade do exterior e da figura do estranho, o que poderá resultar em custos monetários substanciais para o orçamento familiar. Este enfoque no contexto habitacional permitiu cumprir com o primeiro objetivo específico desta investigação – obter uma estimativa indireta do valor que as pessoas atribuem à necessidade de proteção, fruto do sentimento de insegurança – através da análise do padrão de gastos da amostra com medidas de segurança e da estimação de quanto estariam dispostos a pagar mensalmente para reduzir o risco de vitimação, quer real, quer percebido, na zona de residência. Nos restantes objetivos específicos desta investigação pretende-se analisar em que medida as variáveis dependentes (disponibilidade para pagar para reduzir o risco de vitimação na zona de residência; gastos com as medidas de segurança; comportamentos de precaução e frequência com que são praticados) se relacionam com as variáveis individuais, do contexto da habitação e com a componente emocional e cognitiva do

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2

sentimento de insegurança. Com estes objetivos em mente, optou-se por uma metodologia quantitativa, especificamente pela construção e aplicação de um questionário a uma amostra de 202 indivíduos na cidade do Porto.

Os estudos mais atuais tendem a conceptualizar o sentimento de insegurança como um fenómeno multidimensional que se manifesta em emoções, cognições e comportamentos, variando em função do indivíduo e da interpretação que este faz do seu contexto. E, embora seja extensa a literatura sobre os preditores individuais e contextuais do sentimento de insegurança, menos se conhece acerca das suas consequências negativas. É precisamente para colmatar esta lacuna que a presente investigação pretende contribuir, uma vez que todas as alterações e reações externalizadas suscitadas pelo sentimento de insegurança são aqui conceptualizadas como custos deste, onde a componente comportamental desempenhará necessariamente um papel central.

A presente dissertação encerra em si uma estrutura bipartida. A primeira parte, trata-se, impreterivelmente, da parte teórica, atinente ao estado da arte das temáticas em estudo, de onde emergem dois capítulos importantes: o do sentimento de insegurança e o dos custos do crime. Em relação ao sentimento de insegurança, debruçar-nos-emos, numa parte inicial, sobre a sua definição e de que forma surgiu como tópico académico de relevo. De seguida, discutir-se-ão as operacionalizações, assim como os principais preditores individuais e contextuais da componente afetiva e cognitiva do sentimento de insegurança. Rematar-se-á este capítulo com a componente comportamental do sentimento de insegurança, onde se visará: a sua conceptualização; as várias categorizações dos comportamentos de precaução adotados por razões de insegurança que foram surgindo ao longo do tempo; os principais preditores do comportamento de evitamento e de proteção; bem como a discussão sobre a eficácia dos comportamentos de proteção, no contexto da habitação, a reduzir o risco de vitimação real e/ou percebido. Já no capítulo votado aos custos do crime, serão apresentados alguns dos conceitos-chave da literatura dos custos do crime, especificamente definições basilares dos principais tipos de custos, como, por exemplo, os de oportunidade, a distinção entre custos tangíveis e intangíveis e entre custos de primeira e segunda ordem. Posteriormente, debater-se-ão as principais vantagens e desvantagens das metodologias que têm vindo a ser utilizadas para atribuir, de forma estandardizada, valores monetários aos custos intangíveis. Aqui será dado um especial enfoque ao método de avaliação contingente, que permite determinar quanto é que as pessoas estão dispostas a pagar mensalmente para reduzir o risco de vitimação, visto que este método será utilizado na presente investigação. Por fim, no epílogo deste capítulo,

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apresentar-3

se-ão os estudos feitos pela comunidade científica, em relação aos custos do sentimento de insegurança.

A segunda parte será dedicada ao estudo empírico, dividindo-se em três capítulos importantes. O primeiro capítulo visa dar a conhecer as opções tomadas em relação à metodologia seguida nesta investigação, começando pelos objetivos e hipóteses que se pretende atingir e testar respetivamente. Também neste capítulo, descrever-se-á o presente estudo, que se caracteriza como quantitativo e transversal, especificamente a composição do instrumento de recolha de dados (que variáveis contém, como foram operacionalizadas e em que ordem se encontram), a forma de constituição da amostra e os procedimentos de aplicação deste instrumento. Adicionalmente, serão ainda abordados os procedimentos tomados para a análise estatística descritiva e inferencial. O segundo capítulo destina-se à apresentação dos principais resultados obtidos neste estudo. Este iniciar-se-á com a caracterização da amostra (em função das variáveis do estudo), seguida da análise das correlações entre as variáveis dependentes e independentes do estudo e terminará com os resultados dos testes de predição das variáveis dependentes. O terceiro e último capítulo diz respeito à discussão dos resultados desta investigação, na qual se procurará debater os resultados obtidos, articulando e comparando-os com os resultados decorrentes da literatura, sem descurar uma posição crítica face às limitações deste estudo. A dissertação terminará com a conclusão que precede a bibliografia e os anexos.

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4

PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

CAPÍTULO I: SENTIMENTO DE INSEGURANÇA

1. O eclodir de um possível problema social

O sentimento de insegurança surgiu como tópico académico, político e de debate público nos Estados Unidos da América durante a década de 60 (Guedes, 2016). Apesar de a dialética em torno do tópico ser recente, a história de como ganhou tanto destaque não é facilmente inteligível (Spithoven, 2017) – desta forma, alguns autores1 apresentaram conjeturas diferentes

para explicar o eclodir do sentimento de insegurança como problema social.

Adicionalmente, não podemos deixar de realçar o papel dos inquéritos de vitimação como alavanca do estudo do sentimento de insegurança. Como refere Spithoven (2017), estes inquéritos de vitimação de grande escala, nos quais se incluíram questões sobre o sentimento de insegurança, foram inicialmente aplicados no contexto norte-americano. Em 1977, Sparks, Genn e Dodd (cit. in Spithoven, 2017) investigaram, pela primeira vez, o sentimento de insegurança em solo europeu, nomeadamente em Londres. Pouco tempo depois, em 1984, o sentimento de insegurança já se tinha tornado o enfoque principal do British Crime Survey. Apesar de, nessa altura, nem os próprios investigadores estarem plenamente cientes de tudo o que o sentimento de insegurança comportava, este foi ganhando cada vez maior importância por, preliminarmente, se pensar que a grande insegurança e preocupação que a população aparentava demonstrar se devia ao aumento do crime (Machado, 2004).

No contexto português, o sentimento de insegurança manifestou-se como um possível problema exponencial apenas na década de 90 (Agra, Quintas & Fonseca, 2001). Machado (2004) reforça ainda que este alarme se foi traduzindo nas respostas dadas aos inquéritos realizados pelo Gabinete de Estudos e Planeamento do Ministério da Justiça. Com efeito, no inquérito realizado em 1992, na área metropolitana do Porto, 36% dos participantes indicaram sentirem-se inseguros a caminhar, à noite, nas suas zonas de residência. Já no inquérito de vitimação de 1994, na mesma zona, esta percentagem subiu para 42% e, em 1997, para 50%. Contudo, em 1994, os níveis de criminalidade na cidade do Porto ocupavam o lugar mais baixo na hierarquização dos problemas sociais segundo a gravidade (ibid), o que é sugestivo de uma sobrestimação dos níveis de risco. Aliás, muitos investigadores2 já verificaram esta

1 Veja-se, por exemplo, Vanderveen (2006) , Lee (2007) ou Spithoven (2017).

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5

incongruência entre as taxas criminais reais e o sentimento de insegurança que a população indica, o que suscitou nos investigadores uma maior vontade de explorar este fenómeno.

2. Definição do objeto de estudo: o sentimento de insegurança

Em 1981, Garofalo argumentou no seu estudo que aquilo que tem sido mensurado como sentimento de insegurança3 tem a sua origem em algo mais difuso e abrangente do que a ameaça

percebida de um perigo específico. Esta ideia foi posteriormente seguida pelo Figgie Report (1980), conduzido pela Research & Forecasts, Inc., onde foi feita a distinção entre o medo concreto de ser vítima de crimes violentos (medido por uma escala de Guttman) e entre medo intangível, onde existe uma ameaça vaga à segurança de uma pessoa.

Também Agra (2007) e Agra e Kuhn (2010), por exemplo, definem o fenómeno da insegurança como constituinte de duas componentes: a componente objetiva (que engloba a realidade do mundo exterior tal como ela é, incluindo o crime, a vitimação e os comportamentos antissociais, contextualizados pela sociedade em que se inserem) e a componente subjetiva, que diz respeito à ressonância subjetiva e intersubjetiva com que as pessoas e a comunidade interpretam a dimensão objetiva; esta poderá ser expressa através de dimensões cognitivas, afetivas e/ou comportamentais (Guedes, Cardoso & Agra, 2012).

No que respeita à insegurança subjetiva, há ainda autores que sugerem que as pessoas, ao falarem do seu medo do crime, poderão estar a dar voz e expressão a ansiedades que não estão necessariamente relacionadas com o crime. Como Jackson (2005) acrescenta, o crime aparenta ser um rótulo que as pessoas usam para descrever a saúde da ordem social. Este processo de transposição de inseguranças de outros contextos para o criminal tem sido denominado como metaforização ou deslocamento (Machado, 2004). Vieno, Roccato e Russo (2013), por exemplo, sugerem até que o sentimento de insegurança se trata, na realidade, de uma insegurança latente a nível social e económico. Dowds e Ahrendt (1995, cit. in Jackson, Farral & Gray, 2007), através do British Social Attitudes Survey de 1994, demonstram também como o sentimento de insegurança pode ser entendido enquanto reflexo de uma insegurança mais geral sobre o mundo moderno.

3 Dever-se-á desde já salientar que, quando nos referimos a sentimento de insegurança e a medo do crime,

estamos a aludir ao mesmo constructo. Não obstante, quando se pretender abordar a componente emocional do sentimento de insegurança, isso será explicitado ou utilizar-se-á apenas o termo ‘medo’ ou ‘medo de ser vitimizado(a)’ e não ‘medo do crime’.

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6 2.1. Componente afetiva e cognitiva do sentimento de insegurança

O que parece ser atualmente consensual na literatura do sentimento de insegurança é que este constructo engloba pelo menos o risco percebido de vitimação e o medo – existindo uma importante distinção entre os dois. O medo é conceptualizado como uma resposta emocional à possibilidade da vitimação criminal. Por outro lado, o risco percebido trata-se de uma avaliação cognitiva da probabilidade de vitimação criminal (Brown & Benedict, 2012). Portanto, apesar de o risco e o medo estarem intimamente relacionados, são fenómenos que não se sobrepõem integralmente (Machado, 2004).

Já em 1974, Fowler e Mangione (cit. in DuBow, McCabe & Kaplan, 1979) fizeram a distinção entre a avaliação do risco e a reação emocional, indicando que as pessoas podem partilhar uma avaliação comum da probabilidade de serem vítimas de um determinado crime (risco percebido; dimensão cognitiva), mas que é na seriedade e preocupação com os quais encaram essa probabilidade que tendem a existir flutuações (medo de ser vitimizado; dimensão emocional). Aliás, como expõem Hollway e Jefferson (1997), as pessoas com a mesma perceção de risco não têm necessariamente o mesmo nível de medo, porque tendem a conceptualizar o risco de diferentes formas; e esta conceptualização varia de acordo com as circunstâncias e as experiências individuais. Rountree e Land (1996) encontraram ainda apoio empírico para a conceptualização distinta destas duas componentes do sentimento de insegurança – i.e., os resultados assinalaram diferenças entre os preditores do risco percebido e do medo.

2.2. Operacionalização do sentimento de insegurança

Apesar do que foi referido na secção anterior, a maioria dos estudos iniciais sobre o sentimento de insegurança, conceptualizaram e trataram o sentimento de insegurança apenas com um único indicador: ‘como se sente ao andar sozinho(a) na sua zona de residência após escurecer?’ São abundantes os problemas que esta questão levanta (para uma reflexão destes veja-se, por exemplo, Guedes, 2016), sendo que a limitação mais flagrante é que, como argumenta Jackson (2006), esta pergunta parece avaliar apenas o risco de forma geral, sem ter qualquer medida para o medo ou até mesmo uma menção ao crime.

Devido a esta operacionalização inadequada de um constructo que parece ser tão abrangente, durante muitos anos foram continuamente surgindo dúvidas sobre a validade e fiabilidade dos resultados obtidos (e.g. Skogan, 1986; Fattah, 1993; Farrall et al., 1997). Já em 1979, DuBow, McCabe e Kaplan levantavam a hipótese de os níveis do sentimento de

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insegurança serem um artefacto das metodologias e operacionalizações usadas. Farrall et al. (1997) desenharam assim um estudo para testar a fiabilidade das questões colocadas nos questionários que medem o sentimento de insegurança, adicionando uma entrevista qualitativa como follow-up do questionário para verificar a existência de possíveis problemas metodológicos. Como os resultados revelaram inconsistências significativas (e.g., a mesma pessoa responder de forma substancialmente diferente no questionário e na entrevista de

follow-up), os autores fizeram recomendações para a operacionalização, em estudos futuros, do

sentimento de insegurança. Também o estudo de Collins (2016), por exemplo, vem comprovar que o design do estudo que mede o sentimento de insegurança tem um impacto profundo nas ilações retiradas sobre as pessoas, ou grupos, que tendem a sentir mais receio de serem vitimizados.

Neste sentido, atualmente a maioria dos estudos que têm como enfoque o sentimento de insegurança têm optado por uma operacionalização que permite obter dados sobre as possíveis diferenças entre a perceção do risco e o medo – através, por exemplo, da utilização de um índice para a componente emocional do medo, i.e., sobre quanto medo os participantes sentem de serem vítimas de determinados crimes e um segundo índice para a componente cognitiva, mais especificamente, sobre a perceção do risco dos inquiridos no que toca aos diferentes tipos concretos de crime.

Adicionalmente, Fattah e Sacco (1989) tentaram trazer ainda mais clareza à operacionalização do conceito do sentimento de insegurança. Os autores concordam com a distinção destas duas componentes, mas acrescentam que o sentimento de insegurança é também constituído por mais uma dimensão, a comportamental. Gabriel e Greve (2003), por sua vez, reiteraram a distinção destas três componentes que compõem o constructo que é o sentimento de insegurança.

3. Preditores individuais da componente cognitiva e afetiva do sentimento de insegurança

Após se ter procedido a uma breve exposição do que tem sido feito pela comunidade científica ao nível da conceptualização e operacionalização do sentimento de insegurança, importa debater, em primeiro lugar, quem mais o experiencia e expor sucintamente as explicações desenvolvidas para justificar o porquê de tal acontecer.

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8 3.1. Vulnerabilidade

Esta abordagem, desenvolvida mormente por Killias (1990), explica que os grupos que se percebem como mais vulneráveis são os que sentem mais medo do crime. Como indica Spithoven (2017), o conceito multidimensional da vulnerabilidade pode ser subdividido em: vulnerabilidade física (que diz respeito a uma baixa avaliação geral da capacidade de lidar com um ataque físico), psicológica (onde se inclui uma perceção exígua do controlo, tanto da experiência de vitimação como das consequências desta – para mais detalhes ver Jackson, 2009), socioeconómica (em que as pessoas de estatuto socioeconómico baixo sentem-se mais vulneráveis ao risco de vitimação por não terem recursos para o prevenir nem para lidarem com as possíveis consequências monetárias resultantes da vitimação), ecológica (que diz respeito a uma combinação da vulnerabilidade física das mulheres com a vulnerabilidade social) e, por fim, a vulnerabilidade causada por pertencer a uma minoria (principalmente étnica).

3.1.1. Sexo

Independentemente de como o sentimento de insegurança foi operacionalizado e de outras variáveis individuais, como o país de residência, idade ou classe social, o preditor do sentimento de insegurança mais consistente é, indubitavelmente, o sexo, especificamente ser do sexo feminino (Machado e Agra, 2002; Guedes, Cardoso e Agra, 2012; Collins, 2016). A título de exemplo, no estudo de Carvalho (1991), aplicado na cidade de Lisboa, os resultados indicam que as mulheres são quem sente mais insegurança, quem tem uma maior tendência para considerar que o crime está a aumentar e quem adota mais comportamentos de autoproteção e evitamento. Contudo, as mulheres apresentam uma menor probabilidade de serem vítimas de um crime comparativamente com os homens (Machado, 2004). Este desfasamento ficou conhecido como o paradoxo medo-vitimação.

Na verdade, é pouco provável que os indivíduos consigam avaliar adequadamente o seu nível de risco real em função das taxas criminais das zonas que frequentam. Aliás, como indica Machado (2004), verifica-se, sistematicamente, que o sentimento de insegurança é alimentado por uma sobreavaliação do risco. Coloca-se então a questão: quando já se estabeleceu que o sentimento de insegurança (em todas as suas componentes) não depende necessariamente das taxas criminais reais, será correto preceituar a existência de um paradoxo? Dito isto, na literatura do sentimento de insegurança, foram avançadas várias explicações para esta discrepância (Hale, 1996; Spithoven, 2017): a existência de cifras negras, i.e., a vitimação das

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mulheres reportada é inferior à que realmente ocorre, principalmente no caso dos crimes sexuais e violentos (ver Sacco, 1990); o sentimento de insegurança das mulheres ser, na verdade, o medo de passar por uma experiência de vitimação sexual4; as mulheres têm uma maior

tendência para adotarem rotinas mais precavidas e, portanto, não têm tanta exposição ao risco; e, por fim, as mulheres serem muitas vezes confrontadas com comportamentos que são, de certa forma, áreas cinzentas da legalidade, como, por exemplo, serem seguidas, ou serem vítimas de algumas ações de assédio sexual (ver, por exemplo, Gardner, 1995, ou Macmillan, Nierobisz e Welsh, 2000).

Alguns autores levantaram ainda a possibilidade de esta relação ser, em parte, um resultado da desejabilidade social dos homens5 ao qual Sutton e Farrall (2005) chamam de macho

concealment of fear (Spithoven, 2017).

3.1.2. Idade

Uma outra variável individual profusamente analisada como preditor do sentimento de insegurança é a idade. O sentimento de insegurança nas pessoas idosas e o impacto na qualidade de vida destas pessoas gerou um número substancial de estudos. O consenso inicial apontava as pessoas mais idosas como as mais receosas, apesar de serem menos vitimizadas do que as mais jovens (Hale, 1996). Este fenómeno, mais uma vez, foi denominado como o paradoxo medo-vitimação (Machado, 2004).

Porém, esta relação parece, em parte, dever-se à forma como o sentimento de insegurança é operacionalizado (LaGrange & Ferraro, 1989). Ora, a operacionalização do sentimento de insegurança através de apenas uma questão unidimensional que faz referência a uma atividade muito distante do dia-a-dia da maior parte das pessoas, principalmente dos idosos, parece estar a gerar resultados enviesados no caso desta relação que se pensava ser significativa (Machado, 2004). LaGrange e Ferraro (1989), por exemplo, confirmaram empiricamente que, quando não é utilizada esta questão unidimensional, os resultados tendem a não se revelar como estatisticamente significativos. Vários estudos subsequentes vieram solidificar esta hipótese (e.g., Taylor & Covington, 1993; Ferraro, 1995; Chadee & Ditton, 2003; Moore & Shepherd, 2007; Collins, 2016). Adicionalmente, Pleysier (2010 cit. in Spithoven, 2017) atenta ainda que

4 Exta explicação denomina-se shadow hypothesis (Gordon & Riger, 1989; Stanko, 1990) ou shadow of sexual

assault (Warr, 1985; Jackson, 2009). Ferraro (1996) defende que, caso se controlasse o medo de vitimação sexual

nas mulheres, o efeito do sexo deixaria de existir para a maioria dos crimes e até inverter-se-ia a direção em alguns tipos de crime.

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os efeitos da idade que foram observados não se baseiam em estudos longitudinais e, portanto, a sua interpretação requer ainda mais cautela. Em suma os resultados mais recentes têm revelado que a relação entre o sentimento de insegurança e a idade é mais complexa do que inicialmente se pensava.

3.1.3. Fatores socioeconómicos

Furstenberg (1971) introduziu a variável do bem-estar económico para explicar as possíveis diferenças entre os níveis de medo e risco. Subsequentemente, vários autores têm apontado a classe social como uma variável preditora do sentimento de insegurança (Skogan & Maxfield, 1981; Kennedy & Silverman, 1984 cit. in Machado, 2004). Hale (1996), por exemplo, na sua revisão da literatura concluiu que o sentimento de insegurança se correlaciona negativamente com a posição socioeconómica (controlando a etnia, o rendimento e as habilitações literárias). O estudo de Liska, Sanchirico e Reed (1988) parece também confirmar que o sentimento de insegurança está relacionado com a posição do indivíduo na estrutura social. No entanto, como estabelece Machado (2004), os resultados não são inteiramente conclusivos não só por se verificarem várias contradições entre estudos, mas também por, mais uma vez, variarem em função da operacionalização utilizada.

3.2. Vitimação

3.2.1. Vitimação direta

Como indica Spithoven (2017), uma das hipóteses mais discutidas na literatura do sentimento de insegurança é a de existir uma relação positiva entre o medo do crime e uma experiência de vitimação direta, i.e., que aconteceu à própria pessoa. Esta relação foi, por exemplo, corroborada pelo estudo longitudinal de Denkers e Winkel (1998) 6, que tinha como

amostra a população europeia geral. Neste estudo, os autores compararam as reações das vítimas (antes da ofensa e depois da ofensa) e das não-vítimas. O estudo foi desenhado de forma a controlar a possibilidade de as vítimas de outros crimes anteriores ao estudo poderem vir a demonstrar mais dificuldades psicológicas (como estarem menos satisfeitas com a vida e perceberem o mundo como menos benevolente) assim como para controlar a possibilidade de apresentarem níveis mais elevados de vulnerabilidade percebida do que as pessoas que nunca passaram por uma experiência de vitimação. No geral, as vítimas de crimes violentos

6 Para um outro estudo longitudinal que comprove a relação do sentimento de insegurança com a vitimação

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reportaram sentirem-se mais infelizes e mais inseguras do que as vítimas de crimes de propriedade. A análise fatorial indicou ainda que as pessoas tendem a inserir-se num grupo de

stress emocional geral ou num grupo orientado para a ação (tomando medidas para prevenirem

o crime).

Contudo, Hale (1996), na sua extensa revisão da literatura sobre o sentimento de insegurança, indica que os resultados dos estudos sobre a vitimação direta são mistos. Shapland e Hall (2007), para justificar os resultados inconsistentes desta relação, explicam que não é apenas o tipo de vitimação que é relevante para o sentimento de insegurança, mas também o tempo decorrido desde o episódio de vitimação, o número de vitimações sofridas e a gravidade percebida das mesmas. Além disso, outros autores, como por exemplo Kury e Ferdinand (1998), sugerem que não são apenas as características do episódio criminal que determinam o seu impacto, mas também as da própria vítima – assim é possível que algumas pessoas passem por uma experiência de vitimação, mas não sintam um sentimento de insegurança adicional devido às suas características intrínsecas, e.g., o seu sexo (Machado, 2004).

Agnew (1985) desenvolveu ainda uma outra explicação para a ausência da relação da vitimação direta com o sentimento de insegurança em alguns estudos, avançando que a vitimação pode promover reações de atenuação do sentimento de insegurança. Segundo o autor, tal acontece porque as vítimas usam técnicas de neutralização, semelhantes àquelas usadas pelos ofensores para justificarem os seus crimes, mas, neste caso, têm como propósito ajudar as pessoas que passaram por uma experiência de vitimação a lidarem com essa situação.

Shapland e Hall (2007) observam, por fim, que esta é uma relação difícil de se analisar, principalmente porque a maioria dos estudos não contemplam instrumentos eficazes para explorar esta relação e tendem a não obter dados sobre quanto tempo passou desde a vitimação – quando os efeitos do crime variam consideravelmente em função da passagem de tempo. Independentemente disto, podemos concluir que a experiência de vitimação é uma condição facilitadora, mas não necessária, para o sentimento de insegurança (Machado, 2004). Assim, torna-se claro que a vitimação direta, só por si, não explica o medo do crime, devendo-se isto particularmente ao facto de que muitas das pessoas que se sentem inseguras não terem passado por uma experiência de vitimação criminal.

3.2.2. Vitimação indireta

Os investigadores complementaram a perspetiva da vitimação aclarando que o sentimento de insegurança é um fenómeno que pode ser experienciado não apenas pelas vítimas diretas,

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mas também pelas suas famílias, amigos e colegas, o que tem sido conceptualizado como vitimação indireta ou vicariante (Shapland & Hall, 2007). Este tipo de vitimação pode ainda ser sentido por aqueles que nem sequer tiveram contacto direto com vítimas – para essas pessoas é a ameaça de vitimação que gera a insegurança que, segundo esta abordagem, tende a ser transmitida através de conversas sobre o crime em qualquer contexto, i.e., através dos média ou, por exemplo, através da socialização com os residentes da zona onde a pessoa reside. Aliás, a maior parte dos estudos que abordam a vitimação indireta (veja-se, por exemplo, Hunter & Baumer, 1982 e Taylor & Shumaker, 1990) evidenciam o risco da difusão do sentimento de insegurança através da coesão comunitária e da integração social na zona de residência (Machado, 2004). Russo e Roccato (2010), acrescentam ainda que quanto mais recente tiver sido a vitimação de que ouviram falar, mais impacto terá. Além disso, se a pessoa estabelecer pontos de comparação entre si e a vítima, ocorre um possível reforço da perceção da sua vulnerabilidade (Hale, 1996). Carvalho (1991), por exemplo, encontra referências de vitimação indireta como fonte do sentimento de insegurança em 77,4% da sua amostra.

Não obstante, também aqui, na relação entre a vitimação indireta e o sentimento de insegurança, há posições díspares, principalmente no que diz respeito ao impacto dos media no sentimento de insegurança. Gordon e Heath (1981 cit. in Hale, 1996), num estudo em Chicago, São Francisco e Filadélfia, concluíram que, nas áreas em que os jornais incluíam mais histórias criminais, observaram-se níveis de sentimento de insegurança superiores nos residentes dos referidos locais. Do mesmo modo, O’keefe e Reid-Nash (1987) avaliaram o impacto das notícias criminais dos jornais e televisão e encontraram que uma maior atenção ao crime na televisão estava relacionada com o aumento do sentimento de insegurança. Todavia, os autores não encontraram o mesmo resultado para os jornais (Hale, 1996). Por oposição, Heath (1984) analisou as notícias dos jornais em termos do seu sensacionalismo e concluiu que as notícias criminais, apesar de serem graves, quando se passavam em cidades diferentes das dos participantes, promoviam, contra intuitivamente, uma sensação de reconforto. Liska e Baccaglini (1990) também defenderam este fenómeno da perceção de segurança por comparação. Hale (1996) argumenta ainda que, se as técnicas de Agnew (1985) servem como explicação para as relações ténues entre o medo do crime e a vitimação direta, também se poderá extrapolar que estas servem de explicação para a aparente relação forte entre o sentimento de insegurança e a vitimação indireta – as pessoas, ao ouvirem através de outros o que aconteceu, não passam pelas mesmas técnicas de neutralização que a vítima direta experiencia.

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Em suma, como menciona Smith (1986), os estudos sobre esta temática fornecem-nos dados sobre como a informação atinente ao crime se espalha, mas pouco revelam sobre o processo de como essa informação se transmuta de preocupação saudável para medo.

4. Preditores contextuais da componente cognitiva e afetiva do sentimento de insegurança

Fattah e Sacco, em 1989, vêm argumentar que, desde há muito, os investigadores assumiram, de forma errónea, que o medo é um traço estável/duradouro. Após os subsequentes testes empíricos da intensidade e frequência com que as pessoas experienciam o sentimento de insegurança no seu quotidiano (veja-se, por exemplo, Farrall & Gadd, 2004), os estudos mais atuais tendem a conceptualizar o sentimento de insegurança como um estado temporário que varia não só em função da pessoa, mas também da interpretação que faz do seu contexto (Gabriel & Greve, 2003; Spithoven, 2017).

Há determinadas pistas ambientais que podem potenciar o sentimento de insegurança situacional. As incivilidades percebidas, por exemplo, são um sinal de risco de vitimação, no sentido em que simbolizam o crime e as condições que o propiciam (Bannister, 1993; Ferraro, 1995). Taylor (1999) distingue dois tipos de incivilidades: físicas (e.g. vandalismo e edifícios abandonados) e as sociais (e.g. pessoas a discutirem na rua e prostituição). Os residentes e transeuntes encaram ambas como sendo problemáticas e potencialmente ameaçadoras. E, de uma forma geral, existe o consenso de que, quando uma determinada área apresenta sinais muito proeminentes de deterioração, é provável que ocorra um aumento do nível do medo do crime pelos transeuntes e moradores dessa zona. Como foi teorizado por Wilson e Kelling (1982) na ‘broken windows theory’, e posteriormente reconceptualizada por Innes e Fielding (2002), os sinais de decadência na zona de residência propiciam o sentimento de insegurança por evidenciarem a indiferença comunitária para a delinquência e outros comportamentos desviantes. Sampson (2009) acrescenta ainda que não é a própria desordem que releva, mas sim a perceção que as pessoas têm desta. Por sua vez, a forma como estas são interpretadas é moldada por variáveis individuais (Innes & Fielding, 2002).

Uma variável importante, que também tem sido profusamente analisada como preditora contextual do sentimento de insegurança, é a eficácia coletiva que Sampson, Raudenbush e

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Earls (1997) definem como uma junção da coesão social e do controlo social informal7 – i.e.,

esta variável, ao nível da zona de residência, pretende obter dados sobre se as pessoas confiam umas nas outras e se acreditam que os vizinhos iriam intervir caso algo lhes acontecesse (Guedes, 2016). Como atentam Gates e Rohe (1987), quando existem níveis altos de eficácia coletiva estas respostas de entreajuda contribuem para a redução do sentimento de insegurança, não só porque as pessoas acreditam que os vizinhos viriam em seu auxílio, no caso da ocorrência de uma vitimação, mas também porque desencorajam ativamente o crime através de uma maior vigilância informal.

Por fim, resta acrescentar que, no âmbito dos preditores contextuais, surgiram ramificações teóricas sobre a importância do design ambiental (Nasar & Jones, 1997), dos hotspots do medo (Guedes, 2016), assim como de outras variáveis, para o sentimento de insegurança. A título de exemplo, Brantingham e Brantingham (1991) apelam à necessidade de estudar o sentimento de insegurança em função do meio onde ocorre – que pode consistir na natureza da área geográfica (e.g., se o inquirido habita num meio urbano ou rural), ou, por exemplo, no nível de incivilidades desse local. Aliás, existe já uma robusta base empírica que sugere que os residentes das grandes cidades têm uma maior probabilidade de apresentarem níveis superiores de sentimento de insegurança comparativamente com pessoas que vivem em subúrbios e aldeias, observando-se uma relação positiva entre o tamanho da comunidade e o medo do crime (veja-se, por exemplo, Hale 1996). Segundo esta lógica, o sentimento de insegurança poderá ser, como Durkheim sugeriria, um produto do rápido crescimento que se observa nas grandes cidades ou um receio de pessoas que nos são estranhas. Ainda relacionado com as variáveis do contexto habitacional, um estudo recente de Rollwagen (2016), concluiu, por exemplo, que o tipo de habitação onde se reside parece também exercer alguma influência no sentimento de insegurança.

5. Componente comportamental do sentimento de insegurança

Finda a revisão sobre os principais preditores, quer individuais, quer contextuais, da componente cognitiva e emocional do sentimento de insegurança, resta-nos ingressar pela componente comportamental, especialmente por estes comportamentos, adotados por razões de insegurança, se poderem caracterizar como custos do medo do crime. Aliás, todas as alterações

7 Silver e Miller (2004), por exemplo, definem o controlo social informal como a prontidão dos moradores de

uma determinada zona residencial para se envolverem ativamente em comportamentos destinados à prevenção criminal e do comportamento desviante nessa área.

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e reações externalizadas causadas pelo sentimento de insegurança são aqui entendidas como custos deste – quer sejam eles monetários ou não –, e a componente comportamental não prefigura exceção à regra – pelo contrário, desempenha um papel central. São, de facto, inúmeros os possíveis comportamentos que podem ser considerados como reações ao sentimento de insegurança.

Como denotam Vozmediano, San-Juan e Vergara (2010) e San-Juan, Vozmediano e Vergara (2012), estes comportamentos já foram aludidos na literatura sob diversos pontos de vista. Numa fase inicial, foram conceptualizados como uma consequência, onde o sentimento de insegurança desempenha a função de preditor do ajustamento do comportamento.

É ainda de salientar que o ajustamento do comportamento em função do medo do crime não é necessariamente um aspeto negativo – alguma precaução é imprescindível para toda a população no seu quotidiano. A propósito disto, Jackson e Gray, no seu estudo de 2010, distinguem a preocupação disfuncional, que diminui a qualidade de vida, da preocupação funcional, que motiva a vigilância e hábitos de precaução. Contudo, o momento de volte-face em que estes deixam de ser ações de senso comum e passam a ser consequências/custos, está para além do escopo deste estudo. De igual forma, um outro problema conceptual que poderá surgir desta afiliação é se as reações são realmente um fruto do sentimento de insegurança ou se se tratam de precauções necessárias causadas pelas taxas criminais reais. Alguns estudos demonstraram que os comportamentos tendem a ser influenciados pelo sentimento de insegurança e não por taxas criminais reais, como Lewis e Maxfield (1980), Taub, Taylor e Dunham (1982) e Vozmediano, San-Juan e Vergara (2010). Contudo, há autores que concluíram o contrário, como Gates e Rohe (1987).

DuBow, McCabe e Kaplan (1979) assinalaram também uma questão central acerca dos estudos que abordam as reações comportamentais: se será apropriado considerar um determinado comportamento como reação ao crime, visto que vários dos comportamentos de precaução podem ter por base outras motivações que não o crime ou insegurança. Os autores defendem que esta ambiguidade pode ser em parte colmatada se, aquando da recolha de dados, os inquiridos forem questionados sobre se têm aquele comportamento por razões de segurança. Não obstante, mesmo que um dos motivos seja a (in)segurança, o comportamento humano raramente se deve a um único motivo, como poderá acontecer, por exemplo, com a compra de um cão de guarda (Cohen, 2005).

Em 1982, Riger, Gordon e LeBailly, puseram em causa o sentido da relação entre o sentimento de insegurança e os comportamentos. Estes autores argumentaram e,

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posteriormente, Liska, Sanchirico e Reed (1988) concluíram empiricamente que o medo do crime poderá funcionar como antecedente dos comportamentos – i.e. continuam a ser uma decorrência deste, principalmente no caso do comportamento de evitamento, mas o ajustamento do comportamento irá também exercer a sua influência (como se de um círculo vicioso se tratasse) sobre o sentimento de insegurança. Ferguson e Mindel (2007) e Halliwell (2010) também demonstram este aumento dos níveis do sentimento de insegurança em função do comportamento.

Por este motivo, os programas que se destinam a aumentar a perceção de segurança dos residentes encorajando-os a ter comportamentos de precaução, como aconteceu, por exemplo, no sul da Austrália, têm tendência a apresentar resultados que evidenciam efeitos contrários ao pretendido (Ranzijn, Howells & Wagstaff, 2002), a título de exemplo, um programa de prevenção criminal para promover a vigilância informal, levado a cabo no estado do Minnesota, evidenciou um aumento substancial na preocupação com o crime8 (Governor’s Commission on

Crime Prevention and Control, 1976 cit. in DuBow, McCabe & Kaplan, 1979).

Ollenburger (1981 cit. in Hale 1996), no seu estudo, questiona, por exemplo, quantas medidas de precaução serão necessárias tomar para que uma pessoa se sinta segura. Todavia, neste enquadramento, poderá não ser correto afirmar que as pessoas se sentem inseguras porque não estão convencidas de que os comportamentos de precaução adotados tenham sido suficientes para afastar o perigo. Como referem Rader e Haynes (2012), é necessário esquadrinhar o papel que o comportamento desempenha na produção do medo do crime e, mais especificamente, que tipo de comportamentos têm este efeito.

Por fim, a conceptualização destes comportamentos, e a que tem sido mais comummente utilizada atualmente, defende que os comportamentos adotados por razões de insegurança são uma componente do constructo tripartido que é o sentimento de insegurança, englobandouma componente emocional de medo, uma cognitiva de avaliação do risco e uma atinente aos aspetos conativos (tendência para a ação/comportamentos). Como indica Guedes (2016), embora a ligação entre a componente cognitiva e a afetiva seja clara, menos inequívoca será a ligação entre estas e a componente comportamental.

8 De igual forma, durante as décadas de 70 e 80, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos da América

financiou uma série de programas para reduzir o crime e o sentimento de insegurança. Esse programas consistiam maioritariamente no encorajamento da população para tomarem medidas de precaução e, apesar de não ter sido feita uma análise dos seus efeitos a longo-prazo teoriza-se que tenham tido um efeito contrário ao esperado (Kaniasty & Norris, 1992).

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A existência de uma tendência para a ação/comportamentos exposta por Gabriel e Greve (2003), assim como a tendência para se ser receoso, tem sido analisada em relação aos traços de personalidade das pessoas. Yaden et al. (1976) (cit. in DuBow, McCabe & Kaplan, 1979), por exemplo, concluíram que as pessoas que sentem mais medo (e.g., medo de incêndio na habitação e de acidentes graves) têm uma maior probabilidade de o sentirem em relação a diversas coisas, o que poderá ser indicativo de que o sentimento de insegurança pode também ser explicado por esta tendência geral para se ser receoso, o que por sua vez depende das características demográficas e/ou da personalidade. Em relação aos comportamentos, Guedes (2012) constatou, por exemplo, que a adoção destes se correlaciona negativamente com o psicoticismo9.

Em suma, quer os comportamentos sejam entendidos como uma consequência ou como um elemento constituinte do sentimento de insegurança, poderá ser errado assumir que todos os comportamentos são motivados pelo medo do crime (Gabriel & Greve, 2003). De igual forma, como enunciam Vozmediano, San-Juan e Vergara (2010), alguns comportamentos provavelmente tratam-se de atividades do dia-a-dia sobre as quais ninguém presta muita atenção. Atentemos no exemplo dado por DuBow, McCabe e Kaplan (1979): em perguntas de resposta aberta, apenas 8% dos participantes indicaram exemplos de ajustamento do seu comportamento, mas, em questões de resposta fechada, o padrão de resposta é de pelo menos 2/3. Esta diferença poderá significar que estas ações têm pouca importância para os participantes e, provavelmente, não pensam nelas como comportamentos adotados por razões de insegurança, lembrando-se delas apenas quando se encontram explicitadas.

5.1. Categorização dos comportamentos

Ao longo dos anos, foram surgindo diversas categorizações dos diferentes tipos de comportamentos. Inicialmente, alguns autores optaram por desenvolver índices que combinavam vários tipos de comportamentos sem fazerem qualquer distinção. Ennis (1967), por exemplo, criou um índice de consciencialização de segurança com itens que o autor entendeu representarem esforços para proteger a pessoa e o agregado familiar (e.g., trancar as portas à noite, ter armas de fogo em casa, um cão de guarda, evitar certas ruas e ter um seguro de vida e/ou um seguro para a propriedade). Também Biderman et al. (1967 cit. in DuBow,

9 Guedes (2012) explica que apesar do psicoticismo não ser muito estudado, crê-se que tenha uma base

biológica. Os indivíduos psicóticos são frios, agressivos, egocêntricos, impulsivos, antissociais, sem empatia e rígidos. Para uma análise mais aprofundada sobre esta temática consultar Guedes, Domingos e Cardoso (2018).

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McCabe & Kaplan, 1979) construíram um índice de autoproteção que incluía igualmente vários tipos de comportamentos (proteção pessoal, da habitação ou, de outro edifício do qual é dono ou gerente).

Contudo, sabemos agora que a análise destes índices não é totalmente correta quando não se procede à distinção dos tipos de comportamentos neles presentes. Aliás, Yuan e McNeeley (2016) indicam que os resultados da sua investigação sugerem que a operacionalização utilizada em alguns estudos nos quais é feita apenas a análise conjunta de vários tipos de comportamentos (como, por exemplo, o de Adams, Rohe & Arcury, 2005), poderá produzir resultados limitados – visto que os comportamentos que têm uma natureza distinta, apesar de, muitas vezes, convergirem em alguns preditores, divergem na maioria das variáveis explicativas. Neste sentido, como é já recomendado por Conklin em 1975 e por Skogan e Maxfield em 1981, os estudos que pretendam explicar os comportamentos de precaução (todos os comportamentos ajustados em função do sentimento de insegurança), deverão considerar os diferentes tipos de comportamentos separadamente quando testam explicações teóricas.

5.1.1. Mas que diferentes tipos de comportamentos são estes?

Furstenberg (1972 cit. in Dubow, McCabe & Kaplan, 1979) fez uma contribuição importante para a conceptualização das reações comportamentais através da distinção que realizou entre o comportamento de evitamento (estratégias para a pessoa se retirar da exposição à vitimação) e o de mobilização (comportamento mais planeado e dispendioso). Como indicam Dubow, McCabe e Kaplan (1979), este autor explicitou ainda que o fator distintivo dos comportamentos entre ambas as categorias é o custo monetário desse comportamento. Adicionalmente, para que seja considerado um comportamento de mobilização, é necessário que as despesas financeiras visem a proteção da habitação em vez de reduzirem a exposição à vitimação na rua. Por conseguinte, de acordo com esta distinção, trancar portas, andar de táxi e evitar estranhos – por razões de segurança – tratam-se de comportamentos de evitamento, ao passo que a compra de alarmes, fechaduras extra, entre outros, representam comportamentos de mobilização (ibid). Furstenberg (1972 cit. in Dubow, McCabe & Kaplan, 1979) não encontrou, no seu estudo, nenhuma relação entre os comportamentos de evitamento e os de mobilização – o que significa que há diferenças significativas em termos de em que condições, e de quem é mais provável ter estes dois tipos de comportamentos.

Contudo, o critério usado por este autor gerou alguma controvérsia, principalmente pela falta de clareza da tipologia de determinados comportamentos – por exemplo, comprar uma

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Tabela 1: Caracterização da amostra em função das variáveis sociodemográficas categóricas (N=201)
Tabela 3: Caracterização da amostra segundo as variáveis sociodemográficas quantitativas (N=201).
Tabela 4: Caracterização da amostra em função das variáveis do contexto da habitação (N=201)
Tabela 5: Caracterização da amostra em função das variáveis sociodemográficas e do contexto da habitação
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