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DISTRITO FEDERAL E ESTADO DE GOIÁS, BRASIL

Luanna Oliveira Lima1 Wellmo dos Santos Alves2 Maria Antônia Balbino Pereira3

Introdução

A água é um recurso natural fundamental para as mais di-versas formas de vida. A água ocupa aproximadamente 75% da superfície da Terra, sendo assim o constituinte inorgânico mais abundante da matéria viva, integrando aproximadamente dois terços do corpo humano e atingindo até 98% para animais aquá-ticos, legumes, frutas e verduras (LIBÂNIO, 2010). No entanto, a sociedade tem utilizado esse importante recurso de forma in-sustentável e causando vários danos para sua disponibilidade e potabilidade. De acordo com Sperling (2005), a interferência do homem quer de uma forma concentrada, como na geração de despejos domésticos ou industriais, quer de uma forma dispersa,

1 Instituto Federal Goiano - luannaambiental@gmail.com 2 Universidade Federal de Jataí - wellmoagro2@gmail.com 3 Instituto Federal Goiano - mariaantonia099@live.com

como na aplicação de defensivos agrícolas no solo, contribui na introdução de compostos na água, afetando a sua qualidade.

O despejo de efluentes e o escoamento de resíduos oriun-dos da agricultura causam o aumento da quantidade de nutrien-tes presennutrien-tes na água, causando assim a eutrofização do corpo hídrico.

Esteves e Meirelles-Pereira (2011) definem “eutrofização”

como o aumento da concentração de nutrientes-especialmente o fósforo - em um dado ecossistema aquático, que tem como conse-quência o aumento da produtividade e alterações diversas ao seu funcionamento.

Com intuito de preservar a qualidade dos corpos hídricos e o bem-estar da população, torna-se necessária a criação e apli-cação de mecanismos de gestão e monitoramento da qualidade dos ambientes aquáticos. Isso ocorre em função da alteração das características físicas, químicas e biológicas do ambiente acarreta-das pela poluição (BRAGA et al., 2005). No Brasil, esse monitora-mento é feito considerando como valores de referência os níveis exigidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONA-MA), o qual estabelece limites que devem ser seguidos conforme enquadramento dos corpos hídricos.

A resolução CONAMA 357, de 17 de março de 2005, dis-põe sobre a classificação dos corpos hídricos e diretrizes para seus enquadramentos e dá outras providências. De acordo com essa resolução, em seu Art. 42, enquanto não aprovados os respecti-vos enquadramentos, as águas doces serão consideradas classe 2, exceto se as condições de qualidade atuais forem melhores, o que determinará a aplicação da classe mais rigorosa correspondente (BRASIL, 2005). Assim, as águas da bacia do Rio Preto são enqua-dradas na classe 2.

O Programa Nacional de Avaliação da Qualidade das Águas

(PNQA) é um programa lançado pela Agência Nacional de Águas (ANA), importante para a expansão do conhecimento sobre a qualidade das águas superficiais no Brasil, de forma a orientar a elaboração de políticas públicas para a recuperação da qualidade ambiental em corpos d’agua, sendo que, por meio desse progra-ma, são disponibilizados metadados sobre variáveis de qualidade da água, contribuindo com a gestão sustentável dos recursos hí-dricos (ANA ,2016).

Nesse sentido, este estudo teve como objetivo entender a qualidade da água da bacia hidrográfica do Rio Preto, por meio da variável de qualidade da água fósforo total (FT), consideran-do os limites (valores de referência) estabeleciconsideran-dos pela Resolução CONAMA 357/2005 para água doce, e, ainda, realizar o estudo do grau de trofia a partir de resultados obtidos para FT.

Material e Métodos Área de Estudo

Este estudo é o resultado de uma pesquisa exploratória apli-cada, com uso de dados quantitativos para analisar a qualidade da água na bacia do Rio Preto.

Segundo Mesquita (2017), a bacia hidrográfica supracita-da está localizasupracita-da dentro dos estados de Goiás, Minas Gerais e também no Distrito Federal, ocupando uma área de aproxima-damente 1.045.900 hectares. Neste estudo considerou-se a porção Centro-Oeste da bacia (Figura 1), que corresponde, aproximada-mente, a 348.805 hectares.

O clima predominante na área de estudo é tropical com duas estações bem definidas: verão (quente e chuvoso) e in-verno (frio e seco). Dentro da área não há variações significa-tivas de precipitação pluviométrica, entretanto, as diferenças

altimétricas e a distribuição da vegetação são responsáveis por variações na temperatura e geração de microclimas. Os tipos de solos predominantes na área de estudo são os Latossolos Vermelhos e Vermelho-Amarelos (CAMPOS; MONTEIRO;

RODRIGUES, 2006).

Figura 1 - Localização da bacia hidrográfica do Rio Preto no estado de Goiás (GO) e Distrito Federal (DF), Brasil.

Os municípios de Formosa, Cristalina, Cabeceiras e o Distrito Federal estão inseridos na parte estudada da bacia e possuem uma economia com base no agronegócio, o que é preocupante por causa do grande consumo de insumos

agrí-colas, acarretando, além do uso demasiado da água em siste-mas de irrigação, a deterioração do Cerrado. Mesquita (2017) acrescenta que no estado de Goiás, a bacia do Rio Preto possui, na região limítrofe com a porção leste do Distrito Federal, qua-se toda sua região destinada aos treinamentos realizados pelo Exército Brasileiro.

Pontos amostrais, dados de fósforo total e valores de referência Foram analisados dezessete pontos amostrais (ambientes amostrais) na porção centro-oeste do corpo hídrico em questão, em Goiás e Distrito Federal, sendo que a maior parte dos pontos amostrais estão situados em áreas rurais com predomínio de agri-cultura (Quadro 1).

Quadro 1 – Descrição dos usos e cobertura nas áreas de contribuição dos pontoas amostrais na bacia do rio Preto, no estado de Goiás e Dis-trito Federal

Ponto/ Localização Descrição

P1, Localizado no córrego Su-curiú, afluente do rio Bezerra.

Apresenta ambiente amostral com área de preservação; com área de contribuição coberta por agricultura (predominante), construções rurais (armazéns de grãos, re-sidências), Cerrado/mata, Campo limpo, mata ciliar e de galeria.

P2 (Localizado) no córrego Monjolo, afluente do rio Be-zerra

Apresenta ambiente amostral com área de preservação; com área de contribuição co-berta por agricultura (predominante), pas-tagem, construções rurais (armazéns de grãos, currais, residências), Cerrado/mata, Campo limpo, mata ciliar e de galeria.

P3, P5, P6 e P8 localizados no rio Jardim; P7 localizado no córrego Estanislau, afluente do rio Jardim; P10, localizado no ribeirão Estrema; P11, lo-calizado no ribeirão Estrema;

P12, localizado no ribeirão Barro Preto; P13, localizado no córrego Embiruçu, afluente do ribeirão Barro Preto; P16, localizado no córrego Jibóia;

P17, localizado no ribeirão Ja-caré, afluente do rio Preto.

Apresenta ambiente amostral com área de preservação; com área de contribuição co-berta por agricultura (predominante), pas-tagem, construções rurais (armazéns de grãos, currais, granjas de criação de aves, residências), Cerrado/mata, Campo lim-po, mata ciliar e de galeria.

P4, localizado no ribeirão Ca-riru, afluente do rio Jardim;

P14, localizado no rio Preto;

P15, localizado no córrego São José, afluente do rio Preto.

Apresenta ambiente amostral com área de preservação permanente nas duas mar-gens; com área de contribuição coberta por agricultura (predominante), pastagem, construções rurais (armazéns de grãos, currais, granjas de criação de aves, resi-dências), área urbanizada, Cerrado/mata, Campo limpo, mata ciliar e de galeria.

Fonte: elaborado pelos autores.

Os dados de fósforo total, de 2001 a 2014, da Bacia Hidro-gráfica do Rio Preto, foram obtidos pela Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (ADA-SA) e disponibilizados pela ANA (2016) como metadados. A par-tir desses metadados foram extraídos os valores para a área de interesse (bacia do Rio Preto).

Os valores de referência, ou seja, limites estabelecidos pela Resolução CONAMA 357/2005 para água doce classe 1, classe 2, classe 3 e classe 4, em ambiente lótico, são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1 - Limites estabelecidos (valores de referência) pela Resolução CONAMA 357/2005 para água doce de classe 1 a classe 4

Valores de referência (mg.L-1)

Classe 1 Classe 2 Classe 3 Classe 4

≤0,1 ≤0,1 ≤0,15 >0,15

Fonte: Elaborado pelos autores a partir da Resolução CONAMA 357/2005 (BRASIL, 2005).

Estudo do estado trófico

Os valores obtidos para FT foram convertidos de mg.L-1 para µg.L-1, com intuito de calcular o Índice do Estado Trófico (IET).

A CETESB (2016) relata que o IET tem por finalidade clas-sificar corpos d’água em diferentes graus de trofia, ou seja, avaliar a qualidade da água quanto ao enriquecimento por nutrientes e seu efeito relacionado ao crescimento excessivo de algas ou ao au-mento da infestação de macrófitas aquáticas. Relata ainda que os resultados são calculados a partir dos valores de fósforo total, pois esse nutriente é um agente causador do processo.

O IET foi calculado de acordo com a Equação 1 (E1), de Lamparelli (2004):

IET (PT)= 10*(6-((0,42-0,36*(Ln(FT)))/Ln 2)) -20 (E1) Na qual: IET é o Índice de Estado Trófico; FT, é a concentra-ção de fósforo total, em µg.L-1; e ln, o logaritmo natural.

Os valores obtidos de IET foram classificados conforme proposta de Lamparelli (2004) apresentada no Quadro 2, onde também são apresentadas as características especificas de cada grau de trofia.

Quadro 2 - Categoria de estado trófico e respectivas características

Valor

do IET Classes de Estado

Trófico Características

IET ≤

47 Ultraoligotrófico Corpos d’água limpos, de produtividade muito baixa e concentrações insignificantes de nutrientes que não acarretam em prejuízos aos usos da água.

47 <

IET ≤

52 Oligotrófico Corpos d’água limpos, de baixa produtividade, em que não ocorrem interferências indesejáveis sobre os usos da água, decorrentes da presença de nutrientes.

52 <

IET ≤

59 Mesotrófico Corpos d’água com produtividade intermediária, com possíveis implicações sobre a qualidade da água, mas em níveis aceitáveis, na maioria dos casos.

59 <

IET ≤

63 Eutrófico

Corpos d’água com alta produtividade em relação às condições naturais, com redução da transparência, em geral afetados por atividades antrópicas, nos quais ocor-rem alterações indesejáveis na qualidade da água de-correntes do aumento da concentração de nutrientes e interferências nos seus múltiplos usos.

63 <

IET ≤

67 Supereutrófico

Corpos d’água com alta produtividade em relação às condições naturais, de baixa transparência, em geral afetados por atividades antrópicas, nos quais ocorrem com frequência alterações indesejáveis na qualidade da água, como a ocorrência de episódios florações de algas, e interferências nos seus múltiplos usos.

IET >

67 Hipereutrófico

Corpos d’água afetados significativamente pelas ele-vadas concentrações de matéria orgânica e nutrientes, com comprometimento acentuado nos seus usos, asso-ciado a episódios florações de algas ou mortandades de peixes, com conseqüências indesejáveis para seus múl-tiplos usos, inclusive sobre as atividades pecuárias nas regiões ribeirinhas.

Fontes: adaptado de Lamparelli (2004) e CETESB (2016).

Resultados e discussão

Os resultados obtidos a partir de bases de dados disponibili-zados pela ANA (2016) são apresentados na Tabela 2, e os valores obtidos para o IET, na Tabela 3.

Tabela 2 - Níveis de fósforo total na bacia do Rio Preto, no estado de Goiás e Distrito Federal, Brasil

Resultados de fósforo total (FT) em mg.L-1 Ponto

amos-tral Corpo hídrico NU MI MA ME SD Latitude Longitude

1 Córrego

Su-curiú 13 0,010 0,160 0,030 0,042 -15,85839 -47,0908 2 Córrego

Mon-jolo 13 0,010 0,830 0,079 0,226 -15,7973 -47,09197 3 Rio Jardim 19 0,000 4,970 0,300 1,136 -15,94764 -47,44593 4 Ribeirão Cariru 22 0,000 0,660 0,061 0,138 -15,90375 -47,48538 5 Rio Jardim 23 0,000 1,125 0,118 0,293 -15,85986 -47,47565 6 Rio Jardim 17 0,000 0,300 0,031 0,073 -15,82819 -47,52399 7 Córrego

Esta-nislau 19 0,000 0,090 0,017 0,025 -15,82792 -47,56038 8 Rio Jardim 19 0,000 0,126 0,025 0,033 -15,80514 -47,56094 9 Rio Preto 21 0,000 0,880 0,097 0,230 -15,94292 -47,3637 10 Ribeirão

Es-trema 21 0,000 0,150 0,027 0,039 -15,84597 -47,38537 11 Ribeirão

Es-trema 24 0,000 2,490 0,151 0,514 -15,78125 -47,44954 12 Ribeirão Barro

Preto 20 0,000 0,340 0,041 0,085 -15,81986 -47,39426 13 Córrego

Embi-ruçu 23 0,000 0,750 0,067 0,160 -15,77264 -47,39899 14 Rio Preto 20 0,000 0,180 0,034 0,052 -15,83736 -47,36898 15 Córrego São

José 18 0,000 0,070 0,014 0,019 -15,71097 -47,31898 16 Córrego Jibóia 18 0,000 1,020 0,069 0,238 -15,64319 -47,36815 17 Ribeirão Jacaré 20 0,000 1,00 0,073 0,226 -15,62569 -47,3951 NU: número de amostras; MI: mínimo; MA: máximo; ME: média; SD: desvio padrão.

Fonte: Adaptado pelos autores a partir de metadados disponibilizados pela Agência Na-cional de Águas (ANA, 2016).

Pode ser observado na Tabela 2 que os valores de FT va-riaram de 0 a 4,970 mg.L-1, com média de 0,014±0,019 mg.L-1 a 0,300±1,136 mg.L-1. É importante ressaltar que para cada ponto amostral, o desvio padrão foi maior que a média, indicando que os valores variaram muito em cada ambiente amostral,

principal-mente no P3. Observa-se, ainda, que, para os valores médios: qua-torze pontos amostrais (P1, P2, P4, P6, P7, P8, P9, P10, P12, P13, P14, P15, P16 e P17) atenderam ao limite (≤ 0,1) estabelecido para água doce classe 1 e 2; um ponto (P5) atendeu ao limite (≤ 0,15) para classe 3; e em dois pontos (P3 e P11) foram obtidos níveis (>

0,15) em conformidade com a classe 4. Os maiores valores foram observados nos pontos P3 (4,970 mg.L-1), P5 (1,125 mg.L-1), P11 (2,490 mg.L-1), P16 (1,020 mg.L-1) e P17 (1,00 mg.L-1). Considera-do que o corpo hídrico em questão é enquadraConsidera-do como água Considera-doce classe 2, os valores médios para os pontos P3, P5 e P11 estão em inconformidade com a Resolução CONAMA 357/2005 (BRASIL, 2005).

Tabela 3 - Resultados para o Índice de Estado Trófico para fósforo total na bacia hidrográfica do Rio Preto, de 2001 a 2014, no estado de Goiás e Distrito Federal, Brasil

Ponto Corpo hídrico NU IET para

MI IET para

MA IET para

1 Córrego Sucuriú 13 45,90 60,30 51,61ME

2 Córrego Monjolo 13 45,90 68,85 56,63

3 Rio Jardim 19 0 78,15 63,56

4 Ribeirão Cariru 22 0 67,66 55,29

5 Rio Jardim 23 0 70,43 58,72

6 Rio Jardim 17 0 63,56 51,78

7 Córrego Estanislau 19 0 57,31 48,66

8 Rio Jardim 19 0 59,06 50,66

9 Rio Preto 21 0 69,15 57,70

10 Ribeirão Estrema 21 0 59,96 51,06

11 Ribeirão Estrema 24 0 74,56 59,99

12 Ribeirão Barro Preto 20 0 64,21 53,23

13 Córrego Embiruçu 23 0 68,32 55,78

14 Rio Pr eto 20 0 60,91 52,26

15 Córrego São José 18 0 56,01 47,65

16 Córrego Jibóia 18 0 69,92 55,93

17 Ribeirão Jacaré 20 0 69,82 56,22

NU: número de amostras; IET MI: índice de estado trófico para o valor mínimo; IET para MA: índice de estado trófico para o valor máximo; IET para ME: índice de estado trófico para o valor médio. Fonte: elaborados pelos autores.

Tratando-se do IET, observa-se na Tabela 3 que os ín-dices para os valores mínimos (MI) e valores máximos (MA) de FT variaram de 0 a 78,15, sendo para a média (ME) de FT, de 47,65 a 63,56. Para os ME de FT, notou-se que os IET em 5 pontos amostrais (P1, P6, P7, P8 e P15) foram classificados como oligotróficos (47 < IET ≤ 52); para nove pontos (P2, P4, P5, P9, P12, P13, P14, P16 e P17), foram observados valores na categoria mesotróficos (52 < IET ≤ 59); um ponto (P5), na categoria eutrófico (59 < IET ≤ 63); e 1 ponto (P3), na catego-ria supereutrófico (63 < IET ≤ 67). Os valores mais expressivos foram observados no P3 (63,56), localizado no rio Jardim, e no P11 (59,99), localizado no ribeirão Estrema. De acordo com o Quadro 2 e Tabela 3, considerando os IET para as ME de FT, observa-se que a maioria dos pontos apresentaram-se como:

corpos d’água com produtividade intermediária, com possíveis implicações sobre a qualidade da água, mas em níveis aceitá-veis, na maioria dos casos. No entanto, nos pontos amostrais P3 e P11 foram observados níveis de eutrofização elevados, in-dicando incremente de FT no curso hídrico em decorrência de ação antrópica (Quadro 2; Tabela 3; Figura 2).

Figura 2 - Índice de Estado Trófico para fósforo total da média das amostragens de 2001 a 2014 na bacia do Rio Preto

Fonte: elaborados pelos autores a partir de bases de dados disponibilizadas pela ANA (2016).

De acordo com o Quadro 1, no território onde a bacia hi-drográfica em questão está inserida, a agricultura é predominante, além de conter diversas construções rurais (granjas de criação de aves, armazéns de grãos, sistemas de irrigação, residências e ou-tros), o que pode ter interferido nos valores mais altos encontra-dos para o FT e, consequentemente, para o IET. Isso devido que: a drenagem agrícola pode carrear fontes de FT (adubos com fósforo na sua composição, matéria orgânica oriundas das granjas e ouras

fontes) para o corpo hídrico; os efluentes domésticos, industriais e de granjas, se despejados nos corpos hídricos sem o tratamento adequado, podem aumentar a quantidade desse nutriente na água e causar a eutrofização do ambiente aquático.

De acordo com Tundisi e Matsumura-Tundisi (2008) e Es-teves e Meirelles-Pereira (2011) (2011), a eutrofização das águas tem relação com aumento da população humana, da industriali-zação, do uso de fertilizantes químicos na agricultura e com pro-dutos de limpeza, pois todos estes fatores resultam na liberação do fósforo em corpos hídricos, sendo este nutriente um estimulador da eutrofização.

Corpos hídricos com índices muito altos de FT e, conse-quentemente, de IET, como nos pontos P3 e P11, podem estar com desequilíbrio na biodiversidade aquática. Segundo Lampa-relli (2004), a eutrofização pode gerar vários danos aos corpos hí-dricos, diminuição da diversidade de espécies e modificação da biota dominante, aumento da biomassa de plantas e animais, au-mento da turbidez, além de seu uso ser prejudicial à saúde.

Ressalta-se que, segundo a Resolução CONAMA 357/2005, mananciais com elevados índices de fósforos são propícios para a proliferação das cianobactérias, que são microrganismos capazes de produzir toxinas com efeitos adversos à saúde (BRASIL, 2005).

Várias espécies de algas e cianobactérias conferem sabor e odor às águas e as últimas são também produtoras de toxinas, como resultados do próprio metabolismo ou na lise celular (LIBÂNIO, 2010).

Em outro estudo realizado por Aguiar et al. (2015), sobre o nível de trofia em microbacias hidrográficas sob diferentes usos de solo, na região amazônica, as microbacias com as maiores por-centagens de suas áreas de drenagem desmatadas para a agricultu-ra foagricultu-ram as que apresentaagricultu-ram as maiores concentagricultu-rações de fósforo

total, principalmente no período chuvoso, elevando, consequen-temente, os IET.

Conclusão

Considerado que o Rio Preto é enquadrado como água doce classe 2, os resultados, em média, para os ambientes amostrais do P3, P5 e P11 não atenderam ao limite estabelecido pela Resolução CONAMA 357/2005. Entretanto, considerado a média para cada ponto, a maioria dos ambientes amostrais, quatorze no total, fo-ram enquadrados na classe 1.

Os pontos onde foram observados valores muito altos, in-dicando influência antrópica, como, possivelmente, incremento de FT no curso d’água devido carreamento de fontes de fósforo oriundas das atividades agropecuária (altas aplicações de adubos fosfatados, resíduos de granjas, etc.), despejos de efluentes domés-ticos e industriais, causando, assim, a eutrofização do corpo hí-drico. É necessária a implementação de políticas públicas/ações, envolvendo as universidades, órgãos ambientais, empresas e o público em geral, no intuito de minimizar os danos ambientais e evitar possíveis impactos inda maiores no Rio Preto. Esse estudo será importante para subsidiar o planejamento e a gestão ambien-tal desse recurso natural, promovendo o desenvolvimento econô-mico em consonância com a conservação dos recursos hídricos, melhorando a qualidade ambiental e de vida

Referências

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AVALIAÇÃO DE DISPONIBILIDADE