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O levantamento sistemático da literatura realizado identificou publicações dos últimos 50 anos que relacionam o espaço escolar aos métodos de ensino e aprendizagem e a Psicologia Ambiental. O levantamento cadastrou 179 referências, iniciando no ano de 1965 e finalizando em 2015. Nesse período, é possível observar um crescente aumento de literatura que aborda os três temas focais dessa pesquisa, demonstrando um aumento do interesse dos pesquisadores nas questões que envolvem o espaço escolar, o comportamento de seus usuários no ambiente físico escolar e os métodos de ensino e aprendizagem. O destaque ficou para o ano de 2009 que apresentou um expressivo aumento na produção literária dos temas focais dessa pesquisa, principalmente na área da arquitetura. Toda a literatura identificada encontrava-se espalhada em diferentes fontes como periódicos, teses, dissertações, livros e sites. Esse material, por sua vez, foi localizado em diferentes bases de dados, sites de periódicos especializados, bibliotecas, banco de teses e dissertações.

A variedade de material obtido nas buscas realizadas com as palavras-chave possibilitou realizar uma subdivisão, dos três temas focais, em trinta subtemas. A quantidade de publicações obtidas de cada subtema demostra que alguns assuntos são mais recorrentes na literatura, como, por exemplo, comunidades de aprendizagem e pedagogia Montessori; enquanto outros são menos frequentes como – tipos de ambientes de aprendizagens (sala de projeto e de ciências), wayfinding, dimensões para projetar. Dessa forma, mostrou-se que o levantamento de literatura pode contribuir para direcionar o planejamento de novas pesquisas científicas relacionadas aos aspectos do edifício escolar. Considera-se que estudos que discutem e avaliem o edifício escolar em todos os seus aspectos – atividades e tipos ambientes, comportamento humano no ambiente construído (escolar), novos métodos de ensino e aprendizagem, entre outros – são importantes fontes de informações/dados para subsidiar discussões que abordem o edifício escolar na sua totalidade, contribuindo para a concepção de ambientes de aprendizagem de qualidade.

Quando se observa a presença dos textos separados a partir dos três temas focais pesquisados, percebe-se a presença marcante de publicações da área da arquitetura, seguida pela da pedagogia. O tema que teve menor participação na literatura selecionada para compor o banco de dados foi a Psicologia Ambiental. O motivo foi que essa área do

conhecimento teve uma participação menor se comparado à arquitetura e à pedagogia, pois enquanto estas contribuíram com oito temas – “Comum a Todas”; abordagens tradicional, comportamentalista e cognitivista; comunidades de aprendizagem; e as pedagogias Montessori, Waldorf e Reggio Emilia - a Psicologia Ambiental colaborou para o tema “Comum a todas”. Por esse motivo, a contribuição da Psicologia Ambiental não foi menos significativa na composição do banco de dados. Ao mesmo tempo, destaca-se a importância dos dados pertencentes a essa área do conhecimento para o banco de dados, uma vez que, 80% dos arquitetos que participaram do teste indicaram que informações relacionadas ao comportamento humano no ambiente escolar são os dados que os projetistas mais sentem falta durante o desenvolvimento do projeto do edifício escolar. O segundo tema mais citado pelos arquitetos no teste pela falta de informações foi teoria pedagógica, indicada por 50% desses profissionais. Entre os temas considerados mais importantes no BD por todos participantes do teste, os métodos de ensino e aprendizagem e a Psicologia Ambiental são citados novamente, reforçando a importância das informações relacionadas a essas duas áreas do conhecimento. Dessa forma, acredita-se que os temas focais que fizeram parte do levantamento sistemático de literatura são relevantes para enriquecer o programa arquitetônico, pois trazem informações multidisciplinares, acrescentando, ao repertório de saberes técnicos do arquiteto, informações/dados de outras áreas do conhecimento importantes para projetar um edifício escolar.

O método Problem Seeking, ferramenta de apoio à elaboração do programa arquitetônico, apoiou a organização e classificação das informações obtidas através da leitura dos textos adquiridos no levantamento sistemático de literatura. O roteiro que compõe a estrutura conceitual Problem Seeking serviu de base para a elaboração das perguntas destinadas a compor o banco de dados. Tal ação, permitiu que os temas – referentes ao projeto de uma edificação e seus futuros usuários – presentes no roteiro do Problem Seeking fossem transportados para as perguntas do banco de dados. Para filtrar as informações obtidas com a leitura dos textos, foi utilizada, também, a classificação do Problem Seeking. Assim, os passos – objetivos, fatos, conceitos e necessidades - e as considerações – forma, função, economia e tempo – serviram de guia para associar uma pergunta à resposta (informação). Todo esse processo teve como objetivo, não só identificar, classificar e documentar as informações extraídas dos textos selecionados, relevantes para o processo de projeto do edifício escolar, mas também evitar excesso de

informação no processo de projeto. Assim, acredita-se que o banco de dados organizou dados significativos, apresentados na forma de resposta, que devem ser discutidos por toda a comunidade interessada em construir ou reformar um edifício escolar.

Ao organizar informações em um banco de dados, esta pesquisa documentou não só as diferentes formas de conduzir o processo de ensino e aprendizagem de cada proposta pedagógica estudada, como também demostrou como o espaço físico escolar de cada método se molda em função das relações professor-aluno, aluno-aluno e escola- comunidade local. Por exemplo, autores como Mizukami, (1986); Santos, (2005); Foucault, (1987); Nair et al. (2009) e Taylor (2009) trazem orientações sobre a abordagem de ensino Tradicional e seu espaço físico. Tais autores caracterizam tal método como ensino centrado no professor e na formação intelectual dos alunos, bem como na disciplina e na vigilância. Para abrigar esse método, o espaço físico escolar, ilustrado nos projetos referenciais, é caracterizado por corredores retilíneos originários da distribuição sequencial das salas de aula, unidades autônomas, cujo interior é organizado em arranjo sociofugal, com foco no professor.

Com a criação de novos métodos de ensino e aprendizagem, as relações entre professor e aluno, aluno e aluno, escola e comunidade se alteraram, nascendo a necessidade de se repensar o espaço físico escolar para se adaptar as novas relações que se estabeleceram. O ensino interacionista que privilegia a interação do aluno com o meio que o envolve, passa a dar prioridade às atividades de interação do aluno com o mundo. Esse fato proporciona ao ambiente de aprendizagem uma nova função, a de contribuir positivamente para o aprendizado de crianças e jovens. Entre os métodos de ensino e aprendizagem pesquisados e que são interacionistas, destaca-se a Pedagogia Montessori. Este método atribui ao espaço físico escolar o papel de meio educador. Para cumprir essa função, o ambiente de aprendizagem montessoriano precisa ser articulado para responder as exigências dessa proposta pedagógica. Dessa forma, uma instituição escolar que segue o método Montessori para educar seus alunos precisa de ambientes específicos - laboratórios, bibliotecas, jardins - projetados para dar suporte tanto ao trabalho em grupo como o individual, espaços para estudo informal e de socialização, áreas externas que trazem a presença da natureza, entre outros espaços. Essa função de contribuir positivamente para o aprendizado do aluno faz parte também da proposta pedagógica das escolas Waldorf e Reggio Emília. Nesta, o espaço físico tem papel de destaque no processo de aprendizagem

das crianças, sendo denominado de “Terceiro Professor”. Para desempenhar esse papel, Malaguzzi considera que o espaço físico escolar deve ser capaz de promover relacionamentos agradáveis entre pessoas de diferentes idades, de criar um ambiente atraente, de oferecer variedade, de promover escolhas e atividades, e potencial para iniciar diferentes tipos de aprendizagem social, afetiva e cognitiva. Essa qualidade ultrapassa as questões técnicas de um edifício escolar, abrangendo requisitos espaciais, psicológicos e comportamentais. Revela-se, assim, a necessidade de reflexão sobre outras áreas do conhecimento detentoras de informações importantes para planejar um espaço escolar adequado as relações interpessoais estabelecidas entre os diferentes usuários que utilizam o espaço da escola dentro do contexto da proposta pedagógica da instituição de ensino.

No que abrange o aspecto pedagógico do edifício escolar, a pesquisa realizada demostrou, também, que o ambiente de aprendizagem foi ampliando gradativamente sua importância no processo de ensino e aprendizagem dos alunos, uma vez que, na idealização das escolas do futuro, o ambiente de aprendizagem é visto como um elemento mediador no processo de ensino e aprendizagem. Dentro desse contexto, ele deixa de ser considerado apenas um pano de fundo para o cotidiano de alunos e professores para assumir a função de apoiar as atividades pedagógicas proposta pelos professores e estimular o aluno em seu aprendizado.

Além de documentar a evolução da arquitetura escolar, a organização das informações em um banco de dados estabeleceu diferenças e semelhanças entre as propostas pedagógicas e seus respectivos espaços. Consequentemente, demonstra-se que cada pedagogia tem suas necessidades próprias de variedade de espaços, de construção uma imagem que a identifica com seus propósitos educacionais, de equipamentos condizentes com as atividades propostas. Por outro lado, evidenciaram-se, também, condições que são comuns a todas como, por exemplo, a necessidade do aluno de se identificar com sua escola; de ter um mínimo de privacidade; de estudar em salas de aula com um número adequado de alunos, sem superlotação. Destaca-se, assim, a contribuição da Psicologia Ambiental que oferece informações importantes relacionadas aos espaços escolares, independente da proposta pedagógica. Por exemplo, os dados apresentados nas pesquisas que estabelecem limites no número de alunos de uma escola para que seja possível personalizar os espaços e despertar o sentimento de comunidade, pode ser considerado um dado importante para definir o tamanho da escola. As informações

relacionadas aos arranjos de layout orientam na organização das salas de aula definindo as possíveis atividades, dentro de um contexto de flexibilidade que não dá oportunidade para espaços neutros.

Como ferramenta de apoio ao processo de projeto participativo ou do trabalho individual do arquiteto, acredita-se que o banco de dados pode contribuir muito para a concepção de espaços de aprendizagem de qualidade; não só por oferecer informações importantes para compor um programa arquitetônico, uma vez que, foi estruturado fundamentado no Problem Seeking; mas também porque foi construído enfatizando-se o fácil acesso das informações, com o intuito de estimular discussões entre os vários participantes de um processo de projeto participativo. Dentro desse contexto, foi perguntado a todos os participantes do teste do banco de dados quanto à facilidade de compreensão e organização das informações. As respostas obtidas trazem direcionamentos no sentido de que a estratégia utilizada – esquema de perguntas e respostas com pequenos textos, desenhos, croquis, tabelas – foi bem-sucedida. Essa qualidade, consequentemente, favorece a utilização da ferramenta em um processo de projeto participativo, facilitando as discussões entre os diferentes interessados na construção da escola – professores, funcionários, alunos, pais, comunidade local, projetistas, construtores, etc. No que diz respeito às perguntas que indagaram sobre a importância da ferramenta para um processo de projeto participativo, obteve-se, também, respostas positivas.

A decisão de abrigar o banco de dados em um site teve como propósito agilizar e facilitar o acesso às informações, colaborando para simplificar o trabalho de pesquisa que o arquiteto precisa fazer antes de começar um projeto. Com o site Arquiteturas & Pedagogias, o projetista tem acesso aos dados agrupados, classificados e documentados. O site, por sua vez, além de caracterizar o método e os espaços físicos de quatro abordagens de ensino e três pedagogias, permite fazer buscas com palavras-chave, oferece um roteiro que pode funcionar como um checklist para elaboração de programa arquitetônico, ilustra cada abordagem de ensino e pedagogia com exemplos de escolas, relata leis e documentos importantes para a educação brasileira. No teste realizado, foram elaboradas perguntas relacionadas ao requisito eficiência que a ferramenta construída poderia proporcionar ao trabalho do arquiteto. Elas retornaram com respostas positivas, pois foi consenso entre os projetistas de que a ferramenta construída facilitaria a pesquisa de informações, bem como

daria suporte ao desenvolvimento do processo de projeto do edifício escolar, trazendo possibilidade de reflexão e eficiência nas tomadas de decisões.

Finalmente, as análises do conteúdo da pesquisa bibliográfica realizada e o teste aplicado aos projetistas, pedagogos, pais e alunos sugere que a ferramenta construída tem potencial para exercer o papel para o qual foi projetada: dar suporte ao trabalho do arquiteto, facilitando as pesquisas necessárias sobre os diferentes aspectos do edifício escolar para que esse seja concebido para cumprir a sua missão de dar suporte ao processo de ensino e aprendizagem que irá acolher, podendo ser considerado como o “Terceiro Professor”.