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PARTE II: ESTUDO EMPÍRICO

1. Caracterização da amostra em relação às variáveis independentes

1.1. Variáveis sociodemográficas

Como se pode observar na tabela 1, a amostra é constituída por 201 participantes dos quais se observa uma predominância de pessoas do sexo feminino (70%), com o ensino secundário (32,8%) e com uma boa perceção do seu estado de saúde (58,7%). Em relação ao rendimento

64 per capita as categorias com uma maior prevalência são as que englobam valores dos 251 aos

500 euros e dos 501 aos 750 euros mensais.

Tabela 1: Caracterização da amostra em função das variáveis sociodemográficas categóricas (N=201).

As mulheres e os homens não diferem significativamente em termos da perceção do seu estado de saúde (MdnM=96,96; MdnH=110,48; U=3661,00; p=,089) nem quanto às suas

habilitações literárias (MdnM=95,92; MdnH=112,93; U=3514,00; p=,051). No caso do

rendimento per capita as mulheres reportam um rendimento significativamente menor (Mdn=91,79) do que os homens (Mdn=119,49; U=2980,00; p=,001) e este vai aumentando a par e passo com as habilitações literárias, como se pode verificar na tabela 2, o que significa que as pessoas com uma maior escolaridade indicam um rendimento per capita do seu agregado familiar significativamente superior (H=35,46; p<,001). Contudo, importa referir que como o rendimento não se trata do rendimento individual do participante, mas sim do rendimento per

capita, estes resultados devem ser considerados com alguma precaução.

Variáveis Sociodemográficas Amostra Total

N % Sexo Feminino 141 70,1 Masculino 60 29,9 Habilitações Literárias 1º Ciclo (4.º ano) 16 8,0 2º Ciclo (6.º ano) 29 14,4 3º Ciclo (9.º ano) 42 20,9

Ensino secundário (12.º ano) 66 32,8

Licenciatura 27 13,4

Mestrado 18 9,0

Doutoramento 3 1,5

Perceção do estado de saúde

Muito fraca 2 1,0

Fraca 11 5,5

Nem fraca, nem boa 40 19,9

Boa 118 58,7

Muito boa 30 14.9

Rendimento per capita

<250 euros 23 11,6 251-500 euros 53 26,6 501-750 euros 57 28,6 751-1000 euros 39 19,6 1001-1250 euros 11 5,5 1251-1500 euros 7 3,5 >1500 euros 9 4,5

65

Tabela 2: Caracterização da amostra em função do rendimento per capita e das habilitações literárias.

Habilitações literárias

H=35,461

p<,001

Rendimento per capita Mdn

<250 euros 55,80 251-500 euros 90,96 501-750 euros 94,32 751-1000 euros 121,69 1001-1250 euros 123,86 1251-1500 euros 126,07 >1500 euros 158,67

Como podemos observar pela tabela 3, o espectro de idades é amplo, com valores compreendidos entre os 19 e os 76 anos, onde a idade média (obtida através da mediana) é de, aproximadamente, 42 anos, com um desvio-padrão de 11,94. No que toca ao índice de insegurança económica, este apresenta uma mediana de 6,33 (que compreende valores desde o 1,33 até ao 10) e um desvio-padrão de 2,16. A consistência interna desta escala (α=,78), segundo Nunnally (1978), é aceitável.

Tabela 3: Caracterização da amostra segundo as variáveis sociodemográficas quantitativas (N=201).

As idades dos indivíduos não são significativamente distintas entre as mulheres

(Mdn=103,80) e os homens (Mdn=92,81) (U=3738,50; p=,218). Posteriormente, quando se

dicotomizou a variável idade segundo a sua mediana (≤ 42 anos; ≥ 43 anos), observou-se que as pessoas mais novas têm significativamente mais habilitações literárias17 e uma melhor

perceção do seu estado de saúde18 em comparação com as pessoas com mais de 42 anos. No

entanto não se verificaram diferenças estatisticamente significativas quanto ao rendimento per

capita (U=4103,50; p=,051) e aos níveis de insegurança económica (U=2953,00; p=,802) em

função da idade (dicotómica). Em relação à insegurança económica, as mulheres reportaram níveis significativamente superiores desta variável (Mdn=90,35) comparativamente com os homens (Mdn=56,81; U=1542,00; p=<,001). Contudo a insegurança económica não difere de forma estatisticamente significativa em função da perceção de saúde dos indivíduos (H=5,16;

17 Mdn≤42=124,11; Mdn≥43=72,78; U=2418,00; p=<,001 18 Mdn≤42=117,78; Mdn≥43=80,22; U=3102,00; p=<,001 Variáveis Sociodemográficas Amostra Total N Mdn S.D Min-Max α Idade 200 41,50 11,94 19-76 - Insegurança económica 160 6,33 2,16 1,33-10,00 ,78

66 p=,160), das habilitações literárias (H=8,13; p=,229), ou do rendimento per capita (H=6,03; p=,420).

1.2. Variáveis contexto da habitação

Como consta na tabela 4, a amostra é maioritariamente constituída por pessoas com casa própria (61,2%), especialmente apartamentos (52,2%), com as suas habitações localizadas num meio urbano (60,5%), onde residem há mais de 3 anos (61,2%).

Tabela 4: Caracterização da amostra em função das variáveis do contexto da habitação (N=201).

Em relação ao índice de eficácia coletiva, este varia entre 1 e 5, com uma média de 3,55 e um desvio-padrão de ,72. Importa ainda referir que esta escala possui uma elevada fiabilidade visto que apresenta um alpha de Cronbach de ,901.

Atentemos agora na tabela 5, aqui podemos constatar que as pessoas mais velhas optam significativamente mais pela compra de uma casa, seguido da opção de arrendar e, por fim, as pessoas mais jovens a residirem em casa de familiares (p<,001). O rendimento per capita é ainda significativamente distinto relativamente à situação perante a habitação, com as pessoas que residem numa casa arrendada a reportarem um maior rendimento, seguido de quem vive em casa de familiares, e, por fim, de quem tem casa própria (p=,007). No entanto, não se observam diferenças estatisticamente significas em função da insegurança económica. No caso do tipo da habitação onde os indivíduos residem, não se observam diferenças estatisticamente significativas na idade, no rendimento do agregado familiar ou na insegurança económica

Variáveis Contextuais Amostra Total

N %

Situação perante a casa onde reside atualmente

Casa própria 123 61,2 Casa arrendada 42 20,9 Casa de familiares 36 17,9 Tipo de habitação Apartamento 105 52,2 Moradia/casa geminada 42 20,9 Casa clássica (independente) 53 26,4

Outra 1 0,5

Meio onde reside

Rural 79 39,5

Urbano 121 60,5

Há quanto tempo reside nesta casa

Há menos de 1 ano 15 7,5

Entre 1 e 3 anos 23 11,4

Há mais de 3 anos 123 61,2 Sempre vivi nesta habitação 40 19,9

67

sentida. Em relação ao meio onde se localiza a habitação, as pessoas mais velhas escolhem significativamente mais viver num meio rural e as mais jovens num meio urbano (p=,003). Por fim, resta acrescentar que as pessoas mais velhas tendem a residir nas suas habitações há significativamente mais tempo (p<,001). Observam-se ainda diferenças estatisticamente significativas no rendimento per capita reportado em função da permanência (p=,003).

Tabela 5: Caracterização da amostra em função das variáveis sociodemográficas e do contexto da habitação.

Variáveis Idade Rendimento per capita Insegurança económica

Mdn Mdn Mdn Situação perante a habitação Casa própria 123,82 p<,001 H=51,89 7 90,16 p=,007 H=10,01 84,64 p=,217 H=3,06 Casa arrendada 70,24 118,81 80,54 Casa de familiares 56,78 111,71 67,89 Tipo habitação Apartamento 94,37 p=,103 H=4,56 100,40 p=,924 H=,157 81,96 p=,782 H=,782 Moradia 95,74 100,52 80,13 Casa clássica 114,42 96,87 75,89 Meio Rural 114,80 p=,003 U=3570, 50 89,96 p=,050 U=2787, 00 82,11 p=,666 U=2787, 00 Urbano 90,25 105,84 78,82

Permanência Há menos de 1ano 61,33

p<,001 H=24,34 8 74,87 p=,003 H=14,25 7 88,36 p=,564 H=2,040 Entre 1 e 3 anos 57,54 135,82 67,73 Há mais de 3 anos 111,40 93,95 82,54 Sempre viveu na mesma casa 106,64 108,18 79,68

Adicionalmente, as pessoas com mais de 42 anos (Mdn=110,42) apresentam níveis significativamente superiores de eficácia coletiva (i.e., confiam mais que os vizinhos vão intervir se acontecer algo de errado) comparativamente com as pessoas com menos de 43 anos (Mdn=90,21; U=3875,00; p=,013). Verificou-se ainda que a eficácia coletiva não difere significativamente em função do tipo de casa onde os indivíduos residem (H=,598; p=,742), de há quanto tempo lá habitam (H=1,56; p=,668), do meio onde a habitação está localizada (U=4392,50; p=,496), nem do rendimento per capita (H=6,08; p=,414).

1.3. Variáveis de vitimação e da eficácia subjetiva da polícia

Como se pode observar na tabela 6, as pessoas que constituem esta amostra, no geral, opinam que a polícia não tem feito um trabalho nem bom nem mau (49,5%).

68

Tabela 6: Caracterização da amostra segundo a eficácia subjetiva da polícia (N=201).

Contatou-se ainda que a perceção da qualidade do trabalho da polícia não difere de forma significativa em função do sexo (H=1,52; p=,823), da idade (H=6,49; p=,165), da perceção do estado de saúde (H=5,64; p=,228), do meio onde os indivíduos residem (H=5,66; p=,226), da insegurança económica sentida (H=2,25; p=,690) ou da permanência (H=5,71; p=,222). Porém, como se pode constatar na tabela 7, quanto mais os inquiridos consideram que a polícia está a fazer um bom trabalho, mais eficácia coletiva parecem indicar, exceto quando se trata da pior opção (p<,001). De igual forma, os indivíduos que indicam terem um rendimento per capita superior tendem a avaliar o trabalho da polícia como significativamente melhor (p=,042).

Tabela 7: Caracterização da amostra em função da eficácia subjetiva da polícia e da eficácia coletiva.

Índice de eficácia coletiva

H=21,271

p<,001

Rendimento per capita

H=9,91

p=,042

Eficácia subjetiva da polícia Mdn Mdn

Um trabalho muito mau 68,21 41,57 Um trabalho mau 66,68 91,30 Um trabalho nem bom, nem

mau

94,77 106,89 Um trabalho bom 120,43 97,48 Um trabalho muito bom 133,88 103,25

A tabela 8 apresenta informações sobre a quantidade de pessoas da amostra que já passaram por uma ou mais experiências de vitimação durante a sua vida (prevalência cumulativa) assim como sobre a quantidade de pessoas que passou por uma experiência de vitimação nos últimos 12 meses (prevalência corrente).

Tabela 8: Caracterização da amostra em função da prevalência cumulativa e corrente de vitimação (N=201). Eficácia Subjetiva da Polícia Amostra Total

N %

“Diria que a polícia tem feito um…”

Um trabalho muito mau 7 3,5 Um trabalho mau 25 12,5 Um trabalho nem bom nem ma 99 49,5 Um bom trabalho 65 32,5 Um trabalho muito bom 4 2,0

Vitimação Amostra Total

N %

Prevalência cumulativa

Passaram por pelo menos uma experiência de

vitimação 73 36,3%

Prevalência corrente

Passaram por pelo menos uma experiência de

69

Após esta análise inicial verificou-se que ter, ou não, passado por uma experiência de vitimação, quer em termos da sua prevalência corrente ou cumulativa, não difere significativamente em função do sexo (Ucorrente=2586,00; p=,442; Ucumulaiva=4325,50; p=,322),

da idade (Ucorrente=2607,00; p=,625; Ucumulaiva=4228,00; p=,343), da perceção do estado de

saúde (Ucorrente=2759,50; p=,963; Ucumulaiva=4587,50; p=,891), do rendimento per capita

(Ucorrente=2510,00; p=,577; Ucumulaiva=4528,00; p=,983) ou do meio de residência

(Ucorrente=2352,00; p=,117; Ucumulaiva=4004,00; p=,073). Contudo, as pessoas que passaram por

pelo menos uma experiência de vitimação avaliam o trabalho da polícia como significativamente pior (Mdn= 87,34) comparativamente com quem nunca foi vitimizado (Mdn=107,33; U=3675,00; p=,010), apesar do mesmo não se verificar no caso da prevalência corrente (U=25,33,50; p=,426).

1.4. Componente cognitiva e emocional do sentimento de insegurança

A tabela 9 evidencia que tanto o índice da perceção do risco de vitimação como o índice do medo têm uma elevada fiabilidade visto que o α>,9 (especificamente ,914 e ,924) (Murphy & Davidsholder, 2004). Tanto o índice do medo de vitimação (avaliação da componente emocional do sentimento de insegurança) como sentir-se inseguro(a) a caminhar na zona de residência vão do 1-5 (com uma média de 3,14 e 2,57 e um desvio-padrão de 1,15 e ,99, respetivamente. Já a perceção de risco de vitimação (avaliação da componente cognitiva do sentimento de insegurança) varia entre o 1 e o 4,67, com uma média de 2,25 e um desvio-padrão de ,92.

Tabela 9: Caracterização da amostra em relação à componente cognitiva e emocional do sentimento de

insegurança (N=201). N α Min.-Max. IC 95% Mdn SD Perceção do risco de vitimação 200 ,914 1,00 – 4,67 2,12 2,37 2,25 ,92 Medo de ser vitimizado 198 ,924 1,00 – 5,00 2,98 3,30 3,14 1,15 Sentir-se inseguro(a) a caminhar sozinho(a) na zona de residência 201 --- 1 – 5 2,43 2,71 2,57 ,99

Como se pode constatar pela tabela 10, as pessoas do sexo feminino sentem significativamente mais medo de serem vítimas de um crime (U=1667,50; p=<,001), uma maior perceção do risco de vitimação (U=2848,00; p=<,001) assim como uma maior insegurança a caminharem sozinhas, na zona de residência, após escurecer (U=2531,50;

70 p=<,001), comparativamente com os homens. Todavia, no caso da idade (dicotómica), os níveis

só diferem de forma estatisticamente significativa (U= 4092,00; p=,039) quando se trata da perceção de risco de vitimação, com os indivíduos acima dos 42 anos a indicarem uma maior avaliação do risco.

Tabela 10: Insegurança a caminhar sozinho(a), na zona de residência, após escurecer, perceção do risco de

vitimação e medo em função do sexo e idade (≤ 42 anos e ≥ 43 anos).

Variáveis Sexo Mdn p Idade Mdn p

Perceção do risco de vitimação Feminino 110,16 <,001 ≤ 42 anos 92,39 ,039 Masculino 77,97 ≥ 43 anos 109,03 Medo de ser vitimizado Feminino 117,00

<,001 ≤ 42 anos 95,07 ,290 Masculino 58,26 ≥ 43 anos 103,68 Sentir-se inseguro(a) a caminhar sozinho(a) depois de escurecer na zona de residência Feminino 90,35 <,001 ≤ 42 anos 103,94 ,337 Masculino 56,81 ≥ 43 anos 96,47 Teste de Mann-Whitney

No caso das habilitações literárias, apenas os níveis de medo diferem de forma estatisticamente significativa (p=,029) em função desta variável, onde os participantes com escolaridade até ao 9º ano reportaram mais medo, como se pode verificar na tabela 11.

Tabela 11: Caracterização da amostra em função da componente cognitiva e emocional do sentimento de

insegurança e das habilitações literárias.

Habilitações literárias

Risco de vitimação Medo de ser vitimizado(a)

Sentir-se inseguro(a) a caminhar sozinho(a) na sua zona de residência

Mdn Mdn Mdn

1º ciclo (4º ano) 106,72 87,81 75,91 2º ciclo (6º ano) 103,62 104,84 106,64 3º ciclo (9º ano) 108,99 111,33 115,42 Ensino secundário (12º ano) 109,42 110,48 104,57 Licenciatura 75,28 72,93 93,48 Mestrado 75,58 77,68 80,64 Doutoramento 101,33 71,67 89,83

H 11,561 14,097 9,860

p ,073 ,029 ,131

Em acréscimo, como consta na tabela 12, os níveis do índice do medo (p=,004) e da avaliação do risco de vitimação (p<,001) são significativamente superiores quando os participantes entendem a sua saúde como muito fraca.

71

Tabela 12: Caracterização da amostra em função da componente cognitiva e emocional do sentimento de

insegurança e da perceção do estado de saúde.

Perceção do estado de saúde

Risco de vitimação Medo de ser vitimizado(a)

Sentir-se inseguro(a) a caminhar sozinho(a) na sua zona de residência

Mdn Mdn Mdn

Muito fraca 146,00 120,00 132,25 Fraca 81,14 70,23 77,73 Nem fraca, nem boa 128,51 116,68 112,15 Boa 100,53 103,68 104,22 Muito boa 67,10 69,95 79,93

H 22,564 14,097 9,860

p >,001 ,004 ,060

Em relação ao rendimento per capita, o medo difere de forma estatisticamente significativa (p=,015) em função desta variável, onde os participantes de ambos os extremos (i.e., com um rendimento per capita <250 euros e >1500) indicaram os maiores níveis de medo. Porém, no caso da perceção do risco de vitimação e da insegurança a caminhar sozinho(a) na zona de residência, após escurecer, os valores destas variáveis já não são significativamente distintos em função do rendimento per capita, como se pode verificar na tabela 13.

Tabela 13: Caracterização da amostra em função da componente cognitiva e emocional do sentimento de

insegurança e do rendimento per capita.

Rendimento per capita Risco de vitimação Medo de ser vitimizado(a)

Sentir-se inseguro(a) a caminhar sozinho(a) na sua zona de residência

Mdn Mdn Mdn <250 euros 127,28 127,30 116,76 251-500 euros 103,30 99,36 103,77 501-750 euros 89,60 92,65 93,62 751-1000 euros 87,30 80,93 92,08 1001-1250 euros 99,95 86,36 89,32 1251-1500 euros 133,07 107,57 111,00 >1500 euros 93,67 143,13 114,17 H 11,947 15,860 5,327 p ,063 ,015 ,503 ´

Em relação às variáveis do contexto da habitação, as pessoas que residem num meio rural reportam significativamente mais medo (p=,003) e manifestam uma maior perceção de risco de vitimação (p=,009), por oposição às pessoas que vivem num meio urbano. Apesar de não se observarem diferenças estatisticamente significativas no caso da insegurança a caminhar sozinho(a) na zona de residência após escurecer, como se pode constatar na tabela 14.

72

Tabela 14: Caracterização da amostra em função da componente cognitiva e emocional do sentimento de

insegurança e do meio de residência.

Meio de residência

Risco de vitimação

Medo de ser vitimizado(a) Sentir-se inseguro(a) a caminhar sozinho(a) na sua zona de residência

Mdn Mdn Mdn

Rural 112,90 113,74 105,06 Urbano 91,51 89,34 97,52

U 3721,000 3491,500 441,500

p ,009 ,003 ,342

Como se pode verificar na tabela 15, as pessoas que são proprietárias da habitação onde residem reportam significativamente mais medo (H=8,89; p=,012), assim como uma avaliação do risco de vitimação superior (H=9,38; p=,009) apesar da insegurança a caminhar sozinho(a), depois de escurecer, na zona de residência não diferir significativamente em função dos termos de propriedade. Adicionalmente, os indivíduos que residem em moradias avaliam a sua perceção do risco de vitimação como significativamente maior (H=6,71; p=,035) comparativamente com os residentes de outros tipos de habitação. Porém não se observam diferenças significativas no caso do medo de vitimação e na insegurança a caminhar sozinho(a), depois de escurecer, na zona de residência.

Tabela 15: Medo, perceção do risco de vitimação e insegurança a caminhar sozinho(a) na zona de residência

em função do tipo de habitação e dos termos de propriedade.

Variáveis Tipo de casa Mdn p Situação perante a casa Mdn p Perceção do risco de vitimação Apartamento 94,79 ,035 Casa própria 110,09 ,009

Moradia 120,11 Casa arrendada 81,86 Casa clássica 94,29 Casa de familiares 89,17 Medo de ser vitimizado(a) Apartamento 93,83 ,067 Casa própria 109,06 ,012

Moradia 117,12 Casa arrendada 84,99 Casa clássica 94,61 Casa de familiares 83,19 Sentir-se inseguro(a) a caminhar sozinho(a), depois de escurecer, na zona de residência Apartamento 105,24 ,202 Casa própria 104,05 ,589 Moradia 103,13 Casa arrendada 97,90

Casa clássica 89,03 Casa de familiares 94,19

Teste de Kruskal-Wallis

Ainda no que diz respeito ao contexto da habitação, no caso da permanência (i.e., há quanto tempo os indivíduos já residem na atual habitação), apenas os valores do medo de ser vitimizado(a) diferem de forma estatisticamente significativa (p=,032) em função desta variável, onde os participantes que sempre viveram na mesma casa são os que reportam mais medo, como se pode constatar na tabela 16.

73

Tabela 16: Caracterização da amostra em função da componente cognitiva e emocional do sentimento de

insegurança e da permanência.

Permanência

Risco de vitimação Medo de ser vitimizado(a)

Sentir-se inseguro(a) a caminhar sozinho(a) na sua zona de residência

Mdn Mdn Mdn

Há menos de 1 ano 74,70 91,60 107,33 Entre 1 e 3 anos 82,74 69,39 88,61 Há mais de 3 anos 107,12 102,17 105,00 Sempre viveu nesta

habitação

100,01 112,01 93,46

H 6,987 14,097 9,860

p ,072 ,032 ,431

Passando para a variável da eficácia subjetiva da polícia, os indivíduos que avaliam o trabalho da polícia como mau, são os que avaliam o seu risco de vitimação como significativamente superior (p=,044). No entanto os níveis de insegurança a caminhar sozinho(a), após escurecer, na zona de residência, assim como os níveis de medo, não diferem de forma estatisticamente significativa em função da forma como as pessoas avaliam a qualidade do trabalho da polícia (p=,113; p=,298, respetivamente), como se pode observar na tabela 17.

Tabela 17: Caracterização da amostra em função da componente cognitiva e emocional do sentimento de

insegurança e da eficácia subjetiva da polícia.

Considera que a polícia tem feito (…)

Risco de vitimação Medo de ser vitimizado(a)

Sentir-se inseguro(a) a caminhar sozinho(a) na sua zona de residência

Mdn Mdn Mdn

Um trabalho muito mau 76,93 71,29 87,64 Um trabalho mau 118,90 114,04 116,44 Um trabalho nem bom,

nem mau

106,92 102,07 106,37 Um bom trabalho 85,63 92,66 87,84 Um trabalho muito bom 86,25 80,50 83,88

H 9,818 4,900 7,473

p ,044 ,298 ,113

Por fim, no caso das variáveis de vitimação, tanto a perceção do risco de vitimação (U=4164,00; p=,288), a insegurança a caminhar sozinho(a), após escurecer, na zona de residência (U=4154,00; p=,197) assim como o medo de ser vitimizado(a) (U=4135,00; p=,378) não diferem de forma estatisticamente significativa em função de ter passado ou não por uma experiência de vitimação, i.e., em termos da sua prevalência cumulativa (dicotómica). Já em relação à prevalência corrente (dicotómica), as pessoas que passaram por uma experiência de vitimação nos últimos 12 meses indicam sentirem-se significativamente mais inseguros a caminharem sozinho(a)s, após escurecer, na zona de residência (Mdn=118,24), em comparação com quem não foi vitimizado nos últimos 12 meses (Mdn=97,61; U=2203,00; p=,049).

74

Contudo, não se verificam diferenças estatisticamente significativas no caso da perceção do risco de vitimação (U=2496,00; p=,385) e do medo de ser vitimizado(a) (U=2711,50; p=,971).

2. Caracterização da amostra segundo as variáveis dependentes 2.1. Disponibilidade para pagar para reduzir o risco de vitimação

Como se pode constatar na tabela 18, esta tem como função caracterizar a amostra segundo a disponibilidade para pagar dos participantes de forma a reduzir o risco de vitimação. As opções com uma maior prevalência são não pagar nada (32,5%) ou pagar uma quantia inferior a 10 euros (38,5%).

Tabela 18: Disponibilidade para pagar (WTP) (N=201).

2.1.1. WTP em função das variáveis sociodemográficas

Como se dicotomizou a variável da disponibilidade para pagar com vista a reduzir o risco em função de se estavam dispostos a pagar alguma quantia >0 ou não, o teste de independência do Qui-quadrado indicou que esta variável não difere de forma estatisticamente significativa em função do sexo (ᵡ2=2,198; p=,138).

Como se pode ainda verificar pela tabela 19, os indivíduos que manifestam disponibilidade para pagar para reduzir o risco de vitimação são os mais jovens (p=,044), com mais habilitações literárias (p=,015) e que indicam uma maior insegurança económica (p=,022).

Tabela 19: WTP em função das variáveis sociodemográficas.

Estão dispostos a pagar uma quantia superior a 0 para reduzir o risco

Não Sim U p Mdn Mdn Idade 111,81 94,27 3587,50 ,044 Habilitações literárias 86,48 107,25 3476,00 ,015 Estado de saúde 95,24 103,03 4045,50 ,315 Rendimento per capita 88,91 104,68 3634,00 ,062 Insegurança económica 66,48 85,17 1935,00 ,022

Quanto estaria disposto a pagar (WTP), por mês, para reduzir o risco, em 75%, de assaltos à habitação na sua área de residência N % 0 euros 65 32,5 <10 euros 77 38,5 11-20 euros 36 18,0 21-30 12 6,0 >31 euros 10 5,0

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2.1.2. WTP em função do contexto da habitação, da eficácia subjetiva da polícia e

da vitimação

Os indivíduos que residem num meio urbano estão significativamente mais dispostos a pagar uma quantia >0 para reduzir o risco de vitimação comparativamente com os que residem num meio rural (ᵡ2=5,425; p=,020). Porém a disponibilidade para pagar (dicotómica) não difere

em relação às restantes variáveis do contexto da habitação, i.e., a permanência (U=4170,00;

p=,516) a situação perante a habitação (ᵡ2=,062; p=,970), a eficácia coletiva (U=4138,00;

p=,689), o tipo de habitação em que os indivíduos residem (ᵡ2=4,502; p=,212), ou em relação à

avaliação da eficácia subjetiva do trabalho da polícia (U=3972,00; p=,274).

O mesmo se verifica no caso das variáveis de vitimação – não existe uma diferença estatisticamente significativa na disponibilidade para pagar uma quantia >0 em função de ter passado, ou não, por uma experiência de vitimação, quer seja nos últimos 12 meses (prevalência corrente) (ᵡ2=,856; p=,355), ou em toda a vida (prevalência cumulativa) (ᵡ2=,610; p=,435).

2.1.3. WTP em função da componente cognitiva e emocional do sentimento de

insegurança

Como se pode observar na tabela 20, os indivíduos que sentem mais insegurança a caminhar sozinhos, depois de escurecer, na sua zona de residência (p=,019) e os que sentem mais medo de serem vitimizados (p=,007), são os que manifestam disponibilidade para pagar para reduzir o risco de vitimação.

Tabela 20: WTP em função da componente cognitiva e emocional do sentimento de insegurança.

Estão dispostos a pagar uma quantia superior a 0 para reduzir o risco

Sim Não

U p

Mdn Mdn

Perceção do risco de vitimação 104,05 91,65 3812,00 ,147 Sentir-se inseguro(a) a caminhar

sozinho(a), depois de escurecer, na zona de residência

106,81 87,39 3535,50 ,019

Medo de vitimação 106,66 83,45 3279,50 ,007

2.2. Componente comportamental do sentimento de insegurança no contexto da habitação e os gastos que daí advêm

O comportamento de precaução, no contexto da habitação, mais adotado é, sem dúvida, o de trancar as portas e/ou janelas, seguido do único comportamento de evitamento considerado, como se pode observar na tabela 21.

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Tabela 21: Comportamentos de precaução, no contexto da habitação, adotados por razões de (in)segurança

(N=201).

Comportamentos N %

Comportamento de evitamento

Evita atender pessoas estranhas à porta 146 73,4

Comportamentos de proteção

Tem cão de guarda 53 26,4 Deixa a luz acesa quando sai de casa durante a noite 40 20,1 Avisa a polícia/vizinhos quando se ausenta de casa por 2 ou

mais dias

55 32,0 Trancas as portas/janelas da sua casa 197 98,5 Tem um sistema de alarme 29 14,5